Jogamos

Análise: Tom Clancy’s Rainbow Six Extraction (Multi) é um FPS tenso, competente e divertido na medida certa

Ainda que com alguns probleminhas, o jogo honra o nome da franquia e entrega uma experiência suficientemente divertida.


Mais um dos muitos títulos afetados pela pandemia, Tom Clancy’s Rainbow Six Extraction finalmente chegou ao mercado dos videogames. Dentre as muitas razões da grande expectativa pelo FPS, uma das mais fortes é a relação próxima com um dos jogos de tiro mais populares dos últimos tempos, Rainbow Six Siege. A questão é: será que o game é compatível com a sua famosa franquia? É o que vamos descobrir nesta análise repleta de ação e tensão.

Uma “pandemia” dentro da pandemia

Antes de começarmos, um fato interessante é que, inicialmente, o subtítulo do jogo não seria Extraction, mas sim Quarantine. A mudança certamente teve grande influência da pandemia, pois o desenvolvimento do game começou antes dela e se estendeu por um bom tempo até o seu lançamento, no dia 20 de janeiro de 2022. O game tem versões para PS5, PS4, XBO, XSX e PC, além de um cross-play completo entre elas.

Um exemplo claro de como a pandemia afetou a indústria dos games
O game é uma espécie de spin-off de Rainbow Six Siege, de 2015, e tem foco em missões multijogador. A premissa é a seguinte: uma espécie parasita alienígena iniciou uma invasão, criando zonas de quarentena pelo planeta, e cabe ao time REACT, que conta com várias figurinhas carimbadas do título mais antigo, tomar as devidas medidas contra a ameaça. Cada membro da equipe tem habilidades únicas e deve atuar em trios para cumprir missões importantes.

Embora do estilo FPS, Extraction encoraja bastante a utilização das várias mecânicas furtivas disponíveis no jogo. Mais do que isso, ele pune severamente jogadores excessivamente agressivos e sem estratégia. Por outro lado, a estrutura PvE favorece a cooperação inteligente com recursos divertidos e recompensas generosas. As missões são variadas, incluindo escoltas, salvamentos, capturas ou eliminações de inimigos-chave.

Prepare-se para enfrentar uma perigosa infestação
Falando neles, os monstros, chamados Archæans, são uma mistura de aliens e zumbis, resultando em inimigos ao mesmo tempo nojentos e assustadores. Aliás, toda a atmosfera do jogo é assim, com cenários escuros, grudentos, frios e claustrofóbicos. Realmente temos uma sensação pandêmica, o que talvez explique algumas das dificuldades do lançamento. Gostei muito dessa ambientação e do senso de perigo das missões, as quais serão detalhadas mais à frente.

Extrair ou não extrair: eis a questão

As chamadas incursões se dão em mapas compostos por três subáreas, cada uma delas com uma missão própria. Todas são recheadas de monstros, armadilhas e outras surpresas geradas de forma pseudoaleatória. Extraction sempre permite ao time a seguinte escolha: avançar em busca de recompensas maiores, sobretudo pontos de experiência, ou extrair em segurança quando o risco parecer não valer a pena.
Eliminar inimigos com cuidado é uma ótima prática

É importante ressaltar o foco na furtividade, pois sair atirando a esmo pode levar a uma derrota prematura. Os inimigos são poderosos e ficam agressivos se alertados. Eles possuem vários tipos diferentes, desde explosivos, venenosos e atiradores a até alguns com a capacidade de gerar novos monstros. Portanto, avançar com calma e trabalhar em equipe são vitais para vencer e poder avançar para níveis mais difíceis.

Diversas ferramentas facilitam a furtividade
Cada nova missão da incursão garante mais experiência, tanto para o nível geral do jogador, quanto para cada agente do time. Extrair com sucesso garante um bônus percentual, então nada melhor que jogar mais para alcançar mais pontos, não é mesmo? O problema é que, se o personagem tomba em combate, ele não pode ser mais utilizado.

Isso mesmo: ao ter sua vida reduzida a zero uma vez, o agente pode ser reanimado; na segunda, é o fim da participação do jogador correspondente. O jogo justifica esse DEA (desaparecimento em ação) como um último recurso de proteção, que consiste em um estado de suspensão em um casulo protetor. Ele fica à disposição para ser resgatado em plena missão ou em uma nova tentativa.

Para recuperar o agente, é preciso entrar em uma nova incursão na mesma localidade e salvá-lo. A tarefa se torna uma missão em si e pode gerar dois resultados: ou o personagem é resgatado com sucesso, ou então ele retorna com uma penalidade nos pontos de experiência. Além disso, a quantidade de vida no final da partida será a mesma ao começar uma nova rodada, sendo recuperada a cada incursão.

Tensão + Ação = Diversão

Todas essas mecânicas podem levar o leitor a pensar que Extraction é um jogo complexo e punitivo, mas preciso confessar que, na minha visão, ele é justo e muito viciante. A tensão resultante de avançar mais, mas com cuidado para não perder o agente, proporciona momentos incríveis. Só deixo uma ressalva ao sistema por trios: caso os parceiros de time sejam ruins ou pouco cuidadosos, a chance de problemas é grande.
Não esqueça de ajudar os colegas de time para ter sucesso
Outro problema, embora bem mais eventual, é a queda na conexão. Ela aconteceu algumas vezes, mas o game me deu a chance de recomeçar de onde parei sem punições. Somente uma vez fui castigado com cinco minutos de inatividade e com meu agente DEA, o que foi bem frustrante porque eu não havia desistido da partida. Fica o registro de que o famoso rage quit não é uma boa opção.
 
Muito provavelmente pensando em situações assim, o game tem opções com missões solo. Elas se desenrolam da mesma forma que em grupo, mas com um rebalanceamento para ajustar a jogatina. Gostei muito dessa opção, sobretudo quando preciso salvar um agente, quero recuperar a energia de personagens cansados ou cumprir um dos muitos objetivos secundários disponíveis.
Pequenos vídeos são liberados conforme adquirimos níveis de experiência, contando um pouco do universo do game. Uma campanha mais linear exploraria melhor a história, assim como a sua ambientação no universo de Siege, que por vezes parece ser considerado conhecido. Nada que comprometa a experiência, que compensa isso com fartos materiais e arquivos informativos.

Arsenal vasto e variado

Agora que falei sobre as mecânicas principais de Extraction, passarei para a jogabilidade. Os vários agentes disponíveis têm habilidades e equipamentos únicos, tornando o trabalho em equipe ainda mais interessante. Considerando que normalmente o personagem precisará de algum tempo de recuperação entre incursões, esse leque de opções também torna as jogatinas bem variadas.
Conforme subimos de nível, podemos melhorar e customizar nosso modo de jogar

As localidades em que as fases se desenrolam, incluindo Nova Iorque, São Francisco e Alasca, são bem acabadas e interessantes. Novas missões e recursos são liberados conforme subimos de nível geral, incluindo equipamentos como granadas e coletes protetores. Os agentes possuem níveis individuais, permitindo ao jogador liberar novas armas, melhorar habilidades e atributos conforme eles são utilizados.

Acredite em mim quando digo que todo recurso será necessário, pois Extraction é exigente e impiedoso. Dentre as ameaças, temos colmeias que produzem mais inimigos se não forem destruídas, monstros que gritam por ajuda, “melecas” no chão tornando movimentos restritos, disponibilidade limitada de itens nas fases, etc. Infelizmente, parte da dificuldade também se deve a falta de balanceamento, como armas com recuo excessivo e missões exageradamente difíceis.

Reforçar portas e paredes é uma boa opção em certas missões
As tradicionais customizações de roupas, armas etc. também estão disponíveis neste novo Rainbow Six, com direito a itens compartilhados com Siege. Inclusive, quem ficou curioso pelo novo game pode curtir uma versão teste, disponível nas lojas online, com dois dias grátis. Outra opção é o Buddy Pass, que permite aos donos da versão Deluxe compartilharem gratuitamente o game com dois amigos por 14 dias.

Bom, mas pode ser melhor

Minha única crítica quanto ao conteúdo é uma relativa limitação geral. Se jogado sem moderação, as missões podem se tornar repetitivas e as recompensas pouco instigantes. O chamado Protocolo Maelstrom, que funciona como um endgame para jogadores corajosos, é promissor, mas demora demais para ser liberado. A produtora já anunciou os chamados Eventos de Crise, que serão gratuitos e trarão novos inimigos e recursos. Ou seja, o futuro é promissor para o game se tornar ainda melhor.
 
Por fim, vamos aos comentários da produção técnica de Extraction. Não espere nada revolucionário nele, mesmo nos consoles da nova geração, que têm diferenças pouco perceptíveis. Nem por isso o game deixa de ser bonito: personagens, inimigos, cenários, equipamentos e todo o resto estão muito bem construídos e animados. As texturas são competentes, sejam elas de mucos alienígenas ou explosões brilhantes.
Os sons do game são ótimos, ajudando na ambientação assustadora com gemidos e ruídos perturbadores. A trilha é igualmente feliz, intercalando com competência músicas diferentes para momentos de furtividade e de combate. Some essa boa produção às já comentadas mecânicas repletas de tensão e desafio, e temos um FPS único.

Entrar em quarentena nunca foi tão bom

Tom Clancy’s Rainbow Six Extraction é um ótimo FPS, unindo um universo bem estabelecido com uma proposta nova e ousada, com foco na furtividade e trabalho em equipe. As missões com altos riscos e altas recompensas são viciantes, assim como ver seus agentes ficarem mais fortes a cada incursão. Se não fossem por alguns contras pontuais e pela produção relativamente modesta, o game poderia ser um dos melhores jogos de tiro dos últimos anos. Seja como for, ainda temos uma daquelas sugestões obrigatórias para a sua biblioteca.

Uma ótima pedida para quem curte FPSs com uma boa dose de originalidade

Prós

  • FPS único repleto de ação, tensão e diversão;
  • Equilíbrio entre risco e recompensa durante as missões é viciante;
  • Produção técnica competente, sobretudo na criação de ambientes assustadores;
  • Jogabilidade funciona bem e tem mecânicas variadas para enfrentar os desafios;
  • Boa quantidade de conteúdo para desbloquear e jogar;
  • Modos solo e multijogador podem oferecer partidas incríveis.

Contras

  • Game é relativamente limitado e pode-se tornar repetitivo;
  • Vários elementos, como armas, inimigos e missões, precisam de balanceamento.
Tom Clancy’s Rainbow Six Extraction — PC/PS5/PS4/XSX/XBO — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PS5
Revisão: Ives Boitano
Análise produzida com chave cedida pela Ubisoft

é produtor de conteúdo sobre games desde 2016 e um grande fã da décima arte, embora não tenha muito tempo disponível para ela. Seus games favoritos (que formam uma longa lista) incluem: KH, Borderlands, Guitar Hero, Zelda, Crash, FIFA, CoD, Pokémon, MvC, Yu-Gi-Oh, Resident Evil, Bayonetta, Persona, Burnout e Ratchet & Clank.
Também encontra-se no Twitter @MatheusSO02 e no OpenCritic.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


Disqus
Facebook
Google