Análise: Against The Moon (PC) — enfrentando a Lua em batalhas táticas implacáveis

Um sistema de combate interessante é o principal destaque deste título indie, mas conteúdo limitado e dificuldade desbalanceada atrapalham a experiência.

em 02/10/2020

Against The Moon mescla elementos de estratégia, tabuleiro e montagem de baralhos para criar um jogo por turnos único. As batalhas são repletas de situações complicadas e, para vencer, precisamos usar com cuidado os poucos recursos disponíveis — às vezes até mesmo somos forçados a sacrificar unidades para receber menos dano. As mecânicas são bem interessantes, porém problemas de balanceamento e quantidade reduzida de conteúdo impedem que o título se destaque.

Enfrentando a Lua em uma jornada complicada

Em uma Terra alternativa, a humanidade criou criaturas bizarras chamadas de Furos, que auxiliavam as pessoas em suas tarefas. No entanto, tudo mudou quando a própria Lua usou seus poderes para controlar os monstros, que devastaram o planeta. Os sobreviventes se refugiaram em uma cidade-fortaleza, vivendo com medo e fome. Depois de muitos anos, a esperança surge na forma dos Ultori, super-humanos sintéticos capazes de derrotar os Furos. Sendo assim, os grupos de guerreiros vão se aventurar para fora da cidadela para tentar acabar com a tirania da Lua.

As campanhas de Against The Moon são pontuadas por combates por turnos que combinam posicionamento e cartas. As arenas têm áreas para os aliados e para os oponentes, e elas são divididas em três raias. Em cada turno, podemos usar energia para invocar unidades ou para executar feitiços diversos, e, quando a rodada termina, o dano é aplicado simultaneamente em todos aliados e inimigos. O jogo traz informações claras e precisas dos valores de ataque, o que permite saber exatamente o resultado das nossas ações.


Para vencer a maioria das batalhas, é necessário derrotar o comandante inimigo, que se encontra atrás de todas as fileiras de unidades. Sendo assim, precisamos primeiro derrotar todos os oponentes menores para conseguir alcançar o mestre. A mesma regra se aplica aos aliados, que precisam proteger um sarcófago que contém a divindade e mentora Arx, com a diferença de que o jogador tem à disposição os Ultori, heróis mais poderosos com habilidades únicas e maior resistência. Pelo caminho, é possível obter ou remover cartas, assim como melhorar heróis e unidades.

Against The Moon conta com duas campanhas tradicionais e um modo roguelike. As aventuras de história apresentam o mundo e as mecânicas do jogo por meio de eventos e batalhas fixas. Já a modalidade roguelike Luma Run gera uma jornada com desafios e mapas únicos a cada tentativa, e ser derrotado significa recomeçar tudo. Como incentivo, completar os modos libera personagens e cartas para serem utilizados em partidas futuras, assim como rotas mais difíceis na modalidade roguelike.


Fazendo sacrifícios para superar desafios estratégicos

O combate de Against The Moon parece simples em um primeiro momento, afinal basta colocar unidades nas raias certas para impedir dano ou acertar o comandante inimigo. No entanto, rapidamente situações complexas aparecem, exigindo estratégia meticulosos.

Em boa parte dos embates as forças inimigas são maiores que as nossas, com direito a criaturas com poderes especiais, como proteção contra feitiços ou então fortalecimento ao ter unidades similares em campo. Em cada turno temos quantidade de energia limitada para ativar as cartas, sendo assim, muitas vezes, precisamos fazer escolhas complicadas para minimizar os danos, como sacrificar criaturas e heróis para proteger Arx. A dificuldade é acentuada e basta um pequeno erro para perder o combate, contudo é muito recompensador conseguir superar uma situação complexa.


Diferentes tipos de unidades e feitiços permitem montar várias estratégias. Uma criatura humanoide, por exemplo, é capaz de danificar imediatamente um inimigo na posição espelhada assim que chega na arena. Pequenos drones criam escudos para proteger uma raia, mas têm força insignificante. Um robô apresenta ataque alto, mas ele só consegue agir no turno seguinte, o que demanda protegê-lo em um primeiro momento. Fora isso, os heróis e Arx contam também com movimentos especiais que podem mudar completamente o rumo da partida. O baralho de cartas e as habilidades dos heróis são construídos durante a jornada, logo é importante ter visão de futuro e improvisação. A variedade é razoável e eu me diverti descobrindo as sinergias e possibilidades.

O universo de ficção científica é explorado nas duas campanhas de história. Elas são repletas de cenas não interativas que apresentam os personagens e detalhes da trama, e achei interessante a construção do mundo, mesmo sendo um pouco superficial. O visual também chama a atenção com elementos 2D e cenários com personalidade. É tudo um pouco simples, porém atende o propósito.


Atrapalhado pela aleatoriedade

Against The Moon tem mecânicas interessantes e bem pensadas, mas uma série de problemas compromete a experiência, sendo o principal deles a falta de balanceamento. Durante as partidas, algumas batalhas são banalmente fáceis e basta fazer qualquer coisa para vencer. Já outras são extremamente difíceis, pois inimigos bastante poderosos e resistentes aparecem com frequência e somos rapidamente sobrepujados. Essa questão é mais forte no modo roguelike, mas até mesmo as campanhas de história, que apresentam eventos fixos, têm picos desagradáveis de dificuldade. Para piorar, o título não oferece informações para que o jogador possa se preparar de antemão, e o mapa só indica as recompensas e se há um chefe naquele espaço.

Talvez o detalhe mais irritante seja a aleatoriedade. Ao meu ver, um bom jogo de estratégia te permite entender as ações dos inimigos e às vezes até mesmo manipulá-las a seu favor. Against The Moon, ao contrário disso, usa elementos imprevisíveis durante os embates: parece não existir uma lógica clara do próximo movimento do inimigo, que dispõe suas unidades de qualquer jeito no campo de batalha. Isso, em combinação com a falta de balanceamento, cria situações praticamente impossíveis de serem vencidas.


Em uma missão da história, por exemplo, eu precisava proteger um personagem por um número determinado de turnos, mas o inimigo tinha uma unidade que aumentava sua vida e ataque a cada turno — rapidamente entendi que eu tinha que ignorar o monstro e focar em derrotar o comandante. Porém, por causa da aleatoriedade, às vezes o jogo colocava o herói a ser protegido e a criatura poderosa na mesma raia, o que significava derrota certa. Precisei reiniciar várias vezes a missão até que viesse uma configuração razoável. Um pouco de aleatoriedade é importante para trazer variedade e imprevisibilidade, no entanto esse aspecto carece de ajustes aqui.

Por fim, Against The Moon sofre com pouco conteúdo. A quantidade de inimigos e batalhas é pequena, e em uma mesma campanha roguelike elas acabam se repetindo — e basta utilizar a mesma tática para vencê-las. Falta também maior variedade de unidades e feitiços, tanto é que depois de algumas partidas eu já tinha visto praticamente tudo. Essa variedade limitada de conteúdo e questões de balanceamento me trouxeram a sensação de estar jogando um título incompleto, praticamente uma versão pré-lançamento. Os desenvolvedores divulgaram que incluirão novos heróis, cartas e campanhas no futuro, mas fico me perguntando se talvez não fosse uma estratégia melhor lançar o título no formato Acesso Antecipado para ajustar esses detalhes aos poucos.


Uma jornada que precisa de ajustes

Against The Moon apresenta mecânicas ímpares, mas a execução deixa um pouco a desejar. O combate, que mescla cartas, posicionamento e estratégia, se destaca com conceitos criativos e dificuldade acentuada — é bastante recompensador fazer sacrifícios e montar sinergias para superar situações tensas. Diferentes tipos de heróis, unidades e feitiços permitem criar inúmeras táticas, e a ambientação marcante complementa a experiência. Infelizmente o jogo sofre com problemas notáveis de desbalanceamento, elementos aleatórios que atrapalham aspectos táticos e conteúdo limitado. No fim, Against The Moon apresenta uma base sólida, mas que ainda precisa ser polida para alcançar seu real potencial.

Prós

  • Conceito principal único que mistura posicionamento e cartas em batalhas estratégicas;
  • Boa variedade de situações e opções na hora de montar as táticas;
  • Ótima ambientação com mundo bem pensado e bom visual.

Contras

  • Dificuldade desbalanceada e inconsistente;
  • Elementos aleatórios atrapalham os aspectos estratégicos em alguns confrontos;
  • Quantidade reduzida de conteúdo.
Against The Moon — PC — Nota: 6.5
Revisão: José Carlos Alves
Análise produzida com cópia digital cedida pela Black Tower

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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