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Análise: Beyond a Steel Sky (Multi) é uma interessante aventura cyberpunk com quebra-cabeças, mas que poderia ser bem mais brilhante

Produção simplista e diversos problemas diminuem o brilho dessa experiência divertida.


Com uma proposta interessante, Beyond a Steel Sky traz uma história situada em um mundo cyberpunk interessante e original. Para se aventurar pelo game, o jogador precisa resolver vários tipos de quebra-cabeças por via de conversas, coleta e uso de itens e hackeio de sistemas. Mas será que o título realmente é uma boa experiência? Vista sua jaqueta favorita e não esqueça seu fiel pé de cabra, pois a análise vai começar.

Passado que persegue

Logo de cara, uma das características mais proeminentes de Beyond a Steel Sky é também um dos seus maiores defeitos. O game lançado em 30 de novembro para os consoles da geração atual e passada é uma continuação de Beneath a Steel Sky (PC/iOS), um título de aventura do tipo apontar e clicar. Ele chegou em 1994 para PCs e recebeu uma remasterização em 2009 para dispositivos iOS.
Robert (preto) e Joey (robô) foram as estrelas de Beneath
Fãs do jogo original com certeza devem ter ficado felizes em revisitar esse universo cyberpunk, sobretudo agora que ele conta com gráficos em três dimensões e uma produção mais robusta. Para os demais jogadores, esse passado é um tanto incômodo: Beyond constantemente referencia seu predecessor e tem várias passagens que claramente são mais bem aproveitadas para quem conhece Beneath.
A dupla retorna novamente, mas sempre com Robert em destaque

Existem algumas seções no game moderno que trazem informações sobre o antigo, como estátuas, diálogos e figuras. Infelizmente, elas estão longe de serem suficientes para situar adequadamente o jogador e deixá-lo aproveitar a história plenamente. Seria preciso uma introdução formal, como, por exemplo, um vídeo, para isso funcionar.

Com exceção dessa ressalva, Beyond a Steel Sky tem uma história muito boa e original. O protagonista é Robert Foster, que vive feliz em uma comunidade isolada. Durante uma pescaria, o filho de seu amigo é misteriosamente sequestrado e levado para Union City. Essa cidade gigantesca e moderna foi onde ele viveu, com seu amigo robô Joey, sua aventura anterior.

Bem-vindo (mais uma vez) a Union City!
Basta essa breve explicação para notar que conhecer Beneath traz benefícios para o jogador aproveitar Beyond. Não tive grande impacto ao levar Robert a rever a fachada de Union City, afinal eu nunca a conheci. De qualquer forma, a aventura continua com o herói explorando a cidade e a sua sociedade para tentar descobrir o mistério por trás do sequestro da criança. Rostos conhecidos surgem posteriormente, como o simpático robô Joey (sem mais detalhes para evitarmos spoilers).

Explorar, examinar e experimentar

A fórmula para jogar Beyond a Steel Sky é simples: de acordo com cada nova missão recebida, interaja com pessoas e objetos para descobrir como avançar. Em sua maioria, essas tarefas são factíveis e podem ser realizadas após refletir as opções e fazer algumas tentativas. Um sistema de dicas é incorporado ao menu de pausa, o que ajuda os jogadores com um pouco menos de inspiração.
Destaque para as divertidas viagens de Robert a uma espécie de Matrix

Eu mesmo usei esse sistema para me socorrer algumas vezes, muitas delas resultando naquele famoso “ah, então era isso”. Algumas missões, por outro lado, exigem pensar completamente fora da caixa, algo próximo de uma epifania, mesmo com as dicas. Precisei de paciência para aplicar a estratégia da tentativa e erro, mas o resultado sempre foi satisfatório.

Essas missões incluem coletar itens para usar posteriormente, conversar com pessoas pela cidade e resolver quebra-cabeças. Quer alguma coisa de alguém? Então descubra o que essa pessoa quer e tente uma troca. Precisa acessar uma determinada área? Procure um modo de abrir a porta ou um caminho alternativo. Uma das principais ferramentas, além do pé de cabra, é um aparelho que permite a Robert hackear outros dispositivos eletrônicos, alterando seus alarmes e comportamentos. Gostei bastante desse recurso, que pode ser usado de formas bem criativas e divertidas.

Preste atenção ao seu redor e utilize tudo o que estiver à disposição
Aliás, cabe ressaltar que a aventura de Beyond a Steel Sky é bastante linear, sem missões secundárias ou caminhos secretos. Mesmo as situações de vida ou morte não resultam em game over, mas apenas em voltar segundos no tempo para tentar novamente. Alguns poucos extras e pequenas surpresas esperam os mais detalhistas, mas nada muito instigante.
É possível interagir com vários itens dos cenários
O final da história é relativamente corrido, mas entrega uma experiência suficientemente agradável e fecha adequadamente o enredo. Isso talvez explique o fato de a minha campanha ter durado pouco mais de sete horas, com direito a uma boa dose de exploração e tentativas. Existe um bom equilíbrio entre os temas sérios e cômicos, conferindo ao game uma atmosfera envolvente.

Um belo e frio mundo moderno

Assim como Union City, uma cidade moderna e tecnológica, mas fria e artificial, a produção do game também é um tanto estéril e por vezes sem vida. Essa reflexão se aplica, em particular, às expressões faciais dos personagens. Elas são genéricas e muitas vezes incompatíveis com as situações apresentadas. Modelos e animações também são meio robóticas com movimentos exageradamente mecânicos.
Algumas localidades são bem interessantes
Um recurso pouco utilizado e que diminuiria esses pontos negativos foi a arte vista no começo do jogo. Com um visual próximo de uma história em quadrinhos, ela é bonita e original, semelhante ao que foi visto no game predecessor. Quem é familiar a Dave Gibbons, um dos artistas envolvidos desde Beneath e uma referência na nona arte, entenderá o porquê do desperdício, sobretudo em cenas chave da história.
 
Os cenários são em geral mais vivos e detalhados, abraçando com força a proposta cyberpunk ao intercalar áreas bonitas e tecnológicas com locais enferrujados e menos atraentes. Com exceção de algumas passagens mais grandiosas, a trilha do jogo é apenas ok. O destaque no som vai para as dublagens, que são bem interessantes e trazem uma valiosa camada de personalidade a cada personagem do game.
Eu compreendo que Beyond a Steel Sky é um game indie e, portanto, não tem tantos recursos para uma superprodução. Ainda assim, seria importante ter visto mais esmero ao menos nas situações mais importantes da aventura, como usando a já citada arte no estilo história em quadrinhos. O curioso é que essa produção mais enxuta não resultou em um bom desempenho. Além de telas de carregamento demoradas, sobretudo para um console da nova geração, alguns quebra-cabeças sofreram com (desculpe a redundância) quebras bem sérias.
Gostaria de ter visto mais desse tipo de material
Personagens invisíveis trancando o caminho e opções de diálogo não refletindo as escolhas foram as duas situações que encontrei. Os salvamentos automáticos ajudaram nesse sentido (assim como minha obstinação em salvar manualmente), então tive opções para tentar novamente sem maiores problemas. Ressalto que a versão testada é nativa do PS5 (não funciona no modo de retrocompatibilidade) e precisa ser melhor otimizada para a nova geração.

Um futuro para poucos

À primeira vista, Beyond a Steel Sky tinha um bom potencial. Fiquei curioso com a sua proposta de resolver quebra-cabeças ao longo de uma história interessante que se passa em um mundo futurista cyberpunk. Embora a maior parte das minhas expectativas tenha sido atendida, diversos problemas, incluindo de desempenho e enredo, acabaram limitando uma experiência que poderia ser uma recomendação obrigatória para qualquer biblioteca.
Embora pudesse ser melhor, ainda assim um mundo divertido e bonito
O enredo é bom, mas longe de espetacular, sobretudo pela sua dependência do passado. Personagens são originais e cativantes, principalmente em termos vocais, mas têm animações simplistas e por vezes não naturais. Os quebra-cabeças são interessantes, mesmo que algumas poucas vezes exijam uma epifania para serem resolvidos. No final, fica a dica para quem gostou de Beneath a Steel Sky ou para fãs do gênero aventura com puzzles.

Prós

  • Combinação de quebra-cabeças com um roteiro cyberpunk futurista é bem sucedida e instigante;
  • Diálogos de boa qualidade, conferindo personalidade a cada personagem do game;
  • Maioria dos puzzles é inteligente e justa, com resoluções divertidas e satisfatórias;
  • Ambientação do game é original, variada e possui boa dose geral de detalhes;
  • Jogadores pacientes e detalhistas encontrarão alguns extras interessantes.
Contras
  • Faltou um resumo ou uma introdução formal ao universo do jogo, pois as referências ao título predecessor são consideráveis;
  • Problemas gerais como algumas sequências de quebra-cabeças, enredo com final um pouco corrido e telas de carregamento muito demoradas;
  • Animações e modelos são, em sua maioria, simples demais, incluindo personagens com expressões faciais bem limitadas e pouco uso da competente arte no estilo história em quadrinhos.
Beyond a Steel Sky – PS4/Switch/XBO/PC/PS5/XSX – Nota: 6.5
Versão utilizada para análise: PS5
Revisão: Heloísa D'Assumpção Ballaminut
Análise produzida com chave cedida pela Microids

é produtor de conteúdo sobre games desde 2016 e um grande fã da décima arte, embora não tenha muito tempo disponível para ela. Seus games favoritos (que formam uma longa lista) incluem: KH, Borderlands, Guitar Hero, Zelda, Crash, FIFA, CoD, Pokémon, MvC, Yu-Gi-Oh, Resident Evil, Bayonetta, Persona, Burnout e Ratchet & Clank.
Também encontra-se no Twitter @MatheusSO02 e no OpenCritic.
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