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Análise: Loot River (Multi) — deslizando blocos em um intrigante dungeon crawler

Explore um mundo sombrio neste roguelike inventivo, mas que falha em alguns pontos.


Loot River aposta em um conceito único: para avançar por masmorras alagadas, usamos blocos flutuantes para deslizar pela água. O jogo se autodenomina uma mistura entre Dark Souls e Tetris, e essa é uma boa maneira de descrevê-lo, por mais que não seja completamente precisa. Por trás da ideia singular, temos uma aventura de ação de dificuldade brutal e algumas boas ideias, mas problemas na execução comprometem a experiência.

Preso em um ciclo de vida e morte

Um aventureiro encontra um artefato peculiar em ruínas tomadas por água. No entanto, algo dá errado e ele acaba sendo cercado por monstros e é morto. Em seus momentos finais, surge uma estranha mulher que diz que "a morte é só o começo" e, logo em seguida, enfia uma faca no coração do aventureiro. Ele acorda em um lugar estranho e descobre que agora está preso em um ciclo de morte e ressurreição, e para escapar disso precisará explorar um reino arruinado e descobrir as origens da relíquia de poderes ocultos.

Loot River utiliza essa premissa em uma sombria aventura de ação com uma mecânica singular. Com o poder do artefato, o protagonista é capaz de mover blocos flutuantes presentes nos inúmeros calabouços alagados. Com isso, essas plataformas funcionam como meio de locomoção, mas há também aspectos de puzzle: há momentos em que precisamos movimentar diversas placas para desobstruir caminhos ou para alcançar tesouros. Só é possível mover o bloco em que estamos, e os controles são intuitivos — basta utilizar a alavanca analógica direita.


Para enfrentar os monstros que infestam as catacumbas, o aventureiro conta com armas de curto alcance, como espadas, lanças e machados. Pelo caminho, o herói se fortalece por meio de experiência, que permite melhorar atributos ao subir de nível, e por equipamentos com efeitos diversos. Além disso, ele é capaz de se esquivar de perigos e também aparar golpes dos oponentes. Dominar esses detalhes é essencial, pois as criaturas são bem agressivas e erros podem ser fatais.

Entre as diferentes regiões do calabouço, passamos pelo Santuário, uma área segura com alguns aliados. Neste local, podemos utilizar uma energia chamada Conhecimento para liberar recursos para partidas futuras, como armas e vestimentas. No começo da aventura não há muito o que fazer ali, mas as opções se expandem conforme avançamos e encontramos novos aliados.


O jogo é um roguelike, ou seja, ao morrer perdemos todos os itens e experiência coletados e recomeçamos a jornada desde o início. Os mapas mudam sensivelmente a cada tentativa, porém existem recursos para influenciar as partidas subsequentes. Por meio de modificadores, podemos alterar as características das masmorras, como aumentar a quantidade de inimigos, tornar certos mapas mais lineares ou até mesmo criar rotas alternativas.

Explorando masmorras peculiares

Em sua essência, Loot River é um RPG dungeon crawler de dificuldade acentuada. No entanto, o conceito de manipular blocos flutuantes traz uma dinâmica única às partidas. Usar as placas como se fossem pequenos barcos é uma ação fluida, o que torna bastante ágil a exploração. O elemento de puzzle, que nos desafia a organizar os segmentos para que certas peças possam passar por locais apertados, é simples, mas introduz variedade aos calabouços — foram várias as vezes em que precisei observar o mapa com atenção para conseguir avançar.


As áreas contam com desafios únicos que exigem o uso correto das placas flutuantes: em um santuário abandonado, para abaixar uma cerca, é necessário aproximar um interruptor presente em algum bloco específico; em um esgoto tóxico, a dificuldade é alternar entre plataformas de diferentes alturas para desobstruir as rotas. Mas, mesmo assim, depois de algumas partidas há uma sensação de repetição, pois as regiões são mecanicamente parecidas demais e essas pequenas diferenças não são suficientes para deixá-las únicas.

Uma atmosfera gótica e sombria torna Loot River envolvente. O jogo utiliza uma mistura de pixel art, elementos 3D, efeitos de luz e névoa elaborados e áudio soturno para criar um universo intrigante. As localidades são subterrâneas e escuras, mas, mesmo assim, há boa variedade temática entre elas. Já a trama utiliza aquele estilo de narrativa críptica repleta de lacunas com mais perguntas do que respostas — não é de todo ruim, porém um pouco de clareza não faria mal algum.


 

Enfrentando perigos e criaturas brutais

O combate de Loot River é bem direto e focado em precisão. Há combos, ataques carregados, feitiços, movimentos de aparar e muito mais, o que traz variedade aos embates. Observar os inimigos e reagir de acordo é essencial, pois eles são agressivos. Além disso, as opções de cura são bem limitadas e há um elemento de risco: a única maneira de conseguir poções de vida adicionais é doar parte delas para um personagem, que devolverá o dobro de frascos no início da área seguinte.

A movimentação dos blocos também é importante nas batalhas para separar grupos de inimigos ou para atacar de surpresa — uma estratégia que sempre usei foi carregar uma técnica, mover o chão até os monstros, golpear rapidamente e depois deslizar para longe. E novos tipos de inimigos nos forçam a reavaliar as táticas, como criaturas que atacam de longe, monstros voadores e até mesmo feiticeiros que prendem os blocos, o que impede fugir.


A diversidade de equipamentos oferece muitas opções estratégicas. Cada tipo de arma tem estilos únicos, e às vezes elas contam também com feitiços únicos. Com um pouco de esforço, é possível montar algumas configurações bem interessantes. Em uma partida, por exemplo, usei uma magia para incendiar os blocos e evitava o dano com uma capa antichamas. Em outra tentativa, equipei um anel que me permitia teletransportar para as costas dos inimigos e infligir dano extra com um machado. Também encontrei um encantamento que me deixava invisível, o que foi muito útil para evitar alguns monstros mais chatos.

As muitas falhas do loop eterno

Loot River é criativo, porém há vários detalhes negativos na execução de seus conceitos. A batalha é competente, mas problemas que afetam a experiência profundamente logo ficam aparentes. O mais grave deles é a sensação geral de que a ação está truncada. Isso se dá por vários motivos: ataques não se conectam direito, algumas ações teletransportam o herói de maneira confusa, o movimento de aparar tem precisão estranha, certos golpes acertam o personagem mesmo que ele esteja distante, entre outros detalhes.

Em um jogo de dificuldade acentuada e com foco em precisão esses tipos de problemas são graves. Perdi a conta de vezes em que morri ao ser cercado e não conseguir escapar, pois a esquiva não funcionou. Também foi comum ser acertado por algum golpe muito distante ou difícil de entender. O resultado foi muita frustração, pois em muitos momentos parecia que eu não estava no controle. Com o tempo e insistência me acostumei e consegui contornar algumas dessas questões negativas, mas não muda o fato de que a ação truncada atrapalha as partidas.


Outro ponto negativo é a liberação de conteúdo. Assim como outros roguelikes, utilizamos itens para desbloquear novos equipamentos que podem aparecer em tentativas futuras. Acontece que em Loot River isso é custoso. O Conhecimento, a moeda utilizada para liberar as melhorias, não persiste entre as partidas, e só podemos utilizá-lo entre uma área e outra. Além disso, é necessário pagar tudo de uma vez.

Esses detalhes, em conjunto ao custo relativamente alto dos desbloqueios e a quantidade pequena de Conhecimento obtida de inimigos, faz com que a liberação de recursos seja bem demorada. Por causa da diversidade limitada de equipamentos, há uma sensação de mais do mesmo por um bom tempo. Torço para que esse aspecto seja retrabalhado no futuro para agilizar a progressão.



Uma aventura engenhosa

Loot River nos envolve com sua interpretação singular de dungeon crawler e roguelike. É ágil deslizar em cima de plataformas flutuantes para explorar masmorras inundadas, e o recurso é utilizado em situações criativas, como em puzzles de navegação e em estratégias de batalha. Além disso, o combate brutal e a ótima ambientação tornam a experiência bem imersiva.

No entanto, o jogo conta também com problemas notáveis, como fluidez truncada no combate e progressão lenta de liberação de conteúdo. Com um pouco de insistência é possível contornar os pontos negativos, porém algumas alterações nesses aspectos melhorariam consideravelmente o ritmo da jornada. No mais, vale a pena conferir Loot River, nem que seja por causa de sua inventividade.

Prós

  • Conceito único de dungeon crawler no qual movemos blocos pela água;
  • Bom equilíbrio entre combates, exploração e puzzles espaciais;
  • Ambientação soturna interessante e com ótimo visual em pixel art.

Contras

  • Combate truncado e com colisão imprecisa afeta a fluidez das partidas;
  • Áreas mecanicamente parecidas demais;
  • Liberação de novo conteúdo é muito custosa, o que cria sensação de repetição entre as partidas.
Loot River — PC/XBO/XSX — Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Heloísa D'Assumpção Ballaminut
Análise produzida com cópia digital cedida pela SUPERHOT PRESENTS

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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