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Análise: Fobia (Multi) é sinônimo de horror jogável

Um indie sobre medos e fobias, mas deficiente em todos os aspectos jogáveis e narrativos.

Fobia é um tipo de perturbação da ansiedade caracterizado por medo ou aversão persistente a um objeto ou uma situação. Nos videogames, esse conceito foi utilizado por uma equipe de duas pessoas do estúdio Tapteek para tentar criar uma experiência de quebra-cabeça e plataforma 2D semelhante a jogos como Limbo (Multi) e Inside (Multi). O problema é que nada disso funciona e o título independente lançado em 2018 para PC, Nintendo Switch e dispositivos móveis é algo completamente esquecível.

"Desastrefobia", parte 1

Em Fobia você acompanha uma garota estranha de vestido vermelho que está perdida em uma floresta misteriosa e precisa sair dali o mais rápido possível. Enquanto ela vaga pela abundante mata fechada, seus maiores medos são expostos e ela precisa superar obstáculos mortais para sobreviver.

O título da Tapteek é uma experiência minimalista abstrata, sem qualquer linha de diálogo ou cutscene. Desta forma você deverá interpretar o que se passa na tela. É compreensível pensar que um jogo com esse nome explore medos e fobias comuns como acrofobia, claustrofobia, aerofobia ou aracnofobia. No entanto, os únicos perceptíveis são a xilofobia (receio persistente e intenso de objetos feitos de madeira) e a zoofobia (receio persistente de animais) e, mesmo assim, é tudo tão confuso que é difícil saber o que os desenvolvedores realmente quiseram transmitir ao público.

Eu adoraria poder falar mais sobre essa história, mas não há o que contar, porque você simplesmente não sabe exatamente o que está acontecendo, não entende para onde a garota está indo e por que ela está ali. O que você sabe é que deve levá-la para fora do bosque e, quando os créditos subirem, vai continuar pensando naqueles poucos minutos da sua vida que literalmente lhe foram tirados.

Fobia é uma experiência extremamente curta e pode ser concluída em aproximadamente 40 minutos, porém, por conta de falhas constantes na jogabilidade (vou falar sobre isso no próximo tópico) e aspectos narrativos confusos, você deve levar mais algum tempo para concluí-lo e entendê-lo. Além disso, o jogo não conta com colecionáveis, o que resulta em um baixo fator de rejogabilidade e, levando em consideração seus graves problemas jogáveis, logo se torna algo bem esquecível.

"Desastrefobia", parte 2

A jogabilidade de Fobia é extremamente simples e semelhante a outras experiências de plataforma 2D, em que a única coisa que precisará fazer é correr e pular. Arraste o dedo para a direita e para a esquerda na tela sensível ao toque do smartphone para movimentar a personagem e clique na tela para pular.

Ao explorar o bosque, você encontrará uma série de armadilhas que precisa evitar, como plataformas que caem, buracos com espinhos, pontes que desabam e lobos famintos. A maioria desses desafios podem ser vistos à distância, mas ainda existem aqueles que aparecerão repentinamente e o matarão em um segundo. Todos esses elementos deveriam ser desafiadores, mas são frustrantes, pois algumas plataformas são excessivamente difíceis de passar por conta dos comandos e da física de jogo.

Existem superfícies circulares de madeira com alguns espinhos nas extremidades e você deve passar por eles pulando e sem derrapar, o que requer pulos minimamente precisos. No entanto, os controles sensíveis ao toque são travados e quase sempre irresponsivos. Desta forma, a morte é quase certa, tornando a experiência maçante.

Outro exemplo é que em determinado ponto da campanha você precisa levar a personagem até o outro lado de um rio pulando por rochas; se o pulo não for exato, você ficará preso na extremidade até cair e morrer. Ainda que consiga atravessar e chegar à última plataforma rochosa, um tronco de uma árvore pode subitamente cair e você deverá retroceder até a plataforma anterior para não ser amassado. Bom, fazer isso é horrível, porque logo que saltar a personagem deve retornar e os controles não são rápidos o bastante na maioria das tentativas.

Personagem travada na extremidade de uma rocha.

Em complemento a essa física de jogo e controles totalmente descartáveis, Fobia também não inova nos desafios e quebra-cabeças. Na realidade, não há qualquer coisa que chame atenção ou transmita algum sentimento de desafio ao jogador, porque as únicas coisas que você fará é pular e correr de um lado para o outro enquanto evita armadilhas nada criativas, mas super irritantes, graças às falhas jogáveis visíveis.

Tentando salvar um jogo fadado ao desastre

Geralmente em minhas análises no GameBlast, busco justificar de maneira direta o porquê dos pontos positivos e negativos. Fobia foi a primeira experiência da qual eu não tenho muito o que falar, porque ele é um desastre completo, seja pela estrutura jogável, seja pela narrativa em si – e olha que Tamarin (PC/PS4) também foi péssimo. O único elogio a fazer é sobre sua direção artística fascinante com ambientes monocromáticos. Você atravessa um cenário sombrio repleto de cores neutras que contrasta maravilhosamente com uma protagonista que veste uma roupa vermelha. Os ambientes são básicos, com árvores e outros elementos representados como silhuetas, e tudo isso é muito agradável aos olhos do jogador.

É uma pena que não exista nada de instigante acontecendo no fundo dessa estética monocromática, nem mesmo uma trilha sonora interessante para mostrar a emoção do jogo. Há uma partitura musical no menu inicial com um tom mais sombrio, remetendo ao cenário de desolação do título, mas, ao começar a parte jogável, um design de som horroroso acaba com toda a magia. Você até vai ouvir o canto dos pássaros, o barulho da chuva e das cachoeiras, mas na maior parte do tempo parecem mais chiados daquelas antigas TV a cabo sem sinal do que música ambiente. Para complementar, não há absolutamente nenhum som quando uma árvore cai, por exemplo, o que é curioso já que a Tapteek construiu uma experiência voltada aos efeitos sonoros. Não quero encher mais linhas e linhas para falar o quão decepcionante é Fobia, mas espero que isso mostre aos desenvolvedores alguma coisa para futuras produções.

"Desastrefobia", o veredito

Ainda que sua direção artística seja bela e vibrante, Fobia é, em sua totalidade, uma decepção completa e apresenta uma variedade de falhas jogáveis que beiram o ridículo, como comandos travados, desafios pouco desafiadores e uma física de jogo totalmente problemática. Acompanhar essa narrativa confusa e sem contextualização, enquanto o mundo à sua volta emite sons estranhos e irritantes, farão você desenvolver quase um novo tipo de fobia: a de jogos eletrônicos ruins.

Prós

  • Linda direção artística com estética visualmente atraente.

Contras

  • Comandos irresponsivos com desafios repetitivos e pouco desafiadores;
  • Falhas constantes na jogabilidade de plataforma e na física do jogo;
  • Design de áudio estranho com sons que mais parecem chiados do que música ambiente;
  • Narrativa confusa e sem contextualização satisfatória;
  • Curta duração e baixo fator de rejogabilidade.
Fobia  PC/Switch/Android/iOS  Nota: 3.0
Versão utilizada para análise: Android
Revisão: Ives Boitano
Análise produzida com cópia digital adquirida pelo próprio redator
Jogo testado em um ASUS Zenfone 3

é entusiasta e apreciador de jogos com conceito artístico minimalista e narrativas de significado profundo. Acredita na potencialidade de cada experiência interativa e tenta extrair delas sentimentos humanos e existenciais. No GameBlast também escreve notícias, análises e especiais; no tempo livre produz roteiros autorais de séries e filmes. Criatividade, imaginação e curiosidade são algumas de suas características marcantes.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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