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Análise: Fall Guys: Ultimate Knockout (Multi) celebra a gratuidade mantendo a bagunça e expandindo a diversão

Próximo de completar dois anos de vida, o jogo da Mediatonic - agora gratuito - amplia seu catálogo de desafios e faz do caos sua razão de existir.

Fall Guys: Ultimate Knockout traz gincanas malucas com dezenas de jogadores sagazes em forma de jujubas molengas. Você joga como uma dessas criaturinhas com roupinhas bonitas e o seu objetivo é passar por vários desafios eliminatórios para conquistar a tão prestigiada coroa. O título da Mediatonic é uma delícia de se jogar e, embora existam jogadores competitivos e obcecados pelos troféus principais, ele é uma boa companhia para aqueles que buscam por diversão exagerada e altos risos.

Quase dois anos depois do lançamento original, a experiência conta com uma grande variedade de desafios e gincanas recicladas das seis primeiras temporadas do modelo premium e inclui outras inéditas para celebrar a adoção de um modelo totalmente gratuito. Nesta análise, você confere o que mudou - para o bem ou para o mal.

Classifique-se para vencer!

Fall Guys é uma experiência multiplayer no formato de battle royale, na qual até sessenta jogadores competem simultaneamente por uma única coroa. Cada show é composto por vários rounds malucos que vão eliminando certa quantidade de participantes; há desafios de corrida, sobrevivência, pontuação, lógica e em grupo. Nas corridas, por exemplo, você precisa percorrer uma pista repleta de obstáculos, como martelos que te arremessam para longe, passagens com gosma pegajosa que fazem seu personagem escorregar, esteiras e outras estruturas frenéticas, bem como frutas que te atrapalham e fazem de tudo para que seu trajeto seja o mais tortuoso possível. 

Nesses rounds, normalmente há um limite de classificações, ou seja, você precisa estar entre os primeiros a passar pela linha de chegada, caso contrário, é eliminado. E assim, sucessivamente os jogadores vão sendo expurgados das partidas, até somente um levar o troféu. Entretanto, nem todo round requer que você simplesmente se classifique ao atravessar uma marcação, há as disputas de lógica, por exemplo, nas quais você deve memorizar as frutas no chão e ficar sobre a plataforma correta para evitar cair na lama.

O seu personagem pode pular, se jogar, agarrar outros oponentes e escalar plataformas. Essas simples, mas úteis habilidades podem ser combinadas aos obstáculos e estruturas das provas para criar estratégias individuais interessantes que dão vantagens ao jogador em relação aos outros. Em alguns desafios, os martelos rotativos do cenário, dependendo de seus posicionamentos, podem arremessar o personagem até a linha de chegada, sem que você precise de fato movimentá-lo pelo turbilhão de contratempos.

Em Fall Guys, o melhor e mais hábil vence, mas sempre é preciso de um pouco de sorte também, porque absolutamente tudo à sua frente é seu inimigo, visto que seus rivais são os mais perigosos. O sistema de colisão do título é extremamente notório e qualquer toquezinho no adversário ou em estruturas sólidas já fazem seu personagem cair e ficar por alguns segundos cambaleando pelo chão, o que pode ser suficiente para definir sua derrota ou vitória. 

Também é possível agarrar outros jogadores e vice-versa. Na maior parte do tempo, eles estão próximos da linha de chegada tentando te impedir de se classificar ou ainda tentam te empurrar para fora do mapa para eliminá-lo. Isso com certeza soa bastante irritante e na prática essas situações são realmente feitas para que você passe raiva, porém esse caos criado pela multidão de jujubas, os tropeços e as viagens de volta ao checkpoint anterior por você ter caído de uma plataforma são o coração da experiência da Mediatonic.

Além do show principal e individual (chamado de show solo), também existem dois outros espetáculos fixos: o show em equipe e o de duplas. No primeiro, várias equipes de quatro jogadores devem sobreviver aos rounds e manter-se até a final. A diferença é que, aqui, cada membro da equipe recebe fragmentos de coroa. A mesma ideia vale para o show de duplas, em que é necessário trabalho em equipe para atingir a vitória. Os shows com mais de uma pessoa envolvem desafios como futebol, pega-pega com caldas de tanuki, entre outros.

Há também os shows especiais e temáticos que ficam mudando durante a semana. Eles podem ser individuais ou em equipe, mas normalmente trazem mais diversidade para as partidas e quase sempre oferecem recompensas (skins inéditas ou cosméticos) ao jogador se ele completar certas missões. Entre os espetáculos que já deram as caras é possível citar o Lamaçal Fatal, que são sucessivas partidas da prova Lama Fatal. Nesta semana, por exemplo, está acontecendo o show denominado Equipes de Verão.

Esses shows diferentes são muito bem-vindos ao jogo, porém tanto esses quanto os fixos ainda são poucos randômicos, o que contribui para a repetição excessiva de certos rounds e a falta de aproveitamento de outros. Por exemplo: ao entrar em uma partida, você se depara com o desafio Sebo nas Canelas, mas caso seja eliminado e decida jogar novamente, é grande a probabilidade do mesmo desafio ser apresentado mais uma vez. Enquanto esses cenários aparecem repetidamente, outros são completamente esquecidos. Eu venho jogando Fall Guys desde novembro do ano passado e sinto falta de muitos desafios que antes eram destaques, como Luz Guia ou até mesmo Botões Frenéticos.

Outro problema da experiência é o balanceamento dos shows em equipe, pois há momentos em que os times estão incompletos já no início da rodada ou quando determinado participante abandona a experiência sem explicação ou devido a fatores externos como quedas de conexão. Nesses casos, a equipe desfalcada sempre tem mais chances de ser desclassificada, pois não atinge pontos necessários. Geralmente quando acesso partidas em grupo e percebo que há um desfalque, não dou prosseguimento à jogatina, visto que as chances de vencer são reduzidas. A adoção de um sistema de penalidades ou algum incentivo para grupos menores poderiam melhorar a experiência.

Em relação à internet, o título é acessível até em lugares com conexões não tão boas assim. Digo isso, porque minha internet é de apenas 2mbps e o jogo funciona muito bem, exceto em horários de pico quando as instabilidades são mais frequentes, até nos servidores da América do Sul. Isso prejudica um pouco as partidas, principalmente aquelas que exigem que você salte ou desvie de obstáculos, pois o jogo fica lagado.

No geral, Fall Guys é uma experiência bastante criativa e recomendada para todas as idades, porque absolutamente não existe qualquer tipo de violência com armas de fogo ou combate como em Fortnite (Multi), Valorant (PC) e outras experiências multiplayer. Além disso, o design das fases tem um tom que parece abrigar os melhores dias da nossa infância com elementos multicoloridos e piscinas de slime que seriam atraentes de mergulhar se aquilo não nos eliminasse da partida. A trilha sonora divertida também alimenta essa visão, bem como as jujubas com seus vestidos exóticos e bregas.

Fall Guys 2020 x Fall Guys 2022

De 2020 para cá, Fall Guys evoluiu e se tornou um pouco mais atrativo. Se no começo havia um catálogo reduzido de provas, hoje as possibilidades de diversão foram expandidas com desafios de todas as seis temporadas do modelo premium e alguns novos do modelo gratuito. Os meus preferidos são Escalada Suja, Lama Fatal e Rei da Montanha, embora existam outros que igualmente detêm minha atenção, principalmente pela criatividade envolvida. Um deles é Doces Ladrões, um jogo parecido com polícia e ladrão, no qual você pode ficar invisível para roubar doces e deve evitar ser enjaulado pelos guardiões. Há também o desafio Bola Detonante, uma experiência de queimada muito, mas muito louca e exagerada.

Ao vencer um show, você recebe uma coroa ou fragmentos de coroa que antes podiam ser usados para comprar skins e subir no rank da coroa. No entanto, no modelo gratuito, elas simplesmente perderam boa parte da sua importância e servem unicamente para chegar a níveis mais elevados no rank. Por se tratar de uma experiência que agora sobrevive por meio de microtransações, é natural que a Mediatonic tenha decidido dificultar a aquisição de skins mais sofisticadas - que só podem ser compradas por meio de Bufunfas, a moeda premium do game -, porém seria mais interessante e com certeza incentivaria bem mais os jogadores se os troféus fossem convertidos em pelo menos uma Bufunfa - embora isso ainda seria pouco em relação ao preço elevado das roupas.

Na loja, é possível adquirir trajes inéditos que variam de 800 até 1800 Bufunfas, mas também há os itens cosméticos como tênis, chapéus e mochilas que são obtidas por meio de Kudos, uma moeda roxa especial que é coletada ao concluir certas missões ou em distribuições gratuitas. Apesar de permitir a aquisição de itens aos jogadores que não podem usar dinheiro real, eles são um tanto quanto genéricos e desinteressantes demais se comparados com as skins.

Além disso, o valor elevado para essas peças - que normalmente custam mais de 1000 Kudos - também não gera incentivo à compra, já que se tornou bem mais difícil coletá-las. Como jogador antigo, as cinquenta coroas de antes do meu inventário foram convertidas em Kudos, o que me garantiu cerca de 150000 dessas moedas para gastar. No modelo atual, para obter mais é preciso concluir missões que normalmente oferecem de 80 a, no máximo, 300 Kudos, o que desestimula muitos jogadores iniciantes que levam quase uma eternidade para juntar uma quantidade ideal.

Os pacotes com Bufunfas variam de 25 até 240 reais, o que garante 1000 e 13500 dessas moedas premium, respectivamente. Particularmente, acho esses valores um pouco elevados, principalmente porque os preços das skins em si são altos. Entretanto, como são apenas itens cosméticos e não influenciam de maneira alguma o gameplay, elas não fazem tanta diferença assim para se divertir.

O passe da primeira temporada foi disponibilizado para todos gratuitamente, mas é provável que a próxima já exija que o jogador gaste Bufunfas para acessá-la. Isso não é um problema drástico, já que o atual distribui 1500 dessas moedas que poderão ser usadas futuramente para tal feito. É claro que acaba limitando os usuários a não gastá-las com skins.

O passe desbloqueia cem itens, incluindo skins inéditas como o Mechagodzilla, emotes divertidos e vários outros objetos customizáveis. Para desbloqueá-los, é necessário adquirir experiência em jogo. A tarefa se torna mais descomplicada ao completar missões que agora se subdividem em diárias, semanais e da temporada. Elas oferecem pontos de experiência significativos para subir de nível rapidamente.

Fall Guys então, é super acessível para todos, já que está disponível em várias plataformas e conta com crossplay entre elas. No entanto, deve haver certo sacrifício em relação a como utilizar suas Bufunfas, pois, caso as use com skins, não terá suficiente para o passe. Ainda que não consiga adquirir roupas fashionistas, as próprias peças do passe e dos desafios especiais são bem bonitas e às vezes a Mediatonic será gentil e deixará uma no seu inventário como aconteceu recentemente. 

Embora tenha modificado alguns aspectos para se adequar ao modelo gratuito, o título ainda mantém suas características originais que funcionam e divertem como sempre. O caos sem fim e a bagunça exagerada nos cenários são parte de seu cerne e são pequenas situações como essas que fazem dessa uma experiência extremamente intensa e perfeita para qualquer momento do dia. E mesmo passando raiva por ser eliminado desastrosamente no final, há algo que vai te fazer rir pelos instantes mais bobos e aleatórios.

Acessível e cômico

Apesar de falhas pontuais e obstáculos significativos do modelo gratuito, Fall Guys: Ultimate Knockout traz um catálogo de desafios mais amplo e diversificado que consegue atrair seus jogadores pela abordagem infantil, divertida e ligeiramente atraente. Mantendo as cores, a alegria musical, o caos, a bagunça e sempre visando expandir a comicidade, o título da Mediatonic é um deleite para todas as horas do dia, mesmo que infelizmente limite uma parcela de seus jogadores de adquirir itens que antes talvez fossem mais incentivados.

Prós

  • Maior diversidade de shows que englobam desafios das seis primeiras temporadas do modelo original e novas do modelo gratuito;
  • A jogabilidade continua excelente e a colisão parece ter sido ampliada para criar uma experiência verdadeiramente caótica, gostosa, desengonçada e cômica;
  • Uso de diferentes estratégias individuais ou em grupo nos desafios deixam o jogo mais competitivo e divertido.
  • Bastante acessível, tanto por estar disponível em várias plataformas e contar com crossplay quanto por não obrigar o jogador a gastar dinheiro para jogar;
  • A trilha sonora e o design das provas contribuem para uma ótima experiência jogável. 

Contras

  • Apesar da diversidade de shows semanais, certas partidas ainda são pouco randômicas, o que contribui para a repetição excessiva de certos rounds e a falta de aproveitamento de outros;
  • As coroas não têm mais a mesma importância de antes e agora servem apenas para subir de nível, mas poderiam ser convertidas em Bufunfas (moeda premium do título); 
  • Péssimo balanceamento nas partidas em equipe, principalmente quando os times estão incompletos já no início da rodada ou quando um determinado participante abandona a experiência sem explicação ou por conta de fatores externos como quedas de conexão. A adoção de um sistema de penalidades ou de incentivo para grupos menores poderia melhorar a experiência; 
  • O valor elevado das Bufunfas não incentiva o jogador a adquirir skins premium - e isso de maneira alguma é um problema, já que as roupas são apenas itens cosméticos e não influenciam o gameplay, mas ainda assim poderiam ser mais acessíveis.

Fall Guys: Ultimate Knockout - PC/PS4/PS5/XBO/XSX/Switch - Nota: 8.0

Versão utilizada para análise: PC

Revisão: Juliana Paiva Zapparoli

Análise produzida com cópia disponível gratuitamente


é entusiasta e apreciador de jogos com conceito artístico minimalista e narrativas de significado profundo. Acredita na potencialidade de cada experiência interativa e tenta extrair delas sentimentos humanos e existenciais. No GameBlast também escreve notícias, análises e especiais; no tempo livre produz roteiros autorais de séries e filmes. Criatividade, imaginação e curiosidade são algumas de suas características marcantes.
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