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Análise: Outriders (Multi) junta tiroteios, loots e superpoderes em uma mistura frenética

Crie seu personagem, evolua seus poderes e colete muitos equipamentos na jornada pela busca por um novo refúgio para a raça humana.



Outriders teve um anúncio pouco expressivo ao mostrar em seus trailers o que parecia ser uma cópia  de outros jogos do gênero looter-shooter, como Tom Clancy's The Division (Multi) e Destiny (Multi). Contudo, uma demo que trazia um roteiro de campanha promissor, um protagonista com carisma diferenciado e a forte herança do estúdio People Can Fly com third person shooters chamaram a atenção do público, criando novas expectativas. 

Confira na análise a seguir o resultado da nossa experiência nesse título que, mesmo com um lançamento conturbado por problemas técnicos, demonstra potencial para se destacar entre outros gigantes em sua área.

Do paraíso ao inferno

Outriders narra um destino para o planeta Terra e a raça humana que, apesar de fictício, não é difícil de imaginar devido ao crescente descaso que temos com o nosso planeta. Aqui, os crescentes conflitos bélicos e a irresponsável exploração dos recursos naturais exauriram o planeta ao ponto de torná-lo inabitável. A única saída dos seres humanos foi fugir para o espaço em uma gigantesca nave espacial na busca por um novo lar, enquanto a grande massa da população permanecia em estado de criogenia. 



83 anos depois, um planeta promissor batizado de Enoch é localizado e um grupo armado especialista em exploração chamado de Outriders é descongelado com a missão de assegurar um local para habitar e iniciar o processo de colonização. É aí que nosso protagonista, Capitão Tanner, se encaixa como o braço direito do líder dos Outriders. 

Tudo corria bem quando subitamente a equipe é pega de surpresa por um fungo desconhecido que parece incapacitar os afetados, ao passo que uma tempestade anormal acomete parte do comboio, desintegrando os atingidos pela eletricidade misteriosa, que parece transformar nosso personagem (a conhecida jornada do herói predestinado). Os sobreviventes da tragédia não encontram motivos para comemorar, pois ao voltarem para o acampamento é ordenada a execução de todos a fim de evitar que a contaminação fuja do controle.

É evidente que não aceitaríamos esse desfecho e um conflito tem início, deixando nosso protagonista ferido. Nesse momento somos congelados pelos nossos aliados até que a situação se estabilize e o devido tratamento médico seja realizado. É aqui que as coisas de fato fogem do controle e somos despertados após 31 anos congelados para encontrar o local totalmente destruído, descobrindo ainda que a anomalia incapacitou todos os recursos tecnológicos, levando à escassez de suprimentos e meios de sobrevivência. 




Além disso, aqueles afetados diretamente pela misteriosa tempestade sobreviveram, passando a dominar poderes especiais, ao passo que criam deformidades pelo corpo e/ou perdem parte de sua sanidade.

Tal catástrofe causou uma cisão nos sobreviventes, criando uma guerra de décadas entre  as forças remanescentes da ECA (Autoridade de Colonização de Enoch) e os Insurgentes, rebeldes que culpam a ECA pelos por todos os problemas. É nesse contexto que nosso protagonista entra como um dos últimos Outriders e um Divergente especial, destinado a liderar a humanidade para além do conflito.

Atirando primeiro, perguntando depois


A campanha de Outriders foi uma das coisas que eu mais gostei no título. Ela é repleta de clichês muito utilizados nos jogos,  mas que aqui são aplicados de forma correta e sem deixar que excessos aconteçam ou que o ritmo da experiência caia no marasmo. Testemunhar os cenários paradisíacos de Enoch ao chegarmos e depois ver os mesmos locais arruinados pela presença dos humanos e seus muitos conflitos é algo impressionante. 

Isso é visto logo de cara enquanto estamos sendo transportados após despertar do congelamento. Paisagens repletas de verde são substituídas por metal, fogo e corpos espalhados. Quem está familiarizado com filmes rapidamente irá fazer a ligação com o bonito mundo de Pandora no filme Avatar e os cenários caóticos de Mad Max. 




Os eventos que conduzem a trama contribuem muito para o ritmo frenético que combina com a proposta de ação e tiroteios desenfreados. As famosas reviravoltas acontecem com frequência, surpreendendo e mantendo a nossa atenção. Missões secundárias também são abundantes e ajudam a expandir ainda mais o contexto de tudo que aconteceu no período em que estivemos ausentes, além de conferirem recompensas importantes.

Nosso protagonista também merece um destaque especial. Seu processo de criação não é muito refinado se comparado a outros jogos; porém, sua personalidade chama bastante a atenção devido a atitudes um tanto assassinas e inusitadas. Como um Divergente com alto poder de regeneração me senti um misto de Wolverine e Punisher. 

Em muitos momentos veremos ele tratando a vida alheia com desdém e agressividade, executando criminosos, agredindo guardas e até brincando de roleta russa com a própria vida. É algo que pode causar certo desconforto naqueles que prezam por um alinhamento moral mais tradicional. No meu caso, foi divertido ver um anti-herói assumir o protagonismo no lugar do clássico mocinho de conduta inquestionável com o qual estamos habituados em diferentes mídias de entretenimento.



Construindo um exército de um homem só

Como já mencionado anteriormente, o processo de criação do nosso Outrider não traz muitas opções de customização. Em contrapartida, as opções de aprimoramento são bem satisfatórias em quantidade e é aqui que o título se sobressai.

Ao começar a descobrir nossas capacidades especiais de Divergente, chegamos ao momento de escolher que tipo de poderes teremos. Aqui é importante ressaltar que cronologicamente nosso personagem é visto como um ser capaz de se regenerar; no combate, isso funciona de acordo com o tipo de classe escolhida:
  • Tecnomante: controle tecnologia e armamentos, crie torretas e construa armamentos poderosos. Essa classe favorece ataques à distância e o HP é regenerado ao causar qualquer dano nos inimigos;
  • Piromante: mestre das chamas. Lance labaredas de fogo nas frentes inimigas, faça os alvos explodirem em combustão instantânea, entre outras opções. Essa classe favorece o combate em médio alcance e a sua vida recupera na medida que você incendeia seus alvos.
  • Trapaceiro: domínio do tempo. Trapaceiros conseguem controlar a velocidade dos adversários, se teletransportar para trás deles e causar ataques mortais, desacelerar as coisas ao seu redor, etc. Essa classe favorece os ataques de médio a curto alcance e o HP regenera ao causar danos em curto alcance.
  • Devastador: o clássico tanque da equipe, capaz de controlar a terra e causar ondas sísmicas. Algumas de suas habilidades incluem criar terremotos controlados, vestir armaduras de rocha e quebrar as defesas inimigas ao atropelá-las como um tanque de guerra. A classe ganha mais benefícios ao adotar ataques próximos, já que sua regeneração acontece ao eliminar inimigos com ataques de curto alcance.

A escolha é permanente, delimitando as habilidades e aprimoramentos que teremos disponíveis. O medidor de progressão é observado por meio da clássica barra de experiência que acumula pontos ao matarmos adversários e completarmos missões. Cada nível obtido garante melhorias nos atributos básicos, além de um novo poder para ser equipado nos três espaços disponíveis ou um ponto de classe para ser utilizado em uma robusta árvore de classe que, por padrão, se ramifica entre ofensivo, defensivo e habilidades da anomalia.

A variedade e composições que podem vir daí são enormes e o melhor de tudo é que os pontos gastos podem ser reiniciados a qualquer momento gratuitamente, o que permite diversos testes sem aquele peso na consciência de estragar o personagem. Tudo isso ganha ainda mais variáveis quando entramos na questão dos equipamentos; afinal de contas, estamos falando de um jogo na categoria looter. 




Cada armamento ou armadura conta com níveis de poder e raridade diferentes, indo de comum até lendário. Fora isso, eles trazem sub-status que incrementam ainda mais seu personagem, como maior poder de fogo e redução do tempo de recarga. 

A partir de certa raridade, eles ainda agregam modificadores que aprimoram seus poderes especiais dando maior dano, uma duração mais prolongada, aplicação de efeitos negativos como sangramento, entre outras melhorias. Esses modificadores possuem graus diferentes, aumentando em qualidade e quantidade conforme a raridade do item.

Esse é o grande diferencial no sistema de itens em Outriders, que o distancia de outros do gênero, pois a partir de certo ponto da história somos capazes de mudar todos os elementos de um equipamento: modificadores, nível da arma, raridade, sub-status e até a cadência de tiro. Através dessa ferramenta, podemos salvar equipamentos que não vieram do jeito desejado e prolongar ao máximo o uso de um item favorito, desde que tenhamos os recursos disponíveis.




Esse é mais um ponto que enaltece a experiência, pois seu potencial de customização traz possibilidades que nenhum outro looter apresentou até hoje. Outro fator importante é que o jogo está livre das microtransações. Todas as armas e armaduras podem ser obtidas apenas jogando a campanha e o conteúdo pós-jogo.

O sistema de aprimoramento também é algo interessante pela facilidade em criar e testar novas composições, além dos poderes serem muito divertidos! Depois que aprendi como me portar no campo de batalha de acordo com a minha classe, jogar com a minha Devastadora ficou ainda mais empolgante: saltar no meio das linhas inimigas igual o Hulk, empalar meus alvos em estacas de pedra e criar tremores que desestabilizam os oponentes foram incrementos que deixaram a jogatina ainda melhor, aumentando minha curiosidade de ver como ficaria meu Divergente no nível máximo. 




Uma guerra de trincheiras pouco convencional

Por ser desenvolvido pela People Can Fly, com parte do time que participou da criação da famosa franquia Gears of War, Outriders traz uma grande referência à famosa franquia da Xbox Game Studios, como a movimentação entre proteções e o sistema de cobertura (cover). Contudo, algo em comum entre as quatro classes de poderes é que todas elas oferecem regeneração de vida ao causar dano, o que sempre nos inclina a adotar uma postura mais ofensiva se compararmos com a famigerada guerra de trincheiras do próprio Gears. 

Os tipos de inimigos também também nos ajudam a sair de uma zona de conforto, pois muitos deles são resistentes demais e partem com tudo na sua direção. A alta variedade deles é algo notável, alternando entre os Insurgentes que contam com soldados rasos, brutamontes e até mesmo Divergentes do seu lado. 




A fauna de Enoch também se mostra afetada pelas anomalias, o que nos coloca constantemente contra criaturas chamadas Perforo, que lembram os Wretches de Gears of War. Existem versões maiores, como o Alpha Perforo, que salta na sua direção visando te esmagar, seres alados que lembram uma espécie de abutre gigante e outras versões.

O mapa do mundo de Enoch é dividido em áreas que podem ser cidades ou ambientes silvestres. Em cada uma delas nós montamos nosso acampamento, no qual podemos interagir com NPCs, gerenciar o inventário, organizar partidas e adquirir novas missões. A partir daí, podemos acessar as subáreas, onde os objetivos das missões se desenrolam e enfrentamos os inimigos. Elas são sempre separadas por portas ou bloqueios naturais que geralmente servem para intercalar trechos de ação e exploração.

Ao meu ver, a divisão dessa forma atrapalhou na fluidez da jogabilidade, em alguns casos trazendo até certa previsibilidade no que esperar, já que ela ocorre de forma muito linear. O número de adversários, apesar de relativo, possui uma reciclagem muito grande dos Perforos, repetindo os mesmos com frequência em diversos ambientes.  Em contrapartida, as lutas contra chefões trazem embates desafiadores e empolgantes, com direito a criaturas gigantescas que conferem um nível épico à experiência. 




A campanha em si traz um período longo de duração, podendo ser jogada em modo cooperativo após a introdução e com escalonamento no nível dos personagens, permitindo que veteranos e novatos joguem juntos sem que os níveis de dificuldade e recompensa sejam afetados. E o melhor de tudo é que ela está completa desde o lançamento do jogo, sem a necessidade de esperar por atualizações para saber seu desfecho.

O conteúdo pós-jogo traz uma série de quinze missões que funcionam como as famosas raids, ou expedições, na tradução do título. Nelas você ingressa sozinho ou em trios em seções que consistem basicamente em ir do ponto A ao B, eliminando todos os alvos no menor tempo possível e coletando as recompensas no final. 

Elas trazem um pequeno contexto que se encaixa e até mesmo complementa a narrativa da campanha principal, o que torna tudo ainda mais interessante. Evidentemente, jogadores mais ávidos tendem a finalizar todo o conteúdo de maneira mais rápida, deixando a longevidade do título a cargo do estúdio, ao manter atualizações de conteúdos constantes.




Anomalia fora do contexto

Infelizmente, o lançamento de Outriders foi marcado por uma série de problemas que mancharam sua popularidade. Os jogadores sofreram com instabilidades constantes na conexão com os servidores, impedindo a inicialização do jogo e em alguns casos o encerramento da partida por perda de conexão. Levou cerca de quatro dias para que a situação se resolvesse, mas como é de praxe na indústria, lançamentos ruins tendem a levar a danos permanentes no sucesso de um título, ainda mais se tratando de uma nova IP. 

No PC em especial, o jogo parece ter sido mal otimizado, pois sofre com os famosos travamentos independentemente da configuração da máquina, o que incomoda bastante durante o gameplay. Outro ponto negativo é um bug no HUD que permanece até hoje, que faz com que o jogo inicie sem as informações de barra de experiência, mapa, objetivos e até mesmo a mira da arma. A única maneira de resolvê-lo é retornando ao lobby do menu inicial e entrando novamente em seguida. É algo que já tenho em mente toda vez que irei jogar: passar por todos os loadings duas vezes devido ao problema no HUD.




Visualmente ele traz um resultado modesto: enquanto os efeitos de iluminação e o design das armas são muito bonitos e repletos de efeitos, algumas texturas parecem ter vindo de gerações passadas, principalmente quando falamos do cabelo dos personagens e da pele de algumas criaturas. As cutscenes são outro detalhe que me incomodou, pois elas sofrem com um timing péssimo de sequência. 

Toda vez que vamos iniciar qualquer transição de cenário ou executar alguém nos cartazes de procurado, a mesma cutscene de interação acontece no estilo do que víamos nos antigos Resident Evil durante a transição de salas. O problema é que aqui o excesso de fade in e fade out negro tornam esses cortes muito lentos, tirando a fluidez das cenas. 




A trilha sonora não é muito notável, mas a sonoplastia dos poderes traz ainda mais realismo nos combates com o andar rochoso/metálico da habilidade Golem ou os inimigos em processo de combustão ao encontrar um Piromante. As vozes da dublagem são outro charme que, apesar da atuação exagerada em alguns momentos, traz profissionais excelentes como José Sendim (Soldado 76 de Overwatch) e Priscila Amorim (Mulher Maravilha e Lisa Simpson).

Uma mistura de referências divertidas

Outriders tende a sofrer em alguns pontos, assim como outros casos de jogos que se espelharam em franquias consagradas. Para alguns, ele está sendo rotulado de forma pejorativa como uma mistura de Gears of War com Destiny.

Ao meu ver, a comparação é justa e positiva, pois sou daqueles que acreditam que bons exemplos devem ser seguidos, e aqui a People Can Fly consegue ser bem-sucedida em pegar todas essas referências e utilizá-las para seguir um caminho próprio. Os problemas de instabilidade no lançamento geraram ruído, mas felizmente eles foram sanados pelos desenvolvedores, que continuam mantendo contato direto com a comunidade e reafirmando a promessa de suporte contínuo.




Em contrapartida, sua jogabilidade frenética, o carisma diferenciado do protagonista, a ausência de microtransações e uma história robusta e completa, ao contrário de outros jogos que tendem a picotar o conteúdo, ajudam a contrabalancear esses pontos, tornando a experiência promissora e atrativa para veteranos e iniciantes que buscam uma porta de entrada amigável no gênero. 

Prós

  • Conteúdo de campanha completo e de longa duração;
  • O sistema de construção de personagens atraente e divertido;
  • Vasto sistema de customização de equipamentos;
  • Ausência de microtransações;
  • Escalonamento de dificuldade no multiplayer;
  • Excelente elenco de dublagem.

Contra

  • Problemas no HUD do jogo;
  • Reciclagem constante de um mesmo tipo de inimigo;
  • As transições de cutscenes são mal executadas;
  • Travamentos na versão de PC.
Outriders — PC/PS4/PS5/XBO/XSX/XSS — Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Square Enix

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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