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Análise: Bite the Bullet (Multi) é um buffet que serve RPG, roguelite e tiro com qualidade

A mistura de sabores, ainda que não digna de três estrelas Michelin, oferece uma experiência run-and-gun divertida.

Um game, acima de tudo, deve sempre focar em ser divertido e agradável. Afinal, jogamos pelo entretenimento que o título pode oferecer, seja qual for o seu gênero. Seguindo essa premissa, Bite the Bullet (Multi) é um jogo repleto de ação e exploração que, mesmo com alguns defeitos, apresenta uma incrível e inusitada proposta que permite ao jogador sair mastigando tudo pelo caminho. Pegue sua escopeta e não esqueça os guardanapos, pois vamos começar a análise.

Um cardápio bem recheado

Tal como uma boa refeição, o mais importante em um game não é necessariamente ter um belo acabamento ou detalhes muito elaborados. Enquanto um prato deve ser saboroso, o que importa em um jogo é ele trazer muita diversão ao jogador. Claro que o ideal é sempre buscar a produção de uma obra-prima, mas ter boas experiências eletrônicas é a maior prioridade.
 
Lançado em 13 de agosto para PC, Xbox One e Nintendo Switch (uma versão para PS4 está a caminho), Bite the Bullet seguiu essa receita com méritos. Produzido pela Mega Cat Studios e publicado pela Graffiti Games, o game indie traz uma divertida aventura roguelite que mistura tiro e plataforma com um curioso diferencial: poder sair mastigando tudo o que o jogador ver pela frente.
Uma criativa e emocionante aventura
Embora essa explicação seja um pouco estranha, ela é bem acurada. O protagonista do game pode literalmente devorar inimigos e objetos, que proporcionam recursos valiosos. O cardápio inclui zumbis, plantas e até robôs. Tudo representado com um visual retrô muito bonito, contando com algumas animações bem caprichadas.
O jogo procura usar o bom humor em todos os diálogos
O estilo escolhido é ótimo, com cenários e personagens carismáticos e originais. O bom humor permeia boa parte do game, embora algumas vezes as piadas sejam um pouco forçadas. É uma pena que menus e cenas de diálogo estejam bem abaixo do nível geral. Efeitos sonoros e trilha sonora são agradáveis, com foco em um estilo voltado ao heavy metal.

Você é o que você come

Bite the Bullet se passa em um futuro distópico, no qual uma crise na produção de comida levou à invenção de um dispositivo que permite aos humanos consumirem qualquer coisa. A contrapartida é que, dependendo do “alimento”, mutações, vantajosas ou não, podem aparecer no corpo. Devido às complicações que surgiram no processo, um grande êxodo espacial reduziu a população na Terra.
 
Nesse contexto, uma empresa chamada DarwinCorp contratou os mercenários Chewie e Chewella (à escolha do jogador), para catalogar os DNAs dos mutantes espalhados pelo planeta. Algumas surpresas irão surgir pela história, levando a interessantes desdobramentos no enredo. Particularmente, achei a premissa bem legal e os diálogos divertidos, mesmo com algumas traduções um pouco ruins.
São muitas opções para consumir ao longo do game
É interessante notar que o nome “Bite the Bullet” combina bem com a proposta do game. Afinal, podemos literalmente “morder as balas” que são atiradas contra o personagem, além dos inimigos que as disparam. A questão é que a expressão em inglês também pode ser entendida como decidir fazer alguma coisa difícil que estava sendo adiada.
Prepare-se para uma boa dose de desafio, sobretudo nos combates
Ou seja, o jogador pode esperar um game com dificuldade razoável, sobretudo pela grande quantidade de inimigos na tela e pelos sistemas de movimentação e tiro que compõem o título (mais sobre isso em seguida). Nada, entretanto, que comprometa a experiência, pois o jogo proporciona muitas opções e recursos para o jogador avançar e se divertir.

Mastigue bem antes de engolir

As fases consistem em vários níveis com plataformas e inimigos, incluindo algumas partes secretas nos cenários. Ao final de cada nível, temos um combate contra um chefe, que segue a boa e velha mecânica de se transformar ao longo da batalha. Acredito que temos um equilíbrio adequado entre exploração e luta, resultando em desafios bem divertidos.
As lutas contra os chefes são destaques do game
Infelizmente, a jogabilidade não está completamente à altura da boa proposta de Bite the Bullet. Ela se assemelha bastante à série Metal Slug, incluindo a presença de armas como metralhadoras, escopetas e lança-chamas, além de algumas mais malucas como o canhão de bicho (que dispara animais aleatórios). Só que ela não é refinada o suficiente, sobretudo nos pulos. Se movimentar pelas plataformas e atirar pode ser complicado em certos momentos, resultando em perdas bobas de vidas preciosas.
Temos um vasto arsenal para enfrentar os inimigos
Felizmente, o game conta com um sistema generoso de checkpoints, tornando as partidas mais acessíveis. São mais de 60 níveis, 40 tipos de inimigos (todos comestíveis) e uma imensa árvore de habilidades, tornando este run-and-gun um indie bastante robusto. Também temos um modo cooperativo local disponível para tornar as jogatinas ainda mais interessantes.

Cuidado com a dieta

Ao enfrentar um inimigo, é possível destruí-lo ou então nocauteá-lo para poder consumi-lo. Cada tipo de alimento, incluindo itens encontrados pelos cenários, rende proteínas, gorduras e calorias. Esses elementos afetam a velocidade da movimentação, a resistência ao dano e outros atributos do personagem, além de poder conferir habilidades como invisibilidade ou escudos protetores.
Os cenários são bem bonitos e auxiliam no clima do jogo
Proteínas, gorduras e calorias também são recursos usados em outras situações. É possível customizar as armas, aumentando o dano base ou obtendo habilidades passivas. Além disso, os recursos sobressalentes podem ser regurgitados em certos pontos da fase para gerar pontos, que por sua vez podem ser gastos na generosa (e confusa) árvore de habilidades. Ela permite customizar o personagem de acordo com o gosto do jogador, incluindo poderes especiais que resultam de cada classe: herbívoro, carnívoro, onívoro e robovoro (comer somente robôs e máquinas).
As muitas opções de customização estão escondidas em algum lugar
Ou seja, é possível ganhar habilidades exclusivas ao manter uma dieta estrita; mais uma ideia que achei muito legal, aumentando a relação de risco e benefício durante as partidas. Para completar, é possível utilizar uma transformação à la Incrível Hulk, chamada Zombro, que transforma o personagem em uma criatura poderosa que destrói tudo em seu caminho.

Quase uma indigestão de conteúdos

A quantidade de customizações, inimigos e itens em Bite the Bullet é bastante significativa para um indie. Armas podem ser melhoradas de várias formas, as refeições podem conferir poderes e recursos diferentes, a árvore de habilidades é vasta, os vilões são bem variados... Ou seja, o jogador precisa aprender muita coisa para avançar.
Sim, é uma arma de disparar rosquinhas
O problema é que o game introduz adequadamente apenas uma pequena parte dessas informações. Faltam mais detalhes sobre como funcionam certos elementos, que só são plenamente entendidos por meio de tentativa e erro. Como o título tem uma ação frenética, nem sempre temos tempo para refletir sobre o que está acontecendo e aprender os meandros do jogo.
As opções para obter armas mais poderosas são generosas
Por exemplo, demorei bastante para notar que a gordura acumulada torna o personagem mais lento, mas mais resistente ao dano e que proteínas aumentam o limite máximo de vida. Some essas diversas mecânicas “escondidas” com a já comentada jogabilidade exigente e temos um game que pode ser mais difícil que o ideal. Longe de impossível, mas é preciso ter dedicação e habilidade para avançar.
Manter-se no controle dos nutrientes é vital para a saúde (e vencer no game)
A sensação final é de que o título poderia ter ficado no forno por mais um tempo. Bite the Bullet transborda carisma e qualidade, com mecânicas originais e divertidas. Um pouco mais de polimento e ele seria um run-and-gun incrível e talvez um dos melhores do gênero. Quem sabe atualizações futuras possam melhorar a receita e torná-lo ainda mais saboroso.

Pronto para repetir?

Com uma ideia básica interessantíssima, Bite the Bullet (Multi) é como um daqueles tradicionais restaurantes simples tipo buffet. Por um lado, você vai encontrar muita coisa boa, como visuais bonitos, desafios divertidos e uma grande quantidade de conteúdo para explorar. Por outro, a sofisticação e o cuidado nos detalhes ficarão no segundo plano. No final, o resultado ainda é um bom game, perfeito para quem adora saborear um bom roguelite de tiro, acompanhado com elementos de plataforma e RPG.

Corra, atire e coma para vencer em Bite the Bullet

Prós

  • Proposta original e muito divertida;
  • Mecânicas de jogo interessantes, explorando com competência o conceito do game;
  • Visual retrô é bonito e funciona bem em quase todos os momentos;
  • Jogabilidade é cheia de recursos, oferecendo lutas e explorações divertidas;Boa quantidade de fases, inimigos e customizações para descobrir.

Contras

  • Menus e diálogos poderiam ser melhor acabados;
  • Alguns sistemas e mecânicas, como o pulo, os recursos e as atualizações, carecem de mais aprimoramentos e detalhes.
Bite the Bullet – Multi – Nota: 7.5
Versão utilizada para avaliação: PC
Revisão: Ives Boitano
Análise produzida com cópia digital cedida pela Graffiti Games

é produtor de conteúdo sobre games desde 2016 e um grande fã da décima arte, embora não tenha muito tempo disponível para ela. Seus games favoritos (que formam uma longa lista) incluem: KH, Borderlands, Guitar Hero, Zelda, Crash, FIFA, CoD, Pokémon, MvC, Yu-Gi-Oh, Resident Evil, Bayonetta, Persona, Burnout e Ratchet & Clank.
Também encontra-se no Twitter @MatheusSO02 e no OpenCritic.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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