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Análise: fault - StP - LIGHTKRAVTE (PC) é uma história sensível de crescimento pessoal

Prólogo da série fault mostra as tribulações de um rapaz simples que sonha em ser pintor em um mundo de fantasia.

fault - StP - LIGHTKRAVTE
é uma nova visual novel da franquia de fantasia “fault” e parte do segundo arco, “Silence the Pedant”, que serve como um prólogo. Cinco anos antes dos eventos de fault - milestone One, acompanhamos a história de um jovem rapaz cujo sonho de se tornar pintor irá escalar para uma jornada fascinante de autodescoberta e crescimento pessoal.

Um pintor em apuros

Khaji é um jovem rapaz que vive no reino de Rughzenhaide. Filho de Oughes, um dos fazendeiros que fornece frutas para os nobres, ele é apenas mais um cidadão comum que está chegando na idade de definir a sua vocação. A fazenda de seu pai é muito conhecida e todos acabam esperando que Khaji assuma os negócios da família.

O rapaz, porém, tem outros planos. Khaji sonha em se tornar um artista para pintar retratos de mulheres. Apesar da sua intenção vir de um lugar não muito nobre, esse sonho o motiva a se esforçar diariamente para melhorar suas técnicas. Infelizmente, por mais que tente, o rapaz continua falhando miseravelmente.

Em Rughzenhaide, as pessoas precisam fazer testes vocacionais para poder assumir as profissões. Infelizmente, nos testes que realizou, Khaji é considerado uma falha e indicado a tentar outra coisa, especialmente assumir a fazenda de seu pai. No entanto, Oughes está preparado para apoiar o filho seja qual for a sua decisão.

O esforço de Khaji não é nada trivial, mas há algo ainda pior atrapalhando o rapaz: é isso mesmo que ele quer? A história de Lightkravte é prioritariamente uma jornada de autodescoberta em que o personagem vai aos poucos entendendo melhor as suas reais motivações e ambições. Para isso, ele precisa enfrentar obstáculos variados, mas especialmente fortes são as dificuldades relacionadas à sua própria individualidade.

Para não entrar fundo em spoilers, gostaria apenas de ressaltar que existem motivos para Khaji não ser um bom pintor. Essa dificuldade leva a uma discussão de tópicos sensíveis e lidar com isso psicologicamente não é nada trivial. Um dos aspectos mais positivos da história é a sua capacidade de trabalhar os problemas com empatia, mostrando como Khaji se esforça para lidar com o turbilhão emocional causado pela sua sensação de incapacidade.

É muito importante a forma como isso é retratado, mostrando que nem sempre a solução é tão trivial. Durante a leitura é até possível pensar em como resolver a situação dele seria só fazer uma coisa X, mas fica a importância da empatia diante da adversidade. A obra até acaba dando passos para trás após apresentar caminhos claros para um avanço lógico, mas é totalmente natural essa incapacidade do protagonista de seguir uma linha reta na narrativa.

Magia por toda parte

Um aspecto importante do jogo é que a história altamente verossímil se passa em um mundo de fantasia. Neste contexto, a magia é algo comum e seus usos são corriqueiros. Na prática ela acaba sendo empregada basicamente como uma forma de tecnologia cuja energia é extraída da mana. 

Porém, para fazer grandes proezas, as pessoas precisam passar por rituais específicos que acabam tendo grandes efeitos colaterais. Com isso, a população comum acaba deixando a magia de lado e tratando as pessoas que investem nisso como estranhas, exceto os nobres. Khaji é uma pessoa cuja mentalidade muito pautada pelo bom senso faz com que ele enxergue o uso de magia como algo muito distante da sua realidade, mas a obra constantemente reforça a presença fantástica em vários aspectos da vida dele e das outras pessoas.

Como um prólogo para fault - milestone one, a obra faz um excelente papel de apresentar um mundo rico em detalhes. Não é necessário conhecer os outros jogos para aproveitar a jornada de Khaji e, pelo contrário, todos os pequenos detalhes relacionados à magia e ao reino são um convite para mergulhar mais fundo na série. Para ajudar na apresentação de elementos variados de relevância para o contexto, o jogo conta com uma enciclopédia de termos explicando expressões específicas e outros detalhes.

Vale destacar, porém, que o jogo não conta com legendas em português, um fator que provavelmente fará a obra não ser tão convidativa quanto fault - milestone one. O primeiro jogo da franquia tinha a opção do nosso idioma tanto no PC quanto nos consoles. Porém, a opção foi cortada em sua primeira sequência, fault - milestone two side:above, e não está presente em Lighkravte também. Os termos em inglês não são muito complicados, mas ainda é um fator que pode fazer o jogo original ser uma entrada mais fácil.

A magia da animação

Apesar de ter focado mais na parte da escrita até agora, é importante destacar também o aspecto visual da obra. Normalmente, visual novels optam por bastante economia de recursos, utilizando elementos visuais mais estáticos ou dando preferência a eles. Não é assim no caso de fault - StP - LIGHTKRAVTE, que opta por ter a maior parte da jornada composta por sprites animados dos personagens.

A qualidade da animação é de alto nível, com transições fluidas e jogos de câmera que conseguem valorizar a sensação de movimento. O jogador pode até mesmo mover o mouse para tentar mudar um pouco a posição da câmera em relação aos ambientes e personagens.

Há alguns momentos raros de puro texto, mas o padrão do jogo é ter personagens conversando em tela de forma bastante expressiva. O resultado traz cenas vibrantes em que os personagens realmente parecem estar vivos e interagindo uns com os outros. Em particular, o protagonista tem reações bastante exageradas que ajudam a dar uma sensação de constante movimentação na tela e a deixá-lo mais aberto para o jogador entender o seu aspecto emocional.

Apesar da grande expressividade e sensação de dinamismo graças ao aspecto gráfico, o jogo opta por não utilizar vozes. Apesar de não ser um problema por si só, isso acaba sendo o único fator que realmente faz falta para dar vida total aos personagens na trama. Essa ausência é bem evidente e pode pesar para alguns jogadores. Já a trilha sonora é majoritariamente composta por músicas leves que ajudam a dar a sensação de algo mundano e reforçar a atmosfera cotidiana dos eventos.

Uma visual novel sensível e bem animada


fault - StP - LIGHTKRAVTE é uma bela visual novel sobre um jovem rapaz descobrindo o seu lugar no mundo. A obra é satisfatória por conta própria ao mesmo tempo em que consegue ser uma instigante porta de entrada para o universo da franquia. Com alta qualidade gráfica e uma abordagem sensível, trata-se de um título exemplar do gênero.

Prós

  • Trama envolvente focada em crescimento pessoal e autodescoberta;
  • Lida com tópicos sensíveis representando muito bem o turbilhão emocional pelo qual o protagonista passa;
  • Não exige conhecimento prévio dos outros jogos e consegue ser uma boa porta de entrada para a franquia;
  • Mundo de ficção instigante com uma curiosa perspectiva de emprego tecnológico de magia;
  • Animação constante de alta qualidade para os padrões do gênero;
  • Cenas dinâmicas e valorização da expressividade dos personagens, especialmente o protagonista;
  • Enciclopédia de termos importantes ajuda a explicar a obra.

Contras

  • Alguns detalhes do desenvolvimento recaem em clichês;
  • A trama acaba dando passos para trás na sua lógica em alguns momentos;
  • Não há legendas em português.

fault - StP - LIGHTKRAVTE — PC — Nota: 9.0

Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Phoenixx


é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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