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Análise: Klang 2 (Multi) une ação frenética e música eletrônica de qualidade

O guerreiro sônico retorna em sequência que reinventa a jogabilidade do original.



É comum vermos sequências de jogos reaproveitando mecânicas de sua versão original, trazendo, geralmente, pequenas modificações. Klang 2 foge completamente desse hábito ao levar ao pé da letra a ideia de combate musical. Se antes tínhamos uma aventura mais voltada para o gênero plataforma, aqui a exploração sai de cena para dar lugar a combates rítmicos em arenas fechadas. O resultado são lutas repletas de adrenalina que não deixam o jogador sossegar nem por um minuto, enquanto Klang busca vingança contra o antigo regente local.

Em terra de cego, quem tem olho é Klang

O universo de Klang é regido pelo som e pelo ritmo. Aquele que é capaz de desenvolver uma sensibilidade aguçada para a captação do som, é considerado um ser privilegiado, beirando um super ser. Nesse contexto, está o Soundlord Sonus, a autoridade máxima que governa toda a região, diretamente da Symphony Tower. Abaixo dele, estão os Klangs, guerreiros de elite que foram capazes de aprimorar a manipulação do som de tal forma que se tornaram capazes de antever o pulso da movimentação do adversário antes mesmo de ela acontecer, tornando-os a elite de toda a cidade de Angel Tracks. Dentre essa casta, destaca-se o nosso protagonista, que é chamado unicamente como Klang e que se vê traído pelo seu senhor.



Após os eventos do primeiro título, Klang caiu cego e derrotado perante a loucura do Soundlord Sonus durante o evento conhecido como The Calamity. Subitamente, sua segunda chance vem de um aliado improvável, a entidade conhecida como A-Eye. Outrora inimiga e responsável por destruir a cidade, devolve sua vida e sua visão ao se fundir com Klang. Por meio dessa aliança improvável, nosso herói parte em simbiose com o misterioso ser alienígena, dividindo o objetivo de livrar-se de uma maldição que impede o uso da Tuneblade, uma arma de imenso poder que esteve ao nosso lado no jogo anterior, e se vingar do Soundlord.

Para quem teve a oportunidade de jogar o título anterior, fica evidente que a narrativa era algo muito superficial. A ausência de diálogos deixava a trama sujeita a dúvidas e com um entendimento vago. Nesta continuação, é claro o esforço da Tinimations em definir um plano de fundo que sirva de base para nosso herói sônico. Os embates intercalam-se com diálogos entre Klang e A-Eye na tentativa de entenderem os reais motivos que levaram à decadência de toda a civilização e à traição que os detiveram. 




Há também um trecho separado em nossa base para conversas extras com nosso companheiro, dicas sobre a jogabilidade e uma enciclopédia que explica um pouco sobre figuras icônicas daquele mundo e eventos passados. Não chega a ser um grande aprofundamento se comparado a outros jogos com narrativa pré-concebida, porém é um passo importante para estabelecer um contexto de mundo. O único ponto negativo que atrapalhou a compreensão da história foi a ausência do nome do personagem que está falando durante os diálogos. Em certos momentos há mais de dois agentes na conversa, deixando confusa a distinção de quem está falando no momento.

Entrando em sintonia com a batida

A jogabilidade de Klang deixa de lado toda a experiência envolvendo a exploração de áreas repletas de armadilhas e obstáculos, para dar vez à ação dos combates, algo que ficava para os trechos finais na aventura anterior. A diferença é que aqui ele recebeu um refino especial. As lutas acontecem em cenários fechados contra inimigos específicos. Toda a movimentação, seja ela ofensiva ou defensiva, é ditada pelo ritmo da música que compõe a fase. Entender as batidas do som é essencial para utilizar os três movimentos disponíveis no repertório do nosso guerreiro dentro do tempo correto.
  • Striking: uma bola de fogo lançada por Klang na direção do alvo. É nosso ataque mais comum e fica destacado na tela por um círculo rosa;
  • Dash: uma esquiva utilizada para movimentar-se pelo cenário, escapando de ataques inimigos e possibilitando contra-ataques. Ele é sinalizado por uma seta na cor verde;
  • Holding: uma poderosa descarga elétrica de grande poder, capaz de causar grandes danos e até prejudicar o portador se usada de maneira errada. Seu símbolo aparece na forma de um losango azul.
Essas três figuras aparecem na tela a todo momento e ditam a sequência que devemos seguir. Contudo, é importante ficar atento ao sinal luminoso decrescente, pois ele marca o momento exato em que devemos apertar os botões para uma ação precisa e que reflita na melhor pontuação possível. 

Ataques consecutivos bem-sucedidos geram um acúmulo de pontos e aumentam um multiplicador que torna esse valor cada vez maior à medida que acertamos cada vez mais movimentos. O oposto disso reflete-se em danos sofridos por Klang ao deixar de atacar ou escapar de algum golpe, reduzindo sua vida até ser derrotado. 

Ao concluir cada estágio, seja na seção de treinamento no Arcade (um simulador VR que nos permite enfrentar clones digitais dos oponentes derrotados), seja na campanha principal, recebemos uma nota pela nossa pontuação e, com ela, um número de tokens.
  • Ranking C = 1 token;
  • Ranking B = 2 tokens;
  • Ranking A = 3 tokens;
  • Ranking S = 4 tokens.
Receber uma boa pontuação é importante especialmente no modo Arcade, pois, conforme avançamos, novas músicas são liberadas. Ao somar um total de sete tokens nesse modo, liberamos a próxima fase na história. Cada capítulo trará um novo oponente e, com ele, novos padrões de ataque que exigirão uma boa adaptação por parte do jogador.

Não enxergo a mudança de ares na jogabilidade como algo negativo ou positivo com relação ao original. Os dois pareceram ideias fora da curva do que costumamos ver em jogos rítmicos. Os combates em arena fechada em Klang 2 podem trazer momentos de tirar o fôlego devido à rápida movimentação do protagonista ao esquivar-se de muitos ataques e devolvê-los na mesma moeda.
 
Outro fator que me chamou a atenção é que a ordem e o local onde cada símbolo aparece no mapa são gerados de forma semiprocedural, algo que me surpreendeu ao tentar decorar todas as marcas na tentativa de tirar o ranking máximo, que certamente garante maior longevidade ao desafio. O único ponto que pode desagradar aqui é caso a mecânica não seja capaz de cativar quem estiver jogando, pois a fórmula se repete em todo o jogo. No meu caso, me senti desafiado a todo o momento ao me deparar com novos inimigos em duelos embalados por excelentes músicas eletrônicas.

Aumenta o som!

Um jogo rítmico não estaria completo sem um repertório de respeito. Os desenvolvedores mantiveram a escolha acertada de manter a parceria com o compositor bLINd, entre outros compositores de peso convidados para esta edição. A seleção traz uma série de músicas eletrônicas mixadas com diversos outros ritmos, como reggae, música havaiana e até mesmo música clássica. O resultado é uma playlist de excelente qualidade que não só norteia e ajuda a diversificar o ritmo da jogabilidade, como também nos atiça a repetir as fases para ouvi-las mais vezes. É interessante que Klang, ao ficar parado, reage à batida das músicas com movimentos que nos instigam a entrar no ritmo, aumentando ainda mais a imersão.




Visualmente, Klang 2 não deixa de apresentar seu mérito. É perceptível a melhora em relação ao seu antecessor. Os combates próximos trazem uma visão aproximada dos personagens, revelando um maior nível de detalhes. As cores são extremamente vibrantes, repletas de tons de neon, dando um charme mais futurista e cyberpunk. Particularmente, o visual de Klang me agradou muito. É como se Immortan Joe mergulhasse em um caldeirão de cores psicodélicas. Isso contribuiu na minha curiosidade por descobrir mais sobre ele. A paisagem, por sua vez, traz uma inspiração notável nas construções gregas, repletas de elementos tecnológicos, dando um ar de civilização retrofuturista ou, como os desenvolvedores nomearam, “estética tecno-grega”.



Música eletrônica nunca foi tão empolgante

Klang 2 opta por seguir uma direção diferente de seu antecessor. Uma perigosa e ousada escolha, mas recompensada por um trabalho competente em entregar uma nova forma de experimentar jogos rítmicos. O esquema de embates por si só pode ser cansativo para alguns, mas é balanceado pelo surgimento de novos inimigos com padrões de movimentos diferentes. 

O esforço em estabelecer um enredo, apesar de a história ainda soar um pouco confusa, é válido e muito bem-vindo para um personagem com design tão carismático. As cores vibrantes e a trilha sonora de qualidade são fortes chamarizes não só para os fãs de música eletrônica, como também para os entusiastas de jogos musicais. Fica a curiosidade e a expectativa por ver mais desse mundo em uma nova sequência, ainda mais elaborada.




Prós

  • Jogabilidade frenética e desafiadora;
  • Excelente trilha sonora repleta de músicas eletrônicas;
  • Visual repleto de cores e neon vibrantes;
  • Movimentação no combate gerada de forma semiprocedural;
  • Personagem com visual carismático.

Contras

  • História um pouco confusa, principalmente na ordem dos diálogos;
  • A mecânica dos combates pode ser cansativa para alguns.
Klang 2 — PC/PS4/PS5/Switch/XBO/XSX — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Ives Boitano
Análise produzida com cópia cedida pela Tinimations

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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