Jogamos

Análise: Heavenly Bodies (Multi) nos mostra como é cuidar de uma estação espacial

Execute tarefas de forma bastante peculiar sem a ajuda da boa e velha gravidade.


Existem algumas situações que pouquíssimos humanos são, ou serão, capazes de vivenciar, como saltar em queda livre de um avião, mergulhar a profundidades extremas ou sentir a assustadora liberdade de viajar para o espaço. É nesta última situação que teremos um vislumbre de como é a rotina de um humano na manutenção de uma estação espacial em Heavenly Bodies.


Aqui a experiência traz como principal característica a simulação de como executar tarefas aparentemente simples — e outras nem tanto — em um ambiente sem gravidade e com uma constante falta de referência de direção, como cima ou baixo. Vejamos como foi essa viagem.

Mais um dia em nossa estação espacial

Na teoria, a premissa de Heavenly Bodies é simples: no papel de um astronauta, devemos executar diversas tarefas de manutenção em uma estação espacial na órbita da Terra. Algumas atividades são simples, como reparar equipamentos e montar instrumentos de pesquisa ou exploração; já outras apresentam um nível de complexidade bem mais elevado, como explorar minérios espaciais e plantar um jardim para renovar a produção de oxigênio do local.

O desafio do game fica por conta da ambientação, que ocorre em um ambiente totalmente desprovido de gravidade enquanto estamos na estação. Para se movimentar, é preciso realizar movimentos com os braços e pernas do personagem para que ele consiga se deslocar e realizar ações, como abrir portas, manusear ferramentas e montar objetos. É aí que começa a primeira grande tarefa do jogo: aprender a se mexer.


Usando como referência o DualShock 4, as alavancas analógicas movimentam os braços, os gatilhos (L2 e R2) executam a ação de agarrar com as mãos e os botões de ombro (L1 e R1) flexionam as pernas. Pressionando o botão quadrado, a câmera gira, assumindo o ângulo como se seu personagem estivesse em pé.

Aprender a se mover leva um tempo até que peguemos o jeito, e durante minha tarefa de “reaprender a andar”, criei o hábito de me mover imitando o comportamento do corpo na água; ou seja, a forma mais eficiente que encontrei para me deslocar foi “nadando” em um ambiente sem gravidade.

Pensando na dificuldade que alguns jogadores podem ter com relação à movimentação, a equipe de desenvolvimento de Heavenly Bodies criou três esquemas de controle para ajudar — ou mesmo dar um grau de realismo maior — nessa característica do jogo.


O modo clássico funciona como descrevi acima; o assistido deixa a movimentação mais fácil, dispensando a necessidade constante de mover as pernas, permitindo que elas façam a função de “motor” automaticamente ao apontarmos os dois braços para a mesma direção; e o terceiro modo, chamado de Newtoniano, traz a promessa de simular com o máximo de fidelidade possível, seguindo as leis da física, a experiência de se mover em um ambiente sem gravidade. Eu não consegui me mexer direito com esse esquema ativado, por ele ser realmente bem complexo.

Uma vez dominada a movimentação — ou sabendo o básico para conseguir se mexer —, vamos à atividade principal do game, que são as tarefas dentro da estação. São sete fases ao todo, e cada uma traz uma atividade bem distinta, que deve ser executada para que possamos partir para a próxima. A curva de complexidade de cada estágio eleva de forma expressiva o nível de desafio da seguinte, até a tarefa final.

Falta a força da gravidade, mas sobra a de vontade

Cada fase em Heavenly Bodies tem início com a obtenção de instruções que vão guiar o jogador nas etapas que devem ser cumpridas para finalizar a tarefa. Para ilustrar, vou descrever resumidamente a segunda fase, em que devemos calibrar as antenas externas que fazem a comunicação com o comando da missão, na Terra.


Nesta etapa, nossa missão é ajustar a torre e ativar um conjunto de antenas. Cada uma delas precisa ser direcionada ou apontada na direção correta para a emissão e recebimento de sinal, além de precisar de uma conexão de energia e de calibração. A título de registro, levei cerca de 55 minutos para realizar essa “simples” tarefa, o que rendeu um breve momento de calafrio por ter feito um movimento errado e quase sair flutuando espaço afora na fria escuridão do cosmo.

O motivo de eu ter levado tanto tempo, reforço, foi por causa dos controles que, mesmo depois de um período de adaptação, ainda exigiam uma boa dose de precisão e uma generosa dose de paciência para que eu conseguisse montar tudo que precisava para completar essa atividade. Ao chegar nas missões seguintes, percebi que aquela tarefa ainda estava fácil se comparada ao que encontrei mais à frente no jogo. No fim das contas, consegui terminar a campanha pela primeira vez em quase quatro horas.
Usar um pé de cabra no espaço é mais difícil do que parece.
Com o tempo, mesmo que o jogo não ensine de forma direta, aprendi alguns truques que me ajudaram a executar mais ações, como poder me prender a cordas ou usar os engates do traje para prender as ferramentas, permitindo que eu fique com as mãos livres para executar mais atividades e, principalmente, ajudar na minha locomoção. São coisas que você aprende naturalmente e tornam as atividades a ser cumpridas cada vez menos trabalhosas — ou mais fáceis, por assim dizer.

Heavenly Bodies é um constante desafio, mesmo que você já tenha colocado na sua cabeça que entendeu tudo o que precisa fazer. Apesar de eu ter me irritado em diversos momentos por não ter flutuado para a direção que eu queria, ter deixado escapar a corda que eu precisava, ou mesmo por me ver obrigado a atravessar um longo trecho porque esqueci uma ferramenta, a paciência foi fundamental para eu simplesmente não meter o dedo no botão do menu do controle e fechar o jogo..

Duas coisas podem ajudar na resolução das tarefas de forma eficiente: muita prática e a ajuda de um amigo. Sim, você não precisa passar raiva sozinho! O título permite que um segundo astronauta se junte às suas atividades, deixando a rotina de manutenção da estação mais fácil… ou duplamente difícil. A entrada do segundo jogador pode ser feita a qualquer momento pelo menu de pausa. Durante minhas jogatinas, eu não tive o luxo de ter com quem jogar, mas a julgar pelo vídeo no fim do texto, com certeza deve ser bem mais divertido.


Aos que buscam mais desafio, Heavenly Bodies conta com um forte fator replay na forma de objetivos extras em cada uma das fases, baseados na conclusão dentro de uma janela de tempo, a obtenção de itens ocultos e a conclusão das tarefas com o modo de controle Newtoniano ativado. É… considerando a dificuldade que tive para me mexer nesse modo, para mim é um desafio bem grande. Paciência e disciplina são fundamentais para não se estressar com o jogo e eventualmente abandoná-lo.

Na falta de gravidade, não deixe faltar paciência

No fim das contas, e apesar dos vários chiliques que tive durante a jornada, Heavenly Bodies se mostrou uma experiência diferenciada e divertida. Temos aqui uma combinação interessante de atividades no formato de quebra-cabeças que brincam com a física de forma engenhosa e criativa, testando a paciência e a astúcia do jogador na hora de resolver problemas aparentemente simples, mas que no espaço dão um bom trabalho.

Prós

  • A ambientação traz uma mistura interessante de tensão e bom humor;
  • As tarefas possuem um design inteligente e bem contextualizado, e permitem um pouco de improvisação;
  • Os desafios extras adicionam um forte fator replay;
  • O modo cooperativo local muda consideravelmente a dinâmica do gameplay .

Contras

  • O jogador pode ter dificuldade para se adaptar aos controles;
  • A movimentação da câmera pode gerar desconforto ou desorientação;
  • Problemas pontuais de queda na taxa de quadros no PS4.
Heavenly Bodies — PC/PS4/PS5 — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PlayStation 4
Revisão: Davi Sousa
Análise feita com cópia digital cedida pela 2pt Interactive

Fã de Castlevania, Tetris e jogos de tabuleiro. Entusiasta da era 16-bit e joga PlayStation 2 até hoje. Jogador casual de muitos e hardcore em poucos. Nas redes sociais é conhecido como @XelaoHerege
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


Disqus
Facebook
Google