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Análise: Edge of Eternity (Multi) é um ambicioso JRPG indie no estilo Final Fantasy

Um jogo grandioso feito por uma equipe pequena.


Edge of Eternity
é uma aventura grandiosa da desenvolvedora indie francesa Midgar Studios. O game conta a história de Heryon, um mundo de fantasia invadido por uma raça tecnologicamente avançada, os Archelites. Os alienígenas atacaram com uma esquadra de naves de combate, robôs assassinos e sua arma mais cruel: a Corrosão,  uma ameaça biológica terrível que deteriora o corpo e a mente dos infectados, transformando-os em criaturas grotescas.

Iniciamos a história como Daryon, um jovem soldado que tem a sua base invadida por um exército de robôs que eliminam todos os seus companheiros em combate. Nesse mesmo dia, o rapaz recebe uma carta de sua irmã Selene, avisando que sua mãe contraiu a Corrosão. Não tendo mais nada a perder, o ex-soldado decide desertar para ajudar a irmã a encontrar uma cura para a terrível praga.

Batalhas táticas em turnos com Active-Time

As primeiras batalhas funcionam como um tutorial, que introduz as principais mecânicas de combate. Edge of Eternity usa o sistema Active-Time, popular na série Final Fantasy, em que cada personagem possui uma barra de iniciativa que é preenchida com o tempo. Quando a barra fica cheia, o personagem pode fazer uma ação, como atacar, defender-se, usar itens, habilidades ou movimentar-se.


A ação acontece em um tabuleiro com casas hexagonais bem grandes, que comportam até quatro personagens simultâneos, algo pouco usual no gênero Tactics. Ataques mágicos levam um tempo para ser realizados (casting time) e podem ser interrompidos com ataques físicos, que tiram a concentração do conjurador. Por outro lado, ataques mágicos têm um alcance muito maior e alguns deles atingem múltiplos alvos.

Essa mecânica de contra-atacar levando em conta a iniciativa dos oponentes é muito interessante, ao mesmo tempo que faz com que seja essencial deixar os seus próprios personagens mágicos protegidos atrás dos guerreiros. Atacar oponentes pelas costas também causa um bônus de dano, fazendo com que a estratégia de posição no tabuleiro seja essencial.

As armas é que aprendem

Os combates são de longe o ponto alto de Edge of Eternity, combinando elementos de jogos de estratégia táticos e RPGs com Active-Time, e, mesmo com a mecânica de turnos, transmitem uma sensação empolgante ao jogador. 

Por outro lado, o design é um tanto desbalanceado em alguns encontros, quando somos cercados por uma quantidade de oponentes muito maior do que conseguimos lidar. Isso pode acontecer em qualquer estágio do jogo, exigindo que o jogador fuja em algumas situações bobas, ainda que esteja com um time relativamente forte para aquela área, pois os oponentes sufocarão sua equipe pelos números.

Uma mecânica que considerei muito interessante é que não somente os personagens ganham experiência e níveis, como também as armas que eles usam. Os equipamentos possuem níveis de raridade e “experiência”, podendo ser comprados, encontrados em baús ou mesmo construídos usando materiais coletados nas aventuras. 


As armas possuem espaços onde podemos colocar gemas, que concedem bônus em atributos ou habilitam magias e habilidades especiais. Curiosamente, a árvore de habilidades e as magias não dependem da evolução do seu personagem, mas sim da arma que ele carrega. São as armas que “aprendem” as magias. O jogo oferece uma quantidade generosa de missões secundárias opcionais que recompensam o jogador com itens úteis e materiais para construção de armas e equipamentos.

Quem disse que um bom JRPG precisa ser feito no Japão? 

Ao jogar Edge of Eternity, percebemos de cara que trata-se de um projeto ambicioso. Os protagonistas são muito bem-modelados e possuem diálogos dublados, os cenários são belíssimos, a vegetação e o céu rendem paisagens incríveis e o mundo possui um ciclo de passagem do tempo com transições entre noite e dia. Em determinados momentos, dependendo do local, você poderia olhar para a tela e jurar que está jogando um jogo da série Final Fantasy ou Xenoblade. O feito é impressionante, considerando-se que a Midgar Studios é composta por uma equipe muito pequena. 


A trilha sonora é outro espetáculo à parte, contando com o trabalho de Yasunori Mitsuda, compositor de trilhas sonoras lendárias como as de Chrono Trigger (SNES) e Xenogears (PS1). As músicas de Edge of Eternity definitivamente estão no mesmo patamar de produções de grande porte, passando o tom épico das batalhas e combinando com precisão os momentos mais cinematográficos da trama.

Porém, ao explorar Heryon, podemos ver que talvez o projeto seja um pouco mais ambicioso do que os recursos à disposição da pequena Midgar Studios puderam cobrir. Edge of Eternity parece um jogo em mundo aberto, mas não é. O personagem não consegue escalar nas pedras, nem saltar degraus ou muretas com um palmo de altura. Mesmo sendo muito bem disfarçado pelos visuais, não dá pra não perceber que a ação ocorre em um corredor, sem muita possibilidade de exploração. Paredes invisíveis estão por todo lado, mesmo em lugares em que não faz sentido elas existirem, como gramados e pontes.

Os protagonistas têm pouco carisma, com diálogos rasos, e a mãe que eles tentam salvar é ainda menos carismática. É muito difícil o jogador criar algum apego por eles e sentir-se motivado a concluir a jornada. Por fim, parece que não houve tempo para lapidar alguns detalhes do jogo. Os NPCs nas cidades parecem bonecos de cera estáticos, com pouco ou nenhum movimento. Eles não se voltam para o jogador quando conversamos com eles, e parecem congelados no tempo pela falta de movimentação.

Outros detalhes de falta de otimização podem ser vistos em quedas repentinas na taxa de quadros ou texturas que carregam enquanto andamos pelo cenário. Pude perceber esses problemas mesmo jogando em um PlayStation 5; por outro lado, a Midgar Studios teve cuidados em alguns detalhes, como fazer uso dos gatilhos adaptáveis do DualSense, recurso exclusivo do PS5 e que que costuma ser ignorado mesmo por estúdios grandes, mas que a equipe da desenvolvedora francesa se deu ao trabalho de incluir. 

Grandioso, talvez até demais

Edge of Eternity é um bom RPG, que talvez seja ambicioso demais para um estúdio de pequeno porte, mas que entrega uma boa experiência para quem esteja à procura de um JRPG que misture fantasia medieval com magia e tecnologia.

A trilha sonora é consistentemente fenomenal, ao contrário da apresentação visual, que varia do estupendo ao frustrante. As batalhas são divertidas, desafiadoras e possuem mecânicas simples e interessantes. Acredito honestamente que se a Midgar Studios tivesse mais recursos, Edge of Eternity competiria de igual para igual com JRPGs de grandes desenvolvedoras em termos de escala e qualidade.

Prós

  • Combates divertidos, combinando mecânicas de RPG tático e Active-Time;
  • Muito conteúdo para explorar, com diversas sidequests e armas para evoluir;
  • Trilha sonora épica, do mesmo compositor da série Chrono;
  • Cenários magníficos, com natureza exuberante e ciclos de noite e dia. 

Contras

  • Protagonistas pouco carismáticos, com diálogos rasos;
  • Alguns combates são desbalanceados, com quantidade injusta de oponentes;
  • NPCs sem vida, que parecem estátuas sem movimento;
  • Problemas nas taxas de quadros e carregamento de texturas.
Edge of Eternity - PS5/XSX/PS4/XBO/PC - Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: PS5
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Dear Villagers

é engenheiro eletrônico e tem uma filha fofinha que tenta morder os controles do papai. Curte jogos de luta, corrida e ação.
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