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Análise: Mini Motorways (Multi) transforma controle de trânsito em um belo e viciante puzzle

Construa estradas e se adapte constantemente neste título indie de conceito simples, mas com várias camadas estratégicas.


Cuidar do tráfego viário de uma grande cidade parece uma tarefa enfadonha, no entanto Mini Motorways prova exatamente o contrário. O jogo, que é uma sequência do puzzle metroviário Mini Metro, desafia o jogador a desenvolver o trânsito de uma metrópole em expansão por meio de mecânicas simples e repletas de nuances. Além disso, o título chama a atenção com seu visual minimalista vibrante, resultando em uma experiência simultaneamente relaxante e desafiadora, mas que peca um pouco na variedade de situações.

Virando um engenheiro de trânsito

O conceito principal de Mini Motorways é bastante simples: criamos ruas para que carros saiam de suas casas e cheguem a prédios. Para isso, contamos com uma quantidade limitada de blocos de asfalto, bastando clicar e arrastar para criar as pistas. As cores indicam o destino, ou seja, um veículo azul tem como meta um prédio azul, um verde deseja chegar na construção verde. As mecânicas são bastante intuitivas e é fácil entender a dinâmica somente com os elementos visuais.

Os dias duram alguns segundos e conforme o tempo passa a cidade cresce e recebe novas localidades de diferentes cores, o que demanda criar ruas. Cada destino tem uma fila de espera e, caso ela alcance um tamanho-limite, a partida acaba — isso significa que o trânsito ficou tão ruim que a cidade parou completamente. Em cada partida, o objetivo é sobreviver o máximo possível e a pontuação é determinada pela quantidade de viagens feitas.


Com a expansão constante da metrópole, precisamos nos adaptar criando novas rotas ou removendo pontos problemáticos. Para ajudar na tarefa, há muitos recursos para manipular o tráfego, como rotatórias, pontes, semáforos, túneis e autoestradas. No final de cada semana, é oferecida uma seleção de melhorias e podemos escolher somente uma delas — é importante pensar com cuidado de acordo com a situação.

Exercitando a adaptabilidade em cidades expansivas

Mini Motorways, em um primeiro momento, engana com suas mecânicas simples, afinal é tranquilo criar algumas ruas para ligar casas e prédios. No entanto, conforme a cidade se expande, as coisas vão ficando bem complicadas: bastam alguns minutos para o tráfego virar um caos colorido com engarrafamentos e pontos de gargalo.

No começo tive dificuldade até mesmo de entender direito o que estava acontecendo, o que me fez perder partidas bem rápido. Aos poucos aprendi que não bastava ser reativo e que era necessário organização, visão de futuro e um pouco de experimentação. Quando dei por mim, já estava criando uma malha rodoviária eficiente com avenidas principais, ruas secundárias e fluxo dividido, o que me fez sobreviver por semanas. Foi depois disso que eu percebi o apelo de Mini Motorways e sua mistura elegante de puzzle e estratégia. Por trás das mecânicas simples, há muitas nuances para dominar, e conseguir ser eficiente é um grande desafio.


Gostei, em especial, dos recursos especiais que permitem diferentes abordagens na hora de resolver os problemas. Uma rotatória, por exemplo, é uma ótima opção para melhorar o fluxo de um cruzamento. Já as autoestradas são bastante valiosas para ligar pontos distantes, pois suas pistas elevadas funcionam como imensos viadutos. No entanto, é necessário cuidado: um semáforo ou uma via expressa em um local incorreto podem piorar o trânsito.

Um ponto que me decepcionou foi a IA dos carros. Ela parece ser bem rígida e às vezes os veículos ignoram completamente nossas ações ou têm comportamentos estranhos. Em um estágio, por exemplo, notei um ponto de gargalo e criei rotas alternativas para resolvê-lo. Isso não adiantou: a maioria dos automóveis ignorou os caminhos vazios e continuou insistindo no engarrafamento. Outra vez, fiz ruas curtas para ligar destinos, mas os veículos preferiram dar uma grande volta em avenidas longas. Com o tempo entendi um pouco melhor como os carros reagem, mas gostaria que eles fossem menos imprevisíveis.



Controlando o tráfego pelo mundo

Mini Motorways viaja pelo mundo com estágios inspirados em cidades reais. A expansão de cada metrópole acontece de forma procedural, mas há pequenas diferenças entre as fases. A Cidade do México é rodeada de montanhas, o que nos força a contorná-las para criar as estradas. Pequim é cortada por rios, mas há poucas pontes, logo precisamos utilizá-las com sabedoria. Em Moscou, as filas dos destinos se preenchem mais rápido, demandando criar uma malha rodoviária eficiente.


Mesmo com essas diferenças e com a geração procedural, achei os estágios do jogo muito parecidos entre si. Na prática, basta fazer as mesmas coisas para conseguir a pontuação mínima da fase, e as peculiaridades de cada cidade não têm tanto impacto assim nas partidas como um todo. Conseguir pontuações excepcionais e figurar nos placares online é um grande desafio e exige muita perícia. No fim, há uma leve sensação de repetição. Ainda bem que as partidas são rápidas e duram por volta de 20 minutos.

O jogo conta com desafios diários e semanais que ajudam a trazer diversidade com restrições interessantes. Vi boa variedade de situações: em um mapa, era proibido destruir árvores; em outra cidade, semáforos eram a única melhoria disponível; em um terceiro desafio, a metrópole crescia duas vezes mais rápido. Apreciei esses modos, pois oferecem novas maneiras de jogar.



Em um belo e convidativo universo colorido

A característica mais notável de Mini Motorways é o seu visual minimalista muito belo com elementos geométricos de cores vivas e contrastantes. Cada cidade tem uma paleta de cores distinta, o que traz uma atmosfera única a cada estágio. Há também um modo noturno e uma opção para daltônicos.

Particularmente, gostei bastante de observar a lenta expansão das cidades. É hipnotizante ver os carrinhos coloridos se movimentando no tráfego, a malha viária se tornando mais complexa, os bairros se formando, entre outras coisas. É possível, inclusive, criar configurações impressionantes, como viadutos imensos se cruzando.


A trilha sonora é inusitada e reativa: ações no jogo, como carros chegando a um destino ou novos prédios surgindo, criam sons que, combinados, viram composições musicais experimentais. Assim como a cidade, a música cresce e ganha elementos conforme o tráfego fica mais pesado e aparecem mais prédios. O resultado é um áudio suave e único que complementa muito bem a atmosfera minimalista de Mini Motorways.

Uma ótima opção é a presença de ferramentas de exportação que nos permitem registrar as nossas criações. Por meio delas, podemos adicionar bordas, texto e elementos para tirar diferentes tipos de fotos das cidades. Também é possível salvar pequenas imagens animadas que mostram a movimentação do tráfego. Confesso que muitas vezes criei ruas de maneiras específicas para poder fazer imagens legais.



Trânsito imersivo

Mini Motorways usa conceitos simples e elegantes para criar um jogo viciante de puzzle e estratégia. É fácil criar ruas e estradas para ligar diferentes localidades, mas a expansão constante das cidades torna essa tarefa um grande desafio, pois há muitos elementos a serem considerados. A graça está justamente em entender as nuances e utilizar os vários recursos, como rotatórias e pontes, para fazer um sistema de trânsito eficiente.

A atmosfera colorida e minimalista, em conjunto com uma trilha sonora procedural, oferece uma experiência relaxante e bela. Além disso, há incentivo para compartilhar nossas criações com opções para tirar fotos e gravar pequenas imagens animadas. O maior defeito do jogo é apresentar estágios parecidos demais, porém as partidas ágeis amenizam a sensação de repetição. No mais, Mini Motorways é mais um daqueles puzzles capazes de nos prender por horas de diversão.

Prós

  • Mecânicas simples aplicadas em um puzzle estratégico com muitas nuances;
  • Boa variedade de desafios espalhados em diferentes cidades e em modos temporários;
  • Aspecto audiovisual excepcional com gráficos coloridos e estilizados e trilha sonora reativa.

Contras

  • Imprevisibilidade do comportamento dos veículos às vezes atrapalha as partidas;
  • Estágios parecidos demais entre si.
Mini Motorways — PC/iOS/Mac — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Ives Boitano
Análise produzida com cópia digital cedida pela Dinosaur Polo Club

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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