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Análise: Punhos de Repúdio (PC) é um beat ‘em up brasileiro em que você espanca negacionistas de uma pandemia

Jogo se passa em um cenário fictício em que a gravidade de uma pandemia é negligenciada.


Punhos de Repúdio
é um beat ‘em up brasileiro que retrata um universo fictício distópico em que uma pandemia de proporções globais assola a humanidade e ainda não foram desenvolvidas vacinas para combater esse mal. Nesse contexto, o uso de máscaras é essencial para evitar a disseminação da doença, porém certos setores da sociedade minimizam a gravidade da situação e a importância das medidas de prevenção. Cansadas do desleixo dos negacionistas, as quatro protagonistas do jogo decidem partir para a conscientização na base da pancada.

Disclaimer óbvio, porém necessário

Gostaria de começar com um aviso: embora retrate um cenário fictício, é óbvio que este game carrega uma crítica social com viés político. Esta análise abordará somente as características de Punhos de Repúdio como um beat 'em up, não entrando em seu mérito social, político ou moral. 

A abertura do game também deixa claro que se trata de uma obra de ficção e que semelhanças com pessoas, eventos ou instituições da vida real são mera coincidência. Há também um disclaimer alertando que o jogo contém cenas de violência gratuita contra babacas e idiotas e que não deveria ser jogado por tais. 


Ainda assim, como algumas pessoas não têm muita noção e não conseguem distinguir ficção da realidade, acredito que caiba um aviso extra aqui: não faça, de forma alguma, a resolução de conflitos através da violência. Assim como você não deve fazer o que faz em qualquer beat ‘em up ou no GTA, não tome Punhos de Repúdio como um modelo de conduta para usar na vida real.

Como o jogo é uma sátira, alguns setores da sociedade certamente se sentirão extremamente ofendidos com alguns elementos estranhamente familiares que aparecem no game, o que imagino que seja exatamente a intenção dos desenvolvedores. 


Há também contém bastante conteúdo gore e linguagem imprópria, portanto pessoas sensíveis a esse tipo de material devem evitá-lo. 

Gráficos feitos à mão pra sentar a mão

Punhos de Repúdio é o resultado de uma campanha de financiamento coletivo de 45 dias, que contou com 1.271 apoiadores e arrecadou mais de 1.000% de sua meta original. No momento está disponível somente para PCs, mas há planos para lançamento em consoles, sem data definida. 


Permeado pelo humor, o game já começa com um aviso de que o símbolo de salvamento indica que o game está, obviamente, salvando o jogo. A cena inicial é uma divertida paródia à clássica introdução de Streets of Rage (Mega Drive), uma clara inspiração para este título. A trilha sonora, composta por João Matheus, também faz referências aos clássicos de Yuzo Koshiro que apreciamos na famosa série da Sega. 

Já os gráficos desenhados à mão por Kainã Lacerda são bonitos e muito bem-animados, lembrando bastante a estética e jogabilidade de Scott Pilgrim vs. The World: The Game (Multi).

Quatro amigas

As quatro protagonistas do jogo são personagens bastante interessantes. O elenco é totalmente feminino, com representatividade de diferentes etnias e estilos de vida, mas todas com uma característica comum: altíssimo repúdio contra negacionistas.


Laura é a personagem mais equilibrada em alcance, agilidade e força. Cansada de ver pessoas negando a gravidade da situação, sua paciência foi se esgotando até que resolveu lidar com a situação com seus punhos.

Nina é uma gênia da tecnologia e está sempre acompanhada de Robson, o robô que construiu para o TCC da faculdade. Muito versátil, o robozinho pode ajudar em uma série de atividades do cotidiano, como esmurrar ameaças pelo caminho. É a personagem de maior alcance, tem agilidade e força moderadas, mas suas voadoras são péssimas.

Olga passa a maior parte de seu tempo enfurnada em seu quarto escuro, ouvindo bandas que você não é cool suficiente para conhecer. Dada a gravidade da situação, a garota sentiu-se na obrigação de abandonar seu habitat natural para combater os negacionistas. É a personagem com maior agilidade e menor força bruta.


Lola é a mais disciplinada e bombada da turma. Com as academias fechadas, prossegue seus treinos com aquilo que tem no seu apartamento, fazendo levantamento de peso com a geladeira e flexões com o fogão nas costas. Não entendendo por que as pessoas estão saindo por aí e colocando suas vidas em perigo, decidiu conscientizá-las com os punhos. É a personagem que possui maior força bruta, mas menor agilidade.

Um cenário familiar

A campanha é dividida em quatro fases e pode ser concluída em poucas horas. Os cenários são uma amálgama dos clássicos dos beat ‘em up, compostos por estágios da rua, boate e elevador,  mas com ambientação inspirada na realidade brasileira (ruas da periferia, bares, templos religiosos e manifestações públicas). Alguns elementos visuais são paródias de coisas típicas da nossa cultura, como marcas famosas de cerveja, estabelecimentos comerciais, instituições públicas e até certos grupos e indivíduos.

Conforme andamos pelos estágios, encontramos fragmentos de manuais que estão sendo destruídos na campanha conservadora de queima de livros. Ao juntar três fragmentos, desbloqueamos um novo golpe para nossa lista, e também é possível aprender novas técnicas vencendo minigames disponíveis nos finais de algumas fases.


Infelizmente, a variedade de combos não é muito grande e, na minha opinião, os desenvolvedores poderiam ter implementado novas sequências de golpes alternando botões de ataque fraco e forte. Os agarrões também se resumem em arremessos para a frente e derrubada simples, mas poderia haver mais variações, como é de praxe nesse gênero.

Além dos fragmentos de livros, é possível encontrar nas ruas power-ups na forma de máscaras (aumenta uma vida) e álcool em gel (restaura a barra de saúde). Pedaços de pau, pedras, bandeiras, vuvuzelas e pés de cabra podem ser usados como arma e são bastante eficientes, mas têm durabilidade limitada.

Quando concluímos uma fase, somos levados ao mapa da cidade, que permite selecionar o estágio e conversar com NPCs. Alguns desses personagens oferecem dicas de jogo e outros vendem comidas, que podem ser compradas com as moedas que recolhemos dos oponentes abatidos. Os alimentos podem ser equipados para conferir vantagens especiais temporárias, como carregamento acelerado de energia especial ou aumento de força, com duração de um estágio. 

Ao atingirmos os oponentes, carregamos uma barra de especial. Quando completa, é possível acionar um golpe especial que varre todos os inimigos da tela, causando grande dano. As animações desses ataques especiais são um show à parte.


Um aspecto que chama atenção na jogabilidade é a importância do uso da defesa. Normalmente negligenciada em beat ‘em ups, o uso dessa mecânica é fundamental em Punhos de Repúdio. Os inimigos são agressivos e têm um grande alcance, portanto, se você jogar unicamente no ataque, certamente terminará em Game Over. A melhor estratégia em situações de perigo é acionar a defesa e contra-atacar no momento certo, o que confere um diferencial de gameplay para esse título.

O jogo ainda  oferece multiplayer local para até quatro jogadores simultâneos. Não há multiplayer online nativo, mas o game é compatível com o recurso Remote Play Together do Steam, o que acaba preenchendo essa lacuna. Infelizmente, não há suporte ao cloud saving do Steam, portanto, se você jogar em mais de um computador, não poderá transportar seu progresso automaticamente pela rede.



Se notas de repúdio nada resolvem…

Punhos de Repúdio é um beat 'em up simples e com uma campanha curta, apresentando belas artes feitas à mão e animações bastante fluidas. As mecânicas de jogo, ainda que simples, são bastante divertidas, destacando-se pela importância de usar a defesa nos momentos corretos, ao contrário da maioria dos jogos do gênero, que se concentram totalmente no ataque. 

O jogo brasileiro é uma sátira que não mede esforços com conteúdo gore e linguagem imprópria, mas, se você não se incomoda — e não se sente ofendido — com isso, terá um jogo de briga de rua mecanicamente divertido e que retrata de forma caricata um ambiente fictício, porém familiar à sociedade brasileira contemporânea.

Prós

  • Jogabilidade simples, direta e divertida;
  • Uso estratégico da defesa o diferencia de outros games do gênero;
  • Artes bem animadas e desenhadas à mão;
  • Ambientação satírica familiar para o público brasileiro;
  • Modo cooperativo local para até quatro jogadores. 

Contras

  • Pouca variedade de combos;
  • Ausência de multiplayer online nativo;
  • Sem suporte a cloud saving;
  • O conteúdo pode ser ofensivo para algumas pessoas e não é recomendado para crianças.
Punhos de Repúdio — PC — Nota: 7.0
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela BrainDead Broccoli

é engenheiro eletrônico e tem uma filha fofinha que tenta morder os controles do papai. Curte jogos de luta, corrida e ação.
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