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Análise: Revita (PC/Switch) aposta no risco e na recompensa em um intenso roguelike de ação

Sacrifique sua vida em troca por poder neste título indie variado e de ritmo acelerado.


Revita é um título indie de ação e tiro 2D com um conceito singular: para comprar itens e melhorias, é necessário sacrificar parte da vida do protagonista. Essa característica, em combinação com batalhas frenéticas e dificuldade acentuada, cria constantes dilemas de risco e recompensa. Grande variedade de poderes e modificadores tornam cada partida única e há muito conteúdo a ser desbloqueado. O resultado é uma experiência notável, por mais que com problemas em alguns aspectos.

Escalando uma torre misteriosa

Um garoto acorda em uma estranha estação de metrô. Ele se esforça, mas não consegue lembrar o motivo de estar ali. O jovem está tomado pela apatia, mas logo aparece uma forte vontade de chegar ao topo de uma imensa torre que corta o horizonte — ele sente que encontrará respostas naquele lugar. Com esse propósito, o garoto parte em uma jornada que não será nada fácil.


Na prática, Revita é uma aventura de ação e tiro controlada por dois analógicos. O garoto utiliza uma arma espectral para enfrentar os diferentes tipos de monstros que aparecem pelo caminho. Já para escapar dos perigos, o protagonista é capaz de executar uma investida que o torna brevemente invencível. Dominar esses recursos é essencial, pois as partidas consistem em sequências de salas apertadas em que precisamos derrotar todos os inimigos para prosseguir.

Pelo caminho, o garoto encontra inúmeras relíquias que fortalecem suas habilidades. Mas há um porém: para adquirir melhorias e itens, é necessário sacrificar parte da vida e o custo é proporcional ao poder do artefato. Como os monstros ficam mais poderosos conforme avançamos, é essencial coletar relíquias para aumentar as chances de sobrevivência, o que cria um dilema constante. Por sorte, é possível recuperar parte dos corações ou até mesmo aumentar a vida máxima com as almas deixadas pelos inimigos derrotados, o que deixa a mecânica mais equilibrada.


Revita é um roguelike, o que significa elementos distintos para tornar cada partida única, como seleção diversa de relíquias e de salas. Ao ser derrotado, o garoto volta para a estação de metrô e lá podemos gastar moedas para liberar conteúdo para tentativas futuras, como itens, armas, novos tipos de salas, chapéus cosméticos e até minigames, como pescaria. Após liberar alguns recursos, surge também a opção de modificar as jornadas com cartões de metrô de diferentes efeitos. Com isso, aos poucos o mundo do jogo fica cada vez mais diverso.

Balanceando risco e recompensa em uma jornada variada

Em sua essência, Revita é mais um representante do gênero roguelike que, convenhamos, anda meio batido e saturado no cenário indie. Entretanto, felizmente, o jogo consegue se destacar em vários aspectos, por mais que não se diferencie tanto de outros.

Particularmente, apreciei o andamento ágil das jornadas. Cada partida é composta de pequenas salas que demoram alguns poucos segundos para serem completadas, o que traz uma pegada arcade à ação. Além disso, há incentivo para ser agressivo: derrotar inimigos em sequência ativa o multiplicador de combo, que aumenta a quantidade de almas recebidas. A energia espiritual permite recuperar a vida do personagem, logo é uma boa estratégia acabar com os monstros rapidamente.


Os controles causam estranheza inicialmente, pois todas as ações estão localizadas nos botões de ombro, mas depois de algum tempo me acostumei e consegui avançar com facilidade. Um ponto importante é que há amplos recursos de customização de comandos para diferentes perfis de jogador — ativei uma opção que permite atirar somente ao segurar o analógico e tudo ficou mais fluido.

O maior destaque do jogo é a imensa variedade de opções de poderes e armas. Em uma partida, compensei o poder baixo da metralhadora com balas envenenadas e com alta taxa de acerto crítico. Em outra tentativa, foquei em aumentar o meu ataque e destruí os monstros a distância com um rifle. Também consegui montar um conjunto mais defensivo ao coletar criaturas que me auxiliavam em combate e que criavam escudos após atravessar um determinado número de salas. Há sinergias, maldições, diferentes armas principais e mais, e as possibilidades aumentam constantemente conforme desbloqueamos recursos.


Novo conteúdo sendo disponibilizado constantemente me incentivou a continuar jogando. No entanto, o ritmo em que ele é liberado não é dos melhores. Cada partida provê uma pequena quantidade de itens para a compra de recursos, o que torna necessário jogar inúmeras vezes para desbloquear algumas coisas. O maior problema é que algumas mecânicas importantes, como o sistema de combos e saídas alternativas, precisam ser habilitadas desse jeito. Até entendo a intenção, mas acredito que não faria mal algum um pouco mais de agilidade nesse aspecto.

Muito desafio e um pouco de repetição

Dominar e experimentar as várias mecânicas é essencial para sobreviver, pois Revita não é fácil. Os monstros são bem agressivos e há momentos de bullet hell em que a tela é tomada por projéteis. Os chefes elevam ainda mais essa sensação com combates repletos de padrões complicados. Isso, em conjunto com as salas apertadas e a mecânica de usar a vida como dinheiro, cria um constante estado de tensão. No começo, eu penei para sobreviver, mas depois que entendi melhor as possibilidades e passei a ser mais ousado,  consegui chegar mais longe. 


O jogo conta com opções de acessibilidade que permitem mudar sensivelmente a experiência. É possível diminuir a velocidade da ação, intensificar o zoom, destacar elementos do cenário, auxílio de mira, alterar o dano recebido e mais. Com isso, diferentes tipos de jogadores podem aproveitar melhor a aventura do garoto misterioso.

O foco em arenas pequenas é acertado e torna a progressão bastante ágil. Contudo, isso é também um problema, pois a simplicidade das salas traz uma leve sensação de repetição. Até existem áreas temáticas distintas, mas as diferenças entre elas são sutis demais — um mausoléu tem canos que expelem veneno, uma região gelada tem piso escorregadio e gelo que cai do teto, a torre do relógio conta com plataformas que desaparecem. Os chefes também são fixos e, depois de algumas partidas, eu já tinha decorado seus movimentos, o que diminuiu o desafio.


Há características para amenizar esses problemas, como inclusão de novos inimigos entre as partidas, versões mais fortes de monstros, modificadores para aumentar a dificuldade das jornadas e vários segredos escondidos pelos estágios. Porém, a longo prazo, as coisas tendem a ficar um pouco parecidas demais.

O caos visual também incomoda. Em muitas batalhas, em especial as do final da aventura, a tela é tomada por elementos e inimigos, o que torna difícil entender o que é perigo ou não. Em especial, as armadilhas me irritaram bastante: elas não se destacam o suficiente e foram inúmeras as vezes em que fui atingido por elas sem perceber. Esse tipo de problema é desagradável em um jogo em que a vida é também dinheiro. Com o tempo aprendi a evitar melhor esses contratempos, mas acredito que faltou um pouco de clareza nesse aspecto.



Perdido em um mundo soturno

Mas afinal, o que o garoto busca ao escalar uma estranha torre? O que é tão importante que ele está disposto a sacrificar a própria alma para alcançar? Pode não parecer, mas Revita aborda temas sombrios, como depressão, perda e tristeza. O jogo desenvolve esses aspectos de forma sutil na maior parte das vezes, como os chefes, que são personificações de sentimentos negativos, mas há também algumas páginas de diário para contextualizar melhor a trama. O texto está completamente localizado para português e a adaptação é competente.

Este universo melancólico é representado por ótimo gráficos em pixel art que remete a títulos da era 16-bits. Há muito esmero em todos os cantos, como personagens que esbanjam personalidade com seu visual e efeitos de luz e distorção. Uma trilha sonora ora suave, ora intensa, complementa a ambientação de mistério do jogo.



Uma aventura notável

Revita é um roguelike de ação que se destaca com sua mecânica única. Sacrificar a vida em troca de poder e itens traz uma dinâmica interessante de risco e recompensa e há uma imensidão de habilidades e melhorias para combinar e experimentar. Já o combate empolga com seu ritmo acelerado, dificuldade intensa e boa variedade de perigos. Além disso, a ambientação retrô e melancólica torna a experiência envolvente.

A variedade de conteúdo impressiona, mas a aventura não é livre de problemas: as áreas são estruturalmente similares demais, é necessário grind para desbloquear os recursos e o caos visual atrapalha em alguns momentos. No mais, Revita é um ótimo roguelike e uma forte recomendação para os fãs do gênero.

Prós

  • Interpretação competente do gênero de tiro com duas alavancas;
  • Mecânica de sacrifício de vida para obter poderes traz uma dinâmica única ao jogo;
  • Grande variedade de poderes e armas para testar e combinar;
  • Ambientação retrô agradável.

Contras

  • As diferentes áreas são mecanicamente parecidas demais, o que traz sensação de repetição a longo prazo;
  • Necessidade de grind para desbloquear os conteúdos mais significativos;
  • Bagunça visual atrapalha nos momentos mais frenéticos.
Revita — PC/Switch — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Dear Villagers

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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