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Análise: TUNIC (Multi) é uma instigante aventura por uma ilha repleta de mistérios

Decifre enigmas e enfrente vários perigos neste envolvente título indie.


TUNIC evoca clássicos de aventura com o seu mundo intrincado e repleto de segredos. Na superfície, este título indie parece mais um simples misto de ação e exploração. No entanto, ele nos instiga com informações crípticas e inúmeros quebra-cabeças complexos — experimentação e comunicação com outros jogadores se mostra essencial para avançar. O resultado é uma experiência sem igual repleta de momentos deslumbrantes, mas também com parcelas de frustração.

Perdido em um mundo enigmático

Uma raposa acorda na praia de uma ilha. Explorando as proximidades, ela se depara com um imenso portão dourado fechado e, ao tocá-lo, tem uma visão: uma criatura está presa em um plano espectral e parece pedir por ajuda. A protagonista decide libertar o ser cativo e, para isso, vai precisar recuperar três joias mágicas. Naturalmente, a tarefa conta com vários obstáculos, como monstros ferozes, puzzles e ruínas repletas de mistérios.


Em sua essência, TUNIC é uma aventura de visão isométrica fortemente inspirada nos The Legend of Zelda clássicos. No controle da simpática raposa, desbravamos diferentes áreas da ilha em momentos de exploração e combate. Enfrentar monstros é uma constante, e para derrotá-los contamos com uma espada, um escudo, um movimento de esquiva e poções para recuperar a vida. No decorrer da jornada, encontramos itens e equipamentos que expandem as possibilidades de batalha e exploração.

O perigo é constante e a dificuldade é acima da média. Para começar, os inimigos são bastante agressivos e fortes. Além disso, os movimentos consomem a barra de fôlego — ou seja, agir de qualquer jeito pode ser fatal. Esses detalhes, em conjunto com diferentes monstros atacando simultaneamente, deixam os embates bastante complicados. Ao ser derrotada, a raposa reaparece no último ponto de salvamento e perde parte do dinheiro, que é recuperado ao tocar o seu espectro localizado no local da morte.


Curiosidade e experimentação são características essenciais para conseguir avançar em TUNIC. O motivo disso é que, em um primeiro momento, não há explicação alguma do que deve ser feito. Pelo caminho, encontramos páginas do manual de instruções do jogo com informações, como mapas, técnicas especiais, estratégias contra inimigos e descrições de itens.

Porém, há um detalhe curioso: apenas uma pequena parte do texto está em português, o restante usa uma língua estranha e inteligível repleta de runas. Sendo assim, é necessário observar com cuidado o manual em busca de dicas, além de também tentar inferir o que supostamente está escrito — ilustrações e marcações à caneta espalhadas pelas páginas escondem alguns dos segredos. Essa grande necessidade de interpretar detalhes e deduzir elementos é o grande diferencial do jogo.



Desbravando uma ilha bela e misteriosa

TUNIC, em um primeiro momento, me deixou intrigado. No início, ele parece mais uma aventura com combate de espada e com texto impossível de entender. Contudo, aos poucos, ele me conquistou completamente com seus inúmeros mistérios e boa sacada na maneira de disponibilizar informações.

Para começar, a ilha surpreende com sua organização intrincada. Depois de pegar a espada e completar a área inicial de tutorial, estamos livres para explorar. O ritmo é bem dosado com progressão semiaberta, pequenos calabouços mais lineares e múltiplas rotas. Há também uma infinidade de segredos, como baús muito bem escondidos e atalhos úteis. Quando dei por mim, estava envolvido tentando encontrar itens e caminhos.


A ambientação de TUNIC é bastante encantadora. O visual colorido e com elementos geométricos é charmoso, e vários efeitos de iluminação elaborados tornam os cenários belos. Além disso, o ângulo isométrico traz a sensação de estarmos explorando uma pequena maquete. O manual dá um toque retrô com suas páginas recheadas de ilustrações, um efeito de papel granulado e marcações à caneta — parece demais com um livreto real.

O tom de mistério permeia outros aspectos com a mistura de localidades clássicas, como florestas e templos, e cenários que remetem a tecnologia, como uma mina tomada por radiação e criaturas com rifles. A música reforça essas sensações com pianos, cordas e instrumentos eletrônicos utilizados de forma sutil. A obscuridade se estende à trama: mesmo com algumas ilustrações e fragmentos de texto, é difícil saber com certeza o que aconteceu na ilha e qual é o real objetivo da raposa. Caso queira, o jogador pode investigar mais e tentar descobrir a fundo a história, mas é perfeitamente possível ignorá-la e se divertir do mesmo jeito.



Complicações e frenesi em embates tensos

O combate é intenso e mais variado do que parece. No começo, a raposa tem somente uma espada, mas logo ela encontra outras ferramentas que aumentam as possibilidades: bombas variadas, uma isca para atrair inimigos, uma varinha que lança esferas de energia, um feitiço congelante, e mais. Por causa da barra de fôlego, é essencial ser cuidadoso — com o tempo, aprendi a ler padrões de ataques para escapar, defender e golpear no momento certo.

A dificuldade é moderada, mas há também muitos trechos mais difíceis, com oponentes poderosos e implacáveis. Perdi a conta de quantas vezes morri nesses pontos complicados, mas nunca senti frustração, pelo contrário: os pontos de salvamento são frequentes e atalhos ajudam a alcançar rapidamente o local da derrota. É possível aumentar as características da raposa, como ataque, fôlego e defesa, mas, no geral, superei as complicações ao alterar a minha estratégia.


A variedade das batalhas se dá pela combinação de inimigos e elementos dos cenários. Em uma mina tomada por uma névoa tóxica, por exemplo, a dificuldade foi conseguir enfrentar monstros enquanto pistoleiros atiravam em mim de locais altos. Já em um templo repleto de sapos guerreiros, o desafio foi dar conta de grupos de oponentes em espaços apertados. Os imensos chefes me levaram ao limite com seus padrões de ataque elaborados e agressivos — foi muito recompensador derrotá-los depois de embates complicados.

O título conta com opções de acessibilidade para aqueles menos habilidosos ou que desejam uma experiência mais tranquila. Em um menu, é possível ativar a qualquer momento alguns recursos, como invencibilidade e fôlego infinito.



Exercitando a curiosidade e observação em um universo intrigante

De longe, a melhor característica de TUNIC está na montagem de seu universo misterioso. Isso se dá pelo fato de que as informações são escassas e nebulosas, com muitos elementos crípticos e um texto de runas supostamente indecifrável. As páginas do manual encontradas no decorrer da jornada têm mensagens e dicas importantes, mas pouca coisa é clara e direta. Inferir, experimentar e prestar atenção são características essenciais para avançar.

Pode parecer estranho, mas a graça está justamente em decifrar as informações. Durante a aventura, constantemente fiquei deslumbrado quando fui capaz de interpretar algum desenho e descobri uma habilidade ou recurso novo, revelando outras possibilidades. Encontrar páginas do manual se tornou empolgante, pois isso significava conhecer um pouco mais deste universo e das mecânicas.


O mundo de TUNIC instiga a nossa curiosidade com uma infinidade de conteúdo espalhada por seus mapas intrincadamente interconectados. Há de tudo um pouco: baús e caminhos alternativos escondidos por truques do ângulo da câmera, itens que supostamente parecem ser inalcançáveis, painéis e objetos com padrões curiosos que escondem puzzles, e assim por diante. Este é um daqueles jogos que contam com enigmas bem escondidos, muitos deles com dicas extremamente sutis. Para ver o final verdadeiro, inclusive, é necessário decifrar a maioria dos segredos da ilha.

Por trás, há a intenção de resgatar a comunicação entre jogadores, afinal, cada pessoa acaba percebendo coisas diferentes. Recebi o jogo antecipadamente e, pensando nisso, a publicadora Finji disponibilizou um servidor no Discord para troca de informações. Pode parecer algo banal, mas conversar com outras pessoas me ajudou a entender alguns enigmas e a superar vários dos desafios que apareceram pelo caminho. O pessoal também se juntou para resolver os puzzles mais complexos e para tentar decodificar a estranha língua.


Informações crípticas trazem um ar único ao jogo, mas esse também é o seu maior defeito. É interessante tentar entender ilustrações e runas, no entanto, às vezes, as dicas são sutis demais a ponto de atrapalharem a progressão. Durante a minha jornada, em muitos momentos eu fiquei perdido sem saber exatamente qual era o próximo passo, mesmo tendo uma ideia geral dos objetivos. Além disso, às vezes é necessário acessar algum caminho muito bem escondido e com poucas indicações visuais para poder avançar — vários deles, inclusive, encontrei por puro acaso. Acredito que mais clareza nos pontos importantes não faria mal algum.



Uma viagem excepcional

TUNIC nos convida a desbravar uma terra intrincada em uma aventura sem igual. A misteriosa ilha cativa com uma jornada repleta de desafios bem dosados, como combates vigorosos e difíceis, muitas áreas elaboradas interconectadas e inúmeros puzzles. O visual isométrico que lembra um mundo em miniatura, música suave e uma atmosfera enigmática tornam a experiência ainda mais envolvente.

O grande diferencial está na maneira que as informações são disponibilizadas: a maior parte dos conceitos e dicas estão em um manual repleto de runas e ilustrações crípticas. Além disso, a ilha tem inúmeros enigmas a serem solucionados, muitos deles bem sutis e engenhosos. Com isso, é necessário criatividade e experimentação para avançar, e é constante a sensação de deslumbre ao desvendar algo novo. Às vezes as indicações são vagas demais, o que atrapalha o andamento, mas com insistência ou ajuda de outras pessoas é possível prosseguir.


No mais, a combinação de tantos elementos interessantes faz com que TUNIC seja imperdível.

Prós

  • Jornada variada com ótimo equilíbrio entre exploração, combate e puzzles;
  • Embates intensos e variados;
  • Mundo complexo repleto de conteúdo e segredos;
  • Atmosfera instigante com informações que precisam ser inferidas e inúmeros enigmas;
  • Ambientação charmosa com visual e trilha sonora bem trabalhados.

Contras

  • Alguns passos e dicas são obscuros demais a ponto de atrapalharem o andamento da aventura.
TUNIC — PC/XBO/XSX — Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Heloísa D'Assumpção Ballaminut
Análise produzida com cópia digital cedida pela Finji

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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