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Análise: Shovel Knight Dig (Multi) nos convida a cavar em uma frenética aventura de ação

O novo spin-off da franquia oferece uma interpretação criativa e ágil das ideias do original.


Em Shovel Knight Dig, o cavaleiro da pá precisa cavar fundo para recuperar seus tesouros que foram roubados. A nova aventura do personagem é uma interpretação curiosa do gênero plataforma: o foco é descer constantemente enquanto enfrentamos inimigos e escapamos de perigos. Um ritmo ágil, boa variedade de desafios e visual vibrante tornam a jornada empolgante, apesar da presença de algumas escolhas que atrapalham a experiência.

Em uma jornada pelo subterrâneo

No intervalo de suas aventuras, Shovel Knight está descansando tranquilamente em seu acampamento. O momento sossegado é interrompido por Drill Knight, que surge de repente, rouba os itens valiosos do cavaleiro da pá e foge para o subterrâneo. Shovel Knight não vai deixar o larápio impune, então ele empunha a sua lâmina-pá e começa a cavar. A jornada não será fácil: além de inúmeras ameaças e armadilhas, o herói precisará enfrentar também a gangue de Drill Knight.


Na essência, Shovel Knight Dig é um jogo de plataforma tradicional. O seu diferencial está na progressão vertical: o objetivo é sempre ir para baixo e, para isso, o cavaleiro usa sua pá para cavar por diferentes obstáculos. Pelo caminho, também precisamos enfrentar inimigos, evitar armadilhas e, claro, coletar joias. Assim como nas aventuras anteriores, o herói é capaz de quicar sobre oponentes ao apontar a pá para baixo, o que se revela muito útil para alcançar locais distantes ou escapar de espinhos.

No decorrer dos estágios, adquirimos relíquias com habilidades diversas. Uma bota reforçada permite andar em cima de espinhos, uma ferradura dourada faz surgir mais dinheiro, uma armadura protege o herói de explosões, entre outras opções. Há também armas secundárias, técnicas especiais de combate e inúmeras salas com segredos.


A aventura é estruturada em fases e há elementos de roguelike para diferenciar as partidas: cada tentativa apresenta um conjunto distinto de rotas, salas, desafios e relíquias. Ao morrer, perdemos todos os itens e voltamos para a superfície, sendo necessário recomeçar a jornada desde o início. Por sorte, podemos utilizar as joias para liberar novos itens, atalhos e melhorias permanentes, como armaduras com diferentes propriedades.

Cavando freneticamente

Em uma primeira olhada, Shovel Knight Dig lembra o primeiro título da franquia com suas mecânicas de plataforma tradicionais. No entanto, o foco em estágios verticais traz uma dinâmica única à experiência no geral. No início achei um pouco complicado coordenar as ações de cavar continuamente, enfrentar inimigos e evitar armadilhas, o que resultou em muitas mortes frustrantes. No entanto, depois de algumas partidas, me adaptei ao caos e consegui chegar cada vez mais longe — nesse momento, a escavação ficou divertida.

Muitos estremecem ao saber que um jogo tem elementos de roguelike, mas eles funcionam muito bem em Shovel Knight Dig. O que mais me surpreendeu nesse aspecto foi a variedade de situações dentro dos estágios: há um ótimo equilíbrio entre trechos de plataforma, combate e exploração. Em uma caverna com cogumelos, há muitos desafios em que usamos os fungos para pular mais alto e escapar de espinhos. Em uma forja subterrânea, precisamos tomar cuidado com inimigos que incendeiam partes do solo. Já no castelo de Drill Knight, o problema são os vários obstáculos, como brocas que surgem de repente.


Mesmo dentro de uma mesma área, aparecem diferentes trechos de estágios entre as partidas, o que ajuda a deixá-las únicas. Além disso, há outros elementos nas fases que contribuem para a diversidade. Cada fase, por exemplo, conta com três engrenagens que normalmente estão em locais de difícil acesso — colete todas para conseguir uma relíquia ou recuperar toda a vida no final do segmento. Segredos diversos, como salas e pequenos puzzles, também estão por todos os cantos.

Os elementos de roguelike trazem variedade, mas não são desenvolvidos o bastante para sustentar a aventura a longo prazo. O motivo disso é que não há conteúdo suficiente para deixar as partidas únicas: os elementos são mais leves variações do que as mudanças mais drásticas oferecidas por outros jogos do gênero. Uma partida completa dura por volta de 30 minutos e uma vez concluída não há tantos motivos para jogar novamente, fora alguns desbloqueáveis ou desafios diários. Isso não chega a ser um grande problema, mas é importante levar isso em conta.


A ambientação do título apresenta, mais uma vez, o carisma já conhecido da série com seus personagens de design marcante. Visualmente, Dig impressiona com vibrantes e coloridos gráficos pixel art que remetem à era 16-bits. Destaco os cenários: além de muito detalhados, eles esbanjam criatividade e personalidade. O veterano Jake Kaufman assina novamente a trilha sonora, que tem faixas agitadas e com muitas melodias marcantes. O resultado é um mundo simultaneamente retrô e moderno.

Complicações e estresse pelo caminho

A dificuldade de Shovel Knight Dig é intensa, bastando poucos deslizes para ser derrotado. Há também constante senso de urgência: caso demoremos demais, uma imensa serra aparece e tenta acabar com Shovel Knight. Com isso, precisamos ser rápidos e precisos, afinal os estágios sempre têm muitos perigos. Para os menos habilidosos, o jogo oferece algumas opções de acessibilidade, como diminuir a velocidade da ação ou aumentar o poder de ataque do herói.

Cada área termina com uma luta contra um chefe, que, como de costume, é agressivo e difícil de vencer. Particularmente, gostei bastante desses embates, pois precisei observar com cuidado os padrões de ataque para poder sair vitorioso. As arenas também mudam entre as partidas, o que me forçou a repensar constantemente minhas táticas.


Porém, a experiência de jogo é atrapalhada por alguns detalhes chatos. O primeiro deles diz respeito à câmera: ela é deslocada, dando maior destaque para a parte de baixo da tela. Isso é justificável, afinal estamos cavando constantemente, no entanto isso se torna um problema. Essa posição da área de jogo dificulta fazer certos saltos, em especial quando queremos alcançar um local alto, pois não é possível ver para onde estamos indo. Por causa disso, é muito fácil errar o pulo e acertar espinhos ou monstros.

O ângulo aproximado é ótimo para ver os detalhes da pixel art, mas essa decisão cria situações desagradáveis. É muito comum ser atingido por inimigos ou projéteis que surgem do nada de fora da área de visão — isso é especialmente frustrante nas salas mais complicadas em que um deslize resulta em muito dano. Particularmente, acredito que o jogo se beneficiaria de uma área de visão maior e de uma câmera dinâmica que nos permitisse ver melhor o que vem de cima.


Por fim, o título tem algumas escolhas questionáveis de design. O zoom da câmera torna comum ter que fazer saltos cegos e alguns perigos aparecem muito subitamente, o que irrita bastante. Além disso, ao saltar, Shovel Knight automaticamente coloca a pá para baixo e quica em obstáculos e inimigos. Acontece que isso, às vezes, cria situações que tira a nossa precisão e dificulta a navegação. Por fim, há problemas de balanceamento com estágios infestados de inimigos que atravessam paredes e perseguem o herói — isso, somado com os outros vários perigos das fases, deixa as coisas bem estressantes.

Claro, com o tempo eu aprendi a contornar boa parte dos problemas e me diverti com o jogo. Contudo, acredito que a experiência seria mais justa e interessante com ajustes nesses pontos negativos.



Uma escavação que vale a pena

Shovel Knight Dig prova a versatilidade do cavaleiro da pá em um ótimo título de ação roguelike. Cavar cada vez mais fundo é viciante, e a mistura de momentos de plataforma, combate e exploração deixam os estágios bem frenéticos. Além disso, há boa variedade de conteúdo para explorar e a atmosfera esbanja carisma com o ótimo visual pixel art estilo 16-bits.

Mesmo com tantas qualidades, o jogo tem problemas bem irritantes, como perigos que aparecem de surpresa, aspectos desbalanceados e a posição da câmera que atrapalha alguns movimentos. É importante estar disposto a relevar esses pontos negativos, mas, no geral, o resultado é positivo. No fim, Shovel Knight Dig é mais uma ótima adição à franquia.

Prós

  • Ótima interpretação do gênero plataforma com fases verticais e mistura de elementos;
  • Estágios repletos de momentos criativos e interessantes;
  • Elementos de roguelike trazem diversidade às partidas;
  • Atmosfera bem trabalhada com elaborado visual pixel art e música bem produzida.

Contras

  • Design de fases com algumas escolhas questionáveis, como saltos cegos;
  • Câmera muito próxima atrapalha a precisão em alguns momentos;
  • Alguns elementos da dificuldade são desbalanceados;
  • Como roguelike, o jogo carece de profundidade.
Shovel Knight Dig — PC/Switch/iOS — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Vitor Tibério
Análise produzida com cópia digital cedida pela Yacht Club Games

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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