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Análise: Nickelodeon All-Stars Brawl (Multi) desperdiça todo potencial em prol de uma jogabilidade frenética

Jogo de luta reúne personagens icônicos dos desenhos em um crossover escasso de conteúdo.



Já imaginou como seria uma porradaria generalizada entre os principais personagens do nostálgico canal de animação Nickelodeon? Esse crossover já foi explorado várias vezes no passado durante o auge da geração do Playstation 2, porém nenhuma dessas tentativas chegou perto de obter o mesmo holofote que Nickelodeon All-Stars Brawl (Multi) apresentou antes do seu lançamento.

Claramente inspirado na franquia Super Smash Brothers, o inusitado Nickelodeon All-Stars Brawl tentou ir por um caminho bem diferente do famoso crossover da Nintendo. Apesar de compartilhar muitas mecânicas e ideias em comum com a sua grande fonte de inspiração, esse humilde título chamou a atenção dos jogadores justamente por se focar, para o bem ou para o mal, nos aspectos menos explorados pelo seu “irmão mais velho”.

Porradaria sem contexto

Vinte personagens icônicos de Bob Bob Esponja, Avatar, Ren e Stimpy, Tartarugas Ninjas, Catdog, Invasor Zim e muitos outros desenhos clássicos estão lutando entre si. Contexto? Quem precisa disso? Nickelodeon All-Stars Brawl só quer saber de te colocar na ação o mais rápido possível. Não há tutoriais, nem nada do tipo para ensinar ou contextualizar os jogadores que não possuem experiência prévia com o estilo do jogo.

No menu principal, o jogador pode selecionar entre os modos Battle, Online ou Arcade. O primeiro contempla o multiplayer local para até quatro pessoas no mesmo sistema. Dentro dessa opção, também é possível jogar o Timed, em que jogadores brigam enquanto o relógio corre; e o Sports, modo no qual é necessário colocar a bola no gol do campo inimigo para pontuar, com várias opções de bolas em formatos inusitados. 




A jogabilidade padrão se baseia em enfraquecer os adversários para aumentar a porcentagem de vida deles. Quanto maior o valor da porcentagem, o lutador vai ficando exponencialmente mais suscetível a receber um golpe único que pode arremessá-lo para fora da arena. Uma vez que o oponente ultrapassar qualquer uma das “bordas” nos extremos do cenário, ele perde um ponto de vida. Vence aquele que acabar com todos os pontos de vida do oponente primeiro.

A movimentação rápida é o grande foco aqui. Os jogadores podem utilizar uma esquiva aérea para se movimentar como quiser pela arena, deslizar pelo chão, realizar combos impressionantes, fazer fintas e muito mais. Controlar os personagens é dinâmico, frenético e intuitivo ao ponto de ser divertido até mesmo se você quiser ficar correndo pra lá e pra cá no modo treino.

Existem três tipos diferentes de botões de ataque, um botão a mais do que em Smash Bros. A maior quantidade de golpes, especialmente os aéreos, adicionam uma camada extra de complexidade na tomada de decisões durante as lutas. A forma que a mecânica de "agarrão" funciona também é bem diferente. Ao realizar o comando, o personagem pode carregar o adversário por um período pequeno antes de arremessá-lo para a direção desejada. Isso serve para criar mais possibilidades de combos criativos e dinâmicas entre os jogadores. 

O modo Online faz uso do badalado sistema “Rollback Netcode”, aquele que é considerado pela comunidade de jogos de luta como o único sistema que possibilita batalhas entre jogadores de diferentes continentes sem muito lag. Apesar disso, preciso confessar que passei por muitas experiências frustrantes jogando online com uma internet de 250 mbps, uma velocidade considerada bem acima da média no Brasil.

O lag é inacreditavelmente grande e chega, até mesmo, a ser mais intrusivo do que em Super Smash Bros. Ultimate (Switch). Sem exagero. Eu realmente estou falando sério quando digo que presenciei menos “slideshows” jogando o tão criticado online do crossover da Nintendo. A falta de uma comunidade ativa de jogadores sul-americanos e a ausência de uma barra de ping antes das partidas só ressaltam ainda mais esse inesperado problema.



Nostalgia sem alma

Assim que Nickelodeon All-Stars Brawl teve a sua primeira gameplay revelada ao público, já era possível notar que a pequena equipe da Ludosity pretendia criar um jogo focado em agradar os fãs das mecânicas complexas que fizeram Super Smash Bros. Melee (GC) se tornar um dos títulos mais populares dentro da comunidade de jogos de luta.

No entanto, é importante lembrar que existem diferenças fundamentais entre as características que fazem um videogame ser “bom” e os aspectos que fazem um jogo de luta ser considerado “competitivo”. No caso deste título, parece que quase todo o resto foi sacrificado em prol da jogabilidade e suas mecânicas de movimentação.

Começando pelos gráficos de baixíssima qualidade, que sinceramente não seriam um grande problema se não fosse pelo fato de que as animações confusas dos golpes transformam a apresentação visual das lutas em uma tosqueira digna da novela “Os Mutantes”. Todos os movimentos parecem tão duros e repentinos que não dá para reconhecer com clareza o que os personagens estão fazendo no meio da porradaria.

A defesa, por exemplo, faz com que os personagens assumam uma pose ligeiramente diferente. Ao invés de utilizar as bolhas de energia de Smash Bros, que comunicam com clareza a informação de que o oponente está defendendo, Nickelodeon All-Stars obriga que o jogador tente ficar identificando as poses de defesa no calor da batalha. A falta de clareza nesse tipo de informação atrapalha demais as lutas, especialmente quando em conjunto com o ocasional lag do modo online.

Não existe nem mesmo a possibilidade de mudar a cor da roupa dos lutadores! Como diabos eles esperam que as pessoas reconheçam o próprio personagem no caso de um confronto com lutadores repetidos repetidos? É algo tão simples, mas importantíssimo para qualquer jogo de luta que se preze. Até uma opção de colocar um filtro escuro seria melhor do que não ter nada.  


Indecisão contraditória

Apesar de ser um jogo focado no competitivo, é interessante ressaltar também que o balanceamento dos personagens foi feito de uma maneira bem duvidosa. Muitos personagens podem te matar com apenas um combo ou então pressionar sua defesa de forma extremamente irritante. O jogo não disponibiliza uma esquiva no chão e ainda faz questão de te deixar vulnerável quando pendurado na beirada das arenas. Se você por acaso ficar em uma posição desvantajosa, então pode começar a rezar por um milagre porque não existe nenhuma mecânica defensiva que te salve da pressão ofensiva de alguns personagens.

Fora isso, o maior problema de Nickelodeon All-Stars Brawl é, de longe, a falta de um conteúdo que capture a atenção do jogador que não se interessa pelo competitivo. O modo Arcade, que supostamente era para ser um modo história, é apenas uma sequência de batalhas sem nada de realmente novo. A única diferença é que os personagens comentam uma frase desconexa antes da luta. Aliás, o que eu quis dizer com a palavra “comentam” é que aparece apenas uma caixa de diálogo em texto, pois não há dublagem aqui.

Os extras que você libera jogando o modo Arcade são desinteressantes ou completamente inúteis. As músicas, salvo algumas poucas exceções, são genéricas e esquecíveis. Será que custava tanto assim colocar pra Nick liberar pelo menos um tema oficial de qualquer um dos desenhos representados no jogo? Não há itens ou modos de jogos variados que alterem a jogabilidade de modo significante. Basicamente, dá para dizer que não há “alma” em nenhuma parte do jogo, além da sua jogabilidade que, de fato, é realmente bem divertida e dinâmica.

Nickelodeon All-Stars Brawl pode até ser uma alternativa interessante para quem gosta do gênero de Platform Fighters competitivos, porém como um jogo de videogame em sí ele é um grande desperdício de potencial. Felizmente, a equipe da Ludosity tem um bom histórico e parece estar ouvindo o feedback dos fãs para aplicar atualizações constantes com o intuito de melhorar o jogo. Porém, até o momento desta análise, o título continua oferecendo uma experiência vazia para qualquer jogador que não se interesse pela proposta.

Prós:

  • Movimentação extremamente divertida;
  • Jogadores competitivos de Smash Bros. vão se sentir em casa.

Contras:

  • Online decepcionante;
  • Músicas genéricas e ausência de dublagem;
  • Ainda precisa de muito conteúdo para ficar satisfatório;
  • Animações confusas e gráficos toscos;
  • Falta de itens e maior variedade de modos;

Nicklodeon All-Stars Brawl - Switch/PS4/PC/XBO - Nota: 6.5
Versão utilizada para análise: PC
Análise produzida com cópia digital cedida pela GameMill Entertainment
Revisão: Thais Santos

Estudante de jornalismo que não vê a hora de achar um estágio. Apaixonado por videogames e esperando o fim de Hunter x Hunter e Berserk desde que me entendo por gente.
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