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Análise: The Dark Pictures Anthology: Little Hope (Multi): o terror de estar preso ao passado

Assim como Man of Medan, o jogo de terror oferece uma experiência narrativa sólida.

Desenvolvida pela Supermassive Games, The Dark Pictures é uma antologia de jogos de terror e, como tal, promete títulos independentes entre si. Enquanto Man of Medan se focava em um grupo de amigos em um barco no Pacífico Sul, Little Hope traz a história de estudantes universitários em um vilarejo que foi palco da caça às bruxas nos EUA. Assim como seu antecessor, o jogo explora muito bem a narrativa e oferece uma experiência sólida tanto no single player quanto no multiplayer.

Uma vila deserta e sombria

Durante uma excursão, um grupo de estudantes universitários (Andrew, Daniel, Taylor e Angela) e seu professor (John) acabam sofrendo um acidente de ônibus. Após a batida, eles se veem na isolada cidadezinha de Little Hope. No passado bruxas foram perseguidas na cidade, que era um modesto povoado, mas agora praticamente ninguém mais vive na região.

Ao tentar sair da cidade, o grupo descobre que uma névoa densa impede a passagem. Sem sinal de telefone e sem possibilidade de retornar por onde vieram, eles estão presos em Little Hope e sua única opção é investigar a cidade para tentar encontrar outra saída. No entanto, isso também os levará a ter contato com o lado mais sinistro do lugar, envolvendo o passado da cidade e lendas sobre bruxaria.

Little Hope é prioritariamente narrativo e a perspectiva alterna entre os 5 personagens principais. Além de jogar sozinho, é possível acessar os modos Sessão de Cinema (multiplayer local para até 5 jogadores, com um único controle) e História Compartilhada (multiplayer online para 2 pessoas). A ideia é dividir os personagens para cada um e colocar à prova as decisões que eles tomam, já que escolhas de um jogador irão interferir nos outros.

Boa parte do jogo é composta pela exploração de áreas isoladas da cidade, como trechos de estrada e casas abandonadas. De forma geral, os cenários são lineares e simples, mas isso também simplifica o encontro de objetos para interação. Durante as cenas de diálogo, o jogador pode escolher como reagir, o que altera certos traços dos personagens e o desenrolar da trama de uma forma geral. As consequências nem sempre aparecem rapidamente, mas é fácil detectar os impactos.

Outro elemento importante são os quick-time events. Durante as sequências de stealth ou de combate, o jogador precisa apertar os botões indicados para poder obter êxito. Falhar muda a resolução do evento, usualmente levando a uma penalidade e, em alguns casos, podendo ser fatal. Um detalhe interessante é que Little Hope conta com um alerta antes dos QTEs, algo muito bem-vindo por preparar o jogador para fazer os movimentos necessários.

Retornando a Little Hope

Com suas múltiplas escolhas e ramificações, rejogar Little Hope para explorar outras possibilidades é algo esperado. Além de mudar o destino dos personagens, é possível obter mais colecionáveis, incluindo postais que revelam cenas de perigo e outros objetos variados que descrevem eventos importantes da história da cidade.


Pessoalmente, considero que o twist final do jogo, que é a explicação de tudo o que está acontecendo, é um pouco desestimulante e pode reduzir o interesse do jogador em fazer esse retorno à cidade. Mesmo com múltiplas possibilidades de final, a revelação dessa reviravolta sempre acontece e desvaloriza um pouco os esforços do jogador. No entanto, ter esse conhecimento também ajuda a entender melhor as pistas espalhadas por Little Hope e a ter uma visão mais aprofundada do que está acontecendo.

Gostaria de destacar também que a atmosfera continua sendo muito bem executada. Entre os elementos utilizados para isso estão inclusos ângulos de câmera que dão a impressão de estar sendo observado, pouca iluminação dos cenários, o próprio fato de que todos os prédios estão caindo aos pedaços, a falta de humanos, os símbolos de ocultismo pelo caminho e o uso de sons variados. Outro aspecto muito bom é a presença de legendas em português de boa qualidade. Há pouquíssimos erros e eles são ignoráveis.


Em termos de controles, o jogo oferece três configurações. Usar um controle é notavelmente a melhor forma de aproveitar o jogo, mas também é possível optar por mouse e usar mouse e teclado ou apenas o mouse. No entanto, essas outras opções podem ser mais complicadas de usar já que em determinadas áreas a câmera dificulta a movimentação com o mouse. Também tive problemas com o mouse desconfigurando a sua posição, o que me atrapalhou em alguns momentos de combate.

De forma geral, The Dark Pictures Anthology: Little Hope mantém as forças e as fraquezas de seu antecessor, não ousando ir muito além. Os avanços, como a presença de alertas nos QTEs e a tradução praticamente impecável para o português, e o uso de um molde de história familiar de bruxas e ocultismo são interessantes, mas pequenos. Apesar dessa modesta pretensão, o título cumpre bem o seu objetivo e é um excelente jogo de terror que representa bem o gênero, com um enredo que oferece boas doses de tensão e mistério para explorar.

Prós

  • Atmosfera sombria de cidade fantasma bem construída;
  • Multiplayer oferece a oportunidade de brincar com as repercussões das ações nos outros jogadores;
  • Colecionáveis que ajudam a entender mais camadas da história;
  • Tradução em português de alta qualidade;
  • Alerta de quick-time event ajuda o jogador a se preparar.

Contras

  • Twist final pode desestimular o jogador, desvalorizando um pouco a jornada;
  • Áreas majoritariamente lineares e simples.

The Dark Pictures Anthology: Little Hope – PC/PS4/XBO – Nota: 8
Versão utilizada para análise: PC

Revisão: Ives Boitano
Análise produzida com cópia digital cedida pela Bandai Namco Games


é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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