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Análise: Isle of Arrows (PC) nos desafia a improvisar em um tower defense hipnotizante e brutal

Lide com muitos elementos aleatórios e tente sobreviver neste interessante, porém punitivo representante do gênero.


O gênero tower defense sempre me envolveu com seu conceito de posicionar torres para atacar inimigos, pois é simples, mas repleto de estratégia. Isle of Arrows oferece uma interpretação curiosa desse estilo ao combinar posicionamento em um tabuleiro e a aleatoriedade de roguelikes em partidas nas quais precisamos nos virar com o que aparece pelo caminho. Produzido unicamente por Daniel Lutz, diretor criativo de Hitman GO e Lara Croft GO, o jogo é um tower defense notável e criativo, por mais que os elementos imprevisíveis o deixe brutal demais.

Enfrentando agressores implacáveis

Em Isle of Arrows, o objetivo é impedir que invasores alcancem um cristal localizado no final de uma estrada. Para isso, posicionamos diferentes torres que atacam os oponentes que se localizam dentro do seu alcance. No início, o caminho dos inimigos é bastante curto e o aumentamos no decorrer da partida de tal maneira a maximizar o dano de nossas torres.

O conceito básico do jogo não difere de outros tower defense, mas suas várias mecânicas o tornam único. Em cada turno, recebemos uma carta que permite colocar algum elemento no cenário, como uma torre, extensões para o caminho ou estruturas de suporte. Ao usar moedas recebidas ao derrotar inimigos, podemos pular um cartão ou então colocar mais de uma estrutura na mesma rodada. As cartas aparecem de forma aleatória, então precisamos avaliar com cuidado: coloco agora essa torre em um ponto distante ou é melhor tentar aumentar o caminho?


Um ponto importante é que só podemos posicionar um bloco ao lado de outro já existente — ou seja, aos poucos vamos expandindo nossa fortaleza. Essa regra nos força a pensar com cuidado onde devemos colocar cada estrutura, pois podemos acabar com uma organização difícil de administrar no futuro. Certos recursos ajudam nesse aspecto: bandeiras aumentam o tamanho da ilha, bombas permitem substituir blocos já existentes e pontes nos deixam colocar objetos fora da ilha.

Isle of Arrows conta com elementos de roguelike, ou seja, cada partida apresenta elementos aleatórios, como eventos, estrutura inicial da ilha e cartas obtidas a cada rodada. Há muito o que ver em três diferentes modalidades (campanha, desafio e modo diário), com guildas que apresentam características distintas (como a impossibilidade de expandir o solo da ilha).



Brincando com a sorte para montar defesas

Isle of Arrows, em uma primeira olhada, parece ser um tower defense bem tradicional com seus elementos estáticos. Porém, suas várias pequenas mecânicas o tornam bastante envolvente e desafiador.

No começo, eu não tive dificuldade e, para sobreviver, bastou aumentar um pouco o caminho e colocar algumas torres com arqueiros nas proximidades para dar conta dos invasores. No processo, acabei não fazendo nada em algumas rodadas por ter recebido cartões que não eram ideais naquele momento. No entanto, rapidamente as coisas se complicaram: as ondas de inimigos foram ficando mais complexas, as torres básicas não deram conta e em poucas rodadas eu fui derrotado.


Depois disso, passei a ser mais agressivo para conseguir sobreviver mais. Em uma nova partida, construí um caminho mais complexo que aproveitava melhor todas as minhas torres. Além disso, passei a considerar melhor as opções aleatórias que eu recebia em cada turno, muitas vezes posicionando blocos inicialmente inúteis pensando nas rodadas futuras. Com isso, cheguei bem mais longe e aprendi a lidar melhor com os desafios.

O ponto que mais me chamou a atenção em Isle of Arrows é a necessidade de usar a imprevisibilidade a nosso favor. As cartas recebidas a cada turno são aleatórias, então precisamos nos adaptar constantemente. Não só isso: é essencial ter visão de futuro e tentar encaixar estruturas supostamente inúteis na nossa estratégia, sem deixar de levar em conta o espaço disponível na ilha. No fim, me vi completamente envolvido em partidas que lembram um puzzle de tabuleiro estratégico.

Dominar as nuances e ser flexível é essencial para sobreviver, pois a dificuldade é crescente. Depois de algumas rodadas, aparecem caminhos adicionais separados com mais inimigos, o que nos força a rever nossa estratégia. Além disso, aparecem estruturas acompanhadas de blocos de água, o que limita nossas opções de posicionamento. É tenso lidar com tantas complicações, mas é bem recompensador conseguir fazer jogadas notáveis com o que temos no momento.



As complicações de uma progressão incerta demais

A aleatoriedade é um dos elementos centrais de Isle of Arrows, fazendo com que ele seja um tower defense singular. Porém, ela é também o principal ponto negativo do jogo. 
 
Durante as partidas, é comum passar por várias rodadas sem receber blocos de caminho ou novas torres, o que limita a nossa capacidade de adaptação: o número de inimigos aumenta, mas nossa capacidade de enfrentá-los permanece estagnada. Isso é frustrante, pois a nossa estratégia fica muito dependente do acaso — a sorte é capaz de determinar a vitória ou a derrota. Eu entendo que adaptar-se ao imprevisível é a regra aqui, no entanto falta um pouco de balanceamento dentro da aleatoriedade.


Outra questão irritante diz respeito a uma regra relacionada aos caminhos. Por padrão, não é permitido bloquear rotas com outros tipos de blocos, só é possível conectar diferentes estradas. Essa restrição cria inúmeras situações desagradáveis que travam nosso progresso, em especial em rodadas mais para o final da partida, quando o tabuleiro já está bastante ocupado. Percebe-se que é uma mecânica para nos forçar a pensar tudo com cuidado, mas, no fim das contas, ela só atrapalha.

Por causa desses problemas, Isle of Arrows se torna mais punitivo do que deveria. Há sim muita tática envolvida, porém a influência dos elementos aleatórios é forte demais. Felizmente, esses pontos negativos podem ser resolvidos com atualizações e rebalanceamentos, e torço para que o desenvolvedor faça alterações para deixar a experiência mais agradável.



Uma defesa com torres singular e de alto desafio

Isle of Arrows é um interessante e imprevisível tower defense. O jogo resgata a fórmula tradicional do gênero e adiciona conceitos interessantes, como construção de fortaleza e elementos aleatórios, para oferecer uma experiência razoável. As partidas são complicadas, mas a graça é justamente conseguir montar boas defesas com o que nos é oferecido pelo caminho — um desafio que exige planejamento, improvisação e sorte.

No entanto, o título acaba abusando um pouco dos elementos aleatórios, o que cria situações frustrantes que parecem carecer de estratégia. Além disso, algumas mecânicas são restritivas demais, atrapalhando o planejamento tático. Porém, muitos dos problemas podem ser resolvidos com balanceamento e alterações.

No fim, Isle of Arrows é um ótimo tower defense, só é necessário estar disposto a lidar com a imprevisibilidade.

Prós

  • Interpretação criativa do gênero tower defense com elementos de tabuleiro, cartas e roguelike;
  • Desafio pautado em imprevisibilidade e adaptação, com boas opções estratégicas;
  • Presença de modos variados que alteram significativamente as partidas.

Contras

  • Certas restrições nas mecânicas atrapalham o aspecto estratégico das partidas;
  • A aleatoriedade desbalanceada dos elementos cria situações frustrantes.
Isle of Arrows — PC — Nota: 7.0
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Gridpop

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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