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Análise: Syberia: The World Before (PC): o peso da guerra, memórias afetivas e a busca por um rumo na vida

Novo jogo de aventura no estilo point-and-click traz um mundo charmoso e uma história sobre guerra, memórias e identidade.

Syberia: The World Before
é o mais novo título da franquia de jogos de aventura criada por Benoît Sokal. Desta vez, Kate Walker tem a oportunidade de conhecer detalhes sobre a vida de uma mulher chamada Dana Roze enquanto busca desvendar que tipo de conexão as duas poderiam ter.

Antes de entrar na análise de fato, gostaria de destacar que este foi o meu primeiro contato com a série. Apesar de já conhecer e até ter os jogos anteriores há anos no Steam, eu nunca joguei nenhum dos antecessores de The World Before. Como total novato na série, gostaria de destacar que, apesar de algumas referências perceptíveis ao passado de Kate, não há nada que atrapalhe o aproveitamento da nova obra.

Duas mulheres e suas histórias

Syberia: The World Before acompanha prioritariamente a história de duas personagens. No passado, vemos Dana Roze, uma jovem pianista vagueriana. São tempos difíceis para ela e sua família. A Europa está se aproximando da Segunda Guerra Mundial e há um forte clima de ascensão do fascismo do Sombra Marrom e a crescente perseguição aos vaguerianos.

Já no presente, vemos Kate Walker, uma nova-iorquina que é mantida em cativeiro trabalhando em uma mina. Enquanto está presa, ela descobre sobre um evento trágico que ocorreu enquanto estava viajando. Profundamente deprimida, a personagem acaba encontrando uma misteriosa pintura que será o estopim para a sua jornada em busca da história de Dana Roze.

A investigação de Kate levará a personagem a conhecer vários detalhes sobre o período de juventude de Dana e suas dificuldades. Essa jornada é marcada pelo encontro com personagens bastante curiosos. Seja a senhora que cuida da estalagem, a vendedora da loja de lembranças chiques ou o reitor da falida escola de música, todos possuem trejeitos e comportamentos que são fáceis de associar com pessoas reais.

A história também é marcada por reviravoltas interessantes, apresentando bem o peso da guerra para as pessoas que sofreram com a sua presença. Em particular, é notável como a jornada é uma grande busca de Kate Walker por uma nova referência, um lugar ao qual pertencer novamente. Porém, vale destacar que a obra tem um final aberto, dando indícios de que poderia continuar em um novo jogo. Não sei, porém, como se daria uma sequência tendo em vista que o criador, Benoît Sokal, morreu em 2021 e o próprio The World Before se trata de uma obra póstuma.

Um mundo vivo

Além da história, o que mais chama a atenção em Syberia: The World Before é o belo design de ambientes. As áreas da cidade são marcadas por arquiteturas de época que mostram um cuidado minucioso de pesquisa para oferecer uma atmosfera que consegue dar a sensação de realmente estar diante de uma área histórica da Europa. Ao mesmo tempo, há também grandes máquinas que dão a sensação de steampunk ao universo.

O uso de cores e o posicionamento de câmera também impressionam. Mesmo áreas que tenderiam a parecer muito genéricas, como trechos montanhosos, têm a sensação de um lugar vivo e real. Trata-se de um dos jogos que mais me impressionou visualmente justamente por esse esmero que faz com que cada pedaço visível pareça significativo e atraente.

Conforme a história avança, o jogador terá que explorar as áreas em um formato point-and-click. Ou seja, é necessário clicar para levar a personagem controlada a um ponto do mapa e fazer com que ela interaja com um dos objetos ou pessoas. Além de opções de interação e diálogo, será necessário resolver uma variedade de puzzles.

Eles envolvem encontrar objetos específicos, descobrir combinações para abrir fechaduras, entre outras opções. Os puzzles são todos razoavelmente simples e mesmo os que são mais complicados de responder possuem respostas fáceis. Ao mesmo tempo, eles são realmente bem construídos, nunca parecendo forçados demais e ajudando a dar desafio na medida certa à experiência.

Porém, há alguns defeitos que são importantes de ressaltar. Primeiramente, o ícone de interação é branco e pode ser complicado encontrá-lo em áreas muito claras. Seria ideal que o jogo conseguisse lidar com esse contraste melhor para evitar que o jogador acabe ficando incapaz de avançar apenas por não ver a possibilidade de ação.

Outro aspecto infeliz é que o jogo acaba sendo muito linear. Esse fator é algo comum em títulos do gênero, porém fica uma forte sensação de que as interações opcionais pouco agregam à experiência geral. Mesmo em termos de construção de mundo, o jogador não aprende muito realizando essas tarefas extras.

Um point-and-click fascinante

Syberia: The World Before é um point-and-click fascinante. Com um design de ambientes de tirar o fôlego e uma história que chama atenção para as atrocidades da guerra e do ódio, trata-se de um título que vale a pena conhecer a fundo. Apesar de ter alguns pequenos defeitos, acredito que eles pouco diminuem o valor da obra, que definitivamente me deixou intrigado para conhecer os seus antecessores.

Prós

  • Visualmente impressionante, com um design bastante charmoso de ambientes;
  • Personagens expressivos cujos trejeitos remetem a comportamentos reais;
  • História fascinante relacionada à Segunda Guerra Mundial e a busca por um lugar no mundo;
  • Puzzles que conseguem ser ao mesmo tempo bem construídos e simples de resolver.

Contras

  • Indicadores de interação acabam ficando pouco visíveis em ambientes muito claros;
  • Interações opcionais adicionam pouco à experiência.
Syberia: The World Before - PC - Nota: 9.0
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Microids

é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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