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Análise: REZ PLZ (Multi): um plataforma sobre morrer para prosseguir

No jogo de plataforma, a morte dos personagens é uma mecânica necessária para avançar.


Desenvolvido pela Long Neck Games e publicado pela Graffiti Games, REZ PLZ é um game de plataforma focado em puzzles. Seu principal diferencial está no fato de que a morte dos personagens jogáveis é utilizada para prosseguir pelas fases. Com um level design sólido, mas com alguns problemas de polimento, o jogo acaba apresentando uma experiência abaixo do seu potencial.


Dois irmãos, magia e muitas mortes


Em REZ PLZ, o jogador controla dois irmãos que estudam magia. Ainda inexperientes, eles acabam sendo forçados a uma jornada cheia de percalços para voltar à escola e, eventualmente, salvar o mundo. A história é repleta de humor, sendo até mesmo as várias mortes e outras situações tensas do jogo tratadas como comédia.

São, ao todo, trinta fases divididas em cinco mundos: uma caverna recheada com lava, masmorras sangrentas, o interior de um grande monstro, uma floresta sombria e uma espécie de mundo espiritual baseado em cristais. Conforme passa pelas áreas, o jogador irá receber novos poderes e precisará dominá-los para avançar. Há também estágios de desafio extra no modo Contenda e a possibilidade de co-op local.


Usualmente, as fases envolvem elementos de plataforma tradicionais como pular, ativar alavancas e enfrentar criaturas e armadilhas variadas. Contudo, para explorá-las, o jogador precisará coordenar as ações dos dois irmãos. Algumas plataformas estão em lugares muito altos que só podem ser atingidos com esse esforço, por exemplo.

Porém, o que realmente chama a atenção é que muito da progressão depende da morte dos personagens. Para pular por uma área de espinhos, pode ser necessário que um dos irmãos se sacrifique e sirva de piso para o outro. Em outra área, dois botões só podem ser ativados cortando um deles no meio. Com a possibilidade de ressuscitar os mortos durante o progresso, o jogador vai passar por essa situação várias vezes. É um conceito bem interessante e usualmente bem implementado. Infelizmente, os trechos que explicam o que deve ser feito nem sempre são claros o suficiente.

Um bom exemplo disso está logo no primeiro mundo. Quando é necessário queimar um dos personagens em cima de uma espécie de altar para poder ativá-lo, o jogo não explica o que deve ser feito. Tentei resolver o problema de várias formas, até mesmo recorri a redirecionar uma bola de fogo que estava bastante distante do local. A pior parte é que da primeira vez eu acertei o outro personagem sem querer, mas, mesmo estando praticamente em cima dela quando pegou fogo, não foi realizada a ativação.

Em uma das vezes que joguei essa fase, o inimigo que deveria cortar a cabeça dos personagens não reapareceu.

Também encarei outros bugs, como objetos necessários que desapareceram do cenário e não foram restaurados. Com isso, tive que reiniciar áreas algumas vezes porque era impossível prosseguir. Apesar de pontuais, esses problemas acabam dando a impressão de que o jogo precisa de um pouco mais de polimento.

Além do level design que explora bem o conceito de “morte útil”, vale destacar a qualidade da pixel art. Cada mundo é bem diferente um do outro e todos chamam atenção com sua riqueza de detalhes. Até mesmo os personagens têm conceitos interessantes, como no caso dos humanos, cujos cabeções e olhos largos fogem de um estilo clichê.

Pedras Laz e opções do menu


Vale destacar que existem dois modos de jogo: Clássico e Infinito. O primeiro te oferece um limite de pedras Laz (Lázaro), necessárias para reviver os personagens. Cada um deles começa com 3 delas e, ao longo da fase, é possível obter outras para repor os custos do percurso.

Caso ambos morram, serão ressuscitados gastando uma pedra para cada. Quando o jogador não tiver mais pedras, a “Morte” irá perseguí-lo assim que um dos dois irmãos morrer, forçando-o a reiniciar a fase quando atingido. Também é possível ignorar essa limitação: basta abrir o menu e ativar o modo Infinito. Como o próprio nome indica, ele faz com que o jogador tenha vidas infinitas à disposição, simplificando o processo de aprender a lidar com as fases.

O jogo também conta com um sistema de pontuação que avalia sua performance ao final. Apesar de uma boa ideia, a falta de uma opção rápida para repetir o estágio em busca de uma pontuação melhor deixa o jogador mais propenso a só ignorar esse aspecto e apenas avançar pelas fases. Além disso, existe um botão para reiniciar a fase no menu, mas ele não reseta o número de mortes já obtido naquela tentativa. Uma pena, pois, mesmo sendo perceptível o esforço para criar fases interessantes, esses pequenos detalhes acabam favorecendo que o jogador não explore tanto as fases quanto poderia.

Por fim, existem dois elementos que precisam ser considerados. Primeiramente, a tradução para o português não é tão boa. Se por um lado, é interessante o uso de termos mais coloquiais em alguns trechos, por outro, existem falas claramente quebradas, cujo sentido foi claramente perdido na tradução. Um exemplo claro disso é uma cena em que o personagem está pendurado e é usada a expressão “Hang in there” em inglês e em português fica apenas “aguenta aí”. Quando a personagem deixa claro que se tratava de um trocadilho, a versão em português do diálogo não funciona.

A piada não funcionou...
O outro aspecto são os controles, que seguem um padrão hardcoded. Ou seja, não é possível customizá-los, o que acaba deixando o jogo menos acessível. É uma escolha compreensível, mas teria sido mais interessante oferecer essa opção por se tratar de um jogo de PC. Até porque a escolha de colocar parte do controle no mouse é um completo despropósito para um jogo de plataforma que poderia muito bem usar apenas o teclado.

De modo geral, REZ PLZ é um jogo de plataforma bastante interessante. Existe um trabalho de level design sólido, mas seus vários pequenos errinhos acabam deixando-o aquém do seu potencial. É um título que certamente merece ser apreciado por fãs do gênero, mas que deveria receber mais polimento.

Prós

  • Conceito de morte como necessário para a progressão é bem explorado;
  • Modo Infinito é convidativo para quem tem menos habilidade sem atrapalhar o desafio;
  • Pixel art que chama a atenção, com mundos e personagens bem feitos.

Contras

  • Alguns bugs podem forçar o jogador a reiniciar a fase;
  • Tutorial não cobre tudo o que é necessário;
  • Tradução para o português com algumas frases sem sentido;
  • Controles não-customizáveis.
REZ PLZ — PC/XBO/Switch — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: PC
Análise produzida com cópia digital cedida pela Graffiti Games
Revisão: João Pedro Boaventura

é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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