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Análise: Project Warlock (Multi) é um ótimo indie de tiro que honra o estilo de Doom

Prepare-se para derrotar muitos monstros nesse FPS de muita qualidade.

Basear um novo jogo em clássicos do seu gênero pode ser uma escolha arriscada. Afinal, é preciso que o título consiga fazer jus à tradição dos seus predecessores. Project Warlock (Multi) é um jogo de tiro claramente inspirado em nomes como Doom e Wolfenstein que segue essa recomendação com louvor. Ele oferece uma experiência ao mesmo tempo familiar e inédita, resultando em um ótimo game como vamos conferir nesta análise.

Um gênero clássico

Mesmo que a clara homenagem a títulos clássicos não existisse, ainda assim falar de Project Warlock (Multi) iria exigir falar de alguns nomes importantes. Doom (Multi), de 1993, Heretic (PC), de 1994, e Wolfenstein 3D (Multi), de 1992, são exemplos de FPS de sucesso que ajudaram a criar o gênero tão popular hoje em dia.
Um clássico que atravessa gerações
Apesar das limitações técnicas da época, onde ambientes tridimensionais ainda eram limitados, esses jogos proporcionam experiências emocionantes e com um alto grau de liberdade. O jogador precisava explorar fases labirínticas, repletas de segredos e inimigos, para realizar vários tipos de missões. Com o passar do tempo, jogos no estilo FPS se tornaram cada vez mais populares, mas sempre evoluindo em relação aos clássicos.

Desenvolvido pela Buckshot Software e publicado pela Crunching Koala no PlayStation 4, Project Warlock é um indie que teve sua primeira versão lançada para PC no final de 2018. Dada a sua alta qualidade, mesmo sendo tecnicamente simples, foi apenas uma questão de tempo até ele chegar aos consoles, incluindo o Nintendo Switch e o Xbox One, todos no mês de junho de 2020.
Prepare-se para uma incrível e dinâmica aventura
Um detalhe curioso da produção é a reduzida equipe envolvida no projeto. Em particular, deixo o destaque para o programador Jakub Cislo, que começou a trabalhar no jogo enquanto ainda cursava o ensino médio. Mesmo com essa limitação de pessoal foi possível alcançar um alto nível de qualidade, motivando, inclusive, elogios de John Romero, que trabalhou em títulos como Doom 2 (Multi), Quake (Multi) e Wolfenstein 3D.

Inovando sem reinventar

Fazendo jus à já explicada homenagem, Project Warlock segue a fórmula corretamente, mas sempre com pitadas de originalidade. O objetivo principal de cada fase é chegar até um ponto final desconhecido e, assim, proceder para o próximo nível. Obviamente, muitos desafios esperam no caminho do feiticeiro (warlock pode ser traduzido do inglês como mago ou feiticeiro).
Os cenários são sempre interessantes e com boa dose de exploração
A história que motiva a aventura é a básica “o protagonista warlock deve eliminar as forças do mal na Terra”. Para isso, ele terá que explorar cinco regiões diferentes, cada uma com sua própria temática, conjunto de inimigos e um chefe no final. Nesse último caso, não temos um cenário para explorar, pois o objetivo principal é acabar com esses monstros poderosos.

Os cenários variam desde o antigo Egito, com inimigos como múmias e escaravelhos monstruosos, cidades modernas com robôs e outras máquinas mortíferas, e um ambiente ártico com direito a yetis assassinos. Para enfrentar todos esses perigos, o jogador e seu feiticeiro têm à disposição um extenso e poderoso arsenal.
Aquela doce satisfação de estourar monstros com uma escopeta não tem preço
Temos escopetas, bazucas, metralhadoras, armas lazer e até dinamite. Além das armas “mundanas”, o warlock, como não poderia deixar de ser, também tem acesso a feitiços como raios mágicos, escudo protetor e conjuração de armas. Todos esses recursos podem ser melhorados nos alojamentos do protagonista, que é acessado ao final de cada fase.

O esconderijo também permite melhorar características como saúde, força e magia (mana) utilizando um sistema de experiência. A cada cinco níveis, uma habilidade passiva pode ser liberada para o personagem. Particularmente, acredito que Toughness (aumenta a saúde total e reduz o dano) e Treasure Hunter (que dobra as chances de encontrar itens) sejam algumas das mais úteis.
As melhorias e modificações tem uma leve pegada RPG

Divertido e desafiador

Como não poderia deixar de ser, o título tem um nível de dificuldade considerável. Nada fora dos padrões do gênero, que sempre exige dos jogadores atenção constante ao cenário e dedo rápido no gatilho. Acredito que as opções disponíveis, embora todas desafiadoras, sejam bem definidas, mesmo que eu não consiga ver algum ser humano normal jogando no nível Infernal...
Surpresas podem surgir pelo caminho, então é preciso ter cuidado
Conforme vamos liberando novos itens, magias e melhorias, o game vai lentamente aumentando ainda mais a dificuldade dos desafios. Não existem quick saves: o progresso somente é salvo quando terminamos as fases e retornamos à base do feiticeiro. Cada fase consiste em uma sequência com número fixo de estágios (um até quatro), o que exige cuidado ao utilizar os recursos durante cada um deles.
Retornar para a base é sempre um alívio depois das difíceis batalhas
Inimigos variam de sorrateiros a destemidos, utilizando ataques das mais diversas formas. Alguns podem minar a vida lentamente, enquanto outros possuem golpes devastadores. Desviar rapidamente ou até mesmo sair correndo podem ser estratégias valiosas, sobretudo nos níveis mais altos de dificuldade.

Além das batalhas, o jogador precisa lidar com os cenários e seus segredos. Para chegar até o portão de saída (que, inclusive, também é um monstro), é preciso explorar a fase atrás de chaves coloridas que abrem portas de mesma cor, botões de acionamento, portais de teletransporte e assim por diante. Se por um lado isso facilita encontrar munição e itens, por outro aumenta as chances de cruzar com mais inimigos.
Ficou faltando apenas uma lista para o jogador ter registrado os segredos encontrados
Os cenários também estão repletos de segredos e passagens secretas. Portas escondidas e paredes destrutíveis são alguns exemplos de como acessar essas áreas, que contém recursos valiosos como munições, vidas e mana. Pontos de upgrade, que são utilizados para modificar as armas, também podem ser encontrados.

Produção modesta com muita qualidade

Sendo um indie, Project Warlock não possui uma produção do tipo arrasa-quarteirões. Isso, entretanto, não impediu os produtores de conceber um projeto de alta qualidade. Os gráficos, apesar de serem em duas dimensões, conseguem representar perfeitamente os cenários propostos e oferecem um belo visual.
A ideia para compor o visual em duas dimensões foi ótima
Inimigos, itens e até mesmo o sangue tem um visual pixelado competente, com texturas caprichadas. A trilha sonora segue a mesma batida, apresentando músicas de qualidade nos estilos rock e heavy metal. Ela, inclusive, está disponível gratuitamente para download na internet. No quesito som, a única ressalva negativa é a falta de dublagem.

Outro ponto que considero destaque em Project Warlock é a jogabilidade. Jogos deste gênero precisam oferecer controles sólidos e precisos, dados os cenários claustrofóbicos, a quantidade de monstros e a reduzida oferta de munição. O game roda de forma suave e todos os comandos funcionam bem.
Destaque para os poderosos e assustadores chefes
O “maior” problema que encontrei foi o sistema de troca de armas, que pode ser confuso no começo. Enquanto o inventário não fica mais completo, trocar entre a pistola e a dinamite, por exemplo, pode exigir dois apertos de botões. Nada que atrapalhe as partidas depois de se acostumar com o procedimento.

Muita atenção ao jogo em si, mas alguns problemas no restante

Com tanta qualidade no design, na jogabilidade e nas mecânicas de jogo, é uma pena que o projeto tenha uma apresentação modestíssima. Se por um lado o visual do jogo em si é competente e com boa dose de detalhes, por outro não temos cutscenes ou ilustrações mais robustas. Algumas imagens estáticas aparecem nas telas de carregamento e menu principal, mas elas são bastante simples.

Dada à quantidade de monstros e localidades interessantes encontradas em Project Warlock, parece-me realmente que houve um potencial foi desperdiçado. Embora esses detalhes sejam menores em relação às partidas, com certeza um pouco mais de arte e estilo em certos elementos deixaria tudo ainda mais bonito e convidativo. Veja o trailer promocional a seguir e você entenderá o que eu quis dizer.

Esse esmero nos detalhes também faltou em elementos como o já citado sistema de troca de armas e os mapas do jogo. Eu entendo que esse tipo de FPS tenha a premissa de oferecer cenários labirínticos, onde ter senso de orientação faz parte do desafio. Por outro lado, marcar pontos-chave já encontrados, como a saída, não prejudicaria a proposta e incentivaria o jogador a explorar o restante da fase.
A última linha de defesa contra as forças do mal
Feitas essas ressalvas, volto a frisar que Project Warlock é um ótimo jogo. Esses problemas citados, ainda que o limitem, praticamente não afetam o que mais importa em títulos desse gênero: uma jogabilidade sólida e muitos recursos diferentes para enfrentar toda sorte de inimigos e cenários desafiadores. Tudo isso utilizando gráficos de qualidade e uma ótima trilha sonora.

Uma homenagem com brilho próprio

Project Warlock (Multi) já mereceria destaque por utilizar bem vários elementos de clássicos do FPS. Só que ele vai além, adicionando características próprias à fórmula já conhecida de jogos como Doom e Wolfenstein. Gráficos bonitos, muitas armas e feitiços para derrotar hordas e mais hordas de monstros, fases variadas e um nível de dificuldade na medida certa são algumas das qualidades. Mais um título obrigatório para os fãs do gênero ou amantes de um bom game de tiro.
Project Warlock está disponível para todos os consoles atuais e PC

Prós

  • Visual em duas dimensões de muita qualidade;
  • Boa variedade de inimigos e mapas;
  • Ótima jogabilidade;
  • Muitas opções de armas e magias;
  • Nível de dificuldade bem ajustado.

Contras

  • Falta de refinamento em vários detalhes, como mapas e sistema de troca de armas;
  • Apresentação geral é simples demais, incluindo falta de dublagem e menus.
Project Warlock – PC/PS4/Switch/XBO – Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: José Carlos Alves
Análise produzida com cópia digital cedida pela Crunching Koalas

é produtor de conteúdo sobre games desde 2016 e um grande fã da décima arte, embora não tenha muito tempo disponível para ela. Seus games favoritos (que formam uma longa lista) incluem: KH, Borderlands, Guitar Hero, Zelda, Crash, FIFA, CoD, Pokémon, MvC, Yu-Gi-Oh, Resident Evil, Bayonetta, Persona, Burnout e Ratchet & Clank.
Também encontra-se no Twitter @MatheusSO02 e no OpenCritic.
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