Análise: Lake (Multi) e os caminhos da vida

O jogo indie é um convite para refletir a respeito de nossas escolhas e para relaxar nas estradas da pacata cidade de Providence Oaks.

em 10/10/2021
Anos após ter saído da casa de seus pais, Meredith resolve voltar à cidade em que cresceu para substituir seu pai em um trabalho temporário entregando correspondências na cidade de Providence Oaks. Dirigindo pelas calmas estradas para entregar cartas e encomendas, o jogador encontra em Lake (Multi) a oportunidade perfeita para desacelerar da rotina atribulada e passar tempo com personagens cativantes que fazem qualquer um se sentir acolhido.

Mudança de ares

Meredith tem uma rotina atribulada trabalhando com programação na cidade em que mora, restando pouco tempo para dedicar a si e às pessoas que lhe são queridas. Quando seus pais resolvem tirar um tempo para viajar, a protagonista acaba aceitando a proposta de assumir o trabalho de seu pai como carteiro em sua antiga cidade e aproveita para repensar os caminhos de sua própria vida.

A pequena cidade que circunda um belo lago é repleta de árvores coníferas e belas casinhas, proporcionando o ambiente ideal para uma vida pacata. Embora Meredith tenha voltado buscando um pouco de paz, ela acaba sendo confrontada com pessoas de seu passado e até mesmo com alguns conflitos não resolvidos. Cabe ao jogador decidir como lidar com todos esses vínculos.

O ambiente é charmoso e encantador a qualquer hora do dia ou tempo. É possível ver alguns animais atravessando a estrada, como raposas e veados. Embora a paisagem seja deslumbrante e varie de florestas densas a plantações de trigo, Lake deixa a desejar quando o assunto se trata de dar vida à cidade. 

Apesar de haver pessoas caminhando pelas ruas e carros trafegando pela cidade, seus movimentos são pouco naturais e não há qualquer tipo de interação com o jogador. Os moradores da cidade vagam sem olhar para os lados, os carros não se importam com as barbeiragens cometidas no trânsito e não há uma alma viva sequer nos belos quintais das casas. Tanta vegetação ao redor, mas não se vê qualquer outro tipo de vida nos jardins e árvores que ocupam a cidade. A impressão é de que se está dentro de uma maquete, o que, infelizmente, compromete o potencial atmosférico do jogo.

Passando o tempo


Meredith recebe cartas e encomendas que deve entregar nos endereços marcados em uma lista. Eles também aparecem no mapa, junto dos lugares descobertos em suas andanças. Conforme as entregas são feitas, o jogador passa a conhecer os moradores da cidade e recebe algumas tarefas para serem cumpridas, se assim desejar. Desde pequenas entregas, até desafios mais complexos como ficar de babá ou socorrer um gatinho doente, os favores prestados, apesar de não serem obrigatórios, impactam na forma como as relações se desenvolvem ao longo do tempo.

Também é possível passar tempo se divertindo com as pessoas com quem você cruza em sua nova jornada. As possibilidades são variadas e fundamentais para a riqueza de detalhes que compõem a história apresentada em Lake. Entre um compromisso e outro, os jogadores podem aproveitar para ouvir a rádio local enquanto dirigem, fotografar o que lhes capta a atenção, e tentar quebrar a pontuação máxima de um fliperama em um restaurante à beira da estrada.

A simplicidade da vida em um lugar pacato permite que Meredith tire tempo para si lendo livros, assistindo à televisão ou até mesmo encontrando seus amigos. Ela também pode investir seu tempo se ocupando com tarefas do trabalho, o que a faz avaliar que caminhos deve trilhar depois dessa experiência que lhe apresenta possibilidades completamente novas.

Conexões e reencontros


Lake é um jogo que utiliza o gameplay como veículo de pequenas histórias singulares. Ao primeiro olhar, pode ser visto como um simulador de trabalho como carteiro, mas com o passar dos dias, as interações estabelecidas demonstram que a riqueza desse indie reside na delicadeza da narrativa dinâmica. Os personagens são muito bem construídos, a começar por uma protagonista que trabalha com programação, uma área que até hoje é predominantemente masculina. Há pessoas com grandes qualidades, características próprias bem demarcadas, histórias particulares complexas… Algumas questões são apresentadas ao longo do jogo de forma distanciada, permitindo que o jogador reaja de forma mais autêntica a cada situação, considerando seus próprios valores.

Pouco convencional e até com um ritmo mais lento do que a maioria dos jogos que vemos por aí, Lake é uma ótima pedida para aqueles que se sentem angustiados a respeito das decisões que tomaram para a própria vida e que buscam reflexões que possam de alguma forma apaziguar as indecisões. Também é indicado para qualquer pessoa que goste de apreciar uma bela vista pela estrada e de conversas descompromissadas com pessoas diferentes.

Prós

  • Gameplay relaxante;
  • Paisagens bonitas;
  • Personagens e diálogos muito bem desenvolvidos;
  • Dinamicidade de acordo com as escolhas do jogador.

Contras

  • Falta de vida no cenário;
  • Pequenos bugs em alguns elementos do cenário e câmera;
  • Pouca interação com os ambientes.
Lake  - PC/Switch/PS4/XBO/XBX - Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PC

Revisão: Heloísa D’Assumpção Ballaminut
Análise produzida com cópia digital fornecida pela Whitethorn Digital


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