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Análise: Voyage (PC) oferece uma simples jornada contemplativa pelo desconhecido

Guie uma dupla de jovens por este título independente focado em narrativa visual.


Voyage encanta com sua atmosfera serena e seu visual belíssimo. No jogo, dois jovens desbravam locais surreais em uma viagem centrada em sensações. O título de estreia do estúdio sueco Venturous oferece alguns poucos desafios, o que é justificável pelo foco na experiência de aventura cinematográfica. O resultado é um passeio por um universo deslumbrante, mas aspectos etéreos demais atrapalham a obra.

Caminhando por um mundo misterioso

A aventura de Voyage começa de forma enigmática. Uma garota e um garoto acordam em um lugar escuro com uma estátua quebrada. Depois de consertá-la, a dupla cai de dentro de um imenso cristal em uma floresta e a jornada continua. Contando somente um com o outro, os dois vão desbravar uma série de localidades exóticas em uma viagem surreal. Pelo caminho vamos descobrindo pistas sobre as origens dos protagonistas e o que eles procuram.

Como jogo, ele é extremamente básico. Na maior parte do tempo, andamos pelos cenários, que têm caminhos lineares e progressão direta. Fora andar, os personagens podem interagir com elementos do cenário com o toque de um botão, e levantar uma mão faz brilhar os pontos de interesse. Controlamos diretamente somente um personagem, sendo possível alternar entre eles a qualquer momento ou então pedir que o outro fique parado.


Pelo caminho, a dupla precisa colaborar para conseguir avançar, para mover objetos pesados ou alcançar locais altos. Às vezes aparecem também pequenos puzzles, como um trecho em que os personagens precisam se separar para acionar dispositivos ou uma parte em que é necessário tocar em murais na ordem certa. O jogo pode ser aproveitado sozinho ou no multiplayer cooperativo para duas pessoas.

Na beleza contemplativa

Voyage é uma aventura narrativa focada em sensações, e essa é a característica mais notável do jogo. Acompanhar a dupla de jovens é interessante, principalmente por causa das belíssimas localidades desbravadas por eles. Há também um ar de companheirismo retratado nas interações entre a dupla, como o garoto servindo de apoio para a menina alcançar um local alto ou quando os dois se abraçam.


O surreal permeia a maior parte dos cenários e me surpreendi constantemente com as localidades. Em um momento, estamos andando por uma floresta densa povoada por espíritos brincalhões. Em outro, usamos um barco para atravessar um rio iluminado por vagalumes. Um terceiro trecho se passa em um deserto durante uma tempestade de areia, sendo palpável a tensão de estar no meio de uma situação complicada. É interessante também como uma narrativa é contada por meio das localidades e de seus elementos.

O aspecto audiovisual do título me conquistou desde o início. Tanto os personagens quanto os cenários são desenhados à mão e é impressionante o nível de detalhes — é como estar passeando por uma pintura animada. O uso de iluminação realça a atmosfera de fantasia misteriosa da jornada e é difícil não encontrar uma cena visualmente impressionante. A música suave e efeitos sonoros bem colocados potencializam o tom de fantasia surreal da aventura.

Perdido em uma experiência obtusa

Como jogo, Voyage é extremamente básico, praticamente um simulador de andar. Na maior parte do tempo basta caminhar para a direita para avançar, e os poucos puzzles têm desafio praticamente nulo. Em um ou outro momento o jogo até explora bem suavemente alguns conceitos mais interessantes, como controlar os dois personagens separadamente, mas a implementação é superficial. Eu entendo que a intenção é focar na narrativa visual, mas um pouco mais de ação não faria mal ao jogo — às vezes é enfadonho somente andar.

O ponto que mais me incomodou no título foi a narrativa extremamente obscura. Não há diálogos ou textos pela jornada, e a trama é contada por meio de elementos visuais. O problema é que é muito difícil entender o que está acontecendo de fato, pois tudo é muito vago: uns desenhos aqui, murais ali, um ou outro símbolo enigmático acolá. Por causa disso, é difícil se conectar com os personagens ou ao que está acontecendo, e isso é um problema complicado em um título que se propõe a ser uma aventura cinematográfica narrativa. Um pouco de clareza tornaria a experiência mais prazerosa e significativa.



Uma breve e simples viagem

Voyage nos convida a mergulhar em um incrível e belo mundo. A jornada de dois jovens é serena e relaxante, e é envolvente explorar esse universo exótico. Os grandes destaques são os visuais desenhados à mão e a trilha sonora suave e bem colocada — apreciei as várias localidades surreais do jogo. No entanto, o título decepciona ao apresentar trama vaga demais e interações limitadas. No fim, Voyage é uma curta experiência cinematográfica agradável, mas nada além disso.

Prós

  • Atmosfera relaxante e contemplativa com ótimos visuais e boa engenharia de áudio;
  • Ritmo descompromissado e leve.

Contras

  • Mecânicas subutilizadas em puzzles bem simples;
  • Trama vaga demais.
Voyage — PC — Nota: 7.0
Revisão: José Carlos Alves
Análise produzida com cópia digital cedida pela Venturous

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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