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Análise: ScourgeBringer (Multi) é um excelente, desafiador e conciso roguelite de ação

Depois de um período em acesso antecipado, a experiência definitiva de ScourgeBringer chega ao PC e todos os consoles.


Desenvolvido pela Flying Oak Games, ScourgeBringer (Multi) é mais um título indie do gênero roguelite. Se engana, porém, quem pensa que se trata de uma aventura genérica em pixel art, pois seu mix de ação completa com plataforma 2D torna este jogo uma polida e completa experiência. Alguns desafios podem ser demais para os jogadores menos acostumados, mas um pouco de insistência e treino deixam a jogatina excelente.

A chegada do ScourgeBringer

Quando uma megaestrutura chega sobre a Terra, o fim da humanidade tem data para acontecer. De forma misteriosa e um tanto mística, um monólito passa a sobrevoar o planeta, projetando um feixe de luz que se alimenta da civilização terrestre e a leva à ruína. Depois de muitas tentativas frustradas, é chegada a hora da protagonista Kihra entrar na grande pedra a fim de descobrir seu conteúdo e salvar a todos.


No interior do monólito, a garota encontra a morte muitas vezes, mas retorna ao ponto inicial sempre que isso acontece — característica de um típico roguelite. O que dá a esta experiência o lite em vez de like em seu gênero é a árvore de habilidades que pode ser melhorada no descanso, marcando o progresso global (ou seja, entre as tentativas) de ScourgeBringer.

A partir dessa premissa a aventura inicia. Um breve tutorial mostra os controles e nada mais sobre o enredo além de pequenas doses ao longo da exploração das salas, onde o jogador encontrará notas de exploradores anteriores sobre a enorme estrutura. Trata-se de um simples objetivo: sobreviver. Para isso, será necessário desbravar cada fase em busca da chave da sala do boss.

É claro que alguns recursos são disponibilizados à heroína por meio de lojas, salas secretas, itens como recompensa e altares. Esses últimos fornecem, uma vez por andar, as chamadas bênçãos, responsáveis por entregar vantagens significativas em cada run (nomenclatura comumente utilizada para representar cada tentativa).


Ademais, itens, armas e seus upgrades tornam Kihra capaz de causar danos poderosos ou recuperar a vida perdida para os tiros ou golpes de monstros. Em alguns momentos a tela pode sim tornar-se um cenário de bullet hell, e será necessário habilidade e bom manuseio dos controles para o escape.

Falando em controles, a jogabilidade é bastante intuitiva, disponibilizando golpes aéreos, investidas e caminhadas sobre as paredes. Ainda, quando você causa dano em um oponente ou encosta em algum objeto, poderá executar esses movimentos novamente, chegando à tão famigerada conquista "o chão é lava": basta derrotar uma sala inteira sem encostar no solo. Você ficará surpreendido com a facilidade de atingi-la e entenderá o que digo sobre a simplicidade dos controles.


Entre as opções de controle de Kihra temos o uso do controle ou o combo de teclado e mouse. Apesar de ambos serem simples, a adaptação ao combo foi um pouco mais difícil. Nesse caso, o ponteiro do mouse é utilizado para apontar a investida e os projéteis, mas a movimentação fica por conta das teclas da mão esquerda (W, A, S e D). O problema acontece quando a ação exige rapidez na resposta, e acabei por achar bastante complicado diferenciar quando deveria usar a mão direita ou a esquerda para controlar as investidas.

Esforço e recompensa

Um dos pontos que exalta ScourgeBringer é sua alta dificuldade, que é responsável por grande parte da frustração do jogador, mas também entrega satisfação ao vermos o progresso feito. Não se trata de um desafio impossível, pois você perceberá que somente as longas horas de jogatina te tornarão habilidoso o suficiente para avançar.

No meu caso, a batalha contra o primeiro chefe foi o parâmetro que me fez identificar o aumento de minha habilidade. Nas duas ou três primeiras vezes, acreditei que passar dali seria praticamente impossível; entre a quarta e décima — sim, devem ter sido pelo menos dez vezes — eu fui aprendendo como esquivar dos tiros e golpes, da mesma forma que aprendemos os padrões de ataques de inimigos em qualquer jogo contemporâneo. Depois disso, eu passei a vencê-lo todas as vezes. E lá se foram cinco horas de jogo.


Por isso, para os jogadores que querem uma experiência mais rápida e on the go, ScourgeBringer irá exigir mais habilidade e concentração, resultando em um progresso mais arrastado e, ao mesmo tempo, recompensador. Da mesma forma que dez vezes podem ser necessárias para dominar o primeiro grande inimigo desse roguelite, talvez seja preciso outras dez para chegar ao chefe da terceira fase. Assim, o replay faz parte da essência deste jogo e permite que ele seja aproveitado por muitas e muitas horas.

A intensa repetição na qual este game se constrói também mostra um pouco de sua consistência, pois o set de itens recebidos é limitado, mas sempre bem parecido e a progressão não é tanto sobre ter sorte, mas habilidade. Como todo roguelite, ainda resta um pouco de fortuna em ter uma organização de salas favorável, uma bênção que recupera toda a vida ou um companheiro que distribui itens. Afinal, também é bom contar com uma certa dose de ajuda.

Um belo presente

Por fim, mas não menos importante, está a casca artística que envolve esta experiência. Apesar de não ser protagonista, a pixel art é bem desenhada e ajuda a construir o clima místico do monólito. Além disso, as fases recebem identidades de cores diferentes que, em conjunto com os grupos de inimigos, tornam sempre uma surpresa a chegada em um novo estágio.

A trilha sonora se baseia em batidas agitadas parecidas com o gênero metal, sobretudo durante os combates. Uma pitada de sons sintéticos tecnológicos também faz parte da música e ajuda a construir o ambiente extraterrestre. Porém, conforme avança, você perceberá que ela não é essencial para a jogatina e se torna um pouco cansativa, principalmente nos momentos de descontração.

Com um conjunto artístico bem elaborado, mesmo que não tão marcante, ScourgeBringer se torna um dos melhores roguelites disponíveis na atualidade. Ele trata de recompensar lentamente os jogadores e é ideal para aqueles que têm mais paciência para mecânicas de tentativa e erro. Após um período de acesso antecipado, que certamente contribuiu muito para o polimento atual, este jogo é uma recomendação e tanto para os entusiastas e novatos do gênero.

Prós

  • Esforço recompensado com tentativa e erro, potencializando o fator replay;
  • Variedade adequada de itens e mecânicas disponíveis, sem sobrecarregar o jogador;
  • Dependência limitada de sorte.

Contras

  • Dificuldade de adaptação com controle em teclado + mouse;
  • A elevada dificuldade pode ser frustrante para jogadores descompromissados.
ScourgeBringer — PC/Switch/XBO — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Dear Villagers

É diretor de redação do Nintendo Blast e fã de games desde pequeno, quando começou sua jornada com Mario e Zelda lá no SNES. É formado na área das engenharias e trabalha com desenvolvimento de software. Quando sobra um tempinho entre as jogatinas e o dia a dia, aparece lá no Twitter como @niccomch.
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