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Análise: West of Dead (PC/XBO) traz um intenso tiroteio no mundo dos mortos

Um visual impactante e um sistema de jogo intuitivo são os maiores destaques deste título indie.


Um pistoleiro em um purgatório em constante alteração é o protagonista de West of Dead, jogo indie de tiro controlado por duas alavancas. Combates intensos que combinam tática, destreza e uso inteligente do cenário como cobertura contra ataques são constantes no título, que conta com várias situações em que a morte está por um fio. Elementos de roguelike trazem variedade ao mundo do jogo, cuja ambientação mistura Velho Oeste e sobrenatural em um visual impactante. Talvez ele seja conservador demais em alguns aspectos, porém não deixa de ser uma experiência notável.

Explorando um purgatório perigoso e distorcido

Um homem recém falecido acorda em um bar do Purgatório sem se lembrar de nada. Quer dizer, ele tem uma única memória: uma figura de preto, bem no fundo de sua mente. O homem decide explorar o local, que está repleto de criaturas estranhas, e logo ele se lembra que seu nome é William Mason. Não só isso, o pistoleiro sente que a tal pessoa de preto de suas memórias pode ter informações importantes, como detalhes de sua vida e como ela terminou. Sendo assim, Mason vai desbravar esse estranho Velho Oeste em busca de respostas, sem se importar com quantas vezes ele precise morrer de novo para alcançar seus objetivos.


West of Dead é um jogo de ação e tiro controlado por duas alavancas, ou seja, uma movimenta o personagem e a outra aponta a mira da arma. Na pele do pistoleiro William Mason, o objetivo é atravessar várias áreas do Purgatório enfrentando inimigos pelo caminho. Durante o combate, o protagonista tem à disposição duas armas de fogo, além de mais dois itens de suporte. A munição e os equipamentos são recarregados constantemente, mas certas ações, como usar um movimento de esquiva, paralisam a recuperação.

Para sobreviver, é essencial usar elementos do cenário: o pistoleiro não recebe dano quando está agachado atrás de algum obstáculo. Além disso, a maior parte das salas está escura, o que impossibilita mirar com clareza, sendo assim é imprescindível ativar lanternas para iluminar os locais. Inimigos agressivos e locais apertados completam a configuração perigosa que Mason precisa enfrentar constantemente pelo caminho. A dificuldade é alta e bastam alguns deslizes para acabar morto (de novo). Durante a jornada o pistoleiro pode encontrar equipamentos melhores, além de se fortalecer por meio de altares que aumentam os seus atributos.


O mundo de West of Dead está em constante mutação com a presença de elementos de roguelikes. Cada partida é diferente, pois a configuração dos mapas e a seleção de equipamentos é alterada. Além disso, ser derrotado significa perder todos os itens e melhorias recomeçar a jornada desde o início. Mesmo assim, existem algumas características permanentes, como runas com habilidades que permitem acessar outras rotas. Também é possível desbloquear novos tipos de armas e equipamentos, o que traz variedade ao jogo aos poucos.

Intensidade e tensão em um Velho Oeste estiloso

Os confrontos de West of Dead são ao mesmo tempo tensos e empolgantes. Na maior parte das vezes, Mason está em desvantagem numérica e é essencial agir com cuidado. O principal motivo é a presença constante de situações que nos forçam a mover frequentemente, como inimigos que perseguem o protagonista e objetos de cobertura que quebram depois de levar muito dano — não dá para simplesmente ficar atrás de algo simplesmente atirando, e estar desprotegido resulta em morte certa. Além disso, a iluminação tem um papel importante: tentar acertar um alvo no escuro é uma tarefa complicada.


Sendo assim, os tiroteios exigem atirar na hora certa, gerenciar o tempo de recarga da munição, saber quando se movimentar e mais, em uma mistura de tática e destreza. Vários tipos de armas e equipamentos permitem montar estratégias distintas, assim como um pouco de experimentação. Na maior parte do tempo as coisas fluem muito bem, no entanto pequenos problemas com os controles incomodam: às vezes a mira automática se perde, principalmente quanto há muitos inimigos em tela, e a ativação do ataque físico é inconstante. Em algumas situações, inclusive, acabei morrendo por causa dessas inconsistências com os comandos.

West of Dead encanta com um visual ímpar em cel shading com uso impactante de contraste e efeitos de iluminação. É instigante explorar essa interpretação sobrenatural do Velho Oeste, mesmo que os locais sejam um pouco batidos, como uma mina, uma cidade abandonada, um pântano. O visual é estiloso, no entanto, às vezes, ele não é claro o bastante e é difícil conseguir distinguir inimigos e perigos — foram várias as vezes em que morri por não conseguir ver de onde veio um tiro. Fora isso, a ótima dublagem de Ron Perlman dá um bom peso à ambientação do jogo e sua história fragmentada.


Pós-vida repetitivo

O ciclo de West of Dead é divertido e explorei o Purgatório várias vezes tentando chegar o mais longe possível. Contudo, após algumas partidas, algumas escolhas e recursos do jogo começam a atrapalhar a experiência.

O maior problema do título é a pequena diversidade de situações e eventos. As áreas do jogo têm a mesma estrutura, ou seja, várias salas com confrontos focados em derrotar inimigos e evitar dano nas coberturas. Inimigos exclusivos são o principal diferencial: o pântano tem criaturas que nos surpreendem saindo da água, as minas estão repletas de morcegos que apagam as lanternas, já a cidade tem atiradores escondidos nas construções. Mesmo assim, após algumas partidas, a repetição se torna cansativa, afinal não há eventos significativos para deixar as tentativas diferentes — senti falta da imprevisibilidade e da variedade que é marca de roguelikes.


Também achei que faltou um pouco mais de criatividade e ousadia nas armas e equipamentos. Há quatro tipos de armas com algumas variações, como balas congelantes, dano crítico ao atirar de uma cobertura ou projéteis que rebatem pelas paredes. Já os equipamentos são mais variados, como bombas que iluminam e atordoam, um emblema que diminui o tempo de recarga da munição ou dinamite que é lançada em arco.

O problema é que as variações têm pouco impacto e não há muito incentivo para experimentação a longo prazo, tanto é que durante as partidas eu encontrava uma configuração eficiente de equipamentos e raramente via motivos para alterá-la. A desenvolvedora podia ter aproveitado o tema sobrenatural para criar armas mais únicas ao invés de simples escopetas ou pistolas. E prepare-se para o grind: boa parte dos equipamentos exige uma quantidade absurda de Pecado, o item deixado por inimigos que funciona como moeda para desbloqueios.


Preso em um bangue-bangue viciante

Ação estilosa e tiroteios altamente estratégicos são os maiores destaques de West of Dead. Os confrontos do jogo exigem domínio de diferentes armas, assim como uso tático dos elementos do cenário, em batalhas intensas e muito divertidas. A ambientação, que mistura a temática de Velho Oeste e elementos sobrenaturais, é ímpar ao empregar iluminação de forte contraste, o que resulta em um mundo impactante e sombrio. Como roguelike o jogo é competente, no entanto uma sensação de repetição pode aparecer a longo prazo por causa da variedade limitada de conteúdo. Mesmo assim, West of Dead é uma experiência única e que vale a pena ser conferida.

Prós

  • Tiroteio empolgante com elementos de destreza, estratégia e uso inteligente de cobertura;
  • Boa diversidade de armas e itens permite diferentes estilos de jogo;
  • Visual em cel shading único com iluminação notável e de impacto;
  • Ambientação interessante que mistura Velho Oeste com elementos sobrenaturais, sendo a dublagem do protagonista um dos destaques.

Contras

  • Pequenos problemas com os controles, como mira e ataque físico;
  • Pouca variedade de situações entre as áreas;
  • Confusão visual atrapalha em alguns momentos.
West of Dead — PC/XBO — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Emanoelly Rozas
Análise produzida com cópia digital cedida pela Raw Fury

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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