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Análise: Fallen Legion Revenants (PS4/Switch) é um RPG medíocre e tecnicamente irritante

A jogabilidade repetitiva e problemas técnicos deixam o game desinteressante bem rápido, apesar de algumas melhorias em relação ao antecessor.


Minha primeira experiência com a série Fallen Legion foi com Flames of Rebellion (Multi), quando resgatei-o como um dos jogos gratuitos do PlayStation Plus anos atrás. Em um daqueles momentos de “vamos ver o que temos aqui para jogar”, encontrei-o perdido em minha biblioteca de jogos, instalei, joguei e achei até legalzinho. O sistema de batalha foi o que me chamou a atenção nele e assim que vi os trailers de Fallen Legion Revenants, eu já esperava algo parecido.


Para minha surpresa — e no mau sentido —, não cheguei nem ao mínimo de satisfação que tive com o anterior. Apesar de uma visível evolução no sistema de batalha, que foi o que me segurou em Flames of Rebellion, em Revenants isso não foi o suficiente para me satisfazer. Mesmo já esperando algo no mínimo “OK”, a história foi algo que me deixou desinteressado rapidamente. Relatarei os detalhes desta desagradável jogatina na análise a seguir.

Uma improvável aliança

Em Fallen Legion Revenants somos levados a um mundo coberto por uma nefasta névoa chamada de Miasma. A terra firme abriga horrendas criaturas oriundas desta adversidade enquanto alguns poucos humanos vivem seguros no castelo flutuante de Welkin, onde os protagonistas da história nos são apresentados.

Lucien é um político que vive na corte do castelo. Seu objetivo é obter influência junto ao conselho que administra o local para se tornar o novo soberano. Um dia ele encontra um livro onde aprende sobre seres sobrenaturais chamados de Exemplars, personificações de armas arcanas com imenso poder que são verdadeiras armas vivas.
Lucien é o único capaz de ajudar Rowena em sua cruzada. Mas quem está usando quem?
Os planos de Lucien contam com a inesperada ajuda de uma Revenant, um fantasma, por assim dizer, chamada Rowena. A mulher foi residente em Welkin e acabou morta por Ivor, o atual soberano do castelo. Ela busca vingança contra seu algoz e tenta encontrar uma forma de voltar à vida para poder criar seu único filho, que ainda reside no castelo, e para isso usará o poder de comandar os Exemplars em uma verdadeira guerra nas terras desoladas abaixo do castelo flutuante.
O desejo de Rowena é poder se reencontrar com o filho
Ivor é o responsável por usar de magia para elevar o castelo ao céu, e também é um ser tirano e vilanesco que está secretamente relacionado com os eventos do Miasma. Lucien e Rowena, sabendo das intenções do déspota, acabam unindo forças em uma improvável aliança para conspirar contra as forças do mal que assolam a terra firme, além de revelar as verdadeiras intenções de Ivor. Apesar de não se entenderem totalmente, o objetivo em comum é a motivação para os dois personagens unirem seus esforços nesta história, que revelará quem realmente está usando quem para atingir seus objetivos.

Lutando e conspirando

O jogador alterna o controle dos dois personagens na aventura durante o jogo, com Rowena liderando um grupo de Exemplars em terra firme e Lucien dando suporte por meio de atitudes conspiratórias em Welkin. Sob a ótica da fantasma, combatemos diversas monstruosidades em inúmeras batalhas controlando os Exemplars. O comando de cada um deles é atribuído a um botão no controle, proporcionando batalhas que possuem foco em combinações de golpes e habilidades especiais.

Rowena, a líder do grupo, oferece apoio tático utilizando magias ofensivas e defensivas para seu time. Para utilizar as magias de Rowena ou as habilidades especiais dos Exemplars, orbes de magia são consumidos. Ao realizar vários ataques com os guerreiros, uma barra é preenchida, abastecendo o time com estes orbes, usados exclusivamente para executar estas habilidades a cada vez que estão disponíveis.

Outra mecânica importante em batalha é a defesa. Quando executada no momento certo, é capaz de anular — e até devolver, no caso de projéteis — o dano recebido. Essa mecânica é muito útil quando precisamos agilizar o atordoamento dos inimigos, o que proporciona um maior incremento de dano causado pelos Exemplars a eles, inclusive os chefes. Dominar a arte da defesa se torna extremamente importante e decisivo para se obter vitórias e prosseguir no jogo.
A mecânica de defesa é fundamental, principalmente nas batalhas contra os chefes
Durante as batalhas, em determinados momentos elas são interrompidas e assumimos o comando de Lucien em Welkin. Suas funções se resumem a obter informações e até criar itens para auxiliar Rowena no campo de batalha. Eventualmente, escolhas devem ser feitas por um dos personagens, culminando em algum progresso adicional ou mudança de objetivo nos combates da fantasma ou nas ações de Lucien no castelo. Estas decisões podem influenciar na obtenção de itens ou mudar alguns objetivos quando uma batalha está em curso na terra abaixo.

Ao fim de cada sessão de batalha, dependendo da performance de Rowena e seu grupo, o jogador pode receber uma certa quantidade de itens e equipamentos para os Exemplars, fazendo com que um de nossos objetivos no jogo seja colecionar todos os combatentes disponíveis no game, que não chegam a ser tantos.

Expectativa X Realidade

Como mencionei, um dos destaques em Fallen Legion Revenants é o sistema de batalha. Mesmo mantendo o sistema que me atraiu em Flames of Rebellion, a adição de novas mecânicas deu um ar mais tático às lutas contra os inimigos. Marcações no chão delimitam onde magias causam algum efeito especial ao personagem que está naquela posição. Isso permite que o jogador seja estimulado a movimentar seus guerreiros para tirar proveito destas ações quando lhe convém, além de evitar os ônus de uma área sob efeito de alguma magia ou técnica especial inimiga.

A adição de novos comandos para realizar as habilidades especiais dos Exemplars tornou a experiência de jogo mais dinâmica e rápida, mas ainda pode gerar alguma confusão por depender de diferentes combinações de botões para que elas sejam executadas. Além disso, quando um guerreiro é derrotado, é necessário que o botão atribuído a ele seja segurado até que ele seja ressuscitado. Várias vezes me peguei com as duas mãos do mesmo lado do DualShock 4 para não deixar meus demais guerreiros sem controle enquanto estou trazendo um dos Exemplars abatidos de volta para a ação.
Apesar de ser o ponto alto do jogo, as batalhas acabam se tornando repetitivas e sem muita variedade
Por diversas vezes confundi alguns comandos, comprometendo minha performance no jogo e deixando aquela sensação de “não estou jogando direito”. O uso de determinadas habilidades dos Exemplars permite alguns combos que ajudam a causar mais dano nos inimigos, mas nem sempre temos tanto sucesso ao encaixá-los. É algo que demanda tempo e treinamento, e no game não temos uma área para ao menos exercitar essas ações.

Nessas horas sinto saudades de Valkyrie Profile, outra série de RPG que gosto bastante. Lá o sistema de batalhas também se baseia em botões específicos atribuídos a cada personagem do grupo, mas com comandos mais simples de executar. Enquanto isso, em Revenants, me peguei esmagando botões na tentativa de realizar algum combo eficiente, o que raramente acontecia. No máximo, acabei me tornando capaz de realizar várias defesas eficientes com mais frequência.

Depois das primeiras horas o ritmo de jogo se torna repetitivo e chato, seguindo a mesma “receita de bolo” com combates, passando por etapas com Lucien e culminando em batalhas com chefes cada vez mais trabalhosos de se derrotar, seja por que possuírem pontos de vida demasiadamente elevados ou porque os personagens que escolhi para a fase não eram tão eficientes para aquela ocasião, me forçando a reiniciar a batalha selecionando outros de minha coleção.
A dinâmica adotada pela direção do game em controlar os dois protagonistas quebra o ritmo do jogo
Algo que deixou a experiência realmente desagradável para mim foi a apresentação e os problemas técnicos que tive durante minhas sessões de jogo. O roteiro é fraco; tirando os dois protagonistas, que ainda conseguem segurar sua atenção, os demais personagens são extremamente rasos e a trama começa a ficar bem clichê. Somado a isso temos momentos de tomada de decisões, como que rumo seguir durante uma rota dentro da sessão de batalha ou que tipo de resposta devemos dar a um determinado questionamento quando estamos controlando Lucien em Welkin.

As etapas em que controlamos o jovem contam com um marcador de tempo que acabam nos pressionando a tomar uma decisão sem tempo para ao menos entender o que está acontecendo para julgarmos se ela vai ser benéfica ou não para os protagonistas no andamento da história. O jogo deixa claro que determinadas situações podem afetar a trama de alguma forma, mas sem esclarecer que resultado aquela decisão que tive que tomar rapidamente pode causar lá na frente, pois só tive, digamos, 15 segundos para ler, avaliar e decidir.

Tecnicamente, as várias telas de carregamento, somadas a atrasos antes ou depois de diálogos, arrastando meu ritmo no jogo, foram as coisas que mais me irritaram e me deixaram chateado. Por ser um RPG, é natural que tenhamos que falar com várias pessoas mais de uma vez ou com certa frequência. E ter que esperar quase 80% das vezes por cinco segundos de atraso entre o fechamento de uma caixa de diálogo e poder retomar o controle do personagem na tela era algo que depois de um tempo acabou se tornando insuportável. Algumas animações mal executadas e pequenos travamentos também tornaram minha jogatina, como um todo, um exercício de paciência — ou da falta dela.
Note a demora em retomar o controle de Lucien após o fechamento da caixa de diálogo. Evento que acontece com frequência.
Uma atualização antes do lançamento do game não resolveu totalmente o problema, mas pude sentir que a frequência de vezes em que ocorreram carregamentos no meio de uma batalha ou um diálogo diminuiu ligeiramente. Porém, com o problema persistindo, a imagem ruim que o jogo me passou até aqui continuou forte.

Difícil de engolir

Fallen Legion Revenants tem como méritos algumas coisas simples, como a trilha sonora com seus momentos empolgantes e gráficos com personalidade. O sistema de batalha, mesmo tendo amadurecido mais em relação ao antecessor, ainda não se mostra ideal por conta de alguns detalhes que podem comprometer a experiência nesse aspecto. Ele é o que ainda sustenta boa parte da experiência, mas os carregamentos em excesso, além dos realizados em momentos inadequados, e a repetitividade no ritmo do jogo, esses sim deixaram a experiência chata e irritante.

Até algo simples como conversar com os NPCs era um incômodo. Nem mesmo uma função de salvamento automático está disponível. Imagine esquecer de salvar em um momento importante ou ser surpreendido com uma falta de energia e perder boa parte de seu progresso. Pois é! Tempo e paciência jogados fora em uma história medíocre que tive o desprazer de presenciar.

Prós

  • Trilha sonora com momentos empolgantes;
  • Sistema de batalha intuitivo e fácil de se aprender.

Contras

  • Excesso de comandos nas etapas de batalha pode gerar confusão durante os embates;
  • Animações carecem de capricho;
  • História desinteressante e com ramificações pouco esclarecidas para o jogador;
  • Apresentação prejudicada por carregamentos excessivos e em momentos inconvenientes, como no início ou fim de diálogos com NPCs;
  • Sem opção de salvamento automático.
Fallen Legion Revenants – PS4/Switch – Nota: 4.0
Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: Davi Sousa
Análise feita com cópia digital cedida pela NIS America

Fã de Castlevania, Tetris e jogos de tabuleiro. Entusiasta da era 16-bit e joga PlayStation 2 até hoje. Jogador casual de muitos e hardcore em poucos. Nas redes sociais é conhecido como @XelaoHerege
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