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Análise: Warborn (Multi) é um modesto estratégico em turnos com potencial desperdiçado

Comande mechas em um ótimo jogo para quem não é familiarizado com o gênero, mas vai deixar a desejar aos veteranos.

Jogos táticos em turnos são um gênero que consagrou algumas franquias, como Advance Wars e Fire Emblem da Nintendo, XCOM e Civilization. É um gênero que eu pessoalmente curto bastante apesar de não ser tão bom nele quanto gostaria. Ver que ele continua produzindo bons frutos me alegra e sempre que uma nova entrada surge, tenho a curiosidade de me informar e conhecer sobre ela.




Foi em uma dessas que conheci Warborn, um título que à primeira vista me remeteu ao excelente Front Mission (SNES) justamente por conta da ambientação envolvendo mechas e tramas políticas. O título da Raredrop Games não possui mecânicas de RPG como o da Square, mas tem robôs gigantes. Isso foi um chamariz para mim, já que também aprecio muito esse gênero.

Será que Warborn consegue seu lugar ao sol no meio de um gênero tão específico e cheio de títulos memoráveis? Vamos ver.

O sistema Auros

Warborn tem sua história ocorrendo durante um período de incertezas envolto em guerra e política. Cerulia e as colônias espaciais no sistema são o palco do conflito entre quatro facções que estão em constante choque, lutando entre si por controle territorial e influências no sistema. Durante a campanha, assumimos o papel de quatro comandantes, um de cada facção, com habilidades e conflitos pessoais únicos que nos guiarão nas 40 missões disponíveis na campanha principal.
A história gira em torno dos quatro comandantes, com suas respectivas missões
Infelizmente, mesmo que pareça, a narrativa é bem rasa e desinteressante, com raríssimos momentos em que você realmente fica interessado em saber sobre um detalhe de determinado personagem ou fato. Ela apenas cumpre seu papel de guiar a campanha entre uma missão e outra, mas não agrega muito ao ponto de fazer você jogar pela história. A apresentação já ajuda um pouco, com uma direção de arte que lembra desenhos animados do fim da década de 1990 e uma trilha sonora excelente.

Ao combate

Durante a campanha principal, assumimos o papel de cada comandante e seus subordinados, pilotos de robôs gigantes chamados de Variable Armour (VA) em uma série de missões que vão testar as habilidades do jogador em mapas que apresentam uma curva de dificuldade justa, mas não menos desafiadora ao avançar na história. Os objetivos variam entre derrotar todas as unidades do oponente, capturar postos de comando ou defender determinada unidade ou localização.
Os objetivos envolvem capturar estruturas, destruir unidades inimigas ou defender uma posição ou aliado
Cada comandante conta com habilidades passivas únicas que são liberadas no decorrer da campanha e dão vantagens às suas unidades, como permitir que se movimentem mais, tenham um maior alcance de ataque ou mais eficiência no uso de habilidades, como reparar unidades ou dar a elas aprimoramentos temporários de ataque e defesa. Os comandantes possuem também uma habilidade especial liberada ao acumular pontos o suficiente, podendo virar o jogo em momentos decisivos.

As unidades de combate usadas pelas facções são as mesmas, diferindo apenas das pilotadas pelos comandantes:
  • Luella Augstein (Nomad Mercenary Group): pilota o Deity, especializado em ataques a longa distância;
  • Vincent Uvir (Republic of Nethalis): pilota o Maelstrom, especializado em ataques corpo a corpo;
  • Aurielle Krukov (Krukov Mining Corp): pilota o Bulwark, especializado em habilidades de suporte;
  • Izol Lokman (Aristocracy of Cerulia): pilota o Arbiter, especializado em habilidades ofensivas.
Alguns mapas contam com estruturas que podem ser capturadas para auxiliar a logística de seu exército no combate. Silos de combustível são usados para gerar Strategy Points (SP), que servem para comprar unidades nos centros de comando, o segundo tipo de construção capturável. Quanto mais silos e centros o jogador tiver, mais SP é gerado para a aquisição de unidades para seu exército. Apenas o comandante e outras duas unidades de infantaria possuem a habilidade de captura de pontos. Os mapas possuem estruturas que influenciam na movimentação e na eficiência da defesa de uma unidade que esteja estacionada naquele local.
Os Strategy Points (SP) são usados para recrutar unidades para o campo de batalha
Ao realizar ataques, o exército acumula Command Points (CP), que podem ser usados para duas coisas: recrutar o comandante quando este não está em campo ou utilizar sua habilidade especial, válida por uma rodada de ação. A barra de CP deve estar completa para executar uma das duas ações.

Existem três tipos de ataque: cinético, energia e explosivo. Conhecer o tipo de ataque que sua unidade inflige contra uma tropa inimiga é importante, pois, naturalmente, uma unidade que causa dano cinético não é eficiente contra um oponente com boa defesa nesse aspecto. Os tipos de dano são informados na minitela exibida ao selecionar sua unidade. Marcar o inimigo com o cursor também exibe seus dados básicos, como pontos de vida e tipos de defesa.
Saber atacar com a unidade certa é a melhor estratégia
A área de atuação dos ataques de cada unidade também é determinante para montar sua estratégia, com alguns mechas capazes de realizar ataques corpo a corpo devastadores e outros que conseguem atingir oponentes a longas distâncias ou em uma área específica, podendo acertar mais de um inimigo com um único ataque.
Algumas unidades conseguem atingir múltiplos alvos com um único ataque.
Há também unidades de suporte que podem aumentar temporariamente os atributos de ataque ou defesa de aliados, enquanto outros causam efeitos nocivos aos oponentes, como paralisia, dano residual e debuffs de ataque e defesa.

O tiro que saiu pela culatra

Além da campanha principal, Warborn traz alguns modos de jogo que, em teoria, estendem a vida do jogo, mas considerei que têm um potencial pouco aproveitado por conta de uma série de problemas.

O Skirmish é um modo solo onde o jogador pode selecionar uma grande variedade de mapas pré-determinados para jogar contra o computador. Aspectos básicos, como quantidade de SP e CP disponíveis no início da partida e a dificuldade da IA, podem ser ajustadas livremente antes de começar os combates.
Só é possível jogar contra o computador no modo Skirmish
O modo é bom? Sim! Mas só se difere da campanha principal por não contar com segmentos de história. De resto, nada demais. O Skirmish poderia facilmente oferecer um multiplayer local para, pelo menos, mais um jogador, ou então permitir que três ou mais facções pudessem se enfrentar no mapa.

No Criador de Mapas, o jogador pode construir seus próprios campos de batalha para jogar no Skirmish ou no multiplayer online. Aqui não há muito mistério. Várias ferramentas estão disponíveis para o jogador desenvolver um mapa para jogar nos modos supracitados, mas sem uma opção para compartilhá-los ou então acessar criações de outros jogadores. Ou seja, tudo que você faz aqui vai ficar apenas para você jogar.
Uma função de compartilhamento de mapas tornaria a ferramenta de criação bem mais interessante
O terceiro modo, que poderia ser o mais interessante do jogo, se mostrou o mais desapontador, pelo menos para mim durante a produção desta análise. O multiplayer online, obviamente, permite que você se conecte com outros jogadores ao redor do mundo para disputar partidas em mapas pré-determinados ou personalizados.

O problema aqui foi que ele simplesmente não funcionou. Tentei por vários dias, em diferentes períodos do dia, acessar o modo online do jogo, mas sem qualquer sucesso. Consegui me conectar com o servidor, que realiza uma busca normal via matchmaking, mas ao buscar oponentes por alguns minutos, sou levado de volta ao menu inicial, pela falta de sucesso na busca. Não há um lobby ou coisa do tipo para verificar se há outros jogadores conectados e selecionar manualmente um para jogar uma partida.

Outra maneira de jogar neste modo é criando uma sessão online, que te dá a opção de fornecer um código numérico diretamente a um amigo para que ele se conecte à sua sessão. Criei uma sala, fui fazer um lanche, voltei e adivinhem só: nada também. Se eu tivesse no mínimo um amigo com o jogo, facilitaria para ao menos experimentar o modo e comprovar se funciona bem. Uma pena, pois poderíamos ter aqui um dos pontos mais legais do jogo, fora a campanha principal.

Muito bom, mas poderia ser melhor

Warborn é um título competente em sua apresentação e jogabilidade, mas sua proposta decepciona por ter falhas graves de execução. Reforço que é um jogo excelente para quem não conhece o gênero ou prefere uma experiência bem leve em jogos táticos por turnos. Mas ao propor algo mais além da campanha e deixar a desejar foi decepcionante. Poderia sim ter um lugarzinho ao sol ao lado de grandes nomes, mas é melhor continuar na sombra pra não sofrer de insolação até resolver esses problemas e mostrar seu real potencial.

Prós

  • Boa apresentação, com arte característica e ótima trilha sonora;
  • Jogabilidade simples, com mecânicas que o tornam amigável para iniciantes no gênero;
  • Campanha com boa duração e curva de dificuldade justa, podendo ser ajustada nas opções do jogo.

Contras

  • O modo Skirmish não adiciona desafios ou opções extras além dos apresentados na campanha principal;
  • Criador de Mapas sem função de compartilhamento, que o tornaria a ferramenta mais interessante;
  • O Multiplayer online não funcionou em nenhuma das formas disponíveis para jogar neste modo.
Warborn – PC/PS4/XBO/Switch – Nota: 6.0
Versão utilizada para análise: PS4
Análise feita com cópia digital cedida pela PQube
Revisão: Davi Sousa

Fã de Castlevania, Tetris e jogos de tabuleiro. Entusiasta da era 16-bit e joga PlayStation 2 até hoje. Jogador casual de muitos e hardcore em poucos. Nas redes sociais é conhecido como @XelaoHerege
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