Análise: Disgaea 4 Complete+ (Multi) é um jogo de estratégia que recompensa o esforço do jogador

RPG estratégico oferece uma boa experiência do gênero graças a sua diversidade de mecânicas.

em 04/10/2020

Quem conhece RPGs estratégicos, muito provavelmente já ouviu falar de Disgaea. Desenvolvida pela Nippon Ichi Software, a série é famosa por permitir que os jogadores cheguem a níveis estratosféricos de força desde que dediquem uma quantidade adequada de tempo e esforço. Além disso, suas histórias sempre possuem bastante humor.


Lançado originalmente em 2011 para PS3, Disgaea 4 não foge à regra. Em sua edição completa, que inclui os antigos DLCs do jogo, o título agora está disponível para PC, PS4 e Switch e demonstra com clareza as qualidades da série.

Bem-vindo ao Netherworld

Uma promessa singela.
Assim como os jogos anteriores da série, Disgaea 4 se passa em sua própria versão do Netherworld (“submundo” ou “inferno” são possíveis traduções para o português). O título conta a história do vampiro Valvatorez, que costumava ser um grande tirano, mas que acabou perdendo seus poderes e sendo reduzido a um reles instrutor de Prinnies (almas humanas de pecadores que são convertidas em criaturas similares a pinguins que falam constantemente “dood”).

Como parte do treinamento, o personagem promete uma sardinha para os seus estudantes. No entanto, o que ele não podia prever é que essa promessa o levaria a se tornar um rebelde do sistema, a competir na disputa presidencial e a uma infinidade de batalhas. Inicialmente, Valvatorez conta com a ajuda de seu leal servo lobisomem Fenrich, três instrutores humanos, um gato ladrão de sardinhas e dois Prinnies. Outros aliados são adicionados conforme o jogo avança, além da tradicional possibilidade de criar seus próprios personagens entre várias opções de classes, incluindo os monstros.

Nunca duvide do poder da sardinha.
A história não se leva muito a sério, sendo prioritariamente composta por piadas variadas e referências a estereótipos e situações comuns de obras como mangás e jogos japoneses. Curiosamente, há também alguns elementos de crítica social ironizando questões políticas e apresentando até mesmo temas atuais como fake news. Outro elemento que chama bastante a atenção são os personagens, que são bastante carismáticos. Valvatorez, por exemplo, é um protagonista bastante divertido, com uma obsessão por sardinhas e promessas.

No entanto, o real foco de Disgaea é claramente o seu gameplay variado, rico em estratégias e que pode ser aproveitado por centenas de horas. Um dos principais elementos da série é a variedade de mecânicas, pensadas para tornar o combate algo over the top. Como RPG estratégico, o título conta com batalhas baseadas em turnos e os personagens são movimentados por um grid retangular. Cada personagem pode realizar duas ações dentre atacar, movimentar, se defender, usar itens ou arremessar aliados e inimigos.

No canto esquerdo aparece uma lista de ações que serão executadas.

Com exceção dos arremessos, as ações de vários personagens podem ser armazenadas. Apenas quando o jogador pedir para executá-las, é que elas serão realizadas de fato. Graças a isso, é possível realizar combos que melhor aproveitam a sequência e reorganizar suas ações múltiplas vezes em uma mesma fase. Um exemplo bom disso é que é possível reaproveitar personagens em um mesmo turno para golpes combinados, já que aliados adjacentes têm a chance de auxiliar no ataque básico e de ser movimentados após a execução.

Além do movimento e dos ataques simples, os personagens contam também com magias e habilidades variadas de acordo com a sua classe. A derrota de inimigos gera experiência e mana, sendo possível gastar o segundo para desbloquear e fortalecer as técnicas dos personagens, além de desbloquear habilidades passivas. Conforme seus níveis aumentam, as figuras principais da equipe (como Valvatorez e Fenrich) também liberam golpes próprios potencialmente devastadores.

Retirar inimigos de áreas vantajosas pode fazer a diferença nas batalhas.

Outro elemento fundamental das batalhas é a habilidade de pegar outros personagens e arremessá-los. Isso serve tanto para inimigos quanto para aliados, sendo uma técnica bastante valiosa para várias funções, incluindo se movimentar pelos mapas e jogar inimigos para a linha de fogo de outro personagem. Há também os Geo Blocks, cubos que causam algum efeito a quem está acima dele ou no mesmo Geo Panel (área colorida do chão). As possibilidades incluem aumentos de defesa, mais experiência, a repetição do ataque utilizado, invencibilidade, etc.

Também é possível utilizar os monstros para os sistemas de fusão e de Magichange. Quando um aliado do tipo monstro (como os Prinnies) está próximo a outro monstro, é possível criar um monstro gigante, mais forte, com habilidades de longo alcance e possibilidade de empurrar outros personagens. Já quando está próximo de uma criatura com formato humano, é possível usar Magichange, tornando-o uma arma equipável cuja categoria (espada, lança, machado, pistola, etc.) varia de acordo com o monstro.

No Item World é possível enfrentar inimigos poderosos se o jogador abusar dos sistemas.

Além das batalhas de história, cujos mapas podem ser rejogados, há também o Item World. Nele é possível acessar o interior de um item do inventário à sua escolha e explorar uma espécie de mundo paralelo com áreas procedurais. Conforme o jogador avança por essa dungeon, o item também aumentará o seu nível. No entanto, só é possível sair de lá após terminar fases múltiplas de 10 ou utilizando um item chamado Mr. Gency’s Exit. Tomando os devidos cuidados para não explorar áreas mais fortes do que os seus personagens dão conta, esse sistema de itens pode oferecer bons momentos de grinding (treinamento e evolução de personagens).

Ainda mais sistemas fora das batalhas


Para melhorar a performance dos personagens também é possível utilizar o Dark Senate. Gastando certa quantidade de mana, é possível fazer os senadores demônios votarem nas suas propostas de lei, que incluem reencarnar o personagem, melhorar os itens da loja, abrir vagas de ministro (que aumentam os bônus na evolução dos personagens) e liberar acesso a novas funcionalidades.

O senado é uma forma interessante de liberar novas funcionalidades.

Em particular, o Dark Senate está ligado também ao Cam-pain HQ, um mapa conceitual em que é possível posicionar os personagens. Quando estão adjacentes, eles terão mais chance de fazer ataques em equipe. Além disso, é possível posicionar objetos chamados de Evil Symbols no mapa. Eles ativam efeitos como, por exemplo, ganho de mana ou experiência extra para os personagens que estão em determinadas áreas. Outras funcionalidades incluem um sistema online de piratas (que podem ajudar ou atrapalhar outros jogadores), criação de mapas e a possibilidade de regular a porcentagem de mana, dinheiro e experiência ganhados.

Com todos os sistemas dentro e fora das batalhas em mãos, o jogo realmente oferece uma enorme gama de possibilidades estratégicas. Por um lado, é plenamente possível avançar pela história avaliando o cenário, os inimigos e as suas próprias ações. Por outro, gastar mais tempo e esforço para fazer com que os seus personagens tenham acesso a habilidades melhores realmente abre portas e oferece uma sensação incrível de recompensa. Não à toa a série é conhecida como um grindfest já que ver seus personagens mais fortes causando danos altos é muito satisfatório.

Algumas vezes personagens são escondidos pelo cenário, como o inimigo à direita do cursor.

Quanto mais eu jogava, mais Disgaea 4 abria novas oportunidades. Com isso, pude me divertir fortalecendo os personagens e aprendendo a lidar melhor com estratégias sagazes. Conseguir derrotar um inimigo lv200 e pouco com um personagem pouco acima do lv100 graças a um bom uso dos Geo Panels e colher o resultado em experiência e mana depois é fantástico.

A única coisa que senti como problema no jogo foi a visualização dos mapas. Existem várias posições de câmera intercambiáveis, mas tive que ficar trocando constantemente entre elas e passei por fases em que simplesmente não encontrei uma boa posição para ter uma boa visualização. Além disso, os cenários podem tampar personagens que deveriam estar no plano de frente, um bug que me incomodou em várias batalhas.

A questão de visualizar o campo é muito fundamental para um jogo do gênero, mas, mesmo com problemas nesse quesito, Disgaea 4 Complete+ é uma excelente experiência. Com boas doses de humor, personagens carismáticos e uma variedade estratégica que recompensa o jogador quanto mais fundo ele vai, qualquer fã de tactics irá aproveitá-lo por muitas e muitas horas.

Prós

  • Mecânicas de jogo oferecem variedade para a estratégia;
  • Valorização do tempo e do esforço do jogador;
  • Personagens carismáticos;
  • Altas doses de bom humor com alguns momentos interessantes de crítica social.

Contras

  • Alguns problemas de visualização dos mapas.
Disgaea 4 Complete+ – PC/PS4/Switch – Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Ives Boitano
Análise produzida com cópia digital cedida pela NIS America
Siga o Blast nas Redes Sociais

é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Você pode compartilhar este conteúdo creditando o autor e veículo original (BY-SA 3.0).