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Análise: Undergrave (PC) é um simples e envolvente puzzle tático brasileiro

Explore um mundo perigoso neste título indie de desafio intenso.


Undergrave combina elementos de puzzle e estratégia em uma aventura roguelike desafiadora. No controle de um guerreiro, podemos saltar, correr e lançar a espada para derrotar monstros, sendo o desafio conseguir gerenciar a energia limitada do herói. Produzido pelo estúdio brasileiro Wired Dreams, o jogo prende a atenção com suas boas mecânicas. No entanto, a pequena diversidade de situações atrapalha a experiência.

Desbravando um local sombrio

Um espadachim sem nome se vê preso no Reino do Vazio, um lugar sombrio e repleto de perigos. A suposta saída está bloqueada e a única maneira de liberá-la é dissipando selos, que são vigiados por guardiões poderosos. Sem outra opção, o guerreiro adentra as profundezas e enfrenta monstros em uma jornada complicada.

Cada estágio funciona como um puzzle com elementos de estratégia. Em cada andar, o objetivo é derrotar todos os inimigos para liberar a saída. As fases são divididas em espaços, como se fosse um tabuleiro, e todo o andamento é por turnos, o que nos permite planejar a próxima ação com calma.


O espadachim tem três opções de ataque. A primeira delas é uma investida em linha reta capaz de acertar vários monstros. O pulo atordoa e afasta os inimigos adjacentes, sendo uma boa alternativa para dispersar grupos. Por fim, o herói pode jogar sua espada contra oponentes próximos. Um detalhe importante é que o custo das habilidades é reduzido quando o guerreiro está desarmado, mas sem a lâmina os movimentos dele não causam dano.

No decorrer da aventura, o herói encontra altares que oferecem melhorias diversas. Algumas são mais simples, como diminuir o custo dos movimentos ou aumentar a vida, já outras alteram significativamente as habilidades, como fazer a espada atravessar obstáculos ao ser lançada ou poder ferir os inimigos mesmo estando desarmado. Ser derrotado significa perder todas as melhorias e recomeçar a jornada desde o início de alguma das áreas já liberadas.



Versatilidade estratégica com poucas habilidades

Undergrave é mais um daqueles títulos que, em um primeiro momento, nos engana com suas mecânicas simples. É fácil entender as regras, mas sobreviver é outra história: o herói está em constante desvantagem, bastando alguns poucos erros para ser cercado e morto. Além disso, executar as habilidades consome muita energia, e somente um ponto dela é recuperado a cada turno. Com isso, é essencial agir com consciência e muita atenção.

Fui surpreendido especialmente pelo aspecto tático das partidas. O herói tem somente três movimentos, mas eles oferecem muitas opções estratégicas. A investida, por exemplo, é uma ótima opção para derrotar vários monstros em sequência, porém constantemente ela nos deixa em algum espaço mal localizado. Já o pulo é bastante versátil por permitir escapar de situações complicadas, mas seu alto custo de pontos de habilidade nos impede de utilizá-lo com frequência.


Lançar a espada e ficar desarmado cria uma dinâmica bastante interessante. Pode parecer ruim não conseguir derrotar monstros ao estar sem a arma, mas é uma estratégia válida para escapar de situações difíceis, afinal o custo das habilidades é bem reduzido nesse estado. Jogar a lâmina também oferece opções estratégicas: é possível recuperar a espada durante uma investida ou um salto. É arriscado tentar enfrentar os inimigos sem a arma, mas é muito recompensador conseguir executar esse tipo de estratégia mais complexa.

Estágios apertados e a introdução constante de diferentes tipos de inimigos tornam a aventura desafiadora. Pelo caminho, fui forçado a readaptar minhas estratégias quando apareceram novos obstáculos ou monstros, como ratos irritantes que se movem dois espaços por turno ou um cérebro deformado que exige dois turnos para ser derrotado. Os chefes oferecem um bom desafio em batalhas um pouco diferentes das tradicionais.



Muitas limitações pelo caminho

Mesmo com várias qualidades, muitas características impedem que Undergrave alcance todo o seu potencial. O maior problema do jogo é a pequena diversidade de situações. O protagonista tem à disposição somente três movimentos, o que limita as opções estratégicas a médio prazo. As melhorias aleatórias tentam compensar isso, mas a maioria delas tem pouco impacto por não oferecer mudanças significativas na jogabilidade.

A variedade reduzida dos combates é outro ponto negativo. Os estágios são muito parecidos entre si, sendo a principal mudança somente o aumento da quantidade de inimigos. Além disso, faltam eventos aleatórios ou alterações notáveis nas fases — mapas com formatos diferentes ou monstros normais levemente alterados, por exemplo, conseguiriam diferenciar mais as partidas. Isso é especialmente cansativo no início de novas tentativas, afinal repetimos os mesmos desafios e ações. Como roguelike, ele falha em oferecer elementos variados e únicos, resultando em uma experiência repetitiva.


O visual em pixel art é simples, agradável e fácil de entender na maior parte do tempo. Porém, há momentos em que o ângulo da ação torna difícil ver com clareza onde os inimigos estão de fato. Não só isso: certos elementos do cenário às vezes escondem parte dos personagens, o que atrapalha um pouco o nosso julgamento. Por causa disso, muitas vezes fui atingido por calcular erroneamente a posição de algum inimigo. Marcações ou ícones no solo indicando espaços em que podemos levar dano, por exemplo, auxiliariam fazer escolhas mais conscientes.

Uma jornada razoável

Undergrave usa elementos de estratégia e de puzzle para criar um roguelike competente. É notável a diversidade tática proporcionada pelas três habilidades do herói, e estar desarmado ou não traz uma dinâmica única aos embates, que têm dificuldade crescente. No entanto, o jogo peca ao oferecer pouca variedade de situações no geral, o que deixa as partidas parecidas demais entre si. No fim, Undergrave é uma experiência simples, mas que vale a pena ser conferida.

Prós

  • Conceito principal interessante que mistura puzzle e estratégia;
  • Mecânicas fáceis de entender, mas com muitas nuances a serem dominadas;
  • Desafio crescente que força a readaptação de táticas.

Contras

  • Opções estratégicas limitadas a médio prazo;
  • Pequena variedade de situações entre as partidas;
  • Confusão visual atrapalha em alguns momentos.
Undergrave — PC — Nota: 7.0
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Wired Dreams Studio

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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