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Análise: Metal Max Xeno Reborn (Multi) e a luta dos últimos sobreviventes da humanidade em seus tanques de guerra

Apesar do gameplay curioso, o remake de Metal Max Xeno peca consideravelmente na apresentação de sua história.

Iniciada em 1991 ainda no Famicom (o NES japonês), a franquia Metal Max é um tanto curiosa, sendo prioritariamente composta por RPGs de mundo aberto em um contexto pós-apocalíptico. Infelizmente, apenas duas de suas obras chegaram a vir para o Ocidente: o spin-off Metal Saga (PS2) e Metal Max Xeno (PS4/PS Vita).

Metal Max Xeno Reborn é um remake de Xeno, tentando dar uma segunda chance ao título mais recente da franquia. Apesar de ter um gameplay sólido, a nova versão traz uma história tão mal contada que isso acaba reduzindo consideravelmente o apelo da experiência.

Um mundo vazio após o fim

Tudo começa com Talis acordando em meio a ruínas. O local serve como um pequeno tutorial prático, com o jogador lutando contra formigas gigantes, coletando itens, pegando o seu primeiro tanque e quebrando paredes. Logo ao sair, é possível encontrar a Iron Base, uma área que virou o último refúgio da humanidade.

Como esperado da franquia Metal Max, a humanidade já foi praticamente toda destruída em um evento catastrófico. As IAs saíram do controle e realizaram um ataque massivo que destruiu praticamente todas as áreas em que as pessoas viviam. Atualmente, o que resta da maior metrópole da Ásia são apenas ruínas e a Iron Base, na qual apenas um grupo muito reduzido de pessoas vive.

Cabe ao jogador procurar outros sobreviventes e armas poderosas para enfrentar essas criaturas e destruir o mais poderoso inimigo: Catastropus. Todo esse contexto é interessante, mas a obra faz um péssimo trabalho em apresentá-lo. Ter pouca leitura não é necessariamente um defeito, mas a sensação com Metal Max Xeno Reborn é a de uma história francamente sub-aproveitada.

São poucos os diálogos que explicam um pouco sobre o que aconteceu com a humanidade, deixando o jogador sem quase nada de contexto. Os personagens também são totalmente negligenciados, com apresentações muito básicas sobre quem eles são. A sensação é a de que o jogo tem muito mais elementos importantes de história, mas priva o jogador delas para que o foco esteja apenas no gameplay.

Para piorar ainda mais a situação, boa parte dos textos também são recheados com erros de tradução. Esses erros acabam sendo grosseiros e deixando sem sentido alguns dos poucos diálogos que Xeno Reborn tem. Em um jogo que já tenta se esquivar de apresentações delongadas e acaba não fazendo um bom trabalho de sequer dar pistas satisfatórias sobre os eventos do passado, o resultado é uma história que ativamente enfraquece a experiência.

Os tanques são a nossa esperança

Do lado contrário da história, temos um gameplay honestamente divertido. Metal Max Xeno Reborn é um RPG baseado em turnos, mas com uma peculiaridade: enquanto os inimigos não te veem, você pode atacar. Além de poder derrotar as criaturas mais fracas rapidamente sem nem dar tempo para iniciar uma batalha de fato, é possível formular estratégias baseadas em usar o seu posicionamento no mapa para recuar após bater nos bichos.

É possível ter até três personagens na equipe e um cachorro que é encontrado em uma missão. O bichinho ataca por conta própria com a sua bazuca (ou outra arma que o jogador equipe nele) e habilidades específicas desbloqueáveis no menu. Você também pode brincar com ele na base. Já os outros personagens são todos controlados pelo próprio jogador em combate.

Apesar de ter determinadas áreas que forçam o uso de humanos por serem estreitas demais, a maior parte da campanha é explorada usando tanques. Cada personagem pode ter o seu próprio veículo com canhões, metralhadoras e outras armas equipáveis. Um detalhe interessante é que essas grandes máquinas não são destruídas quando sua energia (SP) chega a 0, sendo possível ainda usá-las por mais tempo. Porém, ser atingido após esse ponto levará à quebra de armas e à paralisação do tanque, o que pode ser fatal.

Felizmente, o jogador não precisa se preocupar tanto com isso, já que todos os equipamentos e personagens são restaurados a uma condição perfeita após voltar para a Iron Base. Vale destacar que o retorno a qualquer mapa do jogo é instantâneo graças a um menu de viagem rápida. Da mesma forma, ser derrotado não implica em game over, com a base recuperando os corpos perdidos no meio do deserto.

Customizando a equipe

Cada personagem em Metal Max Xeno Reborn possui uma árvore de habilidades cujos pontos são obtidos aumentando seus níveis. Os pontos são divididos em áreas relacionadas aos atributos (força, HP, evasão) dos personagens, aos tanques e à liberação de poderes específicos, como a possibilidade de curar aliados.

Em termos de equipamentos, é possível comprar, fazer upgrades e encontrar opções poderosas explorando ruínas. Isso serve tanto para os indivíduos quanto para os seus tanques. A personalização dos veículos envolve vários pontos que deixam o processo algo não trivial, como a questão do peso e do SP. Equipar várias armas reduz o SP do tanque, deixando-o mais vulnerável em batalha; da mesma forma, ultrapassar o peso pode tornar o tanque um “canhão de vidro”: muito poderoso, mas muito frágil.

Além das armas, é possível alterar o motor e melhorar os tanques realizando reformas no chassi para deixá-los mais receptíveis a armas de grande peso ou aumentar sua defesa. Outra ferramenta que pode fazer uma grande diferença são os chips, um equipamento que fortalece armas específicas e até gera habilidades especiais que tornam combos de armas em um ataque realizável em um único turno.

O resultado é que os tanques realmente têm uma boa variedade de opções úteis a se levar em consideração. Porém, é fácil se perder entre elas por não se tratar de escolhas simples do tipo “fazer tal upgrade irá aumentar a defesa do tanque”. As opções fornecidas no menu são complexas e antagônicas, sendo necessário um contraponto em cada escolha. Mesmo aumentar as opções de portas para as armas implica em perder SP, e as explicações ruins do jogo também não ajudam a entender o processo, resultando em tentativa e erro.

Um mundo aberto, porém um tanto linear

Um aspecto que também precisa ser mencionado sobre Metal Max Xeno Reborn é o design do seu mundo. Apesar de ser um jogo de “mundo aberto”, o que dá ao jogador uma boa liberdade de explorar à sua maneira, a verdade é que os ambientes têm uma tendência linear.

Talis começa a campanha em uma borda específica do mapa e o caminho não abre margem para ir a outros pontos. Durante meu tempo com o jogo, o que realmente me passou a sensação da liberdade que o jogo buscava oferecer foi a opção de simplesmente ignorar os inimigos e seguir em frente. Com isso, eu conseguia ir além, ignorando criaturas poderosas e avançando para pontos ainda mais difíceis. Apesar da escolha parecer ruim, o resultado foi a obtenção de armas mais poderosas e um progresso controlado pela minha própria determinação de avançar.

Uma parte significativa da experiência é a obtenção de novos itens durante a exploração, o que inclui usar um detector de metais que pode ser comprado na loja da Iron Base. Com ele em mãos, é fácil encontrar relíquias importantes. Até tanques novos podem ser obtidos com uma boa investigação.

Vale destacar também que boa parte da experiência é opcional, sendo possível deixar alguns personagens para trás, não realizar quests e simplesmente explorar do seu jeito, fortalecendo os aliados recrutados. Embora Xeno Reborn acabe não se apresentando tão bem, essa liberdade de exploração é algo bem marcante e que eu imagino ser parte da essência da série desde seus primórdios lá no Famicom como um RPG de mundo aberto.

Um RPG para quem quer explorar um vasto deserto em tanques

Metal Max Xeno Reborn é um RPG divertido sobre explorar um mundo pós-apocalíptico cujo design é um pouco rudimentar. Porém, ele não consegue oferecer uma experiência que se destaque para além desse gameplay agradável.

Com diálogos e personagens descartáveis, o desenvolvimento raso de história em todos os aspectos e uma tradução constantemente ruim fazem com que a jornada tenha pouco brilho. Mesmo assim, se a ideia de sair explorando um vasto deserto com seu tanque for o suficiente para você querer jogar um RPG, a aventura pode ser prazerosa.

Prós

  • Combate em turnos sólido com opção de atacar previamente e fugir dos combates;
  • Personalização robusta dos tanques;
  • Exploração de mundo agradável com vários itens para obter.

Contras

  • História muito superficial, com personagens e diálogos descartáveis;
  • A tradução para o inglês possui erros grosseiros e momentos que não fazem sentido;
  • Opções de customização são complexas e mal-explicadas;
  • O design do mundo do jogo é um tanto linear.

Metal Max Xeno: Reborn — PC/PS4/Switch — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: PC

Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela PQube Games


é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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