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Análise: The Ambassador: Fractured Timelines (Multi) é um jogo de tiro bom e modesto

Mecânica de congelar o tempo, que seria o maior atrativo do game, é um dos pontos que poderiam ter sido mais bem aproveitados.


Para alcançar o sucesso de público e crítica, os jogos eletrônicos precisam, entre vários requisitos, oferecer destaques de qualidade e elementos inovadores. Caso nenhuma dessas duas condições seja atendida, existe o risco do título ter um baixo impacto no concorrido mercado. The Ambassador: Fractured Timelines (Multi), infelizmente, é mais um dessa categoria de games modestos que funcionam bem, mas que dificilmente conseguem cativar os jogadores.

No papel, ótima proposta

Lançado em 13 de agosto de 2020 para PC (via Steam), Nintendo Switch e Xbox One, o título foi desenvolvido pela tinyDino Games e distribuído pela The Quantum Astrophysicists Guild. Ele te coloca no papel de Gregor, um Embaixador do Tempo em treinamento. Membro da Confraria Eterna, ele presencia um ataque à capital do grupo, Tamaris. Em meio à destruição, o mago precisa encontrar os responsáveis pelo ocorrido e salvar a confraria.
Gregor (esquerda) e sua colega Cait
A partir daí, o jogo te coloca para explorar, inicialmente, três áreas diferentes: floresta, montanha de gelo e cidade, além de uma área secreta liberada após as anteriores serem completadas. Para isso, Gregor precisará enfrentar vários tipos de armadilhas e inimigos, incluindo monstros e cavaleiros malignos. O inexperiente mago possui uma arma física, tais como espada ou machado, e uma arma mágica, como um cajado místico.
O treinamento de Gregor também é o tutorial do game
O maior recurso à disposição do jogador, entretanto, é o poder de controlar o tempo. Mais especificamente, é possível paralisar o fluxo temporal na forma de um círculo ao redor do protagonista. Desta maneira, é possível escapar de ataques inimigos e planejar melhor os movimentos pelo cenário. O estilo visual mistura os gêneros fantasia e medieval, com gráficos no estilo 8 bits. 
Pare o tempo por alguns momentos para superar os desafios
A jogabilidade utiliza dois comandos diferentes: um dos movimentos de Gregor e outro da mira dos seus armamentos. Ao serem acionadas, as armas físicas precisam de um tempo para ser usadas novamente, seja para recarregar ou retornar como um bumerangue. Existem algumas variações nessa mecânica, mas todas exigem precisão e timing corretos. Os ataques mágicos e a habilidade temporal utilizam duas barras distintas, que são recuperadas com o decorrer do tempo.

Na prática, nem tanto assim

Todas essas características citadas anteriormente poderiam resultar em desafios e batalhas emocionantes e únicas. The Ambassador: Fractured Timelines, entretanto, segue por um caminho mais modesto, embora não menos competente. A exceção é a história que, embora inicialmente interessante, não evolui significativamente ao longo das fases, salvo em alguns diálogos esparsos e alguns acontecimentos bastante eventuais.
O protagonista tem várias opções de equipamento
O título tem um nível de dificuldade equilibrado, evoluindo a cada fase de forma adequada e coerente. Conforme elas são vencidas, novos tipos de inimigos são liberados, assim como novas armas e equipamentos, que incluem roupas e armaduras. Os cenários onde elas ocorrem são razoavelmente bonitos, ainda que um pouco repetitivos, utilizando com qualidade a proposta visual retrô. As músicas e efeitos sonoros são bons, mas sem maiores destaques.
Ainda que simples, os visuais conseguem ambientar o jogador
Essas qualidades são importantes, mas nenhuma delas se destaca o suficiente e são prejudicadas por alguns probleminhas. A arma física é limitada por um “tempo de recarregar”, o que evita ataques em sequência. Se por um lado isso torna os combates mais estratégicos, por outro acaba levando a algumas lutas mais maçantes. O sistema de mira é muito sensível, tornando ingrata a tarefa de acertar os oponentes em certas situações.
 
A habilitação da assistência de mira é vital nesse caso, embora não solucione o problema completamente. Confesso que também é estranho ver uma espada voando pelo ar e só causar dano no ponto de impacto. Ou seja, ela só derrota os oponentes somente se atingi-los no alvo, e não enquanto se move pelo cenário.
Os combates contra os chefes são os mais desafiadores
Apesar dessas questões, os combates ainda ocorrem de forma suave e divertida, com destaque para os inimigos que apresentam janelas de vulnerabilidade para serem derrotados. Os chefões são particularmente desafiadores e ajudam a quebrar a eventual morosidade de Ambassador. O bastão com ataques mágicos funciona de forma mais intuitiva, graças a sua barra de mana que se recupera com o tempo.

Tempo desperdiçado

Chegamos à mecânica de controle temporal, a característica mais proeminente de Fractured Timelines e, por esse motivo, a mais desperdiçada. Paralisar o tempo permite escapar de armadilhas, como pontes que desabam, projéteis perigosos e passagens bloqueadas por disparos de flechas. As lutas também são beneficiadas, dando fôlego ao jogador durante investidas de inimigos e permitindo uma mira mais precisa ao atacar.
Use todas as habilidades e itens a sua disposição para vencer
Enquanto essas situações são legais de serem jogadas com essa habilidade, elas são basicamente as únicas. Esse tipo de poder já foi muito explorado em vários outros jogos, o que torna essa abordagem simples pouco envolvente e passageira. Seria ótimo ter visto usos um pouco mais criativos, como quebra-cabeças complexos e retroceder no tempo antes de morrer.
 
Gregor conta com corações que registram a sua vida, que pode ser regenerada ao consumir comidas coletadas pelos cenários (matando animais ou quebrando objetos). Ao final de cada fase, todos os corações e a barra de mana são recuperados e os mantimentos coletados são preservados. Alguns níveis escondem itens e personagens que contam um pouco da história do universo de The Ambassador.
O jogo esconde alguns segredos
O jogador tem liberdade para escolher um dos três mundos iniciais para explorar, podendo, inclusive, parar o progresso em um deles e começar do zero em outro. Esse é mais um fator que auxilia a tornar o título mais variado e interessante, oferecendo novos tipos de cenários e, consequentemente, inimigos e itens. O game possui um registro completo dos desafios secundários e dos colecionáveis, o que incentiva aqueles que buscam todas as conquistas e o famoso 100% de progresso.
Muitas missões e fases para explorar

Um jogo que precisaria de mais tempo

Embora o subtítulo seja uma brincadeira com a proposta principal do game, ele realmente faz sentido. Fractured Timelines passa a sensação de ser um projeto ainda em construção, consistindo em uma base sólida e competente na espera de maiores atrativos. A tradução do game é mais um exemplo dessa “cara” de trabalho em progresso, pois são vários erros ortográficos e passagens ainda em inglês que permeiam os textos.
 
Falando em bom português, The Ambassador: Fractured Timelines é um jogo do tipo “bonitinho”; em outras palavras, “feio, mas arrumadinho”. Ou seja, nenhuma das suas características é muito atraente, mas todas funcionam adequadamente e possuem algum mérito. Mesmo a mecânica de controle temporal, o maior destaque do game, é utilizada de forma modesta. É uma pena, pois vários elementos tinham potencial para mais e que tornariam o título mais do que apenas OK.
Infelizmente, um potencial desperdiçado
As lutas são boas, as armas e equipamentos interessantes, a exploração dos cenários é agradável... Pena que faltou algum impacto, que poderia ter vindo da mecânica de controle temporal. Não que eu esperasse alguma coisa no nível de Prince of Persia, mas seria bom um pouco mais de ambição e ousadia. Fico na torcida para que o jogo tenha adquirido sucesso suficiente para receber atualizações e, quiçá, uma sequência mais caprichada.

Um jogo simples, mas divertido

No papel, The Ambassador: Fractured Timelines (Multi) teria tudo para ser um ótimo game. Vários tipos de cenários e inimigos, diversas armas e equipamentos para utilizar e uma mecânica de controle do tempo muito interessante. Na prática, ele desperdiça essas boas qualidades ao ser modesto, oferecendo desafios divertidos, mas relativamente simples, deixando de arriscar mais em pontos que o tornariam ainda melhor. No final, fica uma sugestão para a biblioteca dos fãs do gênero ou para quem ficou curioso com o jogo.
Uma aventura interessante, mas longe de ser marcante

Prós

  • Proposta básica interessante, com motivações e mecânicas competentes;
  • Combates e explorações são divertidos e desafiadores;
  • Visuais retrô bonitos e funcionais;
  • Mecânica de congelar o tempo é bem implementada;
  • Boa quantidade de fases, armas e equipamentos para completar e utilizar.

Contras

  • Nenhum elemento do game se destaca significativamente, em especial a história e a utilização da mecânica de controle temporal;
  • Tradução em português é deficiente.
The Ambassador: Fractured Timelines – Multi – Nota: 6.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Felipe Fina Franco
Análise produzida com cópia digital cedida pela The Quantum Astrophysicists Guild

é produtor de conteúdo sobre games desde 2016 e um grande fã da décima arte, embora não tenha muito tempo disponível para ela. Seus games favoritos (que formam uma longa lista) incluem: KH, Borderlands, Guitar Hero, Zelda, Crash, FIFA, CoD, Pokémon, MvC, Yu-Gi-Oh, Resident Evil, Bayonetta, Persona, Burnout e Ratchet & Clank.
Também encontra-se no Twitter @MatheusSO02 e no OpenCritic.
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