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Análise: Dome Keeper (PC) mescla mineração e sobrevivência em um roguelike engenhoso

Este título indie tem um conceito principal criativo, mas explora pouco as possibilidades.


Dome Keeper tem uma ideia sem igual: no controle de um engenheiro espacial, precisamos alternar entre momentos de mineração e defesa de base para sobreviver. O conceito principal é bem simples, contudo a complexidade crescente torna as partidas bem interessantes, pois precisamos administrar tempo e recursos com eficiência. O resultado é um jogo que consegue ser simultaneamente calmo e tenso, e uma atmosfera minimalista deixa a experiência ainda mais envolvente. No entanto, a longo prazo o título não consegue se sustentar por causa da variedade bem reduzida de conteúdo.

Tentando sobreviver em um mundo hostil

Em Dome Keeper, uma nave em forma de domo com um único tripulante cai em um planeta alienígena. O local parece tranquilo, mas logo aparecem criaturas agressivas que atacam a cúpula. É uma situação desoladora, porém há esperança: o solo deste mundo tem inúmeros minerais que podem ser utilizados para melhorar diferentes características do domo. Sendo assim, o astronauta vai cavar para conseguir sobreviver.

Essa premissa é utilizada em partidas que combinam exploração, sobrevivência e defesa de base. Controlamos diretamente o tripulante, que está equipado com uma broca e foguetes que o permitem flutuar. Com essas ferramentas, cavamos o solo em busca de minerais e artefatos. Precisamos carregar manualmente os recursos até a superfície e nossa velocidade diminui conforme levamos mais itens. O objetivo é encontrar uma relíquia poderosa que permita à nave alcançar voo de volta para casa.


Com frequência, o domo é atacado por monstros. Nesses momentos, precisamos correr para o painel de controle para manejar uma arma laser para acabar com os agressores. O canhão desliza pela superfície da cúpula e precisamos mirar com cuidado, pois o seu movimento é lento. Uma vez derrotados todos os monstros, podemos continuar a exploração do subterrâneo.

Esse ciclo se repete constantemente, porém a situação vai se complicando: os grupos de aliens aumentam a cada onda e escavar se torna mais custoso conforme descemos mais. Para sobreviver, é essencial utilizar os recursos para melhorar características diversas. Alguns dos upgrades são simples, como reforçar a estrutura do domo, aumentar a velocidade dos foguetes, melhorar a eficiência da broca ou intensificar o poder do laser. Já outros oferecem outras possibilidades, como instalar uma arma adicional que paralisa inimigos ou disparar uma corrente elétrica que machuca os monstros próximos.



Cavando, lutando e administrando recursos

Dome Keeper me conquistou com seu conceito simples e elegante em partidas repletas de tensão. A ideia principal é bem intuitiva, e bastam alguns poucos minutos para estar cavando túneis, coletando recursos e enfrentando inimigos maestria. O jogo até parece banal, mas bastam algumas rodadas para que a realidade complicada e empolgante apareça.

Conforme a partida avança, precisamos lidar com cada vez mais coisas e raramente há tempo de fazer tudo. Para encontrar mais minérios, por exemplo, precisamos ir mais fundo no subterrâneo e o solo demora mais a ser destruído pela broca. Aí, quando você menos espera, uma nova onda de inimigos está próxima e é necessário correr rapidamente para o domo para defendê-lo. Já nos combates, estamos sempre em desvantagem e é imprescindível saber priorizar que tipo de monstro devemos atacar primeiro para reduzir os danos.


Com isso, fui forçado a pensar com cuidado os próximos passos, sempre tentando maximizar o uso dos momentos de calmaria — o misto de destreza, intuição e administração de tempo é viciante. A ambientação reforça os momentos dissonantes: visuais e música minimalista trazem uma sensação de tranquilidade e solidão enquanto cavamos os túneis, já nos embates sons intensos, partículas e figuras sombrias promovem frenesi.

Muitas decisões difíceis aparecem pelo caminho. A árvore de melhorias é vasta e repleta de opções interessantes, porém a quantidade de recursos é limitada. Com isso, precisamos escolher com cuidado onde investir os minérios. Melhorar as capacidades do sobrevivente é uma ótima opção para potencializar a exploração subterrânea, porém negligenciar as defesas do domo pode resultar em derrota quando a quantidade de monstros for alta. No começo eu penei um pouco para sobreviver, porém, aos poucos, entendi as melhores opções e consegui ir mais longe.



Em muitas escavações similares

Dome Keeper conta com opções que ajudam a diferenciar as partidas. Durante a escavação, podemos encontrar artefatos que desbloqueiam elementos especiais, como um elevador que carrega minérios automaticamente, estruturas que geram recursos e até mesmo um dinossauro com cabeça de broca que cava túneis por conta própria. Há também modificadores de partidas, como planetas de diferentes tamanhos, regiões com diferentes inimigos, um domo que tem uma espada como arma, diferentes acessórios para a cúpula e um modo cujo objetivo é fazer a melhor pontuação.


Porém, essas modificações não são suficientes para resolver o maior problema do jogo, que é a superficialidade do conteúdo. Em uma única partida de 30 minutos já é possível ver praticamente tudo o que o título tem a oferecer, pois não há alterações significativas entre elas — tudo sempre se resume em alternar entre cavar e correr para enfrentar inimigos. Os momentos de escavação, por exemplo, têm como única diferença a disposição aleatória dos itens, o que os deixam previsíveis. As batalhas têm um pouco mais de variedade com monstros diferentes em cada planeta, mas a longo prazo também ficam repetitivas.

As ideias são boas, mas faltam surpresas para justificar continuar jogando. Uma possibilidade, por exemplo, seria a inclusão de eventos ou desafios aleatórios durante as partidas para quebrar a mesmice. Esse tipo de conteúdo também seria interessante para incentivar experimentar outras estratégias, pois, uma vez encontrada uma boa configuração de melhorias, não há motivo para tentar outras coisas. Torço para que isso mude no futuro, pois aqui já temos uma base sólida e divertida. Já estão previstas novidades em atualizações gratuitas, então pode ser que o título se torne mais diverso com o passar do tempo. 



Inventivamente limitado

Dome Keeper mistura mineração, defesa de base e administração de recursos em uma experiência simples e criativa. O jogo alterna entre momentos de calmaria minerando recursos e combates frenéticos para criar situações interessantes nas quais o desafio é conseguir dosar o tempo e os itens.

No entanto, o jogo é muito raso em conteúdo, o que torna as partidas muito parecidas entre si. Algumas opções, como diferentes melhorias e planetas, tentam diversificar as coisas, mas elas não são suficientes para acabar com a sensação de repetição. No fim, Dome Keeper é uma ótima mineração, mesmo que por pouco tempo.

Prós

  • Mescla interessante de ação, sobrevivência, estratégia e defesa de base;
  • Muitas opções de melhorias abrem várias possibilidades táticas;
  • Ambientação envolvente com trilha sonora minimalista e ótima pixel art.

Contras

  • Individualmente, os dois tipos de atividade são rasos demais;
  • A variedade reduzida de elementos deixa as partidas muito repetitivas.
Dome Keeper — PC — Nota: 7.0
Revisão: Thais Santos
Análise produzida com cópia digital cedida pela Raw Fury

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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