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Análise: Murder by Numbers (PC/Switch): nonogramas oferecem a chave para um jogo de detetive bem executado

Combinando visual novel e picross, o jogo oferece uma excelente experiência para fãs de ambos.

Desenvolvido pela Mediatonic e publicado por The Irregular Corporation, Murder by Numbers é um jogo que combina visual novel de investigação com puzzles no estilo nonograma (também conhecidos como picross). Apesar de atípica, a mistura funciona muito bem, oferecendo uma aventura bastante divertida para fãs de ambos os gêneros.

De atriz a detetive

Honor Mizrahi é uma atriz que faz o papel de ajudante em uma série de TV sobre detetives. No entanto, ela é retirada do show e no mesmo dia seu chefe é assassinado. Com a ajuda de um misterioso robô chamado SCOUT, ela decide investigar o que aconteceu e isso leva a vida dela a tomar rumos inesperados.

A história é interessante e bem contada, apresentando ao todo quatro casos cujas interligações são bem trabalhadas. Ao mesmo tempo em que as reviravoltas são apresentadas, os personagens carismáticos têm chance de se desenvolver muito bem. Um dos aspectos que chamam a atenção é que o título apresenta uma boa representação de personagens LGBTQ+.

Vale destacar também que Murder by Numbers conta com artes de Hato Moa, criadora de Hatoful Boyfriend (Multi). O estilo é muito bem aproveitado pela obra, que é ambientada nos anos 90 e utiliza muito bem as cores para criar um mundo charmoso e cativante. 
SCOUT usa seus sensores para procurar por pistas.
Para investigar os casos, Honor conta com a ajuda dos sensores de SCOUT, que vasculha os ambientes e encontra evidências com nonogramas. Ou seja, todo novo objeto é representado por um puzzle que o jogador precisa completar. Há uma boa quantidade deles para resolver em cada caso, sendo alternada a aparição deles com o avanço da história.

É possível apresentar esses objetos para as pessoas, avançando a história. Determinados momentos oferecem pequenas questões para testar se o jogador entendeu o que está acontecendo ou consegue discernir a hipótese mais razoável com base nas evidências atuais. Fazer a escolha errada não leva a game over nem a nenhuma penalidade, fazendo com que a experiência seja tranquila.

Puzzles em todo lugar

A lógica de um nonograma é simples: existe um preenchimento específico que é definido pelos números ao redor do quadro. Uma linha com o número 4 significa que 4 quadrados devem ser coloridos. Com todos os valores em mãos, é possível definir quais posições devem ser coloridas com certeza, o que leva a uma cadeia de resolução do puzzle.

O jogo conta com quadros de vários tamanhos, especialmente em tamanhos 5x5, 10x10 e 15x15, mas também alguns não-quadrados como 15x20. Ao contrário de jogos similares, não há uma penalização caso o jogador acabe colorindo o quadrado incorreto, o que evita que pequenos erros forcem pessoas mais competitivas a abandonar o desafio e recomeçá-lo do início.
 

Para essas pessoas há um sistema de ranking, baseado em não utilizar os sistemas de auxílio do jogo. Ainda é possível pedir pistas caso o jogador seja novato e queira um pouco de ajuda, mas as opções de “preencher quadrados aleatórios” e “checar erros” levam a penalidade na pontuação, impedindo que o jogador alcance S no caso.
 
O ranking vai de F a S, abrindo novos nonogramas em um menu separado de memórias do SCOUT. Completar todos os puzzles nele permite ao jogador ter um vislumbre mais detalhado do passado do robô, que é um dos pontos principais da história, assim como o crescimento pessoal de Honor.
Outro espaço de puzzle são os trechos em que SCOUT acessa outros computadores. Para fazer essa etapa de hacking, o jogador precisa concluir uma série de nonogramas pequenos em um determinado tempo. Pensamento rápido é importante para essas etapas, apesar de não serem desafios nada complexos.

O único contra que consigo levantar em relação ao jogo é o fato de que o aspecto de visual novel fica devendo em alguns elementos que já são tradicionais e aumentam muito a qualidade de vida. Um jogo do gênero sem funções como leitura automática, log para reler trechos da história e skip para avançar rapidamente pela obra é algo muito antiquado. Por se tratar de uma obra linear (pouco provável que o jogador rejogue), não é um grave problema, mas ainda sente-se a falta dessas opções.

Uma excelente parceria

Murder by Numbers combina com maestria os aspectos de visual novel com puzzle. Com uma história muito bem contada e personagens carismáticos e bem desenvolvidos, o jogo oferece diversão certa também para fãs de picross com uma boa dose de puzzles pelo caminho. É um jogo que vale a pena conhecer.

Prós

  • História interessante e bem contada, recheada de boas reviravoltas;
  • Vários nonogramas para obter itens;
  • Modo extra com mais desafios para desbloquear memórias do SCOUT;
  • Sistema de ranking/pontuação valoriza o esforço do jogador;
  • Não penaliza o jogador por errar e sim por não querer pensar;
  • Hacks são puzzles curtos com limite de tempo;
  • Personagens carismáticos e boa representação LGBTQ+.

Contras

  • Falta de opções textuais como log, auto e skip.

Murder by Numbers — PC/Switch — Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Ives Boitano
Análise produzida com cópia digital obtida pelo próprio redator

é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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