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Análise: BROK the InvestiGator (PC) combina point-and-click e beat ‘em up em um jogo imperdível

Uma história sobre um pai e um filho tentando sobreviver em um mundo futurista destruído.

BROK the InvestiGator
é um jogo com uma premissa um tanto inusitada. Em um mundo pós-apocalíptico no qual os humanos têm a aparência de animais variados, um jacaré investigador tenta criar o filho de sua falecida mulher. Intercalando entre sequências de point-and-click e beat ‘em up, o jogo narrativo brinca com ambos os formatos para oferecer uma experiência única de gameplay. Inicialmente lançado para PC, o jogo chegará aos consoles também no fim do ano.

Família vai além do sangue

BROK the InvestiGator conta a história do personagem homônimo, um ex-boxeador que decidiu se tornar um detetive particular. Após a morte da sua mulher, Lia, ele se esforçou durante anos para criar o pequeno Graff. Com muitas contas para pagar, ele nem sempre esteve presente quando necessário e escondeu várias coisas de seu filho adotivo, levando a um relacionamento conturbado entre os dois.

Em particular, vale destacar as condições precárias em que os dois vivem como moradores do Slums. Em um mundo futurista no qual a poluição tomou conta de toda a atmosfera e a população depende de pílulas para sobreviver, a elite vive dentro de um domo de vidro (o Drums) com uma vida confortável e vários privilégios, enquanto a população mais pobre vive em um lixão precário (o Slums) e se esforça diariamente para manter um mínimo de dignidade.

A narrativa intercala entre as perspectivas de Brok e Graff, dando ao jogador a oportunidade de vivenciar os seus dramas pessoais. Enquanto uma série de eventos atípicos começa a lentamente ameaçar o dia a dia dos dois, será possível conhecer uma série de personagens carismáticos e entender mais a fundo o que está acontecendo. Coisas sobre o passado incerto do Brok voltam para assombrá-lo e também temos a chance de entender melhor a realidade dos outros personagens.

Há várias missões opcionais e as ações do jogador levarão a finais diferentes para a história. Uma vez terminado o jogo, o jogador pode usar o fluxograma indicando as principais variações da narrativa para se guiar. Com ele em mãos, fica mais fácil garantir que o jogador encontrará as outras possibilidades.

A história em geral tem um tom majoritariamente descontraído, com algumas críticas sociais bem colocadas. A relação entre os personagens não foge de estereótipos, mas é convincente graças ao forte carisma de todos e às escolhas coerentes da narrativa de um modo geral. Apesar de não ter nenhum problema na narrativa em si, a tradução para o português falha em vários momentos, com algumas escolhas muito literais, trechos não traduzidos, erros de digitação e outros problemas. 

Também senti falta de um sistema de log para registrar os diálogos, o que costuma ser um elemento útil para jogos com foco narrativo. É possível usar um registro no menu para rever o que foi falado, mas a presença dele no menu e não durante as conversas reduz um pouco a sua eficácia caso o jogador queira checar algo antes de prosseguir.

Investigador de dia, boxeador à noite

Em termos de gameplay, a história intercala momentos em que controlamos Brok (a maioria deles) e outros com Graff. Cabe ao jogador explorar os ambientes em busca de objetos interativos no tradicional formato point-and-click e basta apertar um botão para que o jogo indique onde eles estão. Porém, isso não significa que a exploração é trivial, já que há puzzles para resolver e o jogo faz questão de não dar detalhes sobre eles, para que seja necessário pensar sobre a sua solução por conta própria.

Porém, caso o jogador não saiba o que fazer e precise de ajuda, há um sistema de dicas que podem ser compradas com um adesivo. Cada área do jogo conta com três desse colecionável, que é o único elemento interativo que não é indicado pelo botão mencionado anteriormente. Os adesivos sempre têm a mesma combinação de cores, sendo uma questão de procurar com calma para encontrar todos. Basta comprar uma vez para ter aquela dica disponível até avançar para a próxima parte da história.

Em algumas ocasiões da história, também é necessário confrontar algumas pessoas combinando dicas para apontar as contradições de suas falas. Um conjunto de opções é apresentado ao jogador de acordo com a investigação e basta selecionar aquelas pistas que parecem estar em desacordo ou indicar uma verdade escondida.

Porém, nem só de trabalhos mentais é feito o jogo, afinal ele também inclui um lado beat ‘em up. Antes de assumir o trabalho de investigador, Brok já era um boxeador profissional e continuou participando de lutas para conseguir um dinheiro extra. Além disso, o trabalho acabará levando o personagem a áreas pouco seguras, sendo necessário lutar com um pouco de frequência.

No modo de ação, Brok e Graff são capazes de pular e realizar vários ataques, que variam de acordo com a movimentação dos personagens. Os movesets deles incluem golpes com mais impacto por estar correndo em direção aos inimigos, combos aéreos, entre outras opções que valem a pena explorar. Além de dinheiro e alguns itens, a vitória em combate também implica no ganho de experiência e o aumento de nível permite ao jogador aumentar a força, as habilidades especiais ou a vida dos personagens.

Um detalhe que chama atenção é que o jogador pode alternar entre os modos de investigação e de luta a qualquer momento, o que é utilizado em alguns puzzles. Pode ser necessário bater em alguma coisa para obter pistas e o jogador pode ter opções mais violentas para avançar a história. Com isso, mais do que um jogo com dois momentos, Brok consegue tirar proveito da combinação e apresentar consequências narrativas para algumas dessas escolhas.

Uma experiência charmosa

BROK the InvestiGator
é um jogo charmoso que consegue combinar muito bem point-and-click e beat ‘em up. Com personagens carismáticos em um contexto futurista de críticas sociais ácidas, a obra sabe extrair o melhor de ambos os gêneros. Para qualquer jogador que curta títulos de aventura com foco narrativo, trata-se de uma experiência singular e imperdível.

Prós

  • Narrativa envolvente com personagens carismáticos e um contexto futurista curioso;
  • O moveset dos dois protagonistas no modo beat ‘em up possui uma boa variedade de opções;
  • Puzzles inteligentes e bem apresentados;
  • Sistema de pistas como recompensa pela exploração;
  • Terminar o jogo libera um fluxograma para que o jogador saiba as principais variações narrativas e as possibilidades de outros finais.

Contras

  • A tradução para o português conta com vários errinhos;
  • Ausência de um sistema de log para reler os eventos da história durante a narrativa.
BROK the InvestiGator — PC — Nota: 9.0
Revisão: Ives Boitano
Análise produzida com cópia digital cedida pela COWCAT Games

é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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