Jogamos

Análise: Pocky & Rocky Reshrined (PS4/Switch) vale mais pela nostalgia do que pelo conteúdo

Reviva a aventura estrelada por uma sacerdotisa e seu amigo guaxinim contra forças espirituais malignas.


Pocky & Rocky foi uma aventura estilo run ‘n’ gun com vista de cima originalmente lançada para o Super Nintendo em 1992 pela Natsume. Estrelados pela sacerdotisa Pocky e seu amigo guaxinim Rocky, nossos heróis precisam livrar a terra de um misterioso ser maligno que está causando problemas ao trazer demônios e espíritos para atormentar a vida de todos.
Pocky & Rocky foi lançado para o SNES em dezembro de 1992, no Japão, com versões ocidentais lançadas no ano seguinte nos EUA e Europa.
30 anos depois, sob a supervisão dos mesmos criadores do game original, Pocky & Rocky Reshrined traz uma nova versão deste clássico com diversos elementos novos para deixar a jogabilidade, que já era desafiadora, ainda mais frenética, a história mais bem contada e interessante, e novos personagens para enriquecer ainda mais a experiência de quem passou maus bocados com o jogo original, ou então está se aventurando pela primeira vez na luta contra os espíritos malignos.

Lançado no ocidente pela Natsume em parceria com a Taito, Pocky & Rocky Reshrined está disponível para PlayStation 4 e Switch tanto em formato digital quanto em mídia física para aqueles que gostam de alimentar sua nostalgia com mais um belo jogo na estante graças a ININ Games. Vamos conferir o que tem de novo nesta nova versão do game.

Forças malignas estão à solta

Tempos atrás, os sete deuses da fortuna foram sequestrados por monstros que viviam na região. A sacerdotisa Pocky e seu amigo guaxinim Rocky lutaram contra os monstros e conseguiram salvá-los, ocasionando um relativo período de paz por um tempo e a promessa de que eles não causariam mais problemas naquelas terras.

Tempos depois, Rocky parte em disparada para o santuário onde Pocky trabalha para avisá-la de que os monstros voltaram a causar problemas e pedir ajuda para resolver a situação mais uma vez. Entretanto, a dupla é surpreendida com a chegada repentina de um grupo numeroso e agressivo de monstros no local e, ao retomar o controle do local, descobre o motivo por trás dessa nova confusão.


Uma figura maligna, conhecida como Black Mantle, surgiu de repente e começou a tornar os monstros agressivos. Agora Pocky e Rocky deverão viajar pelas diversas áreas da região para apaziguar os ânimos dos monstros enquanto tentam descobrir as motivações e a identidade do ser que está causando todo esse alvoroço.

Carinha de 1992, corpinho de 2022

Em princípio, Pocky & Rocky Reshrined aparenta ser uma reprodução bem fiel de sua contraparte do Super Nintendo. Quem teve contato com o jogo de 1992 vai notar muitas semelhanças nos comandos e no level design do jogo; até a segunda fase, quando o título começa a mostrar que bastante coisa mudou.

O game continua sendo um run ‘n’ gun frenético em que a principal habilidade dos heróis é atirar projéteis nos inimigos. Ao derrotar alguns deles, ou então abrindo caixas, itens proporcionam a troca do tipo de tiro que o personagem lança e também podem subir o nível de força deles. Semelhante a um shoot ‘em up (os jogos de navinha), ao receber dano o poder de fogo diminui. Um feitiço, com o efeito de uma bomba, também está disponível para dar uma limpada na tela dos projéteis rivais e inimigos que estejam no cenário.


Outra habilidade característica do game também está disponível por meio de um bastão (Pocky) ou um rabo (Rocky) que é sacudido para que tiros inimigos possam ser refletidos. Esse movimento também pode ser usado como ataque a curta distância e é bem útil nos momentos em que se está encurralado em algum ponto na tela. Por fim, a habilidade de escorregar fecha o rol de habilidades básicas de nossos heróis. A ação permite uma esquiva de um ponto a outro da tela de forma rápida para escapar de algum apuro, mas não proporciona nenhuma vantagem adicional, como uma invencibilidade temporária, por exemplo.

Jogando no modo história, o game mostra as verdadeiras novidades, se comparado com o título original, a partir da terceira fase com inimigos novos, fases inéditas e novas habilidades especiais. Sem dar spoilers da história, que também mudou, a partir da fase três os personagens ganham duas ações novas, sendo uma defensiva e outra ofensiva. Ao apertar repetidamente o botão de ataque, uma esfera é lançada no cenário e, ao atirar nela, ela lança projéteis rápidos na direção dos inimigos. Dependendo do personagem, é possível lançar mais de uma destas para aumentar significativamente seu poder de ataque. Seu efeito é temporário e pode ser invocado diversas vezes pelo jogador.

A segunda técnica é ativada ao segurar o botão de ação para sacudir o bastão/rabo. Ao carregar o comando por alguns segundos e depois soltá-lo, um escudo é criado em volta do herói, podendo refletir projéteis e causar pequeno dano nos inimigos e elementos do cenário. Também tem efeito temporário e pode ser invocado a qualquer momento pelo jogador.



As outras novidades ficam por conta de três novos personagens criados para Reshrined: a deusa Ame-no-Uzume, o guerreiro Hotaru Gozen e a divindade Ikazuchi. Os três personagens possuem estilos de jogo bem distintos, contribuindo para o fator replay no game, pois a lista de conquistas/troféus exige que terminemos o jogo com cada um pelo menos uma vez. O destaque maior, na minha opinião, fica para Hotaru, que possui o estilo de jogo mais distinto, mais focado no combate corpo a corpo do nos projéteis dos demais.

Para habilitá-los é necessário terminar o modo história pelo menos uma vez. Uma segunda jornada é necessária para desbloquear o último personagem, pois por algum motivo a equipe de desenvolvimento resolveu criar um empecilho na história que nos faz encontrar apenas dois dos três em cada campanha. Como o evento é aleatório, pode ser que o personagem que você queira não surja na primeira jogatina. Uma decisão estranha, mas está aí para “obrigar” você a jogar a história de novo só para desbloquear o último personagem extra.


Entre erros e acertos, o saldo é negativo

Dois pontos de muito acerto neste remake estão nos gráficos e no som. A direção de arte manteve a fidelidade do jogo original com uma pixel art caprichada e efeitos visuais que enriquecem a apresentação ao se viajar pelo mundo do jogo. Destaque para as cutscenes, muito bem-feitas e animadas, nos deixando realmente interessados na história. A trilha sonora completa a experiência com arranjos novos de músicas clássicas e novas composições que deixam Reshrined com uma verdadeira cara de jogo novo.

Em questão de jogabilidade, Pocky & Rocky Reshrined se mantém fiel ao produto original. Ou seja, se você adorava, vai continuar com esse sentimento; e se odiava, também. Sejamos francos aqui: Pocky & Rocky é um jogo tão divertido quanto difícil. E falo com tranquilidade que boa parte dessa dificuldade se dá pelos controles.


Algo que sempre senti falta no jogo original, e não existe em Reshrined, é um comando que permita que o personagem fique travado em uma direção enquanto se movimenta. Rocky é o único personagem que tem essa função por meio de uma de suas habilidades especiais. Ela é útil para permitir que um ataque possa ser concentrado em uma direção enquanto, por exemplo, desviamos dos projéteis inimigos. Há ocasiões em que é tanta coisa acontecendo na tela que passamos mais tempo desviando do que atacando, acarretando mais tempo em uma seção, principalmente nos chefes.

Pelo menos há uma liberdade para customizar os controles alocando os comandos em qualquer botão do controle, e a movimentação pode ser feita tanto no direcional quanto no analógico, dando mais liberdade de escolha para qualquer jogador. Eu mesmo tentei replicar o mesmo layout do jogo original e acabei optando por deixar alguns comandos nos botões de ombro para deixar minha movimentação mais ágil. Recomendo a você, quando for jogar, criar seu “layout perfeito”.

O modo história, principal do game, tem como principal falha não permitir a jogatina em modo cooperativo, outro destaque do jogo. É compreensível que essa opção não esteja disponível por motivos criativos, mas isso também acarreta outro problema que é, novamente, o empecilho para jogar de dois. O modo só fica disponível sob duas condições: finalizar o modo história uma primeira vez ou obter 10.000 moedas durante o jogo. A primeira condição é atendida mais rapidamente, mas ainda deixa uma das opções mais interessantes do jogo bloqueada. Imagine você comprar o game para jogar com um amigo e ter que zerá-lo primeiro para só então poder jogar com ele. Chato, né?


Uma vez liberado o modo livre, que permite jogar de dois e com qualquer personagem, a experiência fica completa. Dê um controle para seu amigo e saiam obliterando demônios na forma, digamos, correta de se jogar Pocky & Rocky. As moedas que mencionei no parágrafo anterior adicionam um fator replay alto, mas muito mal aproveitado, pois só existem duas metas de coleta: 3.000 para habilitar a dificuldade extra fácil no modo história e 10.000 para habilitar o modo livre. Além disso, as moedas não têm mais uso a não ser dentro do próprio jogo, para comprar itens.

Talvez a criação de uma loja in-game para gastar essas moedas deixasse a coleta desse recurso mais interessante. Customizações como novas cores para os personagens, desbloquear a trilha sonora do jogo de SNES, talvez até habilitar o jogo original também, por que não? São os cacarecos que veteranos saudosistas da época do Super Nintendo gostam de fazer e se sentem estimulados na hora de jogar. Uma oportunidade boa e que não foi aproveitada.


O elemento online só foi aproveitado para os placares, em que é possível comparar suas pontuações com outros jogadores ao redor do mundo. A presença de um multiplayer online deixaria a experiência com mais cara de nova e atualizada. Como citado, o multiplayer só está disponível de forma local, e apenas depois de terminar o modo história, pelo menos. Jogar com quatro pessoas pela internet seria uma adição interessante, não?

A ausência de novos modos também deixou Pocky & Rocky Reshrined com cara de “vamos fazer só isso aqui que já tá bom”. Nenhum time attack, boss rush, desafios ou algo do tipo. Só temos o modo história e o livre, com o multiplayer limitado a apenas um deles. Melhor parar por aqui pois realmente não tenho mais nada a acrescentar. O jogo é bom, mas oferece bem menos que o esperado.

Aprecie com doses moderadas de nostalgia

Pocky & Rocky Reshrined é uma honesta releitura de um clássico da era 16-bit que traz de volta aquele desejo de jogar com um amigo no sofá aquele game desafiador e divertido por horas a fio. Entretanto, para os padrões atuais, não possui tanto conteúdo para te deixar engajado a jogar por tanto tempo. Seja pela falta do multiplayer desde o início, de extras que te fazem voltar mais vezes ao jogo ou mesmo pela satisfação de completá-lo. É nostálgico, mas só isso não basta hoje em dia.

Prós

  • Gráficos e sons refeitos valorizam a apresentação;
  • Cutscenes mais elaboradas e animadas deixam a história mais interessante;
  • Jogabilidade clássica mantida e melhorada com novos elementos de gameplay;
  • Novos personagens criam novas dinâmicas de jogo.

Contras

  • Apenas dois modos de jogo: história e livre;
  • Multiplayer limitado ao modo livre, que precisa ser desbloqueado finalizando o modo história;
  • O recurso de coleta de moedas é muito mal aproveitado;
  • Elemento online limitado apenas aos placares;
  • Fator replay relativamente baixo.
Pocky & Rocky Reshrined — PS4/Switch — Nota: 6.0
Versão utilizada para análise: PlayStation 4
Revisão: Ives Boitano
Análise feita com cópia digital cedida pela ININ Games

Fã de Castlevania, Tetris e jogos de tabuleiro. Entusiasta da era 16-bit e joga PlayStation 2 até hoje. Jogador casual de muitos e hardcore em poucos. Nas redes sociais é conhecido como @XelaoHerege
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


Disqus
Facebook
Google