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Análise: Flynn: Son of Crimson (Multi) traz ação, plataformas e variedade em um mundo retrô

Este título indie não promete ideias mirabolantes, mas executa muito bem conceitos amplamente conhecidos.


Flynn: Son of Crimson é uma aventura de ação e plataforma que parece ter vindo direto da era 16-bits com seu visual em pixel art. Além da ótima execução de mecânicas consagradas, esse título indie surpreende com uma diversidade impressionante de estágios e situações. Essas características, em conjunto com uma progressão ágil e uma jornada enxuta, resultam em um jogo divertido e envolvente que só escorrega em alguns poucos aspectos.

Enfrentando uma ameaça de outra dimensão

Flynn é um jovem que vive pacificamente na ilha de Rosantica com Dex, uma loba gigante que também é guardiã mística do local. A paz é interrompida quando uma figura nefasta ataca Dex, rouba a sua energia mágica e faz surgir monstros. Em busca de uma solução, Flynn descobre que é o descendente de uma deusa e recebe o Crimson, um poder capaz de fazer frente à ameaça sombria. Com isso, o jovem parte em uma jornada para curar a sua amiga e expulsar os invasores.


Essa premissa simples é explorada em um jogo 2D bem tradicional que alterna entre momentos de combate e plataforma. A aventura é dividida em fases lineares, mas existem segredos e saídas alternativas que só podem ser acessadas depois de se obter certos itens ou habilidades. Os estágios são acessados em um mapa, que informa a presença de rotas alternativas e tesouros ainda não obtidos.

Para se defender, Flynn transforma o poder Crimson em uma espada e também é capaz de lançar projéteis. Pelo caminho, o rapaz adquire novas armas: um machado lento capaz de quebrar defesas e obstáculos, e garras para atacar rapidamente. Os equipamentos podem ser trocados instantaneamente de acordo com a necessidade. Um movimento de rolar permite esquivar de perigos, e a vida pode ser recuperada ao consumir energia obtida de cristais verdes.


Além das armas, Flynn conta com feitiços elementais com usos diversos. O poder de gelo é utilizado para congelar inimigos e elementos dos cenários. Já o projétil de choque remove a eletricidade de obstáculos e acerta vários monstros em sequência. Por fim, a bola de fogo é útil para acender tochas em locais escuros, além de queimar continuamente inimigos.

Fora isso, podemos desbloquear diversas habilidades com cristais obtidos nos estágios. Algumas melhorias são bem diretas, como aumentar a vida ou o dano. Já outras liberam novos movimentos interessantes, como um ataque atordoante, um golpe ascendente para combos no ar ou versões mais poderosas dos feitiços.



Uma aventura retrô bem tradicional

Flynn: Son of Crimson claramente usa o passado como base, mas surpreende com sua execução impecável. Ao contrário de muitos títulos modernos que tentam trazer de tudo um pouco, este jogo é bastante enxuto e foca majoritariamente em atacar e pular, resultando em uma aventura agradável que dura algumas horas. A progressão é linear e o ritmo é ágil, sendo que a introdução de novos movimentos traz uma sensação constante de novidade. Além disso, há conteúdo opcional e alguns poucos segredos que ajudam a estender um pouco a experiência.


Controlar Flynn é bem intuitivo e os comandos precisos trazem fluidez à ação, com desafios que exploram constantemente nossa capacidade de saltar e derrotar inimigos. Por causa disso, na maior parte das vezes, eu perdi partes da vida por ser descuidado e não por causa de algum elemento difícil de entender. A dificuldade é equilibrada e há pouca frustração na derrota, pois o herói reaparece no início do trecho depois de morrer ao custo de poucos cristais.

O mundo do jogo cativa com pixel art belo que me fez lembrar um jogo de GBA. É tudo bastante colorido e os cenários têm inúmeros detalhes que os tornam adoráveis. Além disso, cada região esbanja personalidade, como montanhas repletas de neve, um templo no meio da floresta, uma fortaleza envolta em sombras e uma região árida assolada por chuva ácida. Destaco as animações de Flynn: seus movimentos e ataques são estilosos e visualmente criativos.



Explorando o gênero com muita criatividade

Para mim, o melhor aspecto do jogo é a grande variedade de situações pelos estágios. Em uma área, o desafio é escalar uma montanha enquanto desviamos de plantas com espinhos que aparecem repentinamente. Para prosseguir em uma caverna, precisamos resolver um pequeno puzzle envolvendo caixas para abrir um portão. Em uma fase que se passa nas profundezas escuras do mar, é necessário se orientar pela luz dos inimigos, que brilham de tempos em tempos. Até mesmo a loba Dex participa da aventura: Flynn monta em sua amiga para atravessar rapidamente locais repletos de obstáculos.

Além de ter boa diversidade de tipos de estágios, Flynn: Son of Crimson também apresenta variações interessantes dentro de um mesmo tema. As fases de plataforma, por exemplo, podem ser bem tradicionais e focadas em seguir para a direita, mas há também áreas mais verticais, com rolamento automático, com plataformas que se movem ou até mesmo com algum elemento inédito. Apreciei bastante a criatividade das inúmeras situações presentes no jogo.


No entanto, nem sempre o ritmo é ágil. O problema está em estágios que são longos demais a ponto de ficarem cansativos. Alguns deles, inclusive, apresentam desafios mais arrastados e menos inspirados, ficando a sensação de que eles existem apenas para estender o tempo de jogo. Felizmente, há poucas fases assim, mas não deixaram de me incomodar.

Outro ponto questionável é o combate. Flynn tem à disposição inúmeros ataques, armas e poderes, mas essas opções são subutilizadas na aventura com inimigos simples de derrotar. Um ou outro monstro ou chefe exige uma estratégia mais elaborada, mas, na maioria das vezes, basta atacar repetidamente e esquivar quando necessário — na maior parte do tempo, usei um ataque especial que deixa o herói invencível para destruir rapidamente os inimigos. Por sorte, a experiência é pouco comprometida, pois o combate não é tão importante no jogo fora os confrontos contra os chefes.



Uma diversão bem dosada

Flynn: Son of Crimson pega as melhores ideias de jogos de plataforma e as combina em uma aventura enxuta e bem construída. O maior destaque está na diversidade de desafios pelos estágios, que contam com puzzles leves, combates, segredos e vários outros elementos distintos. Além disso, um elaborado visual em pixel art impressiona com localidades criadas com esmero. A duração é breve e o andamento é ágil, mas há alguns problemas menores, como algumas fases longas demais e elementos desinteressantes do combate. No fim, as qualidades de Flynn: Son of Crimson o tornam um ótimo representante do gênero de plataforma.

Prós

  • Ritmo ágil em estágios que misturam combate, plataforma e puzzles;
  • Grande variedade de situações espalhadas pelas fases;
  • Visual vibrante com pixel art detalhado inspirado em títulos 16-bits.

Contras

  • Certos estágios são longos demais;
  • As mecânicas de combate são subutilizadas.
Flynn: Son of Crimson — PC/PS4/XBO/Switch — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Heloísa D'Assumpção Ballaminut
Análise produzida com cópia digital cedida pela Humble Games


é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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