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Análise: Unto The End (Multi) coloca o jogador em uma jornada intensa pela sobrevivência

Apesar de curto, o título da Big Sugar conta com um sistema de combate refinado e desafiador.



Jogos independentes costumam ser uma boa oportunidade de apreciar uma experiência fora da curva do que vemos na linha de frente das grandes produções. Devido às limitações no orçamento, esses tipos de jogos costumam compensar em criatividade. Os desenvolvedores da 2 Ton Studios, em parceria com a Big Sugar, trazem Unto the End, uma aventura side-scrolling de ação que, com um estilo artístico peculiar e um sistema de combate desafiador, tem tudo para agregar à biblioteca dos bons títulos indies.

De volta ao lar

A narrativa em Unto the End é praticamente desprovida de introduções, instigando o jogador a interpretar cada acontecimento. Sem grandes apresentações iniciais, nos deparamos com um guerreiro ajoelhado em uma árvore, no que parece ser um processo de preparação. Rapidamente seu filho aparece trazendo a inseparável espada, e logo em seguida nossa esposa nos presenteia com uma mecha de cabelo, um lembrete de algo especial que estava prestes a ficar para trás.

A partir daí começamos o que parece ser uma caça solitária atrás de cervos, onde subitamente um acidente nos coloca em situação desfavorável, em ambiente desconhecido. A única saída é trilharmos por um caminho sem volta através de localidades subterrâneas e hostis a fim de retornar para os braços de nossos familiares.




Para tornar o processo mais ameno, contamos com um inventário que nos permite gerenciar recursos coletados, como couro, ervas, ossos, etc. Esses itens podem ser usados para confecção de equipamentos, tratamento de feridas e como moeda de troca. Pelo caminho encontraremos criaturas da neve perigosas; algumas delas parecem se organizar em bandos, nos dando chance de negociar uma passagem segura ou conseguir relíquias únicas que poderão ser utilizadas em momentos oportunos.

A curva de aprendizado aqui é constante, pois não existe a questão do diálogo para estabelecer uma comunicação e entendimento. Enquanto percorremos cavernas repletas de escuridão e armadilhas perigosas, teremos momentos de interações com esses seres. Por achar que estava prezando pela minha sobrevivência ao poupar recursos, sempre dei prioridade ao confronto, até me dar conta de que estava perdendo um elemento interessante do jogo.




A nível de exemplo, em dado momento me deparei com o que pareciam ser dois xamãs. Ao entregar ossos para um e ervas para o outro, fui presenteado com um totem que me garantiu passagem por um trecho com um monstro gigante.

Cada interação assim torna o processo único e muito imersivo. Você realmente tem a sensação de estar em terreno desconhecido, tentando se comunicar da melhor maneira com povos desconhecidos e sobreviver às muitas adversidades no intuito de poder voltar para casa. Isso ajuda a amenizar, porém não diminui a curta duração da campanha. Levei algo entre quatro ou cinco horas para concluí-la. Se você for um jogador atencioso, é possível até concluir 100% das conquistas na primeira jogada.




Reflexos aguçados

A palavra-chave em Unto the End é observação. Você precisa estar atento a todo momento aos cenários para identificar possíveis passagens, objetos estranhos que podem resultar em uma mortífera armadilha e, principalmente, no comportamento dos inimigos, seja para estabelecer uma negociação ou sair vitorioso de um confronto. E é justamente nessa segunda opção onde o jogo mais brilha. Munido de sua espada e uma adaga arremessável, fica claro logo na primeira contenda que a mecânica de combate aqui passa longe da “esmagação” de botões que estamos acostumados. 

Assim como podemos agachar, saltar, defender e esquivar, os inimigos também o fazem de forma muito eficiente. São raros os adversários que estarão abertos a ataques sem esboçar uma defesa ou um contra-ataque. É preciso ter calma e antecipar as ações, pois um adversário que prepara uma postura elevada certamente irá desferir um golpe alto, e o mesmo ocorre em ataques rasteiros. Caberá ao jogador corresponder a esses movimentos direcionando a espada para o sentido correto a fim de apará-los de forma bem-sucedida. O mesmo vale na hora de contra-atacar: se você bloqueia um ataque de cima, seu alvo fica exposto na parte de baixo. 

É um processo que requer muita prática e reflexos aguçados, já que cada criatura apresenta um esquema diferente de golpes e velocidade. Felizmente, é possível participar de um breve tutorial que apresenta o básico dessas mecânicas e os principais movimentos de nosso guerreiro. Caso o processo ainda esteja muito difícil, no menu de opções temos a possibilidade de ativar o modo Assistente, que deixa os inimigos mais devagar, nos dando a chance de antever os movimentos com maior segurança.

Aqui encontrei uma das mecânicas mais desafiadoras que já vi. Conseguir antecipar todos os golpes é uma tarefa extremamente difícil. E conforme você sofre danos, sua performance é prejudicada ao ponto de uma hemorragia grave o fazer cambalear ou até mesmo cair de joelhos. Por sorte, podemos comer ervas para retardar o sangramento e na fogueira podemos tratar das feridas, preparar tônicos que revigoram a saúde e até melhorar nossa armadura ao adicionar camadas extras de proteção.

Mesmo assim, foram muitas as vezes em que morri e, pela primeira vez, um jogo me fez engolir meu orgulho gamer e ativar o modo Assistente em determinadas lutas, antes que a experiência ficasse frustrante. Ele pode ser ligado e desligado a qualquer momento, sem condenar o resto da campanha.
Alguém vai dormir no sofá essa noite


Uma breve e emocionante aventura

Unto the End consegue ser muito bem-sucedido em colocar o jogador dentro da atmosfera do jogo. A movimentação, a respiração do protagonista, os cenários misteriosos e intocados pelo homem passam muito bem a sensação de estar lutando para sobreviver em um local estranho. Ele é sem dúvida um dos títulos mais difíceis que já tive a oportunidade de jogar, onde a mais simples das criaturas representa um perigo em potencial. 

Felizmente, ele traz a possibilidade de amenizar a dificuldade desses duelos, dando chance àqueles que apenas desejam desfrutar da jornada de forma casual. Conseguir levar o corajoso guerreiro de volta para sua família foi uma experiência intensa, desafiadora e com um senso de conquista revigorante. O único pesar fica por conta da longevidade da campanha, que me deixou com desejo por mais.

Prós

  • Atmosfera imersiva;
  • Sistema de combate refinado e com alto grau de desafio;
  • Modo Assistente que torna o jogo mais acessível.

Contras

  • Campanha curta, com possibilidade de completar 100% das conquistas em uma única jogada.
Unto the End – PC/PS4/XBO/Switch – 8.0
Versão utilizada para análise: PS4 
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Big Sugar

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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