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Tropicalia (PC): um sólido RPG brasileiro focado em gameplay

Inspirado em clássicos, o jogo usa o folclore tupi-guarani como pano de fundo para uma jornada marcada por bastante combate e exploração.


Tropicalia é um RPG brasileiro desenvolvido por Paulo Henrique Franqueira no RPG Maker. Ambientado no Brasil antes da chegada das caravelas portuguesas, o jogo conta com elementos do folclore tupi-guarani. Com inspiração em clássicos do gênero, ele está em Acesso Antecipado no Steam e já oferece uma experiência sólida de exploração e combate.

Uma jornada de combate e exploração no Brasil

Kaique é um pequeno guerreiro guarani que teve sua namorada sequestrada. Após passar um tempo recluso, ele agora parte em uma jornada. Sem um grande norte para guiar o jogador, Tropicalia opta por contar sua história em pequenos diálogos opcionais com os outros personagens. Até mesmo a informação que eu mencionei pode passar despercebida pelo jogador durante uma boa porção do jogo.

De fato, a principal preocupação do jogo é com gameplay. Esse foco é claro, sendo importante que o jogador tenha isso em mente antes de explorá-lo. Afinal, esperar uma narrativa mais densa e recheada de diálogos e personagens seria uma forma fácil de se desapontar com o jogo.

Com inspiração em mecânicas de jogos clássicos, Tropicalia usa o folclore tupi-guarani como pano de fundo para uma jornada incessante de combates baseados em turnos e exploração. O título oferece um mundo aberto e simplesmente deixa o jogador livre para avançar como quiser.


Obviamente, isso não é uma tarefa simples nem trivial. É necessário gastar um bom tempo participando de batalhas para treinar o personagem. O título usa um sistema baseado em turnos, mas, assim como nos RPGs de Mario, após selecionar o ataque, há uma espécie de quick-time event. Aperte no timing correto e Kaique irá desferir o seu golpe com dano extra ou se defender melhor dos seus adversários.

A barra no canto superior direito indica o timing para atacar.
Com isso, as batalhas se tornam um pouco mais dinâmicas, exigindo o input do jogador. No entanto, vale destacar algumas questões de como elas funcionam no momento. A primeira delas é o fato de que a barra de timing só aparece quando o jogador ataca. Devido a isso, defender-se depende de o jogador perceber outros elementos na tela e especular o timing correto.


Além disso, o indicador de bônus é apenas um texto de “Extra!” no canto superior da tela e não chama muita atenção. Seria mais adequado ter uma animação específica para o dano extra e para o bloqueio. Considerando-se a inspiração do jogo, também é uma pena a ausência dessa mecânica para as habilidades de forma geral. Afinal, além do ataque físico comum, Kaique pode usar habilidades variadas como magias, buffs e debuffs.

Ao acertar o timing, a única indicação é a palavra "Extra!" no topo da tela.

Cada batalha é uma fonte importante de experiência e pontos que devem ser gastos para obter novas habilidades, o que vai além dos golpes de combate. Também podem ser aprendidas técnicas úteis para a exploração, como embrenhar-se pela mata mais densa, nadar, pescar ou acender tochas. De posse delas, o jogador poderá acessar novas áreas e obter novos itens. Há também um sistema de criação de itens em que é possível criar armas, armaduras e consumíveis já vistos anteriormente gastando materiais específicos.

Uma experiência hardcore

No entanto, é importante tomar cuidado na hora de progredir. O jogo conta com um tutorial e duas dificuldades, mas mesmo a mais fácil pode ser complicada de lidar. Sem direção definida, é fácil esbarrar em áreas com inimigos muito mais fortes, assim como nos RPGs mais antigos. Felizmente, o jogo não conta com um sistema de game over. Inspirado na série Souls, morrer em Tropicalia significa perder os pontos. Experiência e itens são mantidos.
Novas habilidades demandam gastar pontos obtidos em batalha.

Ainda é possível recuperá-los caso o jogador volte ao local onde perdeu e vasculhe o mapa. Obviamente, o lugar continuará perigoso, sendo necessário avaliar bem as condições do personagem para sobreviver e triunfar. Também vale destacar que não há moeda no jogo, que representa bem a prática do escambo. A única lojinha secreta que encontrei utilizava um interessante sistema de trocar os itens do jogador por pontos de habilidade.

Os itens de forma geral também têm um funcionamento bem peculiar. Primeiramente, todos os equipamentos possuem durabilidade. Além disso, mesmo armas e escudos de mesmo tipo podem ter atributos diferentes. Os conceitos são interessantes e fazem com que o jogador valorize o gerenciamento de recursos. Porém, reparei em um problema durante uma quest. Quando recebi uma missão de entregar um cocar, eu já tinha duas versões do item. Decidi completar a quest, mas o jogo não me perguntou qual deles gastar. Com isso, perdi um item e fiquei sem saber se a versão gasta foi a mais forte ou a mais fraca.
Missões retiram quase todos os seus itens e o limite baixo te forçar a procurar novamente por eles.
Vale destacar também que os materiais comuns são limitados a quatro de cada. O valor é muito baixo e as missões envolvem usualmente gastar todos ou boa parte deles. Essa escolha de design acaba sendo uma complicação desnecessária que é mais um incômodo extra do que algo que realmente faça sentido para a experiência de alguma forma.

Outra escolha de design bastante específica é a presença de apenas um save. No entanto, ao contrário da limitação de materiais, isso não prejudica o jogo de nenhuma forma. No longo prazo, Kaique não tem múltiplas builds possíveis, então a escolha não impede o jogador de fazer nada no jogo.
Cuidado com combos de status negativos.
De forma geral, Tropicalia já oferece uma experiência bastante completa, mas há alguns pequenos detalhes que podem ser melhorados durante o Acesso Antecipado. Além da questão do incentivo aos jogos nacionais, para quem é fã de RPGs antigos e quer um jogo mais focado em gameplay do que em história, vale bastante a pena conferir.

Revisão: Ives Boitano

é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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