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Análise: Blade Assault (PC) oferece ação caótica e intensa, porém é pouco memorável

Este título indie explora as principais características do gênero roguelite, mas logo perde a graça ao não fazer nada além do básico.


Em Blade Assault, um guerreiro decide enfrentar um governo corrupto em um mundo distópico sci-fi para se vingar. O título do estúdio coreano TeamSuneat usa conceitos consagrados do gênero roguelite, como arenas e habilidades distintas em cada partida, em uma aventura de ação 2D frenética. Visual bem trabalhado e mecânicas ágeis são os maiores destaques, mas rapidamente o título se revela raso e não muito memorável por causa de suas limitações.

Enfrentando perigos para se vingar

Uma guerra pelo controle de pedras capazes de gerar energia devastou o mundo: mutantes passaram a vagar pela superfície enquanto aqueles com poder vivem tranquilamente na cidade voadora de Esperanza. Kil é um agente do governo da metrópole aérea, mas ele é traído por seus superiores e quase morre durante um ataque. Escapando por pouco, ele vai parar em Undercity, a base de um grupo de resistência. Em busca de vingança, Kil decide ajudar seus novos companheiros para por fim à ditadura de Esperanza.


A estrutura da aventura de Blade Assault é bem direta: em cada um dos estágios, o objetivo é avançar para a direita, derrotando todos os inimigos que aparecem pelo caminho. Para dar conta dos oponentes, Kil pode escolher uma de três armas: uma serra-elétrica, um machado e um rifle. Além de ataques normais, o herói conta com uma habilidade especial e uma luva que lança projéteis. Fora isso, um movimento de investida permite escapar de perigos. Pelo caminho, encontramos inúmeras melhorias que alteram as capacidades de Kil. Muitos dos itens têm efeitos triviais, como aumentar a taxa de acerto crítico ou diminuir o custo de energia dos ataques especiais.

No final de cada estágio podemos adquirir núcleos elementais de fogo, gelo ou eletricidade capazes de modificar profundamente as habilidades do herói. Imbuir a arma com energia elétrica, por exemplo, faz com que relâmpagos se propaguem por vários inimigos ao golpear. Uma esfera de gelo cria uma barreira que absorve dano e congela oponentes. Com a ajuda do poder de fogo, o movimento de esquiva deixa um rastro flamejante. Os poderes podem ser misturados e há sinergias para descobrir.


Como é de praxe em roguelikes, morrer significa recomeçar a jornada desde o início em uma nova partida com elementos diferentes. Entre cada tentativa é possível desbloquear melhorias para os atributos do herói, recursos (como descontos em lojas) e até mesmo personagens jogáveis por meio de itens adquiridos anteriormente, o que traz uma sensação de progressão. Mas não se deixe enganar: os aprimoramentos expandem as possibilidades, a vitória continua dependendo da habilidade do jogador.

Explorando poderes elementais em batalhas de ritmo acelerado

A melhor característica de Blade Assault é a sua ação frenética e intensa: é divertido misturar golpes e técnicas especiais para dar conta das hordas de inimigos que aparecem pelo caminho. No começo o combate parece trivial, mas com o tempo aparecem oponentes e cenários complicados que exigem maior cuidado, nos forçando a mover constantemente enquanto lidamos com grupos de monstros. Os chefes, em especial, oferecem embates diferenciados com seus movimentos mais complicados e poderosos. Há um medidor de perigo que aumenta a dificuldade com o passar do tempo — demore demais e os inimigos receberão habilidades poderosas.


A diversidade de armas e poderes traz diversidade às partidas. A serra-elétrica, por exemplo, oferece agilidade com seus golpes rápidos e um especial com mobilidade. O machado é lento, porém poderoso. Já o rifle é uma boa opção para aqueles que preferem atacar de longe. Fora isso, as esferas elementais proporcionam ainda mais opções com modificações notáveis das habilidades do protagonista — gostei de criar combinações entre diferentes poderes. O jogo conta também com duas personagens desbloqueáveis que oferecem ainda mais opções às partidas.

O universo distópico de ficção científica é representado com gráficos em pixel art elaborados e bem animados. Há muito uso de cores neon para trazer uma atmosfera de tecnologia futurística, resultando em um mundo visualmente interessante. Infelizmente, durante alguns combates, aparecem muitos elementos na tela e a ação fica confusa, a ponto de às vezes não ser possível ver com clareza onde estão o personagem e os perigos.



Em uma jornada com vários problemas

Uma das características mais atraentes em roguelikes é a imprevisibilidade, com cada partida sendo bem diferente uma da outra. Infelizmente, Blade Assault peca justamente neste aspecto. No começo as tentativas até são empolgantes, porém esse sentimento rapidamente diminui por causa de vários motivos.

Para começar, os estágios são desinteressantes, apresentando basicamente locais planos e lineares. Existem diferentes tipos de salas, no entanto a variação é muito sutil para fazer diferença. As melhorias também têm diversidade limitada e bastam algumas poucas partidas para ver a maioria das possibilidades, pois não há muita profundidade na montagem de sinergias. Por fim, a quantidade de tipos de inimigos é pequena, e muitos deles são simples variações sutis. Por causa disso, as partidas se parecem demais e não trazem tanta empolgação.


O balanceamento é outro problema de Blade Assault. Conforme avançamos, a vida dos inimigos aumenta exponencialmente, mas a força do nosso herói evolui pouco. Por causa disso, muitos dos combates se tornam desnecessariamente longos. Para piorar, a IA dos oponentes é extremamente básica, tornando essas batalhas um enfadonho esmagamento de botões. Várias vezes, inclusive, tive a sorte de conseguir habilidades poderosas que se tornaram praticamente inofensivas de um estágio para outro por causa do aumento acentuado de características dos monstros.

O jogo ficou em Acesso Antecipado por mais de seis meses, mas a versão final ainda carece de polimento. Mesmo utilizando gráficos 2D, a ação engasga constantemente quando aparecem efeitos visuais, como explosões e relâmpagos. Isso atrapalha a fluidez dos combates e foram várias as vezes em que fui atingido por inimigos durante esses pequenos travamentos. Há também problemas técnicos, como controles que não funcionam e bugs. Por fim, parte do conteúdo prometido para a versão final não está disponível. Particularmente, acredito que o jogo teria se beneficiado de mais tempo de desenvolvimento.



Uma experiência que ainda precisa melhorar

Blade Assault é uma aventura de ação 2D competente e empolgante até certo ponto. O maior destaque é o combate de ritmo acelerado, e diferentes armas e poderes elementais ajudam a trazer variedade aos estágios. Além disso, a atmosfera é agradável com ótimo visual sci-fi em pixel art. No entanto, após algumas partidas os vários problemas ficam aparentes, como diversidade limitada de conteúdo, dificuldade desregulada e questões técnicas. No fim, Blade Assault até tem boa base e diverte, mas fica a sensação de que muitas de suas características precisavam ser melhor desenvolvidas.

Prós

  • Combate intenso e com boa diversidade de armas e personagens;
  • Ciclo de jogo roguelite ágil que oferece incentivos para continuar jogando com melhorias permanentes entre as tentativas;
  • Ótimo visual em pixel art.

Contras

  • Partidas parecidas demais por causa da variedade limitada de poderes e conteúdo;
  • Dificuldade desbalanceada;
  • Caos visual atrapalha nos combates mais intensos;
  • Ação comprometida por engasgos e problemas técnicos.
Blade Assault — PC — Nota: 6.5
Revisão: Heloísa D'Assumpção Ballaminut
Análise produzida com cópia digital cedida pela NEOWIZ

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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