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Análise: Islets (Multi) é uma simpática viagem metroidvania por ilhas flutuantes

Este título indie explora mecânicas consagradas de forma competente, mas peca ao não tentar ousar.


Um reino fragmentado que paira nos céus é o cenário de Islets, uma aventura de ação e plataforma metroidvania claramente inspirada na era 16-bits. Produzido por um único desenvolvedor, o jogo cativa com sua atmosfera agradável, mapas elaborados e ritmo ágil. Utilizando ideias familiares de forma hábil, o título oferece uma boa experiência, no entanto não consegue ser memorável ao não se arriscar.

Desbravando continentes voadores

Um dia, cinco grandes ilhas flutuantes se uniram, criando um continente aéreo exuberante. A ligação era instável, por isso foram construídas estruturas magnéticas para manter as regiões interligadas. Porém, com o tempo, a força dos dispositivos diminuiu e as ilhotas se separaram. Elas foram tomadas pela natureza selvagem e por monstros perigosos, mas, mesmo assim, viajantes de todo o mundo tentam unir novamente as ilhas.

Nessas circunstâncias, acompanhamos Iko, um gato guerreiro que explora os céus em busca de glória. A jornada começa quando o seu dirigível é danificado e ele cai em uma das ilhas. Além de utilizar uma espada para atacar os monstros, o herói conta com um arco cujas flechas são recarregadas ao golpear com a lâmina.


A aventura 2D é bem tradicional, intercalando trechos de plataforma, combates e exploração em mapas elaborados e repletos de segredos e rotas alternativas. Como é de praxe do gênero metroidvania, muitas partes só podem ser acessadas após adquirir habilidades específicas, como saltar novamente no ar ou escalar paredes. Além de desbravar o solo, exploramos o ar a bordo de um pequeno dirigível.

Inicialmente, as várias regiões estão separadas e cada ilha tem um mapa e elementos próprios. Porém, há um conceito bem interessante: certas rotas só são abertas após unir as ilhotas. Com isso, aos poucos, o mundo de Islets vai ficando cada vez mais elaborado, constantemente nos convidando a explorar todos os cantos e, ao longo da jornada, encontramos  colecionáveis que liberam melhorias para o herói que estão escondidos pelos cenários.



Correndo, lutando e pulando em uma jornada de ritmo acelerado

Islets parece ter como inspiração os clássicos de plataforma da era 16-bits em uma aventura ágil e divertida, porém um pouco tradicional demais. Apreciei controlar Iko, pois ele se move com fluidez, ataca com velocidade e salta com precisão — características importantes para um bom jogo do gênero. As ilhas estão repletas de situações que exploram essas habilidades: algumas salas apresentam desafios de plataforma, outras focam em combates, há também espaços mais abertos com pequenos puzzles de navegação.


Me surpreendi com a diversidade de ideias e obstáculos. Por exemplo, para atravessar um trecho repleto de espinhos, precisamos golpear com cuidado pequenas nuvens flutuantes que nos permitem saltar no ar novamente várias vezes. Para abrir uma porta, é necessário tocar estrelas espalhadas pela sala em sequência em um curto espaço de tempo. Em uma caverna, o desafio é fugir de uma máquina trituradora de pedra enquanto atravessamos um percurso repleto de armadilhas. Cada ilha conta também com desafios temáticos relacionados aos seus biomas, o que traz sensação constante de novidade.

O combate é simples e direto, ajudando a trazer uma mudança de ritmo bem-vinda. Os embates comuns não exigem muita destreza, mas a situação muda completamente nos chefes. As batalhas contra esses inimigos poderosos me conquistaram por serem bem elaboradas e criativas, com direito a múltiplas fases com ataques cada vez mais complicados e até mesmo uma enxurrada de projéteis na tela. A dificuldade é boa e morri algumas vezes aprendendo os padrões de movimento dos oponentes.

Simplicidade e beleza em um mundo deslumbrante

A aventura em Islets é agradável, porém há problemas que incomodam. Mesmo sendo um metroidvania, a estrutura é bem linear e restritiva, como se o mundo fosse feito de pequenas fases unidas. Até há um aspecto de exploração, porém ele é subdesenvolvido: os trechos fora da rota principal escondem segredos e muitas vezes eles são bem óbvios de encontrar no mapa. Ao menos existem muitos colecionáveis e missões opcionais disponíveis pela jornada.


Além disso, muitas das habilidades adquiridas por Iko são de pouco impacto e necessárias em pouquíssimas vezes, como o ataque carregado capaz de quebrar blocos e a flecha de teletransporte. É uma pena que elas sejam subutilizadas, pois algumas são bem criativas — a minha técnica favorita é uma flecha que cria um rastro de nuvens que funcionam como plataformas. A aventura é repleta de oportunidades que poderiam ser melhor aproveitadas, mas o jogo acaba apostando no seguro e não ousa.

De qualquer maneira, é inegável o charme do mundo flutuante de Islets. Os gráficos desenhados à mão são belos e elaborados, contando com uma vibe que consegue ser retrô e moderna ao mesmo tempo. Cada ilha tem uma atmosfera peculiar ao apresentar biomas distintos, como uma área repleta de dispositivos mecânicos, um jardim no ar e uma floresta habitada por espíritos. Fora isso, há um tom constante de leveza com personagens carismáticos e texto bem-humorado completamente em português.



Um passeio simpático pelos céus

Islets é um metroidvania que encanta com seu charme e carisma. Desbravar ilhas flutuantes é bem agradável, pois há um ótimo equilíbrio e variedade entre combates, exploração e plataforma. As batalhas contra os chefes, em especial, são bem criativas e interessantes. Além disso, a atmosfera é adorável, com personagens bem-humorados e belo visual.

O jogo executa com competência os principais conceitos de plataforma, mas deixa a desejar como metroidvania com algumas ideias subdesenvolvidas. Porém, é clara a intenção de oferecer uma experiência simpática e relaxada, e nisso o título acerta muito bem. No mais, Islets é uma aventura simples e cativante.

Prós

  • Aventura com boa variedade de momentos de plataforma, exploração e combate;
  • Mundo extenso e repleto de segredos a serem encontrados;
  • Ótimas batalhas contra chefes
  • Atmosfera bem-produzida com visual elaborado e diálogos leves.

Contras

  • Estrutura linear demais, apesar de ser um metroidvania;
  • Certos conceitos e ideias carecem de criatividade;
  • Muitas habilidades subutilizadas.
Islets — PC/Xbox One/Xbox Series/Switch — Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Armor Games Studios

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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