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Análise: Watch Dogs: Legion (Multi) diverte em sua proposta ambiciosa, mas desliza na história e na repetitividade

Seja quem você quiser em uma guerra londrina entre a Resistência e grandes facções.



Terceiro jogo da franquia, Watch Dogs: Legion traz seu maior desafio até então para os jogadores: faça parte da Resistência da DedSec recrutando e controlando, literalmente, qualquer cidadão de uma Londres entregue a forças ditatoriais. A nova proposta de gameplay é bastante ambiciosa, mas será que, junto de enredo e outros recursos, alcançou as expectativas dos fãs da franquia de hackers? Descubra em nossa análise!

Que comece a Resistência!

Watch Dogs: Legions se passa em uma Londres futura, cercada de tecnologia e hologramas, em que, em certa noite, ocorre um atentado, causando explosões em diversos pontos da cidade. O ataque foi arquitetado pelo grupo secreto Zero-Day, que incrimina o DedSec, grupo hacktivista que já acompanhamos nos jogos anteriores, pela ação que matou milhares de londrinos. Durante o atentado, a base da DedSec é invadida e o grupo se vê obrigado a debandar.

O governo local contrata a empresa militar privada Albion, apesar de suas ações agressivas e ditatoriais, para garantir a segurança da cidade e caçar os membros restantes da DedSec. Acreditando que a Albion possa ter algum envolvimento com o Zero-Day e o atentado, Sabine, operante do grupo hacker em Londres, inicia a Resistência e recruta os cidadãos londrinos que estão dispostos a se juntar à causa e acreditam na inocência da DedSec, iniciando uma guerra tecnológica.

O enredo começa bastante interessante, com um vilão que, apesar de bastante clichê à la Thanos, é promissor, mas possui o mesmo problema de vários jogos da Ubisoft, que apresentam o principal inimigo de forma incrível, mas que deixa de aparecer na maior parte da história. Além do Zero-Day, outras ameaças surgem durante a campanha para tornar a missão do DedSec mais complicada, como o Clã Kelley com seu tráfico de pessoas e de órgãos. Porém, todos são pouco desenvolvidos e têm seu potencial desperdiçado.

A história, ao longo de suas 12 horas, oscila bastante entre momentos marcantes e sequências de missões bastante repetitivas, o que é outro problema da franquia. Mesmo trazendo novos recursos de gameplay, que vamos comentar em breve, os objetivos das missões ainda se resumem a hackear algum servidor, invadir um local sem ser detectado ou espionar algum personagem. É algo que a desenvolvedora francesa poderia ter reimaginado para a franquia, ao invés de manter missões principais e secundárias com a mesma cara.



Os NPCs, que viram jogáveis em qualquer momento, têm pouquíssimo carisma e diversos deles possuem, obviamente, o mesmo dublador. Isso não era um “problema” até dois personagens recrutados interagirem e terem a mesma voz, derrubando qualquer imersão que o jogo tente trazer. O trabalho de dublagem é excelente, com o padrão da Ubisoft, mas, pelo fato de os NPCs serem gerados aleatoriamente, muitas vozes acabam não combinando com sua personalidade. Já Bagley, a inteligência artificial do DedSec, consegue ser o personagem mais carismático e diverte na maioria de suas interações por áudio.

Legion tinha um grande potencial no enredo, mas pecou na repetitividade das missões e no desenvolvimento fraco dos personagens. Em dezembro começarão os lançamentos de novos conteúdos, como modo online e missões do Aiden no Passe de Temporada, o que pode trazer um pouco mais de vida e movimento ao game.

Seja quem você quiser

Vamos partir para a grande promessa de Watch Dogs: Legion: o jogador assumir o papel de toda uma resistência ao recrutar qualquer um entre os nove milhões de NPCs no jogo. Após os acontecimentos iniciais da campanha, o jogador escolhe um personagem de habilidades básicas para dar início aos planos da Resistência e recrutamento de novos membros da DedSec. Para recrutar um potencial membro, você analisa o perfil do personagem para descobrir sua simples história de background e suas habilidades, para então realizar alguma tarefa para esta pessoa que irá se juntar ao grupo após sua conclusão.

As profissões dos NPCs têm grande impacto em suas habilidades, armas e vantagens. Um advogado, por exemplo, diminui o tempo de prisão para membros capturados da DedSec; já um artista que trabalha como estátua humana se esconde em fugas com mais facilidade. Vários perfis de NPCs possuem carro próprio, o que ajuda muito na hora de fugir ou chegar em algum ponto sem ter que ficar roubando o veículo de alguém e chamando a atenção da polícia o tempo todo.

Já alguns agentes podem utilizar as credenciais de suas profissões para infiltrar-se em certas localidades de forma sorrateira, te permitindo cumprir missões sem ao menos alertar ou eliminar alguém. Por exemplo, um operário de obras pode entrar com seu uniforme em um dos locais das explosões, que estão em reforma, para coletar informações sem levantar suspeitas; ou um segurança da Albion, que também pode ser recrutado após cumprir tarefas mais difíceis, para entrar em instalações protegidas pela agência. Mas é preciso ter cuidado ao usar esta tática, já que trabalhadores desses locais podem te identificar como um estranho se você chegar muito perto deles.

Um modo de Morte Permanente está presente no jogo e deixa tudo mais interessante. Como o próprio nome já diz, caso seu agente seja eliminado em combate ele não poderá ser mais utilizado. Com a opção de Morte Permanente desligada, os agentes vão presos ou para o hospital, sendo liberados após um período. Caso tenha recrutado um advogado ou um paramédico, este tempo de prisão/hospital é reduzido.

Como de costume, uma árvore de tecnologia está disponível para que o jogador possa liberar vantagens aplicáveis a qualquer agente recrutado para a DedSec. Tais tecnologias, que são adquiridas com pontos conquistados nas missões da campanha e coletando por toda Londres, proporcionam diversos recursos que te ajudarão nas missões, como hackeamento de drones e de dispositivos inimigos, armas e equipamentos de invasão stealth, como a aranha-robô, e também invisibilidade temporária.

Apesar de as missões, tanto principais quanto secundárias, serem repetitivas a partir de um certo ponto, todas podem ser executadas de diversas formas, seja por uma estratégia mais stealth, seja usando apenas dispositivos e câmeras, seja realizando invasões disfarçado ou mesmo partindo para a briga. O sistema de recrutamento, juntamente com as tecnologias liberadas com pontos, acaba sendo um grande positivo no gameplay de Legion, uma vez que os diversos perfis de hackeamento, combate, invasão, fuga, entre outros aspectos, lhe permitem jogar do jeito que melhor se adapta ao seu estilo.

Para quem gosta de sair roubando veículos e de uma boa perseguição, as fugas de carro contra as forças da Albion estão um pouco mais difíceis neste jogo, já que a corporação utiliza drones de segurança e detectores em certos pontos no mapa para entregar sua posição para os agentes enquanto ainda estiverem o procurando. Mas, como sempre, vários elementos nas ruas de Londres podem ser hackeados para te ajudar a escapar.

Londres em meio a uma revolução

Não é apenas pelos seus habitantes controláveis que Londres é tão viva em Watch Dogs: Legion. A cidade foi reimaginada de forma detalhada e muito bonita, com os principais pontos turísticos podendo ser visitados, como o Palácio de Buckingham, a London Eye, o Big Ben e a Trafalgar Square. O mapa foi dividido conforme seus oito distritos, cada qual contando com certas tarefas, como destruir propaganda da Albion ou coletar provas de envolvimento com o Zero-Day. Realizando todas as tarefas e uma missão especial o distrito ficará revoltoso, o que libera um agente especial, exibe os pontos de tecnologia e coletáveis espalhados pelo mapa e garante que mais cidadãos estejam dispostos a fazer parte da Resistência.

Algumas interações estão espalhadas por Londres, entre elas jogar dados e beber alguns pints em bares, mas que você provavelmente só fará vezes suficientes para conquistar os respectivos troféus. As viagens rápidas, que são feitas pelo enorme sistema de metrô da cidade, são liberadas conforme se explora o mapa em veículos ou a pé. Já a física dos carros e outros meios de transporte está boa, mas muitos deles fogem bastante da realidade.

Graficamente Legion não desaponta na ambientação, principalmente à noite e em períodos chuvosos, mas os “bonecos” poderiam ter um capricho maior fora das cutscenes, ainda mais neste final de geração. Alguns bugs gráficos acontecem, como seu personagem ou os NPCs ficando presos no chão e coisas desse tipo. Tratando-se da Ubisoft, já era esperado, mas sinceramente achei que ocorreriam com mais frequência. A qualidade do áudio é também muito boa, com destaque para a dublagem brasileira e para a trilha sonora, que conta com sucessos de Stormzy e Charlie XCX, além de alguns podcasts fictícios.



Uma melhoria na inteligência artificial é perceptível em Legion se comparado com os títulos anteriores. O comportamento de pedestres ao seu redor acontece de acordo com o perfil do personagem que você estiver controlando. Se estiver no comando de um agente da Albion, pedestres que são contra a organização irão te reprimir, por exemplo. Os inimigos também estão mais inteligentes e reagem melhor a corpos caídos e acionamentos que você fizer via hacks. A customização dos seus agentes pode ser feita adquirindo peças de roupas com ETOs, a moeda do jogo, ou concluindo missões.

Em questão de desempenho, o jogo deixa a desejar. Jogado no PS4 básico, o game possui telas de carregamentos extremamente demoradas, seja para carregar seu save, alterar o agente, entrar em uma cutscene que nem é tão demorada ou nas viagens rápidas que acabam não sendo tão rápidas. Caso você esteja jogando com um motorista e a missão atual seja hackear fisicamente um servidor da Albion em um ponto muito distante do mapa, o processo de trocar de agente e realizar a viagem rápida pode demorar o que parece uma eternidade. Com certeza esse é um problema que não será visto na nova geração, caso espere para jogar o título em um PlayStation 5 ou Xbox Series X/S.



Uma promessa ambiciosa que divide opiniões

Watch Dogs: Legion fez bastante barulho desde seu anúncio na E3 2019, onde prometeu uma experiência nunca antes vista no mundo dos jogos com o recrutamento de qualquer NPC para a Resistência. Alguns “migués” já previstos acabaram acontecendo, como limitação de perfis que se repetem bastante. Apesar de ter uma campanha que começa de forma majestosa, mas que se perde na repetitividade de missões, além de vilões desperdiçados de grande potencial, o título diverte com muitas novidades de jogabilidade, lhe permitindo recrutar uma equipe que melhor se adapta ao seu estilo de jogar.

Com exceção do enredo que não alcançou expectativas, e arrisco dizer que seu antecessor o superou, Legion consegue se firmar como o melhor jogo da franquia. Nos resta aguardar o modo multiplayer e o conteúdo de Passe de Temporada para ver se o jogo se manterá vivo e merecedor de uma revisitação.

Prós

  • Jogabilidade divertida;
  • Sistema de recrutamento interessante e que funciona muito bem;
  • A Morte Permanente torna a jogatina mais tensa e emocionante;
  • Vários perfis de recrutas para montar a equipe do seu jeito;
  • Novos dispositivos e vantagens que tornam as invasões mais emocionantes;
  • Ótimas ambientação, dublagem e trilha sonora.

Contras

  • Enredo e vilões de grande potencial, porém desperdiçados;
  • Personagens sem carisma, sendo o melhor deles uma I.A.;
  • Missões principais e secundárias muito repetitivas, sem muitas novidades em comparação com os títulos antecessores;
  • Carregamentos extremamentes demorados;
  • Mapa com poucas coisas para se fazer além das missões.
Watch Dogs: Legion – Multi – Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PS4

Revisão: Ives Boitano
Análise produzida com cópia digital cedida pela Ubisoft


Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
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