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Análise: Maneater (Multi) impressiona pela sua proposta e diverte com competência

Encarne o terror dos mares e mostre quem é que manda nas profundezas… e na superfície também!

Existem diversos jogos que nos colocam em papéis de protagonistas pouco prováveis, como uma cabra ou uma torrada, e que usam de um andamento bastante cômico em sua proposta. Surpreendentemente, Maneater (Multi) foge dessa premissa, buscando um tom de seriedade com uma narrativa competente, sistema de jogo bem construído e um cuidado com seu funcionamento que impressiona até os mais céticos, afastando de vez a alcunha jocosa de “shark simulator”.

Preparem-se para conhecer o fundo do mar em um título que combina criativamente RPG, ação e um dos maiores predadores das águas.

Vingança maternal

O jogo toma a narrativa de um documentário, aos moldes do Discovery Channel, chamado Maneater. O foco central dele é Scaly Pete, um caçador de tubarões que persegue incessantemente o animal que tirou a vida do seu pai. Começamos o tutorial com uma fêmea de tubarão-cabeça-chata, onde aprendemos todos os movimentos básicos como morder, dar um ataque com a cauda, se esquivar e utilizar o sonar.

Ao final desse aprendizado, Pete captura a fera, que ele percebe ser a errada, mas mesmo assim ele a mata. Ao cortar sua barriga, ele descobre um filhote, no qual ele faz uma marca com um arpão e atira ao mar, para reencontrá-lo depois. É esse rebento dispensado que será controlado por nós em busca de vingarmos nossa mãezinha morta.

Toda essa parte da história é contada em curtas cenas que mostram a equipe do documentário conversando com Pete. A dublagem do pescador é um pouco forçada, com um sotaque caipira estereotipado, mas ainda assim é bacana a atmosfera criada para justificar todo o confronto entre caça e caçador. Outro aditivo interessante para a narrativa é que, de tempos em tempos, o narrador do documentário sempre faz um comentário relativo ao nosso protagonista, a alguma presa ou algum predador que cruze nosso caminho ou até mesmo sobre os caçadores que podem aparecer na nossa cola.

Você é grande, mas não é dois

Ao iniciar a aventura de fato, começamos como um tubarão jovem e sem habilidades. À medida que aumentamos nosso nível, vamos crescendo, passando pelos estágios adolescente, adulto, ancião e mega. A cada evolução, a criatura aumenta de tamanho e pode consumir animais maiores. Mesmo crescendo de tamanho, ele também se torna mais ágil e agressivo, o que se reflete diretamente na sua jogabilidade, que vai ficando mais dinâmica e intuitiva.

Temos um grande mapa para percorrer, com um total de oito áreas, que, além de possuírem uma série de missões principais e secundárias, contam com colecionáveis e uma fauna marinha específica. Logo, algumas criaturas que aparecem em um determinado ponto não podem ser encontradas em outros pontos do mar.

Os objetivos de cada mapa são bastante parecidos, envolvendo sempre consumir uma quantidade determinada de outros bichos, descobrir as grutas, que funcionam como local seguro, e duelar contra os predadores chefes de cada região, aqui chamados de ápices. Porém, não ache que basta ser grande para meter medo em todos. Do mesmo jeito que sua presença causa pavor nos bichos menores, existem outros animais que irão partir para cima ao sentir sua presença e pode ocorrer de aparecerem mais de um ao mesmo tempo, como jacarés, anequins, barracudas, tubarões-martelo e até orcas.

Nestes momentos, em que travamos verdadeiras guerras marítimas com outras criaturas vorazes, a câmera pode dar uma pequena dor de cabeça. Ela sempre segue a movimentação do nosso tubarão com ele ao centro e isso pode gerar alguns pontos cegos. Isto chega a ser mais problemático no comecinho do jogo, onde ainda somos uma presa fácil e qualquer ataque surpresa pode resultar em um game over (levar sustos com jacarés querendo te pegar desprevenido é algo que chega a ser até engraçado). Porém, à medida que o jogo progride e revidar uma agressão se torna mais fácil, isso deixa de ser algo tão incômodo.

A luta contra cada ápice merece um destaque à parte. Não se trata só de morder e ser mordido, mas também de saber os melhores momentos para esquivar, atacar com o rabo e até atordoar o oponente. Cada área tem o seu “líder”, e esses confrontos são bastante satisfatórios, adicionando uma boa dose de adrenalina a cada capítulo. Estes seres sempre serão mais fortes que você e terão algum tipo de vantagem, seja de tamanho seja de velocidade.

O terror da baía

Como se não bastassem os diversos petiscos saborosos que podemos encontrar no fundo do mar, também é possível ir até a superfície e devorar humanos desprevenidos. Algumas missões inclusive têm como objetivo fazer um belo almoço com os incautos nadando na costa ou navegando por aí em seus navios de luxo. Chega a ser divertido e até absurdo fazer o tubarão perseguir as pessoas em terra firme, mas não se pode exagerar, uma vez que passar muito tempo fora d’água pode acabar acarretando em uma morte precoce do animal.

Como nem tudo são flores, devorar muitos banhistas pode atrair a atenção de caçadores de tubarão. No topo da tela existe uma barra de infâmia, que funciona ao mesmo estilo da série Grand Theft Auto. Quanto mais atacamos na superfície, mais ela se enche até ficar em vermelho. Assim que ela atinge seu pico, começam a aparecer alguns barcos com pescadores armados. Existe a opção de fugir para as profundezas e esperar tudo se acalmar, ou começar a atacar as embarcações para elas afundarem ou explodirem.

Em caso de combate, um outro medidor circular vai se enchendo e, quando completo, o caçador líder aparece para tentar te transformar em um troféu. Assim que ele é derrotado, sua infâmia sobe e o próximo caçador virá com novas armas e seus capangas terão armamentos mais fortes, como rifles, bombas e até escudos elétricos.

Ao todo são 10 oponentes diferentes que podem ser enfrentados a qualquer momento do jogo. Diferente dos confrontos no fundo do mar, que são um pouco mais tranquilos e até mais lentos, na superfície tudo acontece muito rápido e a ação é frenética. Algumas delas conseguem ser até mais desafiadoras e interessantes do que contra os ápices, mesmo demandando mais paciência em si do que uma estratégia mais elaborada.

Equipado para matar

Ser um tubarão evoluído não se refere somente ao tamanho. Precisamos de nutrientes para evoluir, como gorduras, proteínas e mutagênico. Estes elementos são ganhos consumindo qualquer animal, completando as missões e encontrando baús escondidos pelo caminho ou dentro de cavernas.

Alcançar objetivos também nos recompensa com modificações corporais. Elas podem ser alterações físicas na cabeça, mandíbula, corpo, barbatanas e cauda, ou melhorias para os órgãos internos. Existem diversas combinações que podem ser feitas com a finalidade de captar mais nutrientes das nossas presas, aumentar nosso dano, velocidade e até ganhar habilidades especiais. Porém, não é difícil elevar tudo ao último nível, o que pode diminuir um pouco o desafio e deixar a dificuldade bastante amena.

As modificações corporais não só nos dão habilidades novas, como também alteram bastante nossa aparência. Existem três conjuntos específicos para cada parte: sombras, bioelétrico e ósseo. Não somos obrigados a utilizar cada conjunto por completo, porém, se optarmos por essa configuração, ganhamos um bônus de acréscimo em cada crescimento.


Apesar de ganharmos essas melhorias a qualquer momento, só podemos equipá-las quando estivermos na segurança da nossa gruta. Podemos nadar até elas, e consumir tudo o que vemos pela frente, ou fazer uma viagem rápida pelo mapa, já que cada área tem uma.

Sentido bagunçado

Apesar da câmera um pouco desengonçada, Maneater possui alguns outros defeitos bem mais incômodos. Um deles são as telas de loading, que podem demorar bastante. Em dois momentos específicos, foi necessário reiniciar o jogo. O carregamento ocorre principalmente quando realizamos uma viagem rápida até a gruta, ou trocamos de área mais de uma vez rapidamente, o que pode acontecer com certa frequência em missões que estão praticamente na divisa entre duas regiões.

Porém, a falta mais grave que ocorre é uma queda violenta de frames em momentos aleatórios quando passamos da metade do jogo. Tudo fica mais lento e os gráficos perdem a definição, ficando cheio de serrilhados, lembrando muito os jogos da época do PS2. Esta perda de qualidade dura alguns poucos segundos, mas também não depende de situações específicas para ocorrer, como tela cheia de elementos ao mesmo tempo. Simplesmente acontece do nada e para. Isso chegou a afetar a experiência principalmente nos momentos das batalhas contra os caçadores, onde tudo se desencadeia de maneira acelerada.

No topo da cadeia alimentar

No final das contas, Maneater é uma grata surpresa. Ele comete alguns deslizes que podem chegar a atrapalhar a aventura, mas ainda assim surpreende com o jeito que se apresenta. A ideia de desenvolver a narrativa de um documentário é uma ótima justificativa para se colocar o jogador no controle de um tubarão sem apelar para algo taxativo ou sem sentido. O método de evoluir o tubarão, tornar-se mais forte que outros predadores cumprindo missões e derrotar caçadores de elite também é algo que entretém muito, fazendo com que as quase 20 horas de jogatina oferecidas passem num piscar de olhos. Para quem busca algo diferente e interessante, esta é uma excelente alternativa.


Prós

  • Mapa amplo e com diversos animais diferentes, cada um constituindo um ambiente único;
  • Diversas opções e combinações de melhorias para o seu tubarão;
  • Batalhas marítimas são interessantes e cada uma traz uma característica distinta;
  • Batalhas na superfície mudam o tom do jogo, oferecendo um outro nível de desafio;
  • Missões que, mesmo sendo similares, não tornam o jogo cansativo;
  • Comentários aleatórios sobre os elementos do jogo ajudam a ambientar o jogador na atmosfera de um documentário real.

Contras

  • Câmera gera alguns pontos cegos que podem te atrapalhar na hora de fugir de ataques;
  • A facilidade de maximizar seus atributos pode fazer com que o jogador não ache interessante explorar as demais habilidades ou fazer variações entre elas;
  • Alguns loadings são muito demorados;
  • Slowdowns bruscos que resultam em lentidão e perda da qualidade da resolução em momentos aleatórios;
  • Dublagem do Scaly Pete é fraca e estereotipada.
Maneater — PC/PS4/XBO — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: Ives Boitano
Análise feita com cópia digital cedida pela Deep Silver


é amante de joguinhos de luta, corrida, plataforma e "navinha". Também não resiste se pintar um indie de gosto duvidoso ou proposta estranha. Pode ser encontrado falando groselhas no seu twitter @carlos_duskman
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