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Análise: Fire Tonight (PC/Switch) é uma curta aventura sobre amor juvenil

Explore e resolva quebra-cabeças em uma cidade atormentada por um misterioso incêndio na busca pelo seu amor.



Muitos de vocês já vivenciaram uma paixão durante a juventude. Tenha sido ela duradoura ou não, uma coisa é certa: ela provavelmente foi intensa. Esse é o gancho explorado pelos desenvolvedores da Reptoid Games em Fire Tonight. Aqui somos apresentados a um jovem casal que, mesmo em meio a uma cidade incendiada, não medirão esforços para se encontrar. A jornada pelo centro urbano traz alguns quebra-cabeças de baixa complexidade e momentos que exigem certa furtividade. Contudo, a narrativa sofre de muita superficialidade na relação do casal, desafios pouco expressivos e um tempo de duração curto.

Tudo pelo amor

A história de Fire Tonight gira em torno do casal Maya e Devin. O título traz uma forte inspiração na música homônima da banda Information Society e narra uma década de 1990 em que as pessoas não possuíam as facilidades para comunicação que temos hoje em dia. A letra da música não influencia só o desenrolar da trama, como serve como base para os detalhes visuais das localidades. 




Durante uma conversa acalorada pelo telefone entre os dois, quando Maya começa a se questionar sobre assuntos existenciais, a ligação é interrompida por um blecaute. Ao sair para entender a situação, a jovem se depara com a cidade acometida por um curioso incêndio e, ignorando o cenário emergencial e o aviso das autoridades para permanecer em casa, ela decide partir ao encontro de seu amado, receosa com o que ele poderia pensar da situação.

O enredo se desenrola através de capítulos com trechos que se revezam entre a jornada de Maya pela cidade e a permanência de Devin em seu apartamento. Eu senti falta de um aprofundamento na relação dos dois que me convencesse ao ponto de justificar a atitude desesperada de Maya em se arriscar em locais em chamas apenas para explicar o encerramento repentino da ligação ao seu namorado. A cena inicial dos dois não é suficiente para trabalhar esse aspecto da história e o fato da campanha poder ser encerrada em pouco mais de uma hora retira muito do tempo que poderia ser dedicado para essa finalidade.



Incendiada, porém pouco ameaçadora

Até chegar no apartamento de Devin, Maya irá passar por alguns locais da cidade, todos eles tomados pelas curiosas chamas de cor púrpura. O que poderia soar ameaçador, acaba recebendo um tom mais leve e animado graças ao visual cartunesco do título,  que intercala trechos de exploração com cutscenes que se desenrolam como se estivéssemos lendo uma história em quadrinhos. Essa aparência “amigável” acaba se refletindo na jogabilidade, pois durante a exploração não encontramos perigos relevantes. As chamas que assolam o local são protegidas por uma parede invisível, tirando qualquer ameaça relacionada ao plot principal do jogo, servindo apenas como bloqueios para nos obrigar a seguir por caminhos pré-estabelecidos.




Existem uma boa quantidade de itens pelas fases que podemos interagir. Desde chaves e mecanismos para liberar novas passagens, como os famosos easter eggs na forma de jornais que satirizam assuntos do nosso dia-a-dia, bem como os famosos pares de tênis pendurados na fiação dos postes. Esse último brinca com um elemento curioso do nosso cotidiano:  ao interagir com cada um deles, recebemos uma explicação diferente para a prática. Tenho certeza que muitos de vocês já se depararam com um desses e se perguntaram o motivo de fazerem isso.

No geral, a jogabilidade não possui grande relevância e o foco acaba ficando na narrativa. Mesmo com algumas variações em capítulos específicos, como a necessidade de andar de forma furtiva a fim de escapar do raio de visão de policiais, não chega a ser algo desafiador o suficiente para trazer um senso de conquista ao completar cada estágio.




Alguns itens adicionam elementos na experiência, como o walkman de Maya que, sob o efeito da música, faz com as chamas de algumas partes desapareçam, liberando passagens antes bloqueadas. É preciso ficar apenas atento ao nível das pilhas do aparelho, que podem ser substituídas por outras pilhas encontradas em latas de lixo. 

O elemento do fogo que dá início a aventura funciona apenas como um muro que bloqueia nossa passagem até encontrarmos caminhos alternativos. Seria interessante ver a questão do incêndio como uma ameaça mais evidente, como ter que escapar de locais incendiados dentro de um tempo limite ou ajudar pessoas em perigo pelo caminho.




Em alguns momentos assumimos o controle de Devin em seu apartamento, acompanhando sua preocupação com Maya enquanto pensa em preparativos para receber sua amada. Estes momentos acabam sendo na prática um momento de “apontar e clicar” na experiência. É possível interagir com objetos que o lembram de momentos divertidos com a jovem, mas, como mencionado anteriormente, eles não são suficientes para dar peso na relação dos dois ao jogador. Em dado momento eu cheguei a me questionar se o namoro deles era algo recente ou longevo.
Os mais jovens agora sabem a relação entre esses objetos



Breve como uma paixão de verão

Fire Tonight traz uma proposta interessante, brincar com essa “chama” predominante nos relacionamentos de pessoas jovens é um assunto que causa uma identificação com boa parte do público que viveu ou vive um momento semelhante. No entanto, a ideia acaba mal executada por conta da relação com um aprofundamento pouco convincente de Maya e Devin. E a emoção que estaria atrelada à aventura de percorrer por uma cidade em chamas atrás do seu amor, fica resumida a fases curtas sem uma ameaça ou desafio em potencial.




Prós

  • Visual leve e agradável;
  • Trechos do visual.

Contras

  • Campanha com curta duração;
  • Pouco aprofundamento na relação dos personagens centrais;
  • Fases pouco desafiadoras.
Fire Tonight — PC/Switch — Nota: 6.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Farley Santos
Análise produzida com cópia cedida pela Way Down Deep

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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