Análise: The Last Campfire (Multi) é uma linda e reconfortante fábula sobre empatia e esperança

Acompanhe Ember em sua mágica jornada para encontrar as chamas da esperança e acender a última fogueira.

em 13/09/2020
De vez em quando surgem jogos que nos pegam desprevenidos, que cortam nossos corações de uma maneira indescritível, mas não necessariamente por conter um final triste e sim um contexto emocional bem desenvolvido. Este é o caso de The Last Campfire, um indie game publicado pela Hello Games para Apple Arcade, PC, PlayStation 4, Xbox One e Nintendo Switch. Com belas mensagens de empatia, perda e esperança, esta encantadora fábula dos criadores de LostWinds (Multi) acompanha a jornada de Ember por uma região selvagem cheia de gente perdida, criaturas estranhas e ruínas misteriosas.


Uma empática brasa perdida em busca de significado

Em meio à escuridão, pequenas figuras encapuzadas com faíscas azuis surgem velejando em barquinhos de madeira. Elas flutuam pela água até a entrada de um grande portão, mas por desventura uma delas quebra seu remo e frustradamente acaba seguindo as correntezas para dentro de uma floresta escura, onde a esperança se perdeu.

É assim que começa The Last Campfire, um jogo que mescla elementos de contos infantis e fábulas, em que uma narradora com voz serena conta a história de Ember, uma brasa que explora um cenário entre mundos para acender as fogueiras que abrem as portas do caminho de casa. Cada fogueira está situada no centro de três biomas distintos: a Floresta, o Pântano e a Caverna, que abrigam personagens conhecidos como Forlorn; brasas que abandonaram a esperança.

Com empatia, Ember tenta revitalizar este sentimento nas criaturas, seja resolvendo quebra-cabeças ou encarando personagens que não acreditam no seu sucesso, como os Passarinhos. Essas criaturas amigáveis criaram um lar para as brasas que restaram, mas acabaram desistindo de acreditar nas que estão perdidas e espalhadas pelo mundo, por isso tentam convencer Ember de que elas não valem a pena. Não ouvindo seus conselhos, o protagonista vai em busca de significados sobre si mesmo e o mundo em que habita, tentando restaurar a esperança perdida.

The Last Campfire é uma linda e emocionante história sobre bondade e empatia, onde um personagem se preocupa em ajudar a todos que se sentem desmotivados a seguir em frente. E isso não se restringe aos Forlorn: existem outras criaturas, como um cozinheiro acolhedor preparando um ensopado delicioso e um robô que perdeu o olho que precisam da sua ajuda durante a aventura, e é nestes encontros que Ember mostra sua luz.

No entanto, o título também tem moderação e apresenta personagens que rejeitam a ajuda do protagonista, mostrando quem nem todo problema possui uma solução e que alguns ainda não estão prontos o suficiente para continuar. É notável como o jogo enquadra tais aspectos de maneira sutil e comovente, e são estas pequenas partes que deixam tudo mais bonito.

Infelizmente, o jogo não oferece a opção de narração em português, o que pode quebrar um pouco da imersão para quem só é fluente no idioma brasileiro, pois é através dos diálogos narrados que as ações e os acontecimentos do jogo vão sendo traçados, transformando tudo em uma verdadeira obra de arte interativa, quase como um audiobook. Apesar disso, você pode acompanhar tudo através de legendas, o que não necessariamente deixa a experiência ruim, mas retira um pouco da magia do título narrado.

Resolvendo puzzles para revitalizar a esperança e acender a última fogueira

O objetivo em The Last Campfire é acender as fogueiras de cada um dos três biomas para abrir uma porta que dá acesso a outra parte do mundo. Para fazer isso é necessário explorar um mapa semi-aberto e encontrar os Forlorn petrificados. Ao tocar nas esculturas, Ember é transportado para uma nova paisagem que apresenta um quebra-cabeça inédito, e ao solucionar o desafio você tem acesso a uma chama azul enjaulada que reacende aos poucos o sentimento de esperança. Quanto mais Forlorn você revitalizar, mais forte fica a chama da fogueira central.
A primeira fogueira acesa depois de revitalizar a esperança dos Forlorn.
Os temas dos quebra-cabeças refletem os problemas e os medos que os personagens enfrentam. Por exemplo: existe um Forlorn ansioso cujos sentimentos se manifestam na forma de um labirinto com tubos atravessando o caminho e impedindo a passagem, e conforme você avança na solução, a narração fornece um contexto maravilhoso sobre a situação.

The Last Campfire conta com uma variedade de quebra-cabeças que impressionam pelo design e a criatividade. Nenhum desafio é difícil ao ponto de ser impossível ou custoso de resolver, mas eles conseguem trazer um nível de dificuldade satisfatório e divertido. Você também terá à sua disposição uma espécie de flauta que permite movimentar peças como um imã para resolver diferentes quebra-cabeças, tornando a experiência bem mais interessante com as inúmeras possibilidades que podem ser criadas. Além disso, existem puzzles em que é necessário manter uma chama acesa até o fim do caminho, mas para isso é preciso passar por alguns obstáculos que tentam apagá-la.
Neste quebra-cabeça é necessário movimentar espelhos com a "flauta" para refletir a luz até uma alavanca que aciona uma plataforma que dá acesso à chama da esperança enjaulada.
A jogabilidade é fluida e a movimentação do personagem durante a aventura em terra firma é adequada; nem mesmo a câmera atrapalha. No entanto, na segunda metade da campanha é necessário movimentar o protagonista em um barquinho utilizando o direcional L3 do DualShock 4 (se você estiver jogando no PlayStation 4) e virar para a direção desejada apertando o comando X para navegar. Particularmente, achei este comando meio problemático, às vezes deixando a movimentação do personagem complicada e travada, pois era necessário apertar repetidamente e em sequência o mesmo botão para o barco velejar de maneira precisa. Uma falha simples, mas nada que impediu o progresso no jogo.

Vibrante aos olhos e agradável aos ouvidos, mas com algumas falhas

Explorar cada um dos biomas de The Last Campfire é muito prazeroso graças a uma paleta de cores deslumbrante e ao design minimalista, mas igualmente vibrante. O título foi desenhado para encantar os olhos e os ambientes são limpos, bem feitos e transparecem alegria ao jogador. A trilha sonora é igualmente reconfortante e consegue intensificar os tons emocionais com belos acordes de piano e violino.
Um mundo semi-aberto vibrante e colorido.
Entrelaçados a tudo isso estão os personagens, as pequenas brasas encapuzadas que acendem uma chama dentro de si. É notável como você aprenderá a amar estas pequenas criaturas no decorrer da aventura, isso porque o forte impacto emocional e os sentimentos de empatia vindos por meio da narrativa acabam mexendo com a sua mente fora da tela.

Ao me apaixonar pelo protagonista e sentir meu coração aquecido, também tive escolhas difíceis a fazer. Em um determinado ponto da campanha, Ember é confrontado pelos Passarinhos sobre o motivo que o levou a fugir do habitat das aves anteriormente, e neste momento duas opções de diálogo foram disponibilizadas: mentir ou contar a verdade.

Em um primeiro momento quis mentir, mas aquela não era uma típica ação que o protagonista faria. Por outro lado, também tive medo de contar a verdade e ocasionar uma punição mais severa à brasa. Apesar de essas ações de diálogos não afetarem significativamente o andamento da história, foi uma situação adversa, pois a amabilidade de Ember é confortável e queremos protegê-lo e abraçá-lo como alguém próximo.

The Last Campfire possui muitas qualidades que tornam o título memorável, como ótimos personagens e uma trilha sonora e conceito artístico excelentes, mas também existem alguns impasses na forma de problemas de desempenho e bugs na versão de PlayStation 4. Determinados locais sofrem uma queda expressiva na taxa de quadros por segundo e houve uma situação em que prendi Ember dentro de uma parede e tive que reiniciar o jogo para continuar. Apesar disso, nenhum destes problemas atrapalhou a jogabilidade ou o progresso da história de maneira excessiva e muito provavelmente eles devem ser corrigidos em futuras atualizações.

Uma radiante fábula sobre a luz que existe em cada um de nós

The Last Campfire é uma grata surpresa e uma radiante fábula interativa sobre a luz e a bondade que existem em cada um de nós. É um título com personagens adoráveis para aquecer nossos corações e uma viagem inesquecível por um mundo mágico, vibrante e contemplativo. Embora tenha alguns leves problemas de desempenho e de jogabilidade, além da ausência de dublagem em português, esta linda e reconfortante história sobre empatia, perda e esperança contextualiza cada quebra-cabeça de maneira brilhante, entregando uma experiência simples, sensível e alegre para todas as idades.

Prós

  • Uma linda e reconfortante história com mensagens de empatia, perda e esperança;
  • Mundo visualmente belo com conceito artístico deslumbrante;
  • Personagens amáveis;
  • Puzzles interessantes e divertidos;
  • Trilha sonora excelente;
  • A contextualização entre os quebra-cabeças e a narrativa é maravilhosa.

Contras

  • Alguns problemas de desempenho e bugs;
  • A navegação do personagem em barcos não é muito otimizada;
  • Ausência de dublagem em português.
The Last Campfire - Apple Arcade/PC/PS4/XBO/Switch - Nota: 8.5

Versão utilizada para análise: PS4

Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital adquirida pelo próprio redator
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é entusiasta e apreciador de jogos com conceito artístico minimalista e narrativas de significado profundo. Acredita na potencialidade de cada experiência interativa e tenta extrair delas sentimentos humanos e existenciais. No GameBlast também escreve notícias, análises e especiais; no tempo livre produz roteiros autorais de séries e filmes. Criatividade, imaginação e curiosidade são algumas de suas características marcantes.
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