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Análise: Olija (Multi) é uma curiosa viagem por uma terra exótica

Este título indie se inspira em clássicos de aventura cinematográfica para montar uma experiência interessante, mas superficial demais.


Um náufrago preso em um estranho mundo é a premissa principal de Olija, jogo de ação e plataforma produzido pelo estúdio indie Skeleton Crew Studio. Claramente inspirado em clássicos como Out of This World (também conhecido como Another World), o título combina exploração, puzzles e narrativa cinematográfica para criar um universo instigante. Há boas ideias no decorrer da jornada, porém o subdesenvolvimento de vários aspectos impedem que o real potencial do jogo seja explorado.

Usando um arpão amaldiçoado para voltar para casa

Um lorde chamado Faraday não aguenta mais ver o seu povo sofrendo de miséria. Sendo assim, ele reúne alguns homens e parte em uma expedição pelo mar em busca de riquezas. No entanto, depois de algumas semanas, o navio é destruído por uma feroz tempestade. Por sorte, Faraday sobrevive, mas logo descobre que está preso em Terraleva, uma estranha terra estrangeira.

Buscando uma maneira de retornar para casa, ele acaba encontrando um arpão especial, conhecido por ser simultaneamente lendário e amaldiçoado. Com este artefato, Faraday consegue algumas pistas de como alcançar o seu objetivo, no entanto há complicações no caminho: o Putreflora, um clã de criaturas sombrias que espalha o terror pela região, vai fazer de tudo para impedi-lo. Para piorar, o lorde se envolve em temas políticos ao resgatar Lady Olija, a herdeira de Terraleva, que era prisioneira do grupo sombrio.


É nesta situação complexa que a jornada de Faraday se desenvolve. O jogo é uma aventura de ação e plataforma 2D focada no uso do arpão. Além de ser utilizado como arma nos combates, o artefato tem um poder especial: seu dono pode se transportar para perto dele. Com isso, o arpão pode ser utilizado para alcançar locais distantes ou atacar rapidamente durante os embates. Muitos puzzles exploram essa mecânica em enigmas que mesclam plataforma, agilidade e observação.

O reino de Terraleva é dividido em pequenas ilhas, que funcionam como estágios com desafios. Algumas partes exigem chaves para serem acessadas, mas o mapa mostra explicitamente em que regiões os itens se encontram, o que torna bem direta a progressão. Para ajudar na exploração, Faraday pode fabricar e vestir chapéus com habilidades diversas, como proteção contra veneno ou recuperação de vida ao atacar inimigos. Por fim, o mundo conta com vários colecionáveis escondidos em locais nada óbvios.
 


Uma jornada com qualidades simples

Mesmo sob uma temática um pouco tensa, Olija oferece uma aventura bem agradável. Os desafios presentes nas ilhas são bem estruturados e contam com trechos de plataforma, combate e puzzles na medida certa, normalmente focados no conceito de lançar o arpão. A dificuldade é leve e boa parte das vezes a solução dos problemas é fácil de se ver, e há segredos em todos os cantos — me diverti lançando o artefato em diferentes partes dos cenários em busca de itens e passagens.

A mecânica de lançar o arpão e se transportar até ele é ágil e cria situações interessantes. Muitas vezes ele é utilizado para alcançar locais distantes, mas alguns puzzles exigem utilizá-lo de outras maneiras: em um trecho, a arma funciona como uma plataforma ao ficar presa na parede; em outro, precisamos manipular alavancas em conjunto com lançamentos de arpão para avançar.
 
Já o combate é rápido e descomplicado, bastando boa parte das vezes somente atacar sem pensar muito. É comum Faraday ser cercado por muitos inimigos e nesses momentos é importante abusar do arpão para se locomover rapidamente. Fora o artefato amaldiçoado, o lorde conta também com algumas armas secundárias, como uma besta e uma espada curta, que permitem montar diferentes sequências de ataques. As lutas contra os chefes às vezes exigem estratégias específicas, mas, no geral, também são bem tranquilas de vencer.


Simplicidade é uma palavra que define Olija e o torna acessível, porém essa qualidade é também seu maior defeito. Tudo é muito superficial no jogo: os puzzles são banais, a exploração é extremamente linear e básica, e o combate não exige muita estratégia. Há alguns sistemas adicionais, como chapéus mágicos e armas secundárias, contudo eles são tão irrelevantes e sem impacto que mal lembrei de sua existência.

Mais para o final da jornada aparecem algumas situações um pouco mais complexas, porém não é nada digno de nota. Particularmente achei uma pena que as ideias sejam tão subdesenvolvidas — a mecânica do arpão tem potencial, no entanto é explorada de maneiras extremamente simplórias. 
 


Perdido em um mundo estranho

Um aspecto marcante em Olija é a sua ambientação, que é inspirada em clássicos de aventura da década de 1990. Para emular o passado, o jogo utiliza visuais pixel art em baixa resolução, como se estivesse rodando em um computador antigo. O uso dessa técnica dá um ar ainda mais exótico ao mundo de Terraleva, que é inspirado pela cultura oriental, sendo que há algumas vistas belas, mesmo que um pouco abstratas. Apreciei esta escolha, apesar de considerar que em alguns momentos mais detalhes seriam benéficos.


A mitologia e a história do jogo são montadas de forma sutil e instigante. A trama é contada por meio de belas cenas não interativas e alguns poucos diálogos. Mesmo sem muita explicação, entendemos a situação de Faraday e seus companheiros, a política de Terraleva e também a relação entre o lorde e Lady Olija. Uma trilha sonora pontual com elementos de flamenco e lo-fi reforçam a temática exótica.

Porém, mais uma vez, a superficialidade atrapalha a experiência. A trama é subdesenvolvida e conta com poucas cenas e diálogos, o que torna difícil entender com clareza o que está acontecendo. O relacionamento de Faraday e Olija, em especial, é bastante prejudicado por essa escolha, a ponto de não fazer sentido. Entendo que a intenção é não ser muito direto, mas há lacunas demais. É fácil perceber que o jogo deseja ser uma “aventura cinematográfica” como títulos do passado, porém ele tenta fazer muito ao mesmo tempo e não consegue um resultado satisfatório em todas as áreas.
 


Uma breve viagem pelo desconhecido

Olija instiga com sua premissa e ambientação ímpar. Explorar o país de Terraleva na companhia de um náufrago é agradável, principalmente por causa da mecânica principal de se teletransportar para o arpão. A jornada tem momentos de exploração, plataforma e combate bem dosados, e há alguns segredos para encontrar. Além disso, o visual pixel art em baixa resolução e a música trazem um ar exótico ao mundo do jogo. No entanto, a simplicidade de vários aspectos incomoda: a trama e universo são enigmáticos demais e os desafios não vão além do básico. No mais, Olija é breve e prende enquanto dura, mas infelizmente não explora completamente seu potencial.

Prós

  • Combate ágil e com alguns toques estratégicos;
  • Bons puzzles envolvendo o conceito de lançar o arpão e se teletransportar até ele;
  • Ambientação exótica com visual único e uso pontual de trilha sonora.

Contras

  • Mecânicas simples e subutilizadas;
  • A trama e a construção do mundo carecem de desenvolvimento.
Olija — PC/PS4/XBO/Switch — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: José Carlos Alves
Análise produzida com cópia digital cedida pela Devolver Digital


é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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