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Análise: Jack Move (Multi) é um JRPG modesto que entrega pouco, mas bem-feito

Aventure-se em um mundo cyberpunk rodeado de mistério e personagens marcantes.


Na análise de hoje viajaremos para um futuro distópico com temática cyberpunk. Em Jack Move, temos que ajudar uma garota a salvar seu pai de uma mega corporação que quer pôr as mãos em sua revolucionária descoberta científica que pode mudar para sempre a história da humanidade. Vista sua jaqueta mais transada, atualize o firmware de seus implantes e bote aquela playlist synthwave pra tocar, pois nossa viagem para o futuro começa agora.

Trama cibernética

A jovem Noa Solaris é uma garota prodígio na tecnologia, algo que herdou de seu pai, Abner Solaris, apesar de terem se desentendido muitos anos atrás após o falecimento da mãe. Hoje a garota ganha a vida na clandestinidade ao lado de seu amigo hacker Ryder. Os dois sobrevivem na megalópole de metal realizando golpes que envolvem a obtenção ilegal de dados para revender no mercado "paralelo".


Um certo dia, Noa e Ryder se deparam com o trabalho que mudará suas vidas de forma surpreendente, além de envolver praticamente toda a sociedade humana no processo. Após mais um golpe bem-sucedido, a menina recebe uma inesperada ligação de seu pai pedindo por ajuda. Por não se falarem mais, Noa estranhou o fato de o pai ter ligado justamente para ela em um momento de crise e decidiu procurar seu tio Guin para orientação.

Em meio a essa desconfiança, o homem orienta sua protegida a dar uma segunda chance a seu pai e, ao chegar na casa de seu velho para ajudá-lo, é surpreendida com a presença da megacorporação Monomind no local, então responsável pelo rapto de Abner. O cientista havia criado uma forma de “driblar a morte”, por assim dizer, por meio da transferência de consciência de uma pessoa para o mundo digital, e isso era algo que a CEO da Monomind, Dr.ª Krall, queria muito para se tornar a pessoa mais poderosa do planeta, mesmo após sua eventual morte.


Agora, sabendo da gravidade da descoberta de seu pai, Noa só poderá contar com a ajuda de seus poucos amigos em uma guerra silenciosa contra a Monomind, para evitar que a corporação coloque as mãos nessa descoberta que pode mudar para sempre os rumos do futuro da humanidade.

JRPG raiz

Jack Move traz uma experiência do gênero JRPG bem fidedigna ao que o gênero se propõe desde sempre. Graças à estética em pixel art, muito bem animada e produzida, somos facilmente transportados para um mundo que mistura tons clássicos de gameplay com generosas pitadas de modernidade, aqui apresentadas com uma ótima trilha sonora e efeitos visuais que dificilmente veríamos em um Super Nintendo.

No controle de Noa, podemos explorar o mundo metropolitano do game em diversos cenários enquanto progredimos na história. Em meio às seções de diálogos e exploração, outro ponto de destaque do game são as batalhas por turnos, que trazem modestas doses de estratégia, mas que ainda rendem bons embates contra uma boa variedade de inimigos e, principalmente, chefes.


As batalhas são ministradas em turnos alternados entre os adversários e Noa, que, diferente da grande maioria dos JRPGs, não conta com um grupo de heróis jogáveis. Toda a campanha do game se dá com a garota tendo que se virar por conta própria contra os inimigos. Mas nem por isso os confrontos deixam de ser interessantes, graças à variada gama de habilidades da garota.

Um display no canto superior direito da tela mostra a fila de combate, ou seja, em que ordem cada personagem na arena executará uma ação. Desse modo, é possível focar em determinados inimigos para derrotá-los rapidamente e ter mais turnos de ação para ter vantagem nos embates. Da mesma forma, é possível usar esse visor para saber a hora certa de se defender ou usar alguma técnica ou item de cura, por exemplo, para que o inimigo não tire vantagem durante a trocação de socos.

Sempre que um combate tem início, ele é realizado em um ambiente virtual, desse modo proporcionando que Noa utilize seu impressionante ciberdeque de habilidades para lutar. Dentre as principais estão os hacks (ataques físicos) e comandos de execução (“magias”), que se fortalecem conforme são usados durante as lutas, por meio de pontos de experiência obtidos juntamente com os que proporcionam a subida de nível da jovem.


A cereja do bolo nas habilidades dela se dão por meio de poderosas habilidades especiais chamadas de Jack Moves, poderosos ataques de cunho elemental que causam uma enorme quantidade de dano em todos os inimigos na tela. Para usá-lo é necessário realizar ações durante a luta para preencher uma barra de especial que, quando cheia, habilita o uso do JM e pode virar a partida a favor da menina.

Novas habilidades são obtidas ao comprar novos chips de software e equipando-os no ciberdeque de Noa. Entretanto, é necessário ficar atento à quantidade de RAM necessária para cada um, além da quantidade disponível para que as técnicas sejam instaladas. Dessa forma, o jogador é forçado a escolher quais vão realmente ser úteis em uma batalha para evitar que essa troca seja feita durante as lutas e que turnos preciosos sejam perdidos apenas para fazer ajustes nas habilidades da menina em meio a uma luta complicada.

O que é bom dura pouco

Com uma trama interessante e bem amarrada, personagens marcantes e bem desenvolvidos e uma trilha sonora não tão memorável, mas bem produzida e que casa perfeitamente com o tema do game, tive uma experiência bastante agradável, apesar de sua curta duração, um dos poucos pontos ruins do título.

Para se ter uma noção do tempo gasto para terminar Jack Move, digamos que você comece a jogá-lo num domingo após o almoço. Por volta das 8 da noite, caso não tenha passado por muitas dificuldades nos chefes, você já estará nos momentos finais do game, rumo à batalha contra o final boss e ainda poderá ver os gols da rodada no Fantástico.


Quem está acostumado com JRPGs vai achar um pouco chato terminar o jogo tão rápido, já que o gênero costuma trazer experiências que levam muito mais tempo para serem concluídas. Entretanto, o roteiro bem escrito não me deixa acusá-lo de ser o responsável por um final mais precoce da trama, visto que a história flui de forma muito tranquila e natural, praticamente sem margem para outras subtramas que também fazem parte do cardápio desse tipo de jogo.

Sim, há algumas sidequests para fazer que vão tomar alguns minutos extras do seu tempo e premiá-lo com recompensas igualmente modestas, e úteis, mas nada que se mostre como algo realmente necessário ou importante para a coluna vertebral da história principal. Tanto é que nem mesmo fiquei tão motivado a concluí-las, pois estava bem interessado no desenrolar da história.

A casualidade de Jack Move pode ser potencializada graças a outra mecânica que diz respeito aos encontros com os inimigos. Assim como os antigos JRPGs, ao andar por alguma área somos repentinamente surpreendidos por um encontro que, consequentemente, nos leva para um combate. Um indicador no canto superior direito da tela indica quando o próximo confronto está prestes a acontecer, e pode ser ajustado para que o jogador foque mais na exploração e na narrativa.


A funcionalidade é útil quando você quer gastar um tempo extra na exploração de uma localidade em busca de itens e segredos, mas que, pessoalmente, recomendo deixá-la ajustada no modo padrão. Afinal, como Noa vai subir de nível se não lutar contra alguns gangueiros digitais, não é? Também dá pra aumentar a frequência das lutas para quem gosta de fazer pouco de grinding pra acumular grana ou então fortalecer a heroína e suas habilidades mais rápido, tudo ao gosto do freguês.

Modesto na proposta e fiel nas origens

Jack Move é um JRPG moderno que homenageia suas origens trazendo uma experiência bem casual de um gênero que costuma exigir muito dos jogadores com uma trama bem escrita, personagens bem construídos e um gameplay simples de dominar. Ótimo para quem busca uma experiência menos exigente, mas ainda assim satisfatória, nesse clássico gênero dos videogames.


Prós

  • Ótima história;
  • Arte em pixel art bem animada e caprichada;
  • Gameplay simples e fácil de dominar;
  • Combates com nível de estratégia satisfatório.

Contras

  • Nomenclaturas de ações, técnicas e inventário causam certa confusão nos primeiros momentos de jogo;
  • Curta duração;
  • Nenhuma subtrama na narrativa para enriquecer mais o universo do game e estender o tempo de jogo.
Jack Move — PC/PS4/XBO/Switch — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PlayStation 4
Revisão: Ives Boitano
Análise feita com cópia cedida pela HypeTrain Digital

Fã de Castlevania, Tetris e jogos de tabuleiro. Entusiasta da era 16-bit e joga PlayStation 2 até hoje. Jogador casual de muitos e hardcore em poucos. Nas redes sociais é conhecido como @XelaoHerege
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