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Análise: Rogue Lords (PC) nos convida a usar poderes sombrios para trapacear até a vitória

Drácula, Maria Sangrenta, Lilith e outros personagens malignos se unem neste título indie com ideias interessantes.


Em Rogue Lords, controlamos o próprio Diabo, que reúne seguidores sombrios para enfrentar as forças do bem. Além de contar com diversas atividades e combates por turnos, este RPG roguelike conta com uma mecânica criativa que nos permite alterar a realidade, como mudar o resultado de eventos ou diminuir a vida de oponentes. Essa habilidade parece poderosa, mas uma jornada de dificuldade acentuada exige uso consciente dela. Em conjunto com ótima ambientação gótica, o resultado é um jogo envolvente, por mais que alguns problemas atrapalhem bastante as partidas.

Acompanhando o Lorde das Trevas em sua busca por vingança

Após ser derrotado pelo caçador de demônios Van Helsing, o Diabo se refugiou no Inferno. Décadas depois, mesmo enfraquecido, o ser maligno põe em curso sua revanche. Para isso, ele convoca seus discípulos sombrios, como Drácula, Lilith, Dr. Frankenstein, Cavaleiro Sem Cabeça e Maria Sangrenta, para espalhar o caos no mundo dos humanos. No entanto, para acabar de vez com Van Helsing e as forças do bem, o Diabo precisará primeiro reunir relíquias para recuperar seus poderes.

Rogue Lords explora esse conceito único em um RPG roguelike composto por campanhas individuais. Nelas, montamos um grupo com três discípulos e avançamos por capítulos até alcançar o chefe no final. Cada ponto do mapa conta com uma ou mais atividades, como combates, lojas e eventos cujo resultado depende de nossas escolhas. Por ser um roguelike, cada tentativa apresenta um mapa diferente e ser derrotado significa recomeçar desde o início.


O Diabo não tem escrúpulos e não aceita ser atrapalhado por simples mortais. Sendo assim, o ser maligno usa seus poderes para influenciar as partidas por meio do Devil Mode, uma mecânica que traz identidade a Rogue Lords. Esse recurso funciona como uma espécie de “trapaça” e permite alterar características do jogo. A chance de sucesso de uma ação em um evento é de 0%? Altere-a para 100% com alguns cliques. As rotas disponíveis no mapa não são vantajosas? Crie um portal para um ponto distante.

Esse recurso é útil, mas não é infalível: cada ação consome pontos de essência demoníaca, que funciona também como a vida do Diabo. Caso ela se esgote completamente, o ser sombrio e seus seguidores são derrotados. Logo, para conseguir avançar, precisamos balancear o uso do Devil Mode para não acabar em situações complicadas.


A temática é sombria, mas a ambientação de Rogue Lords é leve e com um visual gótico cartunesco que parece saído de um filme do Tim Burton. Os personagens esbanjam personalidade e é notável a grande variedade de animações em combate (algo raro em roguelikes). O maior destaque é a narração feita pelo próprio Diabo, que faz comentários sarcásticos com frequência e deixa a aventura bem imersiva. Só acho uma pena que a diversidade de cenários seja bem limitada.

Gênios do mal espalhando o caos e o terror nas batalhas

A jornada dos discípulos não é nada fácil, pois eles precisam enfrentar com frequência os membros da ordem religiosa Sanctua Lumen em combates por turnos. A cada rodada, podemos usar livremente um determinado número de pontos de ações para desferir ataques e técnicas especiais. Como de costume, os inimigos indicam seus movimentos futuros, o que nos permite reagir estrategicamente. Os personagens contam com dois tipos de energia (vida e espírito) e o combatente é derrotado quando uma das barras é exaurida.

Cada um dos seguidores do Diabo oferece diferentes papéis em combate. Drácula, por exemplo, se especializa em aumentar as características de seus companheiros, além de se tornar mais poderoso quando está à beira da morte. Maria Sangrenta conta com vários ataques poderosos e pode duplicar seus efeitos ao colocar um espelho amaldiçoado atrás de oponentes. O Cavaleiro Sem Cabeça é o responsável por diminuir o dano recebido pelo grupo com suas habilidades de defesa. Já a Dama Branca usa máscaras para ativar efeitos passivos e é capaz de danificar a mente dos inimigos.


Rogue Lords conta com nove personagens distintos, o que oferece grandes opções na montagem de grupos. Pelo caminho, os discípulos podem ser fortalecidos com relíquias de efeitos diversos, técnicas adicionais e características físicas recebidas ao saírem vitoriosos de eventos. Além disso, novas habilidades e relíquias são desbloqueadas aos poucos conforme terminamos partidas.

A trapaça do Devil Mode pode ser utilizada para mudar completamente os rumos do combate. Com os poderes do Diabo somos capazes de recuperar a vida dos discípulos, diminuir a energia dos oponentes e recarregar habilidades. O Devil Mode permite até mesmo transferir para os discípulos as vantagens dos inimigos, como barreiras que diminuem o dano. Mas é também nas batalhas que os riscos são maiores: o dano recebido por aliados à beira da morte é descontado diretamente da essência demoníaca, o que pode ser devastador em alguns casos.



A diversão tática proporcionada pela trapaça

Em sua essência, Rogue Lords explora os vários conceitos habituais de roguelikes. Felizmente, suas características singulares fazem com que ele se destaque, ao menos mecanicamente. Os mapas das campanhas são simples e diretos, porém eventos diversos nos incentivam a mudar de ideia no meio do caminho — altero a minha rota para receber um bônus por ter espalhado o terror em uma vila ou será melhor perder algumas almas (o dinheiro do jogo) para ter uma chance de obter uma relíquia?

Os combates são bastante estratégicos e os vários personagens permitem montar diferentes táticas. Há muito espaço para experimentação e com um pouco de habilidade é possível montar sinergias poderosas. Com pouco tempo, já conseguia fazer movimentos devastadores capazes de aniquilar o time inimigo em poucos turnos. Apreciei também a grande distinção entre os discípulos do mal e me diverti testando suas habilidades.


O Devil Mode pode parecer roubado e opcional em um primeiro momento, mas o jogo é balanceado de tal maneira que somos forçados a utilizá-lo para sobreviver. A dificuldade aumenta bastante com o avançar da partida e chegou um momento que eu precisei pensar com cuidado como e quando utilizar o modo de trapaça da melhor maneira.

Há, inclusive, vários dilemas: se você não usar os poderes para tirar uma vantagem de um inimigo ou para recuperar a vida de um aliado, as chances de derrota aumentam drasticamente por causa do alto dano. No fim, o Devil Mode adiciona uma camada de complexidade ao jogo e apreciei as possibilidades proporcionadas por ele, como criar reviravoltas em momentos críticos.



Nem sempre no controle de tudo

Mesmo com tantas qualidades, Rogue Lords é assolado por alguns problemas desagradáveis. O principal deles é o balanceamento irregular da dificuldade. Em algumas tentativas, grupos de inimigos extremamente poderosos e que dependem de uma estratégia muito específica para serem vencidos aparecem aleatoriamente nos mapas. Já em outras partidas, é possível encontrar um caminho repleto de oponentes banais.

Para piorar, os confrontos extremamente complicados costumam aparecer especialmente nos trechos finais das partidas e, mesmo usando todas as opções do Devil Mode, parece ser impossível sair vitorioso. Por causa disso, fica a impressão de que estamos à mercê da sorte em vez de dependermos da estratégia. Muitos jogadores estão reclamando do equilíbrio e a desenvolvedora promete implementar ajustes no futuro.


A outra questão é a quantidade limitada de conteúdo. Eventos, cenários e inimigos se repetem com frequência por todas as campanhas, o que as torna bastante parecidas. Com o tempo, isso faz com que o jogo se torne repetitivo. Alguns modificadores tentam trazer variedade, mas não são suficientes.

Por fim, o ritmo às vezes é cansativo, pois as partidas são longas demais, às vezes durando três horas ou mais. Essa duração alongada, inclusive, traz um pouco de frustração quando somos derrotados, em especial quando estamos quase no final — é desmotivador ter que recomeçar depois de algum capricho da aleatoriedade.



Diabolicamente divertido

Rogue Lords é um roguelike que consegue se destacar com seus conceitos singulares. As partidas apresentam boa mistura de atividades e o combate envolve com suas várias nuances estratégicas e possibilidades. O elemento mais notável é o Devil Mode, que permite alterar diferentes características do jogo, como a vida dos inimigos ou o resultado de eventos. Os poderes demoníacos parecem trapaça, mas o uso bem implementado o torna um recurso que precisa ser utilizado com sabedoria para alcançar a vitória.

Mesmo sendo criativo, o jogo ainda tem algumas arestas a serem aparadas, como dificuldade desbalanceada, partidas muito longas e sensação de repetição. Ao menos a elaborada ambientação gótica e a excelente dublagem ajudam a amenizar os problemas. No mais, Rogue Lords é um ótimo representante do gênero e tem tudo para se tornar ainda melhor após alguns ajustes.

Prós

  • Boa combinação de eventos, combates e elementos de RPG;
  • O Devil Mode oferece muitas opções para trapacear e para criar reviravoltas;
  • Muitos personagens diferentes, em conjunto com relíquias e habilidades, permitem montar várias estratégias distintas;
  • Ambientação cativante com dublagem imersiva e visual gótico inspirado em cartoons.

Contras

  • Quantidade limitada de conteúdo deixa as partidas repetitivas a longo prazo;
  • Alguns problemas de balanceamento;
  • As partidas são meio cansativas por serem longas demais.
Rogue Lords — PC — Nota: 8.0
Revisão: Ives Boitano
Análise produzida com cópia digital cedida pela Nacon

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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