Análise: Wildfire (Multi) – furtividade elementar repleta de genialidade

Acompanhe um jovem por um mundo charmoso em pixel art enquanto usa poderes elementais para acabar com um regime autoritário.

em 13/12/2020
São inúmeras as histórias de fantasia no mundo do entretenimento que exploram fogo, água, terra e ar como elementos mágicos. Muitas dessas abordagens acabam sendo satisfatórias, mas outras pecam por repetir tudo o que já foi idealizado, não trazendo nenhum diferencial inovador. Wildfire utiliza com genialidade essa mesma ideia para criar uma experiência 2D brilhante focada em furtividade, onde cada nível pode ser concluído de várias formas, brincando com os diversos elementos que foram implementados.

Desenvolvido pela Sneaky Bastards e publicado pela Humble Games para PC, PlayStation 4, Xbox One e Nintendo Switch, o título acompanha um jovem que é tachado como bruxo por possuir poderes elementais e que deve explorar um vibrante mundo em pixel art e prezar pelo pacifismo.

Resgatando o povo de um regime opressor

Wildfire é ambientado em um mundo de fantasia medieval, onde a magia quase acabou, exceto por um jovem que acidentalmente ganha superpoderes elementais ao tocar em um misterioso meteoro que atingiu as proximidades de sua vila. O problema é que as forças locais opressoras logo descobrem a natureza mágica do garoto e acabam temendo que ele possa prejudicar seu notório regime. Para impedir que isso aconteça, os inimigos colocam fogo em sua aldeia e sequestram todo o seu povo. Agora, cabe somente a você resgatar seus conterrâneos e levar o autoritarismo à justiça.

O título da Sneaky Bastards introduz uma história simples, voltada exclusivamente ao gênero de plataforma 2D/3D, onde um inimigo realiza um ato sórdido e o herói deve combatê-lo. No entanto, eu não posso simplesmente afirmar que Wildfire é um jogo menos interessante por causa disso. Pelo contrário: ele abusa dos elementos propostos para criar uma experiência de jogo 2D inigualável e extremamente satisfatória, mesmo que não consiga aprofundar sua narrativa, que conta com algumas características chamativas e originais.

A história do jogo é apresentada como nos quadrinhos, por meio de caixas de diálogo com textos sobre a cabeça dos personagens que, infelizmente, não estão em português brasileiro. Isso, por outro lado, acaba não sendo tão necessário, já que as escrituras não são muito extensas e tudo é aprendido com facilidade.

A estrutura do gameplay é basicamente como a de qualquer outro título de plataforma: existe um mapa com fases que vão sendo desbloqueadas no decorrer da jornada e ao concluir uma, a próxima é liberada. Portanto, você poderá voltar quando quiser, por conta do alto fator de rejogabilidade.

Use seus poderes elementais e seja furtivo

Em Wildfire você terá que movimentar o jovem com poderes elementais por uma série de fases, indo de um ponto A até um ponto B sem chamar a atenção dos guardas do regime opressor que sequestraram os moradores de sua antiga aldeia. Para fazer isso é possível se esconder em arbustos, saltar entre plataformas, subir em cipós e mergulhar, mas principalmente saber utilizar de forma inteligente os poderes mágicos que lhe são oferecidos.

Entre as magias estão a de fogo, água e terra, que permitem elaborar diferentes estratégias para escapar ou distrair os inimigos. A de fogo pode ser usada para realizar saltos duplos, voar pela fumaça ou ainda queimar objetos que bloqueiam a passagem do personagem; a de água produz uma bolha flutuante, usada para alcançar plataformas superiores mais altas ou ainda criar uma plataforma de gelo; por fim, a de terra nos dá a capacidade de plantar uma trepadeira para escalar ou ainda prender inimigos.

Use e abuse dos seus poderes elementais.
Á medida que o jogador percorre essas fases, ele encontrará estátuas que podem ser ativadas com um dos poderes elementais, garantindo pontos para desbloquear habilidades. Também existem fragmentos de meteoros espalhados que oferecem certas vantagens ao personagem, como maior resistência ao fogo. Nada disso é obrigatório e tudo requer planejamento, mas deixar esses coletáveis para trás pode custar algumas habilidades extremamente úteis no decorrer da jornada.

A maioria das fases também conta com outros desafios complementares, como resgatar reféns, apagar incêndios ou até mesmo queimar toda a vegetação. Alguns desses acréscimos serão obrigatórios em determinados momentos para abrir a porta da saída e conseguir fugir, mas na maior parte do tempo eles são apenas optativos.

Uma das missões que realizei foi levar um grupo de prisioneiros até a saída. Eles me seguiam através de assobios, mas em alguns pontos tive que deixá-los escondidos nos arbustos para distrair os guardas. Outro impasse era que os indivíduos não conseguiam saltar entre espaços muito afastados, então foi necessário arremessá-los até o outro lado com cuidado para que os inimigos não percebessem.

Wildfire também possui um modo multiplayer local que é muito atrativo, no qual dois jogadores controlam os personagens para combinar poderes elementais e criar uma experiência muito divertida ao resolver cada fase com diferentes ideias. O level design foi estruturado de maneira inteligente e criativa, contando com subsídios necessários para elaborar estratégias variadas. Apesar de serem curtos, os níveis requerem atenção e planejamento, o que contempla a diversão em sua totalidade.

Passar correndo e saltando pelos inimigos pode funcionar algumas vezes, mas a IA foi projetada para barrar esse tipo de tática, até porque se isso fosse possível, o título não teria graça alguma. Os poderes elementais, em adição à excelente jogabilidade furtiva, tornam Wildfire um dos melhores do gênero, ainda mais com controles fluidos e responsivos que acrescentam mais dinamismo ao gameplay.

Particularmente, no começo do jogo eu senti uma breve dificuldade em me adaptar aos controles, porque ultimamente tenho jogado muitos jogos 3D e os comandos mudaram drasticamente para um jogo de rolagem lateral 2D. Apesar disso, nada é muito frustrante e logo acabei me acostumando.

O maior problema que encontrei foram as eventuais quedas de frames, resultando em problemas de lentidão em algumas cenas, principalmente em momentos de fuga, prejudicando o gameplay. Em certa ocasião, tive que acionar alguns explosivos para fazer a água subir e emergir com ela até a superfície. Neste momento, havia muitos elementos na tela, o que ocasionou um slowdown.

Locais com muito fogo também sofreram uma queda de frames, ocasionando um slowdown.
Ainda que Wildfire seja um indie extremamente simples, os desenvolvedores tiveram o cuidado e a competência de adicionar diversas opções de acessibilidade, como ajustes para saltos automáticos, cores para daltônicos e outras possibilidades. Opções de dificuldade também foram acopladas, como ocultação do estado de alerta dos inimigos e parâmetros da temperatura do personagem. Perceber que as desenvolvedoras estão cada vez mais interessadas em distribuir seus produtos para todos os públicos é muito inspirador e com certeza este é um ponto que não pode ser ignorado nas análises de jogos daqui para frente.

Desenvolvido com genialidade

Wildfire é um grande puzzle, construído com genialidade por meio de técnicas inteligentes que influenciam a criatividade do jogador de inúmeras formas. É preciso atenção e planejamento para explorar este mundo vibrante em pixel art, mas os controles responsivos integrados à jogabilidade furtiva excelente fornecem tudo isso e ainda contam com opções de acessibilidade para todos os públicos. Embora eventuais quedas de frames possam frear um pouco a experiência, o título da Sneaky Bastards é um side-scrolling 2D que preza pelo pacifismo e que te deixará extasiado em brincar com fogo.

Prós

  • Alto fator replay e modo cooperativo local;
  • Os poderes elementais, em adição à excelente jogabilidade furtiva, oferecem inúmeras possibilidades de resolução das fases;
  • Level design inteligente;
  • Controles fluidos e responsivos;
  • Visual em pixel art vibrante;
  • Opções de acessibilidade e dificuldade.

Contras

  • Eventuais quedas de frames prejudicam a experiência;
  • Ausência de legendas em português brasileiro.
Wildfire – PC/PS4/XBO/Switch – 8.0
Versão utilizada para análise: PS4 

Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Humble Games
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é entusiasta e apreciador de jogos com conceito artístico minimalista e narrativas de significado profundo. Acredita na potencialidade de cada experiência interativa e tenta extrair delas sentimentos humanos e existenciais. No GameBlast também escreve notícias, análises e especiais; no tempo livre produz roteiros autorais de séries e filmes. Criatividade, imaginação e curiosidade são algumas de suas características marcantes.
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